João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

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quarta-feira, 21 de junho de 2023

Luciana Cordeiro Felipetto e o livro A descoberta do mundo das letras, por Cida Simka e Sérgio Simka

Luciana Cordeiro Felipetto - Foto divulgação

Fale-nos sobre você.
 

Sou Luciana Cordeiro Felipetto, me graduei em Fonoaudiologia em 1995, na Faculdade Metodista Izabela Hendrix, em Belo Horizonte, e, desde então, trabalho com crianças das mais variadas dificuldades e transtornos de aprendizagem.

Sou fonoaudióloga clínica. Sou fonoaudióloga educacional pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia. Mestre em Ciências da Educação pela Emil Brunner World University/ Fl- USA. Sou especialista em psicopedagogia, escritora, palestrante nacional e internacional. 

ENTREVISTA: 

O que motivou a escrita do livro? 

Resolvi escrever o livro “A descoberta do mundo das letras”, que tem a personagem principal com um transtorno específico de aprendizagem que é a dislexia, com o objetivo de enfatizar que apesar da dificuldade de fluência leitora, de entender o texto lido, de soletração e outras dificuldades que a dislexia causa e de não ter cura, que ela pode ser remediada com adaptações curriculares, metodologias ativas, empatia e muito amor. 

O intuito do livro é trazer identidade às crianças com transtornos de aprendizagem e ressignificar todo o processo. Todos aprendem e têm seu tempo e motivação para isto.

É preciso modificar a forma como a escola ensina, uma vez que muitas dificuldades de aprendizagem em escolares também transitam em problemas com os métodos e as práticas pedagógicas sem ludicidade e afetividade que não atingem o verdadeiro protagonista do processo: o aluno. 

Conceito de diversidade 

Minha profissão e atuação me fizeram compreender que somos seres únicos, misturados em um contexto social, que ainda não contempla a diversidade.

Como explicar a diversidade? Utilizo a definição da Neurociência que diz que é utilizada para descrever as enormes e diversas diferenças existentes entre os cérebros humanos, causadas pela sua constituição, pela genética, pelas emoções e pelo impacto do meio no qual o indivíduo está inserido.

Assim, nenhuma pessoa é igual à outra. Pode ter a mesma patologia, doença, transtorno, enfim, qualquer condição, mas terá sua própria forma de aprender, de absorver os conceitos e de evolução e necessitará de planejamento, tratamento e adaptação curricular adequados às necessidades individuais e baseadas nesta diversidade.

Pensando em proporcionar condições de acesso iguais a meus pacientes, comecei minha luta pela inclusão de todos, independentemente de condição social, sexo, raça ou velocidade de aprendizagem. E a lógica disto: a neurodiversidade! Nenhum cérebro é igual ao outro. E por que o processo de aprendizagem deveria ser o mesmo para todos?

Precisamos de mais livros com personagens que mostram crianças, adolescentes, adultos e idosos com dificuldade ou deficiências e suas histórias de superação. Precisamos demonstrar através deles que o ambiente escolar é constituído de diversidade e deve ser colaborativo.

A aprendizagem compartilhada é uma rica oportunidade de crescimento para todos.

Incluir não é um processo fácil, mas pode criar cidadãos mais empáticos e preparados para os desafios da contemporaneidade. 

Público 

O livro de história “A descoberta do mundo das letras” se destina a todos os públicos. Se a criança não lê ainda pode ouvir a história contada por seus pais ou professores e já ter assim contato com a Literacia familiar e emergente.

O livro de atividades pode ser utilizado por pais, professores, profissionais da educação e saúde para trabalhar com as crianças, independentemente de serem ou não disléxicas. Partimos do princípio de que se buscamos estratégias focadas na patologia, já não estamos sendo inclusivos. Devemos desenvolver estratégias voltadas para o desenvolvimento de habilidades que desenvolvam pré-requisitos para a idade e escolaridade e atinjam todas as crianças, independentemente de sua condição ou dificuldade. Isto é incluir.

Devemos tirar o foco do transtorno e nos preocupar com práticas pedagógicas desenvolvidas para desencadear o processo de aprendizagem em todos os educandos e que contemplem toda a diversidade da sala de aula. O foco deve ser o desenvolvimento de habilidades e prontidão para aquisição dos processos de leitura e escrita, além de estimular memória, processamento fonológico (acesso lexical, memória de trabalho e consciência fonológica), habilidades auditivas e fundamentos que ajudem no processo.

E o livro de atividades foi desenvolvido com exemplos de atividades que estimulam essas habilidades e que servirão de modelo para que o leitor possa reproduzi-las em variados contextos e criar suas próprias estimulações.

A principal estratégia foi utilizar conceitos básicos da Literacia, principalmente Familiar e Emergente como veículo e fonte de desenvolvimento de habilidades e prontidão para as aprendizagens acadêmicas e sociais.

Literacia que é a utilização da leitura para acessar as crianças. Crianças estimuladas desde pequenas pelos pais através da leitura, além de serem bons leitores, têm menos dificuldades de aprendizagem e de linguagem. 

Estratégias do livro de atividades 

Uma das estratégias que o livro apresenta para trabalhar com as crianças é o reconto da história, ou de parte da história.  A criança pode ler a história ou ouvir alguém lendo para ela e depois deve recontar com o máximo de detalhes o que ouviu.

Esta estratégia trabalha a memória operacional auditiva da criança, além da estruturação da linguagem, quando ela deve organizar o pensamento em palavras, o processamento auditivo e a fala.

Crianças disléxicas têm o processamento fonológico alterado e têm dificuldades no reconto do que ouvem. Este também é um dos fundamentos para fixação de conceitos e conteúdos naquele que aprende. 

E o que é necessário para que ocorra aprendizagem? 

É preciso afetividade nas práticas pedagógicas, pois o cérebro motivado, encantado, aprende com mais assertividade e facilidade. Isto porque memória e aprendizagem se conectam desta forma.

E a ludicidade também provoca aprendizagem. Excesso de conteúdos, educação formal, tradicional, não ativam os locais necessários para a fixação de conteúdos e a sua manutenção, além de se perderem com o tempo. Tudo o que é motivador e afetivo se mantém na memória. Um exemplo para ilustrar esta condição é que o leitor não deve se lembrar de um conteúdo que aprendeu na escola e que não utiliza ou não gosta, mas tenho certeza de que se lembraria deste mesmo conteúdo se fosse trabalhado em uma excursão ou de forma lúdica.

Para finalizar, deixo uma fala inspiradora de Rubem Alves de que "É PRECISO PROVOCAR A APRENDIZAGEM E A INTELIGÊNCIA", uma vez que as práticas pedagógicas inclusivas atingem todos os estudantes e dão a oportunidade de serem fontes de motivação e formação de circuitos neuronais que afetam e desencadeiam a verdadeira aprendizagem e minimizam dificuldades.

E na clínica as intervenções devem ser pautadas nestes mesmos princípios, pois devemos ter o olhar da patologia sim, mas principalmente o foco deve ser o de como buscar as potencialidades de nossos pacientes, sem deixar de lado o conceito de diversidade e que mesmo tendo a mesma dificuldade os pacientes terão condução e prognósticos diferentes por causa de sua neurodiversidade. 

Link para os livros: 

https://wakeditora.com.br/produto/a-descoberta-do-mundo-das-letras/

https://wakeditora.com.br/produto/a-descoberta-do-mundo-das-letras-livro-de-atividades/ 

 

CIDA SIMKA

É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021), O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021), Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023) e Horrores da escuridão (Opera editorial, 2023). Colunista da revista Conexão Literatura. 

SÉRGIO SIMKA

É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e os mais novos livros de sua autoria se denominam Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023) e Horrores da escuridão (Opera editorial, 2023). 

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