ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Junior Berts: Aos dezessete anos deixei Brasília para voltar a morar no Rio de Janeiro. O choque cultural e minha resistência adaptativa em meio à caótica realidade carioca me compeliu de vez para a escrita, uma imersão tão profunda, apaixonada e terapêutica que não me restavam dúvidas de que eu não era apenas um delinquente desabrigado: acima de tudo, eu era um escritor.
Conexão Literatura: Você é autor do livro "O mal do século”. Poderia comentar?
Junior Berts: A violência e a desigualdade social das comunidades cariocas me sensibilizaram. Eu já tinha a ideia da produção de “O mal do século”, que narra a história de lorde Vincent, um libertino londrino angustiado com as mazelas urbanas ocasionadas pela Revolução Industrial. Por coincidência (ou não), a turbulenta mudança para o Rio de Janeiro me permitiu experimentar com maior proximidade a depressão propiciada pela industrialização das cidades no século XIX. Como um romance gótico, “O mal do século” se inicia com o angustiado Vincent, um fiel representante do que hoje a literatura chama de Romantismo, descobrindo que foi amaldiçoado por uma assustadora mendiga. Seu único meio de combater a maldição é descobrindo se um campo de trigo pintado por sua mãe, morta há dez anos, existe ou não. Supondo que a paisagem pintada exista, é provável que pertença à cidade natal de sua mãe, Veneza. É a chance que Vincent tem para escapar de Londres e do soturno cenário da Revolução Industrial. Em síntese, “O mal do século” é uma narrativa sobre o período do Romantismo, em que a imaginação nos transporta para a época das serenatas e dos duelos, permitindo acompanhar de perto como possivelmente foi a vida de ícones desse movimento artístico, como Vincent. Artistas que, em meio a uma era de abruptas mudanças, sentiram dores e amores na intensidade que até hoje faz do Romantismo uma das escolas mais memoráveis da literatura ocidental.
Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?
Junior Berts: Sou um assíduo leitor do escritor britânico Bernard Cornwell, cujas obras, especialmente “As crônicas de Artur”, me inspiraram a escrever; herdei de seu estilo a concisão de uma escrita fluida, personagens peculiares e uma trama repleta de ação e comédia. Já as nuances mais profundas do enredo devo ao delirante romantismo de Álvarez de Azevedo e à sombria dinâmica dramática do também saudoso Edgar Allan Poe.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?
Junior Berts: “Assustava qualquer marmanjo não por sua suposta feitiçaria, nem pela imundice de seu corpo desnutrido ou por seus cabelos fedidos a erva e lixo, mas pela certeza de que aquela mulher conhecia cada uma das desgraças humanas tão profundamente que não lhe restavam escrúpulos em propagá-las.”
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Junior Berts: “O mal do século”, em livro físico, pode ser adquirido no site Uiclap.com. O formato ebook está disponível na Amazon.com.br. Os leitores também podem entrar em contato comigo através de meu Instagram, @autorjuniorberts, onde tenho o prazer de interagir com o público.
Conexão Literatura: Quais dicas daria para os autores em início de carreira?
Junior Berts: Toda carreira é dura, mas se você tem paixão, isto é, se existe mesmo um escritor dentro de você, a determinação sempre falará mais alto do que a voz da desistência. Esse é o espírito, o fogo que dispensa qualquer necessidade de estímulos motivacionais vazios. Uma vez que seu coração se decidiu, uma vez que esse fogo se acendeu, vá até o fim, não há para onde correr. Escreva e leia muito. Também sempre aconselho participarem de cursos de escrita criativa, para mim foram imprescindíveis.
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Junior Berts: “O mal do século” foi meu primeiro romance, mas o primeiro a ser publicado foi meu segundo, “A burguesinha”, em parceria com a Editora New Naipe. “A burguesinha” também está disponível na Amazon.com.br em formato físico e ebook. A saga “A ilha do crime”, dividida em dois volumes, “Sodoma ou morra” e “Gomorra e morra”, também pode ser adquirida na Amazon.com.br, por enquanto apenas em formato ebook. Tenho novos projetos em andamento, dessa vez me aventurando na Grécia Antiga.
Perguntas rápidas:
Um livro: “Noite na Taverna”, de Álvares de Azevedo.
Um ator ou atriz: o formidável Marcos Nanini.
Um filme: “Pulp Fiction — Tempo de violência”, de Quentin Tarantino.
Um hobby: ler ou assistir a séries na companhia dos meus gatos (risos).
Um dia especial: O dia em que eu tiver a oportunidade de autografar meus livros para todos que estão acompanhando esta matéria, e por fim poder dizer para mim mesmo “é, marujo, o sacrifício valeu a pena”.
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Junior Berts: Este mundo precisa dos sonhadores. Ainda não realizei meu sonho, mas reencontro a certeza de que vou chegar lá ao lembrar que nem por um segundo pensei em desistir. Sonhos esvaziam cadeias e hospícios, mantêm de pé tudo pelo qual vale a pena viver, e realizá-los tem mais a ver com cooperação do que com competição, portanto ajudemos uns aos outros em busca de um mundo mais luminoso. Há muitos modos de ajudar um companheiro de estrada; por hora, toda ajuda que posso dar consiste em um fervoroso conselho: não mate sua alma, não desista dos seus sonhos.
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