Com 252 páginas, e ilustrado pelo próprio autor, Brasileirismos e Conexões em Gilberto Freyre reúne 25 artigos escritos por Raul Lody que relacionam seu apuradíssimo olhar antropológico aos grandes temas tratados por Gilberto Freyre em sua vasta obra. É assumidamente uma homenagem ao mestre de Apipucos, com quem Lody manteve uma profunda relação de amizade ao longo de dez anos (1977-1987). “Os artigos abordam as matrizes étnicas na multiculturalidade brasileira por meio de etnografias que recuperam questões históricas, patrimoniais e contemporâneas. Por tudo isso, o livro é realmente uma série de conexões já amadurecidas na obra de Gilberto e, também, recupera o precioso tempo que pude conviver com ele”, destaca.
Desde 1972, Raul Lody tem se concentrado no estudo de importantes eixos da formação identitária brasileira: a arte e a cultura popular, a antropologia da alimentação, a cultura e patrimônio de matriz africana. É autor de uma obra plural, com cerca de 980 títulos, entre pesquisas, artigos, textos para jornais e revistas, roteiros de cinema e vídeo, obras coletivas e mais de 70 livros já publicados. Formado em Etnologia e Etnografia pelo Instituto de Antropologia da Universidade de Coimbra, com especialização no Instituto Fundamental da África Negra (Dakar) e doutorado pela Universidade de Paris, tem seu trabalho reconhecido por inúmeras premiações nacionais e internacionais.
Antropólogo, museólogo, curador, escritor, desenhista, ilustrador e fotógrafo carioca, Raul Lody tem sua produção intelectual fortemente influenciada por Gilberto Freyre, do qual se considerava um aluno. Seu novo livro vem ratificar essas múltiplas interseções também evidenciadas em outros títulos já lançados, como À mesa com Gilberto Freyre (2007); Do mucambo à casa grande, desenhos e pinturas de Gilberto Freyre (2007); Caminho do Açúcar (2012) e A cozinha pernambucana em Gilberto Freyre, um encontro entre povos e culturas (2013). “Conhecer Gilberto, certamente, foi iniciar uma profunda imersão no Brasil; principalmente no Nordeste, em Pernambuco e no Recife”, assegura. Os artigos reunidos no seu mais novo livro, alguns escritos há duas décadas e revistos pelo autor.
Entrevista/Raul Lody
Pergunta - Como e quando surgiu a ideia do livro?
Raul Lody - “Brasileirismos” é um livro da maturidade, porque reúne muitos e múltiplos olhares que combinam o sentimento tropical do sociológico Gilberto sobre o Nordeste, com os meus olhares plurais que nascem das muitas etnografias, estudos e pesquisas, que realizei no Brasil e no mundo. Nessas buscas, Gilberto se encontra comigo nas leituras contextuais que privilegiam os cenários da cultura combinados com os cenários do meio ambiente. O livro é um acervo amplo sobre o Brasil, e traz diversos temas, como o pantanal de Mato Grosso do Sul; os festivais do “bumbá” de Parintins, Amazonas; e, em destaque, os temas regionais do Nordeste. Os 25 artigos são sempre introduzidos com questões que chegam da ampla obra de Gilberto Freyre. E assim, começam as conexões que se multiplicam nas pesquisas e nos meus depoimentos, porque cada tema deste livro tem uma emoção vivencial. São experiências de campo que legitimam cada abordagem. São textos híbridos de emoção e de antropologia. Desse modo, eu entendo que a antropologia pode se manifestar como uma energia tradutora das relações entre o homem, a cultura e a sociedade.
Pergunta – Os artigos que integram o livro são inéditos ou já publicados?
RL - O livro reúne 25 artigos, alguns já editados há 20, 25 anos, e que foram ajustados, e emocionalmente trazidos para os meus olhares mais sensíveis e atuais. Outros artigos foram reescritos e mantidos nas suas potencialidades, porque as etnografias são fundamentos para os relatos inéditos, aqueles que fazem em outros momentos as mais suculentas bibliografias. E assim cada artigo traz uma originalidade, uma intencionalidade, um valor que se relaciona com as minhas interpretações sobre Gilberto e sua obra civilizadora.
Pergunta - O livro é uma grande homenagem a Gilberto Freyre. De que forma ele influenciou sua formação profissional e literária?
RL - Gilberto, sua mulher D. Magdalena e seu filho Fernando marcaram, e marcam com doçura um sentimento de afeto, cada relato e cada texto do meu livro “Brasileirismo”. Assim, eu realizo cada texto a partir das muitas interações de humanidade e de aprendizado sobre Pernambuco, terra querida na qual plantei meus carinhos e os meus desejos mais verdadeiros. E meu processo de me ‘pernambucanizar’, deu-se aos goles do conhaque de pitanga, uma bebida ritual e secreta de Gilberto. E, em Apipucos, na sua casa inundada de verde, de pássaros, de experiência tropical, pude conviver com as diferentes maneiras de interpretar a região e de fortalecer os meus mais profundos laços com o Nordeste. E certamente estes mergulhos na pluralidade e nas relações com a multiculturalidade na obra de Gilberto trouxeram e trazem inúmeros sentimentos que fortalecem a minha obra e os meus compromissos como um antropólogo militante pela cultura e pelos patrimônios culturais. Seja um doce jaca ou um cortejo de caboclos de lança, todos estão repletos de açúcar; e, ainda, seja diante de um altar barroco ou mesmo no Xangô, vive-se um mesmo sentimento de humanidade.
Pergunta - De que forma você espera que o livro atinja os leitores?
RL - Para o autor o livro é um encontro com o público. A obra publicada está sempre aberta ao olhar público, ao sentimento, e as muitas interpretações. Assim, cada livro, cada artigo e cada ilustração, é um processo complexo de significados e de emoções. Ainda, “Brasileirismo” é uma homenagem, um ato de afeto na forma de livro que dedico a Gilberto. VIVA!!!!!!!
Serviço:
Live de lançamento do livro Brasileirismos e Conexões em Gilberto Freyre
Dia: 11 de dezembro de 2020, sexta-feira
Horário: 19h
Local: Circuito Cultural Digital de Pernambuco (www.
Preço do livro: R$ 55,00(impresso) e R$ 22,00 (e-book)
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