João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

  Querido(a) leitor(a)! Nossa nova edição está novamente megaespecial e destaca João Barone, baterista da banda Os Paralamas do Sucesso. Bar...

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

ENTREVISTA COM ESCRITOR: Fabio Shiva e sua obra, por Cida Simka e Sérgio Simka


Fale-nos sobre você.
 

Sou poeta, escritor e músico, graças a Deus! Nesse ano de 2023 estou celebrando 10 anos de literatura, desde a publicação de meu primeiro livro, o romance policial “O Sincronicídio: sexo, morte & revelações transcendentais”, lançado pela Caligo Editora. De lá para cá, tive a alegria de publicar vários livros nos mais diversos estilos, como autor e também como organizador. Em minha jornada como músico, um trabalho especialmente marcante foi “ANUNNAKI – Mensageiros do Vento”, a primeira ópera rock em desenho animado feita no Brasil, na qual participei como roteirista e coautor das músicas, junto com meu irmão Fabrício Barretto, que dirigiu o filme. Antes disso, Fabrício esteve junto comigo também na banda de heavy metal Imago Mortis, cuja história é o tema desse livro que estou lançando. 

ENTREVISTA: 

Fale-nos sobre o livro "Diário de um imago". O que motivou a escrevê-lo? 

A banda Imago Mortis teve uma trajetória muito bonita no cenário do rock pesado brasileiro. Eu participei da banda de 1994 a 2003, desde a sua fundação até o lançamento do segundo CD, a ópera rock “VIDA: The Play of Change”, considerado um dos melhores álbuns de heavy metal produzidos no Brasil. Depois que publiquei o meu primeiro romance, os amigos ficavam me cobrando contar a história da banda em um livro. Até que, em 2019, resolvi topar o desafio. Contudo estava muito claro para mim que eu não queria escrever uma biografia tradicional, contando feitos heroicos etc. Minha motivação foi escrever um livro divertido e interessante mesmo para pessoas que nunca ouviram falar do Imago Mortis, ou mesmo que nem gostam de rock. Acredito que essa é a grande magia da Literatura, esse poder de nos fazer vivenciar situações e eventos completamente fora de nossa experiência pessoal. Então essa foi a proposta básica: fazer o leitor “sentir na pele” como era fazer parte de uma banda underground no Brasil durante a década de 1990. E essa é uma história que envolve necessariamente muita tosqueira e bizarrice, o que acabou resultando em um livro muito engraçado – ao contrário do que se poderia esperar de uma banda cujo nome significa “Imagem da Morte”! Um outro ganho muito legal que tive com esse livro foi poder refletir sobre as intensas transformações tecnológicas que o mundo viveu nas últimas décadas, e sobre como isso vem afetando as pessoas. 

Fale-nos sobre seus outros livros. 

“O Sincronicídio”, meu primeiro livro, é um romance policial que propõe um cruzamento entre o jogo do xadrez e o jogo do I Ching, o antigo oráculo chinês. O livro é estruturado em 64 capítulos, que são apresentados fora da ordem numérica, onde cada capítulo corresponde a uma casa do tabuleiro de xadrez e a um dos hexagramas do I Ching. Meu segundo romance foi “Favela Gótica”, publicado em 2019 pela Verlidelas Editora. É uma história de terror inspirada na “monstruosidade banal” do cotidiano das grandes cidades, com um plot twist de ficção científica. Em 2016 publiquei um livro duplo de contos pela Cogito Editora: “Isso Tudo É Muito Raro / Labirinto Circular”, em um formato que amo, que é o de dois livros em um, onde a capa de um livro é a contracapa do outro e vice-versa, com cada livro de ponta-cabeça em relação ao outro. Gostei tanto que repeti a dose em 2020 com o “Gincana da Poesia” (também pela Verlidelas), coletânea que organizei junto com minha esposa Fabíola Campos, por conta de um projeto lindo que coordenamos aqui em Salvador. Ainda como autor solo, publiquei em 2022 o infantojuvenil “Meditação para Crianças” (Verlidelas), que ensina a meditar por meio de versos rimados. Como organizador participei de diversos livros, com destaque para os dois volumes da antologia “Cura Poética” (juntamente com Sergio Carmach, da Verlidelas) e o livro coletivo “Escritores Perguntam, Escritores Respondem”, publicado em 2016 pela Cogito. Além desses, publiquei cinco livros como Ghost Writer – mas sobre esses, obviamente, não posso comentar! E em 2023 iniciei a minha própria editora, a Natesha, já com dois livros publicados. 

Como se dá o seu processo criativo? Que acha dos que dizem que para escrever é necessário que a pessoa tenha dom? 

Eu sinto uma profunda reverência pela Literatura, que considero fundamentalmente uma jornada de autoconhecimento, de autodescobrimento. Costumo dizer que não decido sobre os livros que vou escrever, são os livros que decidem vir ao mundo através de mim. E em cada livro que escrevo aprendo um pouco mais sobre mim mesmo, e tento me tornar uma pessoa um pouco melhor. Se esse processo puder ajudar também os leitores, ótimo! Mas tenho a humildade de reconhecer que isso vai depender principalmente da entrega de cada leitor. Sobre essa questão do dom, prefiro substituir essa palavra por “necessidade”, dentro do contexto da célebre pergunta de Rainer Maria Rilke ao jovem poeta: você sente uma real necessidade de escrever? Sente que morreria, caso não escrevesse? Em minha opinião, uma pessoa só deveria se aventurar a escrever depois de tentar responder com toda sinceridade a essas perguntas. 

