João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

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quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Evaldo Novelini, o jornal Diário do Grande ABC e o livro Como um cavalo salvou a vida de um preso político, por Sérgio Simka e Cida Simka

Evaldo Novelini - Foto: Denis Maciel/DGABC
Fale-nos sobre você.

Meu nome é Evaldo Novelini. Tenho 42 anos, sou jornalista formado pela Universidade de Mogi das Cruzes na turma de 1998. Nasci em uma pequena cidade do interior paulista, chamada Santa Adélia, de onde só saí em 1995, para fazer faculdade. Comecei minha carreira em um jornalzinho semanal, chamado Folha de Sta. Adélia, onde fazia praticamente de tudo. Como não tinha salário, vendia anúncios e ficava com uma porcentagem do que faturava. Com carteira assinada, meu primeiro emprego foi no Diário de Suzano, onde cheguei a editor de Esportes. Passei também pela rádio Iguatemi, afiliada Jovem Pan, colaborei com a revista Brasileiros e atuei por dez anos em O Diário, de Mogi das Cruzes. Sou pai do filho mais incrível que existe, chamado Vitor.

ENTREVISTA:

Você é diretor de Redação do jornal Diário do Grande ABC. Fale-nos sobre seu trabalho. Como é ser diretor de um jornal diário?


Cabe ao diretor de Redação zelar pela linha editorial do jornal, zelando para que a missão do veículo - que é, além de reportar com isenção e transparência os principais fatos que influenciam a vida dos moradores das sete cidades do Grande ABC, servir de tribuna aos justos anseios da comunidade - seja respeitada. É zelar pelo bem-estar dos 2,7 milhões de pessoas que vivem na região, uma das mais ricas do Brasil, mas profundamente desigual. A tarefa não é fácil; os desafios são imensos. Lida-se com pressão, interesses conflitantes, pontos de vistas divergentes. Há quem queira muito ver uma informação que julga importante no jornal, assim como existem aqueles que se esforçam para que outras permaneçam escondidas dos olhos da opinião pública. Colocar o interesse da sociedade como único balizador do que sairá na edição do dia seguinte é a sagrada missão da equipe que, com muita honra, tenho a satisfação de conduzir.

Além de jornalista, você é escritor, coautor do livro em quadrinhos Como um cavalo salvou a vida de um preso político. Fale-nos sobre ele.

O livro, escrito em parceria com o ilustrador Luiz Carlos Fernandes, relata episódio ocorrido há 80 anos, na revolução comunista de 1935, contra o governo de Getúlio Vargas. Escolhido pela OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] para fazer a defesa de um dos presos políticos, chamado Harry Berger, que estava sendo barbaramente torturado na prisão, o advogado Heráclito Fontoura Sobral Pinto não encontrou nos códigos legais nenhum artigo no qual basear o habeas corpus. Foi então que se lembrou de ter lido num jornal que, pouco antes, juiz paranaense havia condenado homem que matara a pancadas cavalo de sua propriedade ao pagamento de multa e a 17 dias de prisão, baseado no Decreto de Proteção e Defesa dos Animais. Ora, deduziu Sobral Pinto, se o Estado tutela até mesmo os seres irracionais, por que permite maus-tratos a um ser humano? Foi então que ele invocou o Decreto para implorar pela vida de Harry Berger. É verdade que o advogado não conseguiu livrar o preso da cadeia, mas a repercussão do argumento engenhoso utilizado por Sobral Pinto foi tão grande que as torturas pararam, o que acabou por proteger a vida do réu. É esta história que contamos no livro.

Como vê a questão da leitura no país?

 Lê-se pouco no Brasil - e mal. Dia desses li nos jornais que o Indicador de Alfabetismo Funcional, pesquisa conduzida pelo Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa, mostrava que apenas 22% dos brasileiros que chegaram à universidade têm plena condição de compreender o que leem e também de se expressar. Esse dado é assustador, porque se imagina que as academias reúnam a nata da intelectualidade brasileira. E se esse é o topo da pirâmide, imagine-se então como é a base.

O que tem lido ultimamente?


Sou muito fã de biografias. Dos seis livros que repousam na minha cabeceira neste momento, a maior parte é desse gênero: a de Jô Soares, a de Leonardo da Vinci, a de Tiradentes e uma de Jesus Cristo. Já li muita ficção, quando criança, mas agora gasto a maior parte do meu tempo lendo não ficção. Aliás, recomendo fortemente O monopólio da mídia, escrito por Ben Bagdikian, aquele mesmo dos papéis do Pentágono, retratado no filme The Post - A guerra secreta. É um retrato assustador, mas não apocalíptico, da concentração dos meios de comunicação no mundo. Defende a tese de que nenhum ditador ou déspota da história deteve tanto poder quanto os comandantes de cinco conglomerados de mídia da atualidade: Time-Warner, Disney, Bertelsman, Viacom e News Corporation.

Quais os seus próximos projetos?

Estou mergulhado na pesquisa de episódio esquecido da aviação brasileira, ocorrido há muito tempo e que tem forte carga dramática. É uma história verdadeira, que quero transformar em livro. No momento, todavia, não posso dar mais detalhes.


*Sérgio Simka é professor universitário desde 1999. Autor de cinco dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a coleção Mistério, publicada pela Editora Uirapuru. Membro do Conselho Editorial da Editora Pumpkin.

Cida Simka é licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Coautora do livro Ética como substantivo concreto (Wak, 2014) e autora dos livros O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática (Wak, 2016), O enigma da velha casa (Uirapuru, 2016) e “Nóis sabe português” (Wak, 2017).
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