Walter Tevis - Foto divulgação |
*Por Roberto Fiori
Terry e Edith estavam morando juntos há bastante tempo, mas não se adaptavam um com o outro. Problemas de disfunção erétil, por parte dele, e falta de lubrificação íntima, por parte dela, mesclavam-se a sentimentos de insegurança quanto ao que ela sentia em relação às suas relações sexuais e ele, com relação à incapacidade de manter o membro erétil. Tinham medo de tudo, eram inseguros um com o outro. Sentiam necessidade de explicações um do outro e brigavam frequentemente. Até que ela resolveu levá-lo ao seu psiquiatra. E lá, resolveram tudo.
Ele e ela gritaram e clamaram sua raiva e ódio contra seus pais. Os pais incompetentes dele, e ela, que tivera uma mãe sádica e um pai covarde. Terminaram a consulta da terapia de grupo se dirigindo para o apartamento dela, um apartamento de renda limitada, pequeno, mas muito barato. E atingiram orgasmos simultâneos, a primeira vez em um ano de convivência.
Perceberam duas coisas, nas horas que sucederam a esta tarde magnífica: que na cama, enquanto não brigassem ou não sentissem ansiedade, e enquanto estivessem se tocando, o tempo para eles não passava; fora da cama, o movimento das pessoas e o funcionamento dos aparelhos elétricos e máquinas cessava. Haviam descoberto um ponto no espaço e no tempo no qual o tempo subjetivo deles não transcorria, enquanto que, no exterior, este decorria normalmente.
Ambos tinham tempo livre, mais do que qualquer outra pessoa que trabalhasse: podiam descansar e relaxar das tensões inerentes a seus empregos, no momento que quisessem, simplesmente se instalando na cama e se tocando. Fazendo amor ou comendo, ou lendo, apenas. Não podiam ouvir música ou ver televisão, porém. Seus mecanismos paravam de funcionar, enquanto eles estivessem nessa “rede de inoperabilidade espaço-temporal”, como eu a chamo.
Edith descobriu que eles não envelheciam; e mais, que se no exterior havia se passado um tempo dado, com eles, imóveis no plano temporal, havia-se passado mais tempo. Resolveram que não queriam mais envelhecer. Para isso, compraram muita comida, instalaram dois espelhos nas paredes e um no teto — para aumentar o estímulo sexual — e, por fim, construíram um banheiro sob a cama, para não terem de sair do quarto. Era a única ocasião, quando o usavam, que tinham de ceder ao tempo: a água corrente só era acionada, o sistema de bombeamento de água funcionando só se eles se encontrassem fora de sua dimensão própria de toque sobre a cama, da dimensão da imortalidade. Envelheciam um pouco, devido a essa exigência. Mas muito pouco.
Faziam ioga, para conservar o físico e a mente. Em certa altura, viram se olhando para seus próprios espelhos, ao fim de um período de meditação transcendental. E acabaram nem fazendo mais ioga ou meditação. Ficavam deitados na cama, costas contra costas, se tocando, sem envelhecer, o mundo lá fora congelado. E olhando para seus espelhos particulares, um em cada parede oposta.
O zelador surpreendeu-se ao vê-los nessa posição, uma manhã. Eles eram como estátuas de beleza, jovens e lindos. Mas presos em sua imobilidade espaço-temporal. O que o zelador compreendeu, a seguir, era que o casal teria de ser removido do apartamento de renda limitada, e que, agora, ele poderia cobrar um aluguel decente pelo imóvel e ganhar muito mais dinheiro.
Ele e ela gritaram e clamaram sua raiva e ódio contra seus pais. Os pais incompetentes dele, e ela, que tivera uma mãe sádica e um pai covarde. Terminaram a consulta da terapia de grupo se dirigindo para o apartamento dela, um apartamento de renda limitada, pequeno, mas muito barato. E atingiram orgasmos simultâneos, a primeira vez em um ano de convivência.
Perceberam duas coisas, nas horas que sucederam a esta tarde magnífica: que na cama, enquanto não brigassem ou não sentissem ansiedade, e enquanto estivessem se tocando, o tempo para eles não passava; fora da cama, o movimento das pessoas e o funcionamento dos aparelhos elétricos e máquinas cessava. Haviam descoberto um ponto no espaço e no tempo no qual o tempo subjetivo deles não transcorria, enquanto que, no exterior, este decorria normalmente.
Ambos tinham tempo livre, mais do que qualquer outra pessoa que trabalhasse: podiam descansar e relaxar das tensões inerentes a seus empregos, no momento que quisessem, simplesmente se instalando na cama e se tocando. Fazendo amor ou comendo, ou lendo, apenas. Não podiam ouvir música ou ver televisão, porém. Seus mecanismos paravam de funcionar, enquanto eles estivessem nessa “rede de inoperabilidade espaço-temporal”, como eu a chamo.
