João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

  Querido(a) leitor(a)! Nossa nova edição está novamente megaespecial e destaca João Barone, baterista da banda Os Paralamas do Sucesso. Bar...

sexta-feira, 31 de maio de 2019

Sobre o Conto “2.430 D.C.”, de Isaac Asimov

Isaac Asimov - Foto divulgação
*Por Roberto Fiori
 
Alvarez, funcionário do Setor de Representativos, e Bunting, Vice-Representante, foram procurar Cranwitz para inquiri-lo sobre se ele aceitava se sujeitar às imposições sociais. Este respondeu que não queria, não deveria fazê-lo, que havia um contrato de longa duração com o Governo. Alvarez disse que não iriam recorrer à força, que estavam tentando resolver as coisas pacificamente, que Cranwitz cedesse voluntariamente.

Alvarez disse que nesse ano, o ano de 2.430 D.C., as coisas eram diferentes de antigamente. Cranwitz afirmou que a taxa de crescimento caíra este ano em relação ao total registrado pelo computador e houvera modificações convenientes. Por que então, haveria de ser tudo diferente? Mas na realidade Cranwitz sabia porque as coisas eram diferentes este ano, pensava Alvarez. Ele estava inseguro, ao tentar se defender. Alvarez falou que este ano eles atingiram a meta, a taxa de natalidade igualou-se à de mortalidade, o nível populacional estava constante, a construção atual estava completamente restrita à substituição. E as fazendas marítimas estavam em condições estáveis. Somente Cranwitz havia se erguido entre toda a Humanidade e a perfeição. Devido a alguns ratos, porquinhos-da-índia, tartarugas, pássaros e lagartos.

Eles, segundo Cranwitz, eram os últimos no mundo. Não havia dano que pudessem causar. “Mas que bem?”, perguntou Bunting. Alvarez disse: “Há séculos, houve incontáveis formas de vida como as que Cranwitz possuía. Há milhões de anos existiram os dinossauros. Mas agora existiam microfilmes para se apreciar os animais e as plantas.

“Como se pode comparar microfilmes com coisas reais?”, perguntou Cranwitz. Bunting respondeu: “Microfilmes não têm cheiro”.

“Antigamente, havia muito. Ano após ano o homem tinha sido forçado a se livrar de muitos deles. Os animais grandes, os carnívoros, as árvores. Não restara nada. Deixem essas formas de vida viverem, aqui”, falou Cranwitz.

Mas o povo, a pressão social era esmagadora. Não se podia convencer o povo a não se voltar contra Cranwitz. Ele refletiu: “O homem colonizará outros planetas, um dia. Vai querer animais. Outras espécies em novos mundos”. Mas o homem já tinha estabelecido uma base lunar, há muito e muito tempo, e fracassara. A engenharia para a sobrevivência do homem nos mundos exteriores era proibitiva. Assim pensava Alvarez, e assim o falara.

Houvera um século, o Século XX, no qual o mundo estava vazio, com apenas alguns bilhões de seres humanos, estava superlotado... houve gastos exorbitantes com guerras, ou se preparando para tal, desperdiçaram, envenenaram à vontade, mal administraram a economia, as reservas genéticas foram deixadas ao acaso, toleraram todos os desvios de normas. Mas se estabelecera um governo mundial, o poder nuclear dominou e crescera a arte da engenharia genética. Com paz planetária e crescimento da economia e abundância de comida, a população aumentou rapidamente. Calculou-se que a Terra seria capaz de sustentar dois trilhões de toneladas de vida animal.

Escolheram eliminar toda vida, exceto a humana. A evolução ditava: somente os aptos sobreviveriam. Agora, a Terra não passava de um único edifício de centenas de níveis, sustentando 15 trilhões de seres humanos...

O oceano transformou-se em uma sopa de plâncton, com a única finalidade de abastecer o homem de comida. Mas o homem vivia bem. Não havia guerra, não havia crime. O nascimento era regulado, as mortes, tranquilas. Há atualmente vinte milhões de toneladas de cérebros normais, o maior número já concebido de matéria orgânica complexa no Universo. E Cranwitz retrucou:á a

“E todo esse peso em cérebros fazendo o quê”?

Mas a Humanidade deseja a perfeição. Extinguir os animais de Cranwitz seria a perfeição absoluta. E havia uma grande diferença entre a quase perfeição e a mais completa perfeição.

Cranwitz, ouvindo todos esses argumentos, sentou-se e sussurrou se podia passar mais um dia com seus animais. Depois, não se oporia à perfeição. Dito isso, Alvarez falou que o mundo todo tomaria conhecimento disso. E que o nome de Cranwitz seria exaltado.

Cinco trilhões de seres humanos dormiam com placidez, nos vastos prédios continentais, dois trilhões comiam calmamente. Meio trilhão fazia amor ternamente. Trilhões conversavam sem entusiasmo, cuidavam dos computadores, dirigiam veículos. A rotina era sempre a mesma.

A maquinaria trabalhava, consertava-se, substituía-se. A sopa de plâncton que era o oceano era recolhida por dragas e conduzida a terra, para ser levada a cada esquina do edifício planetário. Em cada esquina, detritos eram amontoados, para serem recolhidos, triturados e secados, e devolvidos ao oceano.

Cranwitz alimentava pela última vez seus animaizinhos, afagava seu porquinho-da-índia, olhava os olhos inescrutáveis de sua tartaruga. Então, queimou o substrato onde havia plantas, vaporizou as gaiolas dos animais e a si mesmo. E morreu, a única mente que perturbava a paz universal, o plácido modo de pensar que os homens possuíam, que jamais haviam possuído. E, com toda matéria cerebral à disposição, os homens não faziam mais do que executar os mesmos atos, pensar os mesmos pensamentos sem originalidade, sem inspiração alguma.


Segundo uma nota de rodapé, escrita ao fim deste conto de Isaac Asimov, “a população da Terra, em 1970, era estimada em 3,68 bilhões. A média de crescimento atual duplica essa população a cada trinta e cinco anos. Se a média atual de crescimento puder ser mantida por 460 anos, no ano de 2.430 D.C., o peso da carne e do sangue humanos será igual ao peso total da vida animal agora presente na Terra. Nesse sentido, a história de Asimov não é ficção”.

Este conto de Asimov foi lançado no Brasil pela Editora e Livraria Hemus, na coletânea “Júpiter à Venda” (“Buy Jupiter”). Ele me lembra um romance de Robert Silverberg, “Mundos Fechados”. Inúmeras torres de milhares de metros, tocando as nuvens, acomodavam trilhões de habitantes, os detentores do luxo e da riqueza, ao passo que, na superfície, viviam homens e mulheres à margem da civilização ultra tecnológica dos edifícios. E lembro-me que era proibido — sob pena de morte — que uma pessoa voltasse ao prédio, se saísse dele. Um pesadelo, mas qual será o verdadeiro futuro que nos aguarda, em centenas de anos? O homem está longe de colonizar outros planetas. Longe de sair do inferno que criou para si, o planeta Terra. Sim, inferno para um bilhão de pessoas, que não têm o que comer, o que vestir, onde morar decentemente, onde trabalhar, onde estudar, para onde ir. Condenadas a uma existência nas trevas, manipuladas, escravizadas mental e fisicamente.

A Terra já foi mais semelhante a um paraíso, em outros tempos, em certos lugares. Quando não havia excesso populacional e os homens podiam viver sem medo. Sem medo de guerras, de crimes, de atrocidades. Sem medo de no dia seguinte não terem do que se alimentar. Quando podiam contar com a ajuda dos outros. Quando eram mais do que meros robôs automatizados humanos, sem a mínima noção do que é um pensamento original e que contribuísse para a cultura e o desenvolvimento da Ciência e da Arte.

Esse tempo já passou e existiu talvez em certos lugares, como na Grécia Antiga. É verdade que mesmo na Grécia Antiga existia muita luta, guerra, sangue derramado. Mas existiam nomes como Sócrates, Platão, Aristóteles, conseguia-se feitos admiráveis com a pura capacidade do pensamento. A Matemática estava florescendo, a engenharia de Arquimedes era milagrosa. Hoje, podemos enviar sondas espaciais para além do Sistema Solar, mas não podemos manter 1 bilhão de pessoas decentemente alimentadas, ou muito menos do que isso.

Chegamos a um ponto em que se têm a inteligência e o dinheiro para construir bombas de hidrogênio e de nêutrons, e, ao mesmo tempo, encarcerar em regime de prisão brutal pessoas que não fizeram nada mais a não ser defender seus ideais de liberdade e o desejo de um governo que as trate condignamente.

Isso é fato, comprovado pela Organização das Nações Unidas.


*Sobre Roberto Fiori:
Escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Sobre o livro “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, do autor Roberto Fiori:

Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas, demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.

Dizem que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que jamais será derrotada... Ou a fantasia que conta a chegada de um povo que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo. Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar, e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte... Ou, em outro mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
O livro traz à tona feitos gloriosos da Humanidade, que conseguirá tudo o que almeja, se o destino e os deuses permitirem.

Para adquirir o livro:
Diretamente com o autor: spbras2000@gmail.com
Livro Impresso:
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