Jp Santsil |
ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Jp Santsil: Desde criança eu era apaixonado pelas letras. Lembro-me de quando pequeno ao sair pelas ruas com minha avó, sempre a perguntava o que estava escrito nos outdoors publicitários espalhados pela cidade. E, minha avó ia lendo e eu começava a associar as palavras. Lembro-me que eu perguntava a todo momento o que queria dizer cada palavra que eu achava escrita nas paredes ou lojas, que chegava a incomodá-la muito. E ela já não queria ler mais para mim. Até que de súbito, aos quatro anos de idade eu consegui ler uma palavra sozinho, e disse a minha avó o que estava escrito, e isso a espantou muito, pois sem ninguém me ensinar a ler, tinha conseguido decifrar uma palavra apenas associando o que minha avó respondia quando eu perguntava o que estava escrito naqueles painéis altos com letras grandes. A partir daí, comecei a ler toda palavra que se encontrava na minha frente e me apaixonei pelos livros. Me apaixonei tanto, que na minha adolescência fazia das bibliotecas públicas minha casa, e meus colegas me diziam que eu era louco, até as bibliotecárias me alertavam, dizendo para eu não ler tanto assim para não enlouquecer. Porém, minha primeira escrita foi um diário em que relatava tudo o que eu sentia e acontecia comigo, além de copiar nele alguns trechos dos livros que lia e mais gostava. E também, algumas poesias e textos de minha autoria.
Conexão Literatura: Você é autor do livro “O filho daquela que mais brilha” (Clube de Autores). Poderia comentar?
Jp Santsil: Esta obra literária narra a incrível saga do Quilombo dos Palmares no Novo Mundo, e a trajetória de vida do seu líder Zumbi dos Palmares desde seu nascimento na N’gola N’janga (como era chamado o quilombo pelos descendentes africanos do antigo Congo), até a sua brutal morte nos sumidouros do atual Estado do Alagoas, assassinado pelo bandeirante paulista Domingos Jorge Velho. A narrativa começa contando a história de um preto velho griot de nome Djeli, descendente dos antigos povos Mandês, os Mandinkas. Esse sábio ancião africano se torna o tutor espiritual e moral do jovem príncipe de Palmares N’zambi. Quando este retorna ao quilombo, depois de nove anos que foi capturado por uma expedição portuguesa que incendiou boa parte desse refúgio dos negros escravizados no Novo Mundo. O príncipe de Palmares depois que retorna a N’gola N’janga, resolve viver junto ao preto velho Djeli. Pois sente em seu coração que poderia aprender muito da sua tradição africana, observando e escutando as ações e palavras deste ancião griot. Djeli vê em N’zambi o cumprimento de uma antiga profecia africana que de tempos em tempos, no fim e no início de uma nova era, quando uma geração entra em caos, e o povo desta geração está em grande sofrimento e tamanha ignorância do Sagrado e Eterno Contínuo. Surge um homem dotado de toda a força, o Grande Guerreiro que é o Filho Daquela Que Mais Brilha. E investe todos os seus esforços preparando o jovem N’zambi, para ser esse grande guerreiro libertador. Essa saga tem palco no período historicamente conhecido como Brasil Colonial, no Outeiro ou Serra da Barriga na antiga Capitania de Pernambuco, ou Nova Lusitânia como era chamada pelos colonos portugueses, que compreendia os atuais estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas e a porção ocidental da Bahia. E nos conta uma história de amor e luta, esperança e liberdade e crenças messiânicas em um período trágico da história brasileira. Está obra retrata os fatos verídicos da época, envolto em uma bela e inteligente ficção imaginativa. Em que revivi e coliguei os muitos personagens, ambientes e situações que vão além das paliçadas do Quilombo dos Palmares. Obra indispensável não só para os brasileiros, como também, para aqueles que querem entender esse grande holocausto humano que foi a escravidão nas Américas, e seus processos abolicionistas. Também, uma divertida forma de se ler a história, sendo romanceada, onde os personagens são vivos falam e pensam, indo além dos livros acadêmicos em que os historiadores relatam apenas ações, onde os seus personagens não são animados, mas cadáveres expostos nos museus das letras.
Conexão Literatura: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir seu livro?