Edith descobriu que eles não envelheciam; e mais, que se no exterior havia se passado um tempo dado, com eles, imóveis no plano temporal, havia-se passado mais tempo. Resolveram que não queriam mais envelhecer. Para isso, compraram muita comida, instalaram dois espelhos nas paredes e um no teto — para aumentar o estímulo sexual — e, por fim, construíram um banheiro sob a cama, para não terem de sair do quarto. Era a única ocasião, quando o usavam, que tinham de ceder ao tempo: a água corrente só era acionada, o sistema de bombeamento de água funcionando só se eles se encontrassem fora de sua dimensão própria de toque sobre a cama, da dimensão da imortalidade. Envelheciam um pouco, devido a essa exigência. Mas muito pouco.
Faziam ioga, para conservar o físico e a mente. Em certa altura, viram se olhando para seus próprios espelhos, ao fim de um período de meditação transcendental. E acabaram nem fazendo mais ioga ou meditação. Ficavam deitados na cama, costas contra costas, se tocando, sem envelhecer, o mundo lá fora congelado. E olhando para seus espelhos particulares, um em cada parede oposta.
O zelador surpreendeu-se ao vê-los nessa posição, uma manhã. Eles eram como estátuas de beleza, jovens e lindos. Mas presos em sua imobilidade espaço-temporal. O que o zelador compreendeu, a seguir, era que o casal teria de ser removido do apartamento de renda limitada, e que, agora, ele poderia cobrar um aluguel decente pelo imóvel e ganhar muito mais dinheiro.
Este notável conto, “Renda Limitada” (publicado na coletânea “Longe de Casa”) é um exemplo do que o escritor norte-americano Walter Tevis (1928-1984) foi capaz de elaborar, utilizando-se do conceito da Relatividade de Einstein. Tevis foi um genial escritor, responsável pelo romance “Ave-do-Arremedo” (“Mockingbird”, 1980), publicado em língua portuguesa pela Editora Caminho Ficção Científica, pela antologia “Longe de Casa” (“Far from Home”, 1981) e o romance “O Homem que Caiu na Terra” (“The Man Who Fell to Earth”, 1963) — que foi transposto para o cinema tendo David Bowie como protagonista. Dois outros romances seus foram passados para as telas: “The Hustler” e “The Color of Money”. Tanto “Ave-do-Arremedo”, como “Longe de Casa” foram publicados em português pela Editora Caminho Ficção Científica, para sorte de seus leitores.
Em 1984, Tevis faleceu de câncer no pulmão, e fora nomeado para um Prêmio Nebula, pelo seu romance “Ave-do-Arremedo” (“Mockingbird”), passado no século XXV, em uma Nova York decadente.
Mas o que o protagonista Terry, de “Renda Limitada”, quis dizer com “De manhã, eu vou lhe falar da Teoria da Relatividade”, para sua querida Edith, quando descobriu que o tempo que passavam juntos na cama se tornava estático, em relação ao tempo real vivido pelos habitantes da Terra?
A Teoria da Relatividade de Einstein nos fala que, caso nos aproximemos de um objeto de massa proporcionalmente muito maior que a nossa, a gravidade deste objeto traria uma consequência muito interessante: o tempo, para quem estivesse sob o efeito da aceleração da gravidade, transcorreria de modo mais lento do que um observador fora do alcance da força de gravidade desse objeto massivo.
Da mesma forma, caso estivéssemos nos deslocando com velocidade próxima à da luz, envelheceríamos de modo muito mais lento, conforme nos aproximássemos dessa velocidade. E mais, a velocidade “c” da luz jamais pode ser alcançada por um objeto dotado de massa, caso contrário, sua massa se tornaria infinita e tudo no Universo seria atraído para ele. Tudo, desde os átomos próximos a ele, até os quasares situados a bilhões de anos-luz de distância. E o tempo não passaria para esse objeto.
No conto “Renda Limitada”, o escritor Walter Tevis diz que Terry e Edith encontraram um ponto no Universo em que o tempo não passaria. Mas este era o tempo “subjetivo”. Na realidade, em vez da imortalidade, o que os dois encontraram foi a morte, sem nunca haverem envelhecido. Isso porque, para eles, o tempo continuava a passar, apesar de nunca seus corpos entrarem em decadência física.
Escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside
atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se
na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática.
Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como
hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta,
cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo.
Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e
Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando
realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do
espírito elevada e extremamente valiosa.
Sobre o livro “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, do autor Roberto Fiori:
Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas, demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.
Dizem que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que jamais será derrotada... Ou a fantasia que conta a chegada de um povo que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo. Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar, e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte... Ou, em outro mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
O livro traz à tona feitos gloriosos da Humanidade, que conseguirá tudo o que almeja, se o destino e os deuses permitirem.
Para adquirir o livro:
Diretamente com o autor: spbras2000@gmail.com
Livro Impresso:
Na editora, pelo link: Clique aqui.
No site da Submarino: Clique aqui.
No site das americanas.com: Clique aqui.
Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas, demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.
Dizem que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que jamais será derrotada... Ou a fantasia que conta a chegada de um povo que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo. Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar, e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte... Ou, em outro mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
O livro traz à tona feitos gloriosos da Humanidade, que conseguirá tudo o que almeja, se o destino e os deuses permitirem.
Para adquirir o livro:
Diretamente com o autor: spbras2000@gmail.com
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Na editora, pelo link: Clique aqui.
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