ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Rosana Pugina: desde a infância, tive contato com obras literárias pertencentes à biblioteca da minha mãe, privilégio este que, infelizmente, poucas pessoas têm. Já na idade escolar, fui alfabetizada em casa pela minha mãe, que também tem formação em Letras, por meio da leitura das aventuras do Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato, de onde partiu a minha paixão pela literatura. Daí em diante, sempre estive rodeada por livros. Durante a graduação, meu leque de conhecimentos literários se ampliou consideravelmente, de onde deriva o meu interesse por obras marginalizadas pelo cânone dito universal. Em consequência disso, no mestrado, fui estudar a literatura erótica através da análise de contos brasileiros do século XXI, e no doutorado, debrucei-me sobre o gênero romance, com ênfase na obra A casa dos budas ditosos, do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro.
Conexão Literatura: Você é autora do livro Um "depoimento sócio histórico-lítero-pornô”. Poderia comentar?
Rosana Pugina: Sim, sou a autora desta obra que traz o resultado da minha trajetória como pesquisadora em nível de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Universidade Estadual Paulista (Unesp/FCLAr). O livro apresenta temas relativos à história da literatura erótica mundial e também brasileira. Para isso, passeia por muitos conceitos, tais como: erotismo, pornografia, obscenidade, carnavalização, grotesco, estudos bakhtinianos, gêneros discursivos, etc., todos eles bastante caros à análise que proponho a partir da leitura do romance ubaldiano citado.
Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?
Rosana Pugina: é importante ressaltar que a minha obra não é literária. Como disse anteriormente, é resultado da minha pesquisa de doutorado. Entretanto, mesmo que a escrita não seja literária, é preciso que haja inspiração para que a análise proposta seja interessante e proveitosa para o leitor do ponto de vista acadêmico. Ademais, o meu objeto de estudo é uma obra literária, fato este que, de um jeito ou de outro, traz a magia dessa arte à baila em toda a obra.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?
Rosana Pugina: Singularmente, gosto das conclusões. Aponto aqui o último parágrafo da publicação, inclusive porque explana o título da obra: “sobre o romance objeto da pesquisa, espera-se ter analisado profundamente CLB, uma mulher senhora do seu corpo e dos seus atos, em cuja axiologia sobressai uma orgulhosa legitimação do prazer em oposição ao caráter maldito que o discurso religioso atribuiu historicamente ao corpo e à sexualidade. A sua gênese, portanto, refrata e reacentua vozes do grande tempo. Sob o arcabouço teórico proposto, intenciona-se ter demonstrado a sua tendência singular de anarquizar o discurso e ver, com olhar crítico, os usos e os costumes da sociedade: subversão e carnavalização são elementos constitutivos da personagem, que vive e propõe a vida saturada por uma liberdade sexual plena até a velhice, tendo registrado tudo isso em seu ‘depoimento sócio-histórico-lítero-pornô’”.
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Rosana Pugina: O meu livro está à venda no site Estante virtual, basta procurar por “Rosana Pugina”. Sobre mim, além dos textos da orelha e da contracapa do livro, indico a minha conta no Instagram (@letra_erotica), na qual faço indicações de livros no campo da pornografia e também nos estudos relativos a esse tema. Como sou pesquisadora, tenho perfil na Plataforma Lattes, no qual listo todas as minhas produções acadêmicas no área da literatura pornográfica, que é um campo bastante profícuo nos estudos literários, haja vista a curiosidade que as temáticas de Eros despertam nas pessoas.
Conexão Literatura: Quais dicas daria para os autores em início de carreira?
Rosana Pugina: Para mim, é melhor falar com pesquisadores em início de carreira. A minha dica é: amem os seus objetos de análise para que vocês possam ter sempre ânimo e inspiração para continuar as pesquisas. Afinal, serão anos de contato direto com o corpus selecionado nos âmbitos acadêmico e pessoal, situação esta que exige que tenhamos muito apreço pelo nosso objeto de estudo, bem como por nossas escolhas teórico-metodológicas. Portanto, pesquisem com paixão, assim, o trabalho não será tão árduo.
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Rosana Pugina: Sim, na sequência, penso em seguir os meus estudos em nível de pós-doutorado, agora no campo da literatura erótica sadomasoquista, outro nicho bastante marginalizado pelo cânone e também pela própria academia.
Perguntas rápidas:
Um livro: Três, na verdade (risos), a trilogia pornográfica de Hilda Hilst, presente na obra PornoChic (2018).
Um ator ou atriz: Prefiro escritor ou escritora. João Ubaldo Ribeiro e Simone de Beauvoir.
Um filme: O carteiro e o poeta
Um hobby: as minhas gatas: Simone de Beauvoir e Clarice Lispector
Um dia especial: Meses especiais, na verdade: o tempo em que vivi em Lisboa para cursar uma parte do meu doutorado.
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Rosana Pugina: Espero trazer luz às questões abordadas
por João Ubaldo Ribeiro na obra A casa dos budas ditosos, especialmente quanto aos
assuntos relativos à sexualidade feminina, à liberação das amarras sociais e à
superexposição do corpo e do sexo. Como estou por aí, pelas redes, gostaria de interagir
com os leitores da minha pesquisa para que possamos, juntos, dimensionar a
riqueza da literatura erótica, sublinhando a forma magistral como Ubaldo faz
isso no romance estudado.
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