Jp Santsil: Sete anos de pesquisa, três anos de escrita e mais um ano de papeladas e burocracias. Daí nasceu o meu livro: O FILHO DAQUELA QUE MAIS BRILHA - A incrível saga do Quilombo dos Palmares no Novo Mundo. Basicamente reuni todos os fatos históricos, junto a uma bela ficção imaginativa, interligando os muitos personagens históricos da época nesta saga que vos apresento. Veracidade reunida a fantasia isso é teoria histórica. Fui além dos mares em viagem a Lisboa, no instituto da Torre do Tombo, e depois dei um pulo em Amsterdam procurando documentos verídicos do Quilombo dos Palmares... O que achei? Praticamente, de relatos, cartas e documentos históricos do Quilombo dos Palmares não preenchem dez folhas de doc. no formato A4 com fontes Times New Roman 12. Retratando que toda história que é nos relatada nas escolas e universidades e nos demais grupos de estudos sobre Palmares não passa de teoria e imaginação dos poucos historiadores que escreveram sobre o caso. Na História não se sabe ao certo quem foi Zumbi, ou Ganga Zumba, ou se esses personagens foram a mesma pessoa, ou se o nome Zumbi era um título dado aos líderes palmarinos. Até porque naquela época Palmares já era uma incógnita, e as poucas informações vieram de alguns bandeirantes e sertanistas que ousaram invadir o Quilombo. Tudo relatado através de poucas cartas um tanto que fantasiosas, para contar os seus feitos e bravuras de guerra. A História real é realmente irreal, engodo e fantasia. Um verdadeiro quebra-cabeça em que se faltam a maioria das peças, onde só a lenda é verídica. Nesse livro não se encontra só a história do Quilombo e Zumbi dos Palmares, conta a história do Brasil em sua formação como um povo miscigenado. E vai muito mais além... Já que a história não passa de fantasia, por que não contá-la como uma verdadeira fantasia? Pelo menos é muito mais divertido do que sentar numa sala de aula vendo o professor papagaio repetir as mesmas palavras dos outros papagaios. Assim é esse romance, uma divertida forma de se ler a história. Sendo que toda essa repetição, e interpretação ao longo dos anos caracteriza o pensamento do inconsciente coletivo dessa história, fazendo com que as peças ocultas desse quebra-cabeça tomem forma, e nos revele algo de mistério superior.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do qual você acha especial em seu livro?
Jp Santsil: Toda história em si é especial, sendo difícil para mim apontar um trecho, mas se tenho que destacar algum, melhor seria o momento em que os dois protagonistas da história se conhecem:
“O velho Djeli continuou a tocar o seu instrumento até a morte do sol. E os k’ilombolas perplexos, maravilhados, confusos e saciados de conhecimento aos poucos voltavam para os seus kraais e as suas kubatas.
Dentro dos ouvintes havia um jovem da família real do K’ilombo, que permaneceu junto ao preto velho Djeli, enquanto todos partiram. Ele ficou encantado com os contos dos antepassados, sentia-se plenamente vivo diante de tamanha sabedoria, e desejou permanecer ali à noite na companhia do velho griot. Seu nome era N’zambi, filho da Princesa Sabina e sobrinho do Grande Rei do K’ilombo, N’ganga N’zumba. Ambos os filhos da Grande Mãe dos k’ilombolas a rainha Akualtune, descendente dos reis e rainhas do Kongo antigo, os M’wene Kongo.
O velho griot o conhecia muito bem, pois o viu nascer, e também, sabia de toda sua trajetória de vida. Pois, N’zambi era o Filho daquela que mais brilha. A grande Estrela do Pastor, pelo qual precedia o nascimento de todos os grandes homens e reis, que ao seu tempo fariam grandes obras para humanidade. Assim, o velho Djeli ficou maravilhado por dentro com sua presença, mas não deixou que o jovem notasse. Porque muitos haviam crido que N’zambi tinha morrido, depois que foi capturado em uma expedição portuguesa aos seis anos de idade. Em uma batalha com os k’ilombolas que perdurou por quinze dias, em que também falecera seu pai e sua mãe em um grande incêndio.
Djeli sabia que se N’zambi realmente fosse o Filho daquela que mais brilha. Ele retornaria ao seu povo, e o lideraria contra os seus opressores. Por isso ficou surpreso e admirado ao vê-lo tão depressa. Forte e sadio, em bom estado e aparência.
N’zambi permaneceu em pé parado, acerca de uns oito passos do preto velho griot, e o observava pacientemente, enquanto o ancião ainda tocava seu M’bolumbumba. Ele sabia que o velho Djeli era um homem muito sábio, por ser um ancião nascido na Terra Mãe África, e um dos poucos verdadeiros griots ainda vivo. Além de ter convivido com seus antepassados da família real, ainda no Império do Kongo. Por isso, o jovem estava convencido que aquele preto velho poderia ter as respostas para todas as suas perguntas e incertezas. N’zambi foi procurá-lo no Mokambo de Tabocas a mando do seu tio, o comandante e engenhoso guerreiro Mazômbo, N’ganga N’zona. Pelo qual o orientou que esse velho era um vidente dos antigos, e de tudo sabia.
O Sol já desaparecera por detrás das palmeiras de Guariroba, acompanhado de um céu avermelhado com tons amarelados e ofuscantes. E o preto velho Djeli, ao se virar em direção ao jovem príncipe. Viu por detrás dele ao horizonte, a grande Estrela do Pastor levantada no imenso céu acinzentado do final de tarde. E o que mais chamou sua atenção, foi o fato da Grande Estrela de todas as tardes e manhãs, estar de um brilho tão intenso como nunca vira antes. Assim, Djeli teve a confirmação oracular, de que verdadeiramente N’zambi era o Filho daquela que mais brilha.
