Alves de Lima - Foto divulgação
Fale-nos sobre você.
Nascido em Aracaju, a 18 de agosto de 1989, tive de lidar logo aos cinco anos com a separação dos meus pais. Isso fez com que eu passasse minha infância junto a minha mãe e irmãos na casa de meus avôs, sob uma educação tradicionalmente católica. Fui uma criança muito agitada e criativa, conseguia tornar um brinquedo qualquer objeto, até mesmo as caixas de remédio escondidas no armário de minha mãe, a qual era enfermeira. Na escola, sempre fui uma criança amável, que despertava a simpatia dos professores, ainda que eu fosse definido como um garoto que vive no mundo da lua, comunicativo e criativo, geralmente comparado ao Menino Maluquinho, personagem de criação do escritor Ziraldo.
Na adolescência despertou-se meu interesse pela poesia, