Marco Arroyo - Foto divulgação |
ENTREVISTA:
Fale-nos sobre seus livros. O que motivou a escrevê-los?
Para dizer verdade, sempre gostei de escrever. Eu nasci na terra onde as glórias nacionais não estão fincadas no futebol ou em qualquer outra prática esportiva. O Chile, um país relativamente pequeno se comparado com o Brasil, tem como mérito produzir notáveis escritores já laureados, a exemplo de Gabriela Mistral e Pablo Neruda, entre outros que ainda não receberam o Prêmio Nobel, mas já alcançaram notoriedade internacional, entre eles Antonio Skármeta e Isabel Allende. No Chile se incentiva a imaginação e a escrita já na educação infantil junto ao processo de alfabetização nas escolas públicas. Eu tive excelentes professores que me incentivaram a escrever e não porque eu tivesse talento ou me destacasse sobre os outros alunos, mas por causa da política de formação oferecida para todos de forma igual. Posso assim concluir que a escola é o principal lugar para recebermos motivação pela escrita. No meu caso, a série de livros que tenho publicado ultimamente, foi gestada durante o momento de isolamento que a pandemia da covid nos impôs. A “era covídica” me motivou a tornar públicos os textos sobre assuntos do cotidiano que guardava para mim contendo reflexões acerca da experiência de vida. Eu já havia publicado alguns trabalhos acadêmicos e tinha produzido alguns cadernos pedagógicos tendo por assunto os métodos de planejamento. Também tinha publicado com finalidade caseira um conto infantojuvenil dedicado aos meus netos, com base no momento político que concluiu no afastamento do cargo da presidenta Dilma Rousseff. Na sequência publiquei o livro “A Caminho do Império do Sol – Um diário de aventura e reflexões” que conta uma série de reflexões inspiradas na visita a Machu Picchu. Após participar de uma série de antologias poéticas, lançamos recentemente na 26ª Bienal Internacional de São Paulo o livro “Poetizando o Cotidiano” sob os cuidados da Sarasvati Editora, de minha querida amiga Vânia Clares. E já se encontra no prelo o livro “Os Cristãos Pelo Socialismo Durante o Governo de Salvador Allende”, que tem por base a minha dissertação de Mestrado.
Como analisa a questão da leitura no país?
Creio que, de alguma forma indireta, ao falar da minha experiência na escola pública do Chile, já dei algumas dicas sobre como vejo a leitura no Brasil. Por um lado, não vejo de que maneira as políticas públicas de educação estejam avocadas a ensinar e produzir grandes escritores. E a bem da verdade, talentos não faltam. O povo brasileiro tem uma imaginação fértil e uma narrativa oral muito desenvolvida. Não há como se omitir de mencionar as grandes escritoras e escritores brasileiros, a exemplo de Cora Coralina, Clarice Lispector, Jorge Amando, Mario Quintana e Castro Alves, entre outros. Hoje vivemos um tempo de sucateamento do sistema de ensino público, somos afrontados por uma cultura obscurantista e negacionista que reprime o senso crítico e a criatividade. É preciso voltar a fazer da escola pública um celeiro de pensadores e escritores. Para além disso, é preciso criar a imprensa pública, capaz de publicar e vender livros de autores nacionais a preços acessíveis. Trata-se de políticas públicas destinadas a popularizar a produção da escrita e a leitura.
O que tem lido ultimamente?
Para mim a leitura é um alimento diário. Ainda me considero um aprendiz da língua portuguesa. Do ponto de vista da literatura, nos dois últimos meses, tenho lido muitas publicações de escritores atuais e independentes vinculados à Academia Contemporânea de Letras onde tomarei posse, após ter sido aceito, nos próximos dias. Cito entre essas leituras: “Quase Aragem” de Vânia Clares; “Emancipação” de Glafira Menezes Corti; “A Travessia Das Memórias” de Marly de Souza; “Os Versos São o Meu Universo” de Deobaldo Barbosa da Silva; “Sala dos Professores” de João Raimundo Coutinho. Super-recomendo.
Uma pergunta que não fizemos e que gostaria de responder.
Dá para ganhar dinheiro escrevendo? (Risos). Escritores independentes não ganham dinheiro com suas obras. Aliás, ESCRITOR ou ESCRITORA não é uma profissão, é um ofício nada rentável, a não ser para aqueles que se tornaram best-seller.
CIDA SIMKA
É licenciada em Letras pelas
Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos
livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita:
atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca
(Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021) e O
quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021). Organizadora dos livros Uma noite no
castelo (Editora Selo Jovem, 2019), Contos para um mundo melhor (Editora
Xeque-Matte, 2019), Aquela casa (Editora Verlidelas, 2020), Um fantasma ronda o
campus (Editora Verlidelas, 2020), O medo que nos envolve (Editora Verlidelas,
2021) e Queimem as bruxas: contos sobre intolerância (Editora Verlidelas, 2021).
Colunista da revista Conexão Literatura.
SÉRGIO SIMKA
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