ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Maria Doria: Sempre escrevi desde pequena. Escolher jornalismo foi um caminho natural. Cheguei a trabalhar em veículos, mas não me identifiquei com a dinâmica das redações, onde você nunca é dono dos seus horários e roteiros. Além disso, também fiquei ressentida com a pouca autonomia do repórter sobre seu próprio texto no início da profissão. Com essa percepção, acabei migrando para outras áreas da comunicação. Mas, no final dos anos 90, me encantei com um estilista brasileiro, já falecido, que teve sua grande contribuição para a moda brasileira injustamente esmaecida pelos anos: Dener Pamplona de Abreu. Querer contar sua história com a pompa e circunstância que ele merece me reconectou com o ofício de escrever.
Comecei a trabalhar imediatamente em uma biografia sobre ele e me dediquei a um ano sabático, focando em entrevistas, pesquisas e formatos. Na época, consegui entrevistar um seleto grupo de amigos, parentes e profissionais que conviveram intimamente com Dener. Consegui informações importantes e inéditas de nomes como Maria Thereza Goulart, Clodovil, Ricardo Amaral, Mena Fiala, entre outras personalidades.
No entanto, em seguida, eu me separei com dois filhos ainda bebês e a vida me jogou para muitos lados até eu conseguir entrar no trilho de novo. Nesse período, em várias ocasiões voltei para a biografia, mas a realidade não me permitia manter a imersão necessária para concluir o livro. Agora, com filhos criados e independentes, decidi retomar o ano sabático interrompido para me dedicar ao projeto pessoal de viver de escrever em infinitos formatos.
Conexão Literatura: Você é coautora do livro "Tempus Fugit - Histórias de morte, sobrevivência e recomeços". Poderia comentar?
Maria Doria: Recebi o convite de uma das coordenadoras do livro, a jornalista Luciana Neiva, que conhecia alguns textos do meu blog. Além da oportunidade de publicar, o tema do livro me interessou muito: os contos são as impressões de 25 autores — entre jornalistas, compositores, poetas e roteiristas—, sobre essa vida estranha após a Covid19; sobre o que aprendemos, refletimos, ganhamos e/ou perdemos. Para mim, é como participar de um documento de uma época.
Esse convite foi uma sorte, a sorte que vem quando estamos na sintonia certa. Em Tempus Fugit estou acompanhada por um time de escritores publicados e talentosos: Anna Lee, Armando Freitas, Arnaldo Bloch, Aziz Filho, Bárbara Pereira, Christovam Chevalier, Fernanda de Mello Gentil, José Guilherme Vereza, Laïs Mendes Pimentel, Lilian Arruda, Luciana Neiva, Luís Pimentel, Marcela Esteves, Marcelo Várzea, Nelson Vasconcellos, Olga de Mello, Patrícia Melloddi, Regina Zappa, Renata Andrade, Ricardo Sarmento, Rita Fernandes, Sidney Garambone, Silvio Essinger e Thais Pontes.
Conexão Literatura: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para produzir o seu conto para essa antologia?
Maria Doria: Na verdade, eu havia feito um outro texto, sobre a contribuição do isolamento social na conclusão de uma história de amor alimentada por apegos; algo no gênero do livro e da série Modern Love. Mas ao ler os textos dos outros autores que foram chegando, percebi que o Tempus Fugit tinha um tom próprio, de documento emocional. Então, lembrei de uma matéria que eu havia lido na internet — no G1 Paraíba — sobre o médico Lucas Alves, vítima da Covid-19, aos 28 anos, enquanto atuava na linha de frente do combate à doença na Paraíba. Inspirada em sua história, decidi mergulhar nessa “ferida” da pandemia que é a invisibilidade de heróis como ele.
A reportagem sobre o Lucas, assinada pela Bruna Couto, tinha me comovido não só pela fatalidade de ele perder a vida tentando salvar a dos outros, mas também pelo seu perfil acentuadamente altruísta. Meu conto “Meu Adorável Marciano” é uma ficção, mas o personagem Lucas é 100% inspirado no Lucas Alves real. O enredo baixou inteiro na minha mente: escrevi em algumas horas, em um único fôlego.
Lucas Alves, médico que morreu com Covid-19 aos 28 anos — Foto: Reprodução/Facebook |
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho que você acha especial no livro?
Maria Doria: Li textos maravilhosos, cada autor teve uma leitura muito peculiar. É até injusto citar apenas um. Porém, para não deixar de responder, cito o conto “Sobre livros, afetos e vida” do jornalista Armando Freitas. Esse conto tem um texto e personagens de uma beleza tão impecável que me influenciou a ir na direção da história do Lucas. Pessoas com o brilho do Lucas Alves nos forçam a ver a vida com ângulos mais generosos e espirituais. Nada é por acaso.
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir o livro e saber um pouco mais sobre ele e os coautores?
Maria Doria: Até o dia 13 de dezembro, o leitor pode adquirir o livro pelo projeto Catarse, que oferece frete grátis, marcadores e outros livros, entre outras recompensas pela pré-compra e/ou apoio.
Link: https://www.catarse.me/tempusfugit
Dia 19 de dezembro, às 17h, teremos o lançamento oficial de Tempus Fugit na Livraria Argumento, Rua Dias Ferreira 417, Leblon – RJ. O livro ficará disponível até janeiro de 2022 na loja física da livraria e também via entrega pelos Correios.
Link: https://www.livrariaargumento.com
A partir de fevereiro 2022, por tempo indeterminado, o livro também poderá ser adquirido pelo site da Editora Bloco Narrativo
Link: https://www.bloconarrativo.com
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Maria Doria: Na sequência, vem aí um livreto de microcontos voltado para o público feminino, e a esperada biografia “A Ópera de Dener”. Tenho muito material inédito e muitas correções, porque há inúmeras imprecisões no que já foi publicado sobre Dener. Será um documento muito relevante e vejo ótimas chances de virar uma minissérie ou filme.
Perguntas rápidas:
Um livro: Voz Sem Saída, de Céline Curiol – Edit. Nova Fronteira
Um (a) autor (a): Jane Austen
Um ator ou atriz: Letícia Colin
Um filme: Amélie Poulain
Um dia especial: 19 de dezembro de 2021, o dia do lançamento de Tempus Fugit, o marco de uma nova jornada.
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Maria Doria: Descobrir quem somos e no que acreditamos é o maior desafio que temos nessa vida. Essa trajetória é dolorosa e não é fácil, mas traz prazeres e realizações que estão fora do cardápio de emoções que uma vida sem riscos oferece. Acredito que essa busca é o que nos faz evoluir e nos tornarmos almas melhores. O jovem médico Lucas Alves, por exemplo, teve uma vida breve, mas partiu como um ser humano realizado e iluminado.
Para saber mais sobre a autora:
Instagram: http://www.instagram.com/mariadoriacom
Blog: www.blogmariadoria.com
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