José Xavier Cortez - Foto divulgação |
Trazemos aos leitores da revista Conexão Literatura uma entrevista exclusiva com José Xavier Cortez, diretor-presidente da Editora Cortez (SP).
Fale-nos sobre você.
Nasci em 1936 e me criei no sertão do Rio Grande do Norte. Trabalhei na agricultura de subsistência com minha família. Saí de lá aos 17 anos. Estudei em escolas rurais e aos 13 anos concluí o que à época era designado 5º ano primário, na cidade de Currais Novos.
Aos 18 anos fui para Natal, onde permaneci hospedado na casa de parentes. Foi um período em que tive que me adaptar às circunstâncias.
Fiz alguns “bicos”, inclusive vendendo frutas pelas ruas da cidade até 1955.
Em março daquele ano fui ser Aprendiz na Escola de Aprendizes-Marinheiros de Pernambuco. Em janeiro de 1956, após jurar Bandeira, fui transferido para o Rio de Janeiro, onde servi em vários navios da Marinha do Brasil.
Essa foi minha realidade até dezembro de 1964, quando fui expulso pela Ditadura Civil Militar em razão da minha participação no movimento que a “Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil” (AMFNB) fez no dia 25 de março daquele ano quando comemorávamos nosso 2ª aniversário.
Esse fato marcou decisivamente minha biografia.
Em janeiro de 1965 vim para São Paulo e sem profissão fui trabalhar num estacionamento de um parente, na Rua Asdrubal do Nascimento, no centro, como lavador de carros. Eu ainda não sabia dirigir e naquele local conciliava trabalho e moradia.
Mas quero registrar que tinha o hábito da leitura e essa condição me fez entrar no Curso de Economia da PUC-SP, em 1966.
Se a expulsão da Marinha marcou decisivamente minha biografia, passar a fazer parte do cotidiano da PUC-SP como aluno mudou radicalmente minha trajetória.
Meu envolvimento com os livros começou nessa época. Morava nas proximidades de uma editora que publicava livros na minha área de estudo e eu era amigo do gerente.
Passei a comercializar junto aos colegas livros sugeridos pelos professores. Eu recebia desconto na aquisição dos exemplares e esse trabalho me rendia algum dinheiro, essencial para complementar o pagamento da mensalidade.
Em 1968, ano de tristíssima memória, consegui autorização, como aluno, para utilizar um pequeno espaço num dos corredores da PUC. Foi a partir disso que me dediquei à atividade de livreiro, trazendo, inclusive, livros para outros cursos.
As atividades de Editor também tiveram início no mesmo contexto. Por cerca de dez anos mantive sociedade com um colega de classe. Mas foi em 1980, contando com familiares, que consegui dar início à Livraria Cortez e à Cortez Editora, essa que permanece no cenário editorial brasileiro.
Olhando em retrospectiva constato que a condição de ser aluno da PUC numa circunstância muito singular, na qual uma grande efervescência política permeava todos os aspectos da vida universitária, me favoreceu tanto no meu início como livreiro como posteriormente como editor.
Pude usufruir a credibilidade derivada da condição de punido pela ditadura. Meus interlocutores sabiam que eu estava no lado progressista da história.
E essa credibilidade também foi decisiva para que textos seminais, de autores fortemente comprometidos com a crítica social e defesa da democracia, fossem confiados ao meu trabalho como Editor.
A livraria consolidou-se como espaço onde intelectuais, professores, pesquisadores podiam sem “medo” encomendar determinados textos, bibliografias e referências muitas vezes “censuradas” por órgãos de repressão.
A editora foi se consolidando e passou a produzir e editar inicialmente “teses” com uma clara perspectiva progressista, primeiramente nas áreas de Educação e Serviço Social, chegando ao atual catálogo onde também encontramos títulos nas áreas de Direitos Humanos, Ciências Sociais, Linguagem e Literatura Infantojuvenil, entre outras.
Construímos esse catálogo que valoriza muito o autor nacional e que já possui inúmeros títulos traduzidos em vários idiomas.
ENTREVISTA:
Você é o diretor-presidente da Editora Cortez. Como é o seu trabalho?
Fale-nos sobre você.
Nasci em 1936 e me criei no sertão do Rio Grande do Norte. Trabalhei na agricultura de subsistência com minha família. Saí de lá aos 17 anos. Estudei em escolas rurais e aos 13 anos concluí o que à época era designado 5º ano primário, na cidade de Currais Novos.
Aos 18 anos fui para Natal, onde permaneci hospedado na casa de parentes. Foi um período em que tive que me adaptar às circunstâncias.
Fiz alguns “bicos”, inclusive vendendo frutas pelas ruas da cidade até 1955.
Em março daquele ano fui ser Aprendiz na Escola de Aprendizes-Marinheiros de Pernambuco. Em janeiro de 1956, após jurar Bandeira, fui transferido para o Rio de Janeiro, onde servi em vários navios da Marinha do Brasil.
Essa foi minha realidade até dezembro de 1964, quando fui expulso pela Ditadura Civil Militar em razão da minha participação no movimento que a “Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil” (AMFNB) fez no dia 25 de março daquele ano quando comemorávamos nosso 2ª aniversário.
Esse fato marcou decisivamente minha biografia.
Em janeiro de 1965 vim para São Paulo e sem profissão fui trabalhar num estacionamento de um parente, na Rua Asdrubal do Nascimento, no centro, como lavador de carros. Eu ainda não sabia dirigir e naquele local conciliava trabalho e moradia.
Mas quero registrar que tinha o hábito da leitura e essa condição me fez entrar no Curso de Economia da PUC-SP, em 1966.
Se a expulsão da Marinha marcou decisivamente minha biografia, passar a fazer parte do cotidiano da PUC-SP como aluno mudou radicalmente minha trajetória.
Meu envolvimento com os livros começou nessa época. Morava nas proximidades de uma editora que publicava livros na minha área de estudo e eu era amigo do gerente.
Passei a comercializar junto aos colegas livros sugeridos pelos professores. Eu recebia desconto na aquisição dos exemplares e esse trabalho me rendia algum dinheiro, essencial para complementar o pagamento da mensalidade.
Em 1968, ano de tristíssima memória, consegui autorização, como aluno, para utilizar um pequeno espaço num dos corredores da PUC. Foi a partir disso que me dediquei à atividade de livreiro, trazendo, inclusive, livros para outros cursos.
As atividades de Editor também tiveram início no mesmo contexto. Por cerca de dez anos mantive sociedade com um colega de classe. Mas foi em 1980, contando com familiares, que consegui dar início à Livraria Cortez e à Cortez Editora, essa que permanece no cenário editorial brasileiro.
Olhando em retrospectiva constato que a condição de ser aluno da PUC numa circunstância muito singular, na qual uma grande efervescência política permeava todos os aspectos da vida universitária, me favoreceu tanto no meu início como livreiro como posteriormente como editor.
Pude usufruir a credibilidade derivada da condição de punido pela ditadura. Meus interlocutores sabiam que eu estava no lado progressista da história.
E essa credibilidade também foi decisiva para que textos seminais, de autores fortemente comprometidos com a crítica social e defesa da democracia, fossem confiados ao meu trabalho como Editor.
A livraria consolidou-se como espaço onde intelectuais, professores, pesquisadores podiam sem “medo” encomendar determinados textos, bibliografias e referências muitas vezes “censuradas” por órgãos de repressão.
A editora foi se consolidando e passou a produzir e editar inicialmente “teses” com uma clara perspectiva progressista, primeiramente nas áreas de Educação e Serviço Social, chegando ao atual catálogo onde também encontramos títulos nas áreas de Direitos Humanos, Ciências Sociais, Linguagem e Literatura Infantojuvenil, entre outras.
Construímos esse catálogo que valoriza muito o autor nacional e que já possui inúmeros títulos traduzidos em vários idiomas.
ENTREVISTA:
Você é o diretor-presidente da Editora Cortez. Como é o seu trabalho?
Hoje em dia estou à frente de uma equipe, um comitê gestor, que superintende os processos administrativos e divide com assessorias editoriais a dinâmica de avaliação, aprovação, produção e comercialização de livros.
A editora recebe quantos originais por mês?
É difícil precisar o número de originais porque isso se dá em fluxo contínuo, mantendo as rotinas de avaliação em permanente diálogo com autores e proponentes de novos projetos editoriais.
Quantos são publicados?
Até o final de 2015 nossa média de lançamentos girava ao redor de oitenta títulos por ano.
O cenário editorial após a crise de 2016 exigiu redução e os números atuais estão se adaptando à nova realidade.
Como é ser editor em um país como o Brasil?
Isso diz respeito a manter o foco nos compromissos que sempre tivemos. No meu caso e da Cortez Editora nunca nos fixamos apenas nos números, mas, e principalmente, procuramos manter acesa a busca por títulos cujo conteúdo possa sempre colaborar na edificação de um país melhor, mais justo, menos desigual.
Como analisa a questão dos e-books?
É mais um suporte proporcionado pelas novas tecnologias.
Inicialmente, o tema e-book foi motivo de alarde e preocupação considerando que pudesse ocupar o lugar do livro impresso.
Isso não ocorreu e as pesquisas demonstram que dificilmente ocorrerá.
O vínculo do leitor com o livro impresso se mantém sólido.
Quais são suas leituras preferidas?
Textos com informações históricas. Textos com informações biográficas e tudo o que diga respeito à leitura e ao mercado livreiro editorial, nacional e internacional.
Que conselho pode dar a um escritor principiante?
Para ser um bom escritor, antes é necessário ser um bom leitor.
Você é uma pessoa realizada?
Tenho todos os motivos para me sentir realizado.
Desde quando me lembro de minha infância e da superação das dificuldades no sertão; até os momentos mais densos de minha trajetória quando participei de contextos políticos por vezes dramáticos. Na sequência pude consolidar um trabalho editorial num universo imensamente competitivo e, acima de tudo, pude fazer tudo isso contando com a inestimável presença de minha família e a privilegiada montagem de uma equipe muito comprometida, inclusive com os ideais da Editora.
*Sérgio Simka é professor universitário desde 1999. Autor de cinco dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a coleção Mistério, publicada pela Editora Uirapuru.
Cida Simka é licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Coautora do livro Ética como substantivo concreto (Wak, 2014) e autora dos livros O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática (Wak, 2016), O enigma da velha casa (Uirapuru, 2016) e “Nóis sabe português” (Wak, 2017).
A editora recebe quantos originais por mês?
É difícil precisar o número de originais porque isso se dá em fluxo contínuo, mantendo as rotinas de avaliação em permanente diálogo com autores e proponentes de novos projetos editoriais.
Quantos são publicados?
Até o final de 2015 nossa média de lançamentos girava ao redor de oitenta títulos por ano.
O cenário editorial após a crise de 2016 exigiu redução e os números atuais estão se adaptando à nova realidade.
Como é ser editor em um país como o Brasil?
Isso diz respeito a manter o foco nos compromissos que sempre tivemos. No meu caso e da Cortez Editora nunca nos fixamos apenas nos números, mas, e principalmente, procuramos manter acesa a busca por títulos cujo conteúdo possa sempre colaborar na edificação de um país melhor, mais justo, menos desigual.
Como analisa a questão dos e-books?
É mais um suporte proporcionado pelas novas tecnologias.
Inicialmente, o tema e-book foi motivo de alarde e preocupação considerando que pudesse ocupar o lugar do livro impresso.
Isso não ocorreu e as pesquisas demonstram que dificilmente ocorrerá.
O vínculo do leitor com o livro impresso se mantém sólido.
Quais são suas leituras preferidas?
Textos com informações históricas. Textos com informações biográficas e tudo o que diga respeito à leitura e ao mercado livreiro editorial, nacional e internacional.
Que conselho pode dar a um escritor principiante?
Para ser um bom escritor, antes é necessário ser um bom leitor.
Você é uma pessoa realizada?
Tenho todos os motivos para me sentir realizado.
Desde quando me lembro de minha infância e da superação das dificuldades no sertão; até os momentos mais densos de minha trajetória quando participei de contextos políticos por vezes dramáticos. Na sequência pude consolidar um trabalho editorial num universo imensamente competitivo e, acima de tudo, pude fazer tudo isso contando com a inestimável presença de minha família e a privilegiada montagem de uma equipe muito comprometida, inclusive com os ideais da Editora.
*Sérgio Simka é professor universitário desde 1999. Autor de cinco dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a coleção Mistério, publicada pela Editora Uirapuru.
Cida Simka é licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Coautora do livro Ética como substantivo concreto (Wak, 2014) e autora dos livros O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática (Wak, 2016), O enigma da velha casa (Uirapuru, 2016) e “Nóis sabe português” (Wak, 2017).
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