João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

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domingo, 9 de setembro de 2018

Marcelo Rocha e o livro Lucidez, por Sérgio Simka e Cida Simka

Marcelo Rocha - Foto divulgação
Fale-nos sobre você.

Meu nome é Marcelo Rocha e sou professor universitário há 17 anos. Sou porto-alegrense, mas, atualmente, resido em São Borja onde trabalho na Universidade Federal do Pampa, nos cursos de comunicação. Tenho formação em Letras e o Mestrado e Doutorado em Teoria da Literatura na PUCRS. Fiz estágio pós-doutoral em Educação, também na PUCRS, em 2015. Nesse sentido, meu percurso acadêmico já revela algumas interfaces, tais como: Letras, Comunicação e Educação.
Isso, no entanto, não me atrapalha, mas, pelo contrário, me instiga a outros olhares em pesquisas e me faz sentir meio sem um lugar específico. “Minhas raízes transformaram-se em rotas”, como dizem alguns teóricos da contemporaneidade. Na realidade, sinto que a minha identidade é resultado dessa instabilidade e marcada por esses entrecruzamentos teóricos cotidianos.

ENTREVISTA:

Fale-nos sobre seu livro.


“Lucidez” surgiu de algumas pesquisas acadêmicas que eu estava fazendo. Deparei-me, na releitura da “História da Loucura”, do Foucault, com as perspectivas sobre espaços morais de exclusão, desde a lepra, no século XVII até a loucura. Na realidade, a loucura afigura-se de maneira dúbia: ora fascina ora amedronta. De um lado, o louco tem certa liberdade em dizer aquilo que é tabu aos outros, considerados normais. Por outro lado, o louco, fora do léxico e da lei, nos mostra os conflitos, nossas tensões e, especialmente, nossa fragilidade. Por isso ele é tão perigoso...
Ao mesmo tempo, se considerarmos que discurso é poder, podemos perguntar: quem tem esse poder de classificação dos indivíduos na sociedade? Esse questionamento, enfim, serve para a designação da loucura, mas para a difusão de outros estigmas e preconceitos morais e sociais que vemos de maneira tão intensa ultimamente no Brasil. 
 
Fale-nos sobre seu processo de criação.

Costumo ser bastante disciplinado com a escrita. Quando dou início a um projeto novo, escrevo diariamente, mesmo que deixe o texto, por vezes, incompleto. Acredito nesse trabalho contumaz, de insistência, escrita e reescrita. Não espero a musa. Também gosto de pensar em uma concepção geral do livro. Entendo que o livro articula o verbal e o não verbal. Nesse sentido, é importante pensar em cada parte do processo, ou seja, as relações entre os contos, a ideia de capa, as sugestões imagéticas possíveis suscitadas pela leitura.

Como o leitor interessado deverá proceder para saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho?

Eu tenho alguns livros publicados, no âmbito acadêmico, como “No reino da serpente: ideologia, transgressão e leitura em Pedro Juan Gutiérrez”, de 2008, que é fruto da minha tese de doutorado e vincula literatura e política, examinando a obra do escritor cubano. Na ficção, tenho o “Ocupa Porto Alegre” (Editora da Cidade), de 2013, que recebeu o Prêmio Açorianos de Criação Literária, o “Ensaio sobre o não e outros fracassos” (Buqui), um livro de contos e o romance “Enquanto Caio” (Metamorfose), que foi finalista, em 2017, como Livro do Ano da Associação Gaúcha de Escritores.
Também mantenho uma página pessoal no Facebook. Ali trato de alguns temas da minha obra.

Como analisa a questão da leitura no país?

Vivemos em um país cuja leitura é rarefeita.  E isso, infelizmente, é um problema histórico. No primeiro recenseamento geral do Império no Brasil, em 1872, descobriu-se que 84% da população era analfabeta. Quer dizer, temos aí um problema crônico.
Ao escritor cabe descobrir alternativas: trabalhar com diferentes suportes, unir linguagens, jogar com intertextos, experimentar. Mas, no final das contas, o que sustenta a literatura e o desejo de leitura são boas histórias. O que nos une, em nossa mais humana essência, é a vontade de ouvir e contar histórias. Assim, é preciso trabalhar outras formas de leitura, que apontem para a fruição, o gosto. Logo, um papel fundamental de quem trabalha com narrativas creio que seja o de formação de leitores nesse sentido: um resgate do prazer do texto.

O que tem lido ultimamente?

Li “A ponta do silêncio”, da Valesca de Assis. É um livro fundamental. Não só por tratar de uma questão importante de ser referida e denunciada em nosso país como a violência intrafamiliar, mas pela maneira como a narradora constrói a história. A narrativa é feita de silêncios. Um livro semiológico e muito bem construído por imagens e não ditos. A “ponta do silêncio” é um texto para ser lido e relido sempre.

Outro texto que li para composição de meu livro e gostei muito foi “Joyce era louco?”, do Donaldo Schuler. É um ensaio crítico que parte do interesse do psicanalista Jacques Lacan pela obra de James Joyce. A pergunta evocada por Lacan (“Joyce era louco?”) ganha desdobramentos no olhar de Schuler que se ampliam para uma discussão sobre a loucura e processos de criação, entre tantas outras reflexões. O ensaio é tão instigante que faz um trajeto incrível da mitologia grega até Arthur Bispo do Rosário. É um livro navalha...

Quais os seus próximos projetos?

Quando eu termino um livro, eu sempre penso que é o último. O processo de escrita é, geralmente, longo e trabalhoso.  Mas acho que “Lucidez” é, de fato, meu último livro na ficção. Penso que termina um ciclo que se iniciou com “Ocupa Porto Alegre”, em 2013, tematizando a cidade, num olhar mais confessional e memorialista, passando por “Ensaio sobre o não e outros fracassos” cuja ideia norteadora era o silêncio que acometia escritores – e todos nós – em determinadas épocas da vida até chegar no romance “Enquanto Caio”, que trata da incomunicabilidade do protagonista. Vejo um percurso aí em que fecha coerentemente com “Lucidez”. Assim, não sei se tenho muito mais a dizer.


*Sérgio Simka é professor universitário desde 1999. Autor de cinco dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a coleção Mistério, publicada pela Editora Uirapuru. Membro do Conselho Editorial da Editora Pumpkin e integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.

Cida Simka é licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Coautora do livro Ética como substantivo concreto (Wak, 2014) e autora dos livros O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática (Wak, 2016), O enigma da velha casa (Uirapuru, 2016) e “Nóis sabe português” (Wak, 2017). Integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.

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