Djeli com os seus olhos fixos na Grande Estrela, se aproximou lentamente do jovem ficando ao seu lado, e disse:
- Repara na moringa que quebra se esvaziando das suas águas. No galho que cai e no barulho que faz, ao se romper da árvore frondosa. Na flor que murcha, e no baile do cair suave e silencioso de suas pétalas. No vento que arrasta a poeira no olhar de quem anda na estrada de barro. Nas folhas que rodopiam nos caminhos dos vilarejos, arrastadas pelo vácuo do cavaleiro veloz. No mato que cresce nas brechas das construções de pedras. Na topada que se leva ao caminhar distraído, e na dor aguda do bater do cotovelo. Nas orelhas amassadas das páginas dos livros e nas pingueiras do telhado da casa, quando cai a chuva forte. No simples broto que cresce no pedaço de pau que serviu como estaca. Veja, meu jovem! As coisas conversam falando conosco constantemente. Nos alertando, nos ensinando e nos confirmando toda a verdade do Sagrado e Eterno Contínuo, que se encontra agora oculto aos olhos inocentes. Pois, as mensagens do Grande Espírito Criador vêm a nós na maneira e na forma mais simples e singela que podemos conceber e conhecer. Eis aí a importância de estar atento a tudo, e a todo movimento ao nosso redor, acima e abaixo. Devemos nos manter sempre alerta, com os olhos do espírito despertos, e a cabeça livre de julgamentos prévios. Para ver o que não se pode ver. Ouvir o que não se pode ouvir. Sentir o que não se pode sentir. E cheirar o que não se pode cheirar.
N’zambi vendo que o velho griot lhe falara olhando para algo por detrás dele com tamanho espanto. Virou-se, e também olhou para Grande Estrela. E sentiu uma forte sensação de que já tinha visto aquela cena antes, e disse:
- Impressionante! Eu acho que já vivi esse momento antes.”
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Jp Santsil: Devido ao fato dessa história ser ainda inconveniente para a moderna sociedade brasileira, tive resistências de algumas grandes editoras em publicá-la. Então, para não deixar que essa linda obra ficasse na gaveta por mais tempo, resolvi lançá-la independentemente de editora. Vocês encontrarão essa obra em 5 x 8 (12,7 x 20,32 cm) capa mole brilhante, e, em A5 6 x 9 (15,24 x 22,86 cm) em capa dura ou mole – fosca ou brilhante, além de formatos digitais (EPUB, MOBI, AZW e PDF) eBook, aqui: https://www.jpsantsil.com no meu website pessoal. Também lá estará o BookTrailer que conta um pouco da minha trajetória de escrita desde os desertos israelenses até a conclusão, no Rio de Janeiro. Também, poderá encontra-la no Clube de Autores no seguinte link: https://www.clubedeautores.com.br/book/240924--O_FILHO_DAQUELA_QUE_MAIS_BRILHA#.WhW-Y9CWaM8
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Jp Santsil: Depois da escrita de: “O FILHO DAQUELA QUE MAIS BRILHA”, pretendo definitivamente seguir uma carreira de escritor. Não sei bem ao certo em que ramo, já que meu primeiro livro foi um romance histórico. Mas sei que desejo me focar em temas fortes e que toquem a consciência e espiritualidade do ser humano; que toquem mais ainda o seu coração. Pois acredito no poder e na magia da literatura como um fator educativo na formação e transformação cultural da condição humana, rompendo as muitas cápsulas da ignorância nas quais fomos aprisionados e arraigados com o tempo; por uma sociedade de valores competitivos de raça, classe e status. Sei que muito mais obras de grande valor e beleza hão de vir por aí em minha trajetória de autor.
Perguntas rápidas:
Um livro: Adventures of Huckleberry Finn
Um (a) autor (a): Vitor Hugo
Um ator ou atriz: Viola Davis
Um filme: Dance with Wolves
Um dia especial: 20 de Novembro
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Jp Santsil: Esta obra: O FILHO DAQUELA QUE MAIS BRILHA é fruto de uma vasta pesquisa histórica e sapiência de vida, a qual contém segredos e mistérios tanto acadêmicos, quanto espirituais, base de meus estudos culturais, como um mestiço latino-americano brasileiro e cidadão do mundo. E dos meus estudos espirituais, como ser humano em plena expansão de consciência, nos muitos ensinamentos das culturas africanas, nativo-americanas e do Mediterrâneo asiático e africano. A obra contém não só os muitos ensinamentos dos judeus cabalísticos e essênios, cristãos gnósticos, europeus alquímicos, ameríndios (andinos, amazonenses e costeiros), mas também as culturas africanas ancestrais dos Yorubas e Mandinkas. E, é claro, toda a cultura dos conhecimentos quilombolas dos afro-brasileiros. Assim, desejo paz a todos!
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