Como analisa a questão da leitura no país? 

Tento analisar essa questão dentro de um contexto mais amplo, das profundas transformações pelas quais o mundo inteiro está passando. Recentemente tive a oportunidade de ler um bolsilivro, que era um tipo de publicação muito popular nas décadas de 1970 e 1980, vendido em bancas de jornais, com histórias de faroeste, guerra e espionagem. Era uma subliteratura, sob todos os aspectos: tramas clichês com personagens bidimensionais, publicadas em papel de péssima qualidade. Quando eu era criança, amava ler essas histórias! Os bolsilivros eram muito populares entre estudantes e também entre a gente simples do povo, proporcionando horas de distração das duras lides da vida cotidiana. Mas então eu me fiz a seguinte pergunta: esse público que antigamente lia bolsilivros, com o que se distrai hoje em dia? O que essas pessoas leem atualmente? Penso que não leem nada, e se ocupam com Tik Tok e WhatsApp. Isso não é necessariamente algo ruim, mas percebo ao menos uma perda nessa substituição da leitura pelas redes sociais: o exercício da interpretação de texto, de criar imagens mentalmente a partir da leitura. Sinto que a queda no hábito da leitura gera muitas deficiências na percepção de mundo, e isso vem afetando especialmente o Brasil, onde temos um projeto sistemático de emburrecimento da população. Mas, como disse, tento ver esse problema dentro de uma perspectiva mais ampla, que me possibilita vislumbrar esperanças no futuro. O mundo como conhecíamos está se acabando, e isso é bom, pois só assim um novo mundo pode surgir. 

O que tem lido ultimamente? 

Sempre leio no mínimo três livros de cada vez: 1) um livro para o corpo, que é a leitura de entretenimento, de diversão; 2) um livro para a mente, que é a leitura de estudo, de aprendizado e 3) um livro para a alma, que é a leitura espiritual. Contudo na maioria das vezes eu acabo me empolgando e leio bem mais que três livros por vez. Atualmente estou lendo: 1) “As Pérolas Peregrinas”, romance policial do espanhol Manuel de Lope; 2) “Investigação Acerca do Entendimento Humano”, de David Hume e 3) “Sussurros da Eternidade”, de Paramahansa Yogananda. Além desses, só de gula, estou lendo também “A Mente Assassina” de P. D. James e “O Lobo da Estepe”, de Hermann Hesse, que estou lendo pela terceira vez. Isso sem contar os livros que leio profissionalmente, para a Natesha Editora! 

Uma pergunta que não fizemos e que gostaria de responder. 

Senti vontade de falar um pouco sobre meus autores favoritos. Atualmente é Jorge Amado, mas durante um bom tempo foi Rubem Fonseca. Na poesia, é Castro Alves. Sinto uma identificação especial com Anthony Burgess, autor de “Laranja Mecânica”, “Poderes Terrenos”, “Enderby por Dentro”, “A Sinfonia Napoleão” e outras obras igualmente deliciosas. O que acho mais marcante em Burgess é que cada livro dele é totalmente diferente dos demais. Sinto que sou movido pelo mesmo chamado, que pode ser resumido no título de um quadro cômico do grupo inglês Monty Python: “E agora, para algo completamente diferente...”. É assim que eu gosto de fazer Literatura! 

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Seguem os links dos PDF disponibilizados gratuitamente. Alguns estão no Recanto das Letras: 

O SINCRONICÍDIO

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/7847612 

MANIFESTO – Mensageiros do Vento

http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5823590 

ESCRITORES PERGUNTAM, ESCRITORES RESPONDEM

http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5890058 


LIBRETO ANUNNAKI – Mensageiros do Vento

http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5826660 

Filme “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento”:

https://youtu.be/bBkdLzya3B4 

POESIA DE BOTÃO (jogo que ensina as crianças a rimar e fazer Poesia):

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/6446934 

TANTO TEMPO DIRIGINDO SEM NINGUÉM NO RETROVISOR: Contos da Era Bolsonaro

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/6871467 

Os dois que foram publicados pela Verlidelas estão disponibilizados como PDF no site da editora: 

FAVELA GÓTICA

https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica 

MEDITAÇÃO PARA CRIANÇAS

https://www.verlidelas.com/product-page/medita%C3%A7%C3%A3o-para-crian%C3%A7as 

Vídeo MEDITAÇÃO PARA CRIANÇAS

https://youtu.be/uyuY8KEdlJE 

 

CIDA SIMKA

É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021), O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021), Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Somos a diferença neste mundo indiferente (Editora Uirapuru, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023). Colunista da revista Conexão Literatura.  

SÉRGIO SIMKA

É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e os mais novos livros de sua autoria se denominam Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Somos a diferença neste mundo indiferente (Editora Uirapuru, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023). 

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3 comentários:

  1. Ouço a voz de Fábio nas palavras escritas, sinto o clima de um entrevistador que está diante de um homem apaixonado pelo viver, viver as palavras. Reviver a música , viver, viver...

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  2. Parabéns pelo apoio ao artista 👏 Fico emocionada quando me deparo com uma matéria assim 😍

    ResponderExcluir
  3. Desde que conheci a revista "Conexão Literatura" que sou seu leitor e tbm divulgo minhas obras através desse meio eletrônico-cultural. Parabéns pelos organizadores e dou a sugestão de pensarem em transformá-la tbm numa revista física. Porque não? Talvez só aumentasse o público. Um abraço literário!

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