Eu me lembro perfeitamente da sensação de ter o meu primeiro livro de
terror em mãos. Não “meu” no sentido autoral da palavra, mas no aspecto de
posse mesmo. Não era nenhum clássico do gênero (talvez agora já seja
considerado um clássico), mas sim o sucesso “It - A Coisa” do mestre Stephen
King. Mais de mil páginas espremidas em um único volume, o maior livro que já
li em toda a minha vida. Apesar do tamanho descomunal, meros quatro dias foram
suficientes para eu liquidar a fatura. A história da criatura imortal, que em
geral se apresentava como um palhaço, e que tomava a forma dos piores medos de
suas vítimas, antes de mata-las e devorá-las impiedosamente, me pegou de jeito.
Depois daquele livro vieram diversos outros, lógico. Apesar de sempre
ter sido um pouco resistente a poemas, me apaixonei pelo “O Corvo”, de Edgar
Allan Poe, na genial tradução de Machado de Assis, tão sutil e lúgubre ao expor
as aflições de um homem atormentado por seus fantasmas e por uma ave agourenta.
E também me diverti - e não me perguntem como isso pode ser divertido - com as
ferozes criaturas concebidas por Michael Crichton no seu “Parque dos
Dinossauros”. Nada tão “cabeça” quanto Poe, apenas um monte de lagartos
gigantes, tão ferozes quanto o próprio Diabo e vorazes por carne humana e
tripas. Com o tempo, fiquei viciado nesses livros incríveis, de cujas páginas
parece que vai pingar sangue a qualquer momento.
Como todo viciado que se preza, ao longo dos anos comecei a buscar por
coisas mais fortes. Meros fantasmas, monstros e demônios já não me causavam o
mesmo frenesi de antes, eu precisava de produtos mais potentes. E foi na
literatura nacional – grata surpresa – que eu encontrei o que tanto precisava.
Através das páginas ultraviolentas do paulista André Vianco, fui tardiamente
apresentado ao universo dos vampiros. Os sugadores de sangue dele não são criaturas
sedutoras e sensuais, nem tampouco brilham ao sol (nada contra, cabe frisar).
São apenas sanguessugas famintas, violentas e más pra burro, que vão deixando
uma trilha de cadáveres por onde quer que elas passem. Impossível não amar, não
é verdade?
E eis que um dia eu também me vi diante da oportunidade de abrir a minha
própria fábrica de sustos. Foi após assistir ao filme “Madrugada dos Mortos”
que tive um pesadelo que me levou a escrever a minha primeira obra, “O Vale dos
Mortos”. Desse dia em diante não parei mais, lancei sete livros sobre o
apocalipse zumbi, a fantasia sombria “Os Filhos da Tempestade” volumes 1 e 2,
além do aterrorizante “Vozes do Joelma – Os Gritos Que Não Foram Ouvidos”,
junto com outros escritores tão perturbados quanto eu.
Mas que ninguém se engane pensando que o horror literário é apenas uma
vazia forma de produzir adrenalina e sustos, sem qualquer conteúdo ou forma.
Como todo livro, uma boa história de terror nos leva a explorar mundos
desconhecidos, a dar asas à imaginação e a viver mil vidas em apenas uma, ao
enxergarmos diferentes realidades através dos olhos dos personagens aos quais nos
conectamos tanto. A diferença é que somamos doses cavalares de sangue,
violência e morte à essa equação.
Desejo a todos um feliz Halloween, cercado de livros assustadores maravilhosos,
personagens sinistros, mas impossíveis de serem esquecidos e muitos calafrios
numa noite escura e chuvosa. E se ouvirem um barulho estranho vindo do quintal
ou da rua, recomendo fortemente que vocês vão dormir, sem olhar para trás e nem
cair na besteira de tentar descobrir do que se trata, pois nunca se sabe o que
vocês poderão encontrar.
“Quando não tiver mais espaço no inferno, os mortos andarão pela Terra”.
– George Romero, “O Despertar dos Mortos”.
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