Obra de Silviano Santiago sai pelo selo Suplemento Pernambuco com ensaios excluídos da edição original
“Que ainda faça sentido!”, profetiza o crítico, ensaísta e escritor Silviano Santiago, na apresentação da reedição de Uma literatura nos trópicos. Quarenta anos depois, o livro permanece, sim, fazendo sentido, pela amplitude de alcance, influenciando não apenas a Literatura, mas também outras áreas culturais como História, Sociologia e Comunicação. Trata-se de uma coletânea de ensaios críticos sobre a produção brasileira dos anos 1970, que alterou o pensamento vigente a partir de uma teoria desenvolvida por Santiago: o do entre-lugar, localizando o discurso cultural latino-americano. O título será lançado pelo selo Suplemento Pernambuco, da Cepe Editora, dia 28 de março, às 19h, na Livraria Travessa de Ipanema, no Rio de Janeiro.
A obra se destaca ainda pelo pioneirismo de tratar de cultura pop no âmbito acadêmico, coisa que não se fazia no Brasil nos anos 1970. “Há textos no livro sobre Caetano Veloso e o desbunde dos anos 1970 que na época passaram despercebidos. Não era de bom tom um intelectual falar de cultura popular. O próprio Silviano explica o que é desbunde no livro e como era viver no chamado ‘vazio cultural’ do começo dos anos 70”, destaca Schneider Carpeggiani, editor do selo Suplemento Pernambuco. Nesta reedição, além dos 11 ensaios já conhecidos da obra divulgada em 1978, aparecem os outros cinco ensaios que foram excluídos da primeira edição. Na última parte do livro, chamada de Suplemento, há ainda textos inéditos sobre o autor e a obra, escritos pelos professores da PUC-RJ, Eneida Leal Cunha e Fred Coelho, e pelo sociólogo André Botelho.
Ainda segundo Schneider, vários dos ensaios de Silviano se tornaram clássicos para quem estuda literatura no Brasil. A contemporaneidade dos textos se verifica em ensaios como “Retórica da verossimilhança”, por exemplo, que se debruça sobre Machado de Assis e sua obra. “Vivemos o tempo da pós-verdade, da fake news. Preferimos acreditar no que aparenta do que no que é de fato”, diz o editor do selo Pernambuco e do jornal literário de mesmo nome, também da Cepe, Schneider Carpeggiani.
Outro texto inédito é Camões e Drummond: A máquina do mundo, em que é apresentado um poema pouco conhecido de Drummond. “Silviano havia feito um ensaio sobre os paralelos entre Drummond e Camões, sobretudo pelo conceito de ‘máquina do mundo’, que não seria uma imagem tão original do poeta mineiro. Drummond não gostou do paralelo entre ele e Camões e fez um poema ironizando Silviano”, conta Schneider.
SOBRE O AUTOR
Professor, poeta, contista, romancista e ensaísta, Silviano Santiago nasceu em 1936, em Formiga, Minas Gerais. Radicado no Rio de Janeiro, possui doutorado em Literatura francesa pela Universidade de Paris. Autor de dezenas de livros, é vencedor de grandes prêmios literários, como dois Jabuti (1982 e 1993), um Machado de Assis (2013), e um Oceanos (2015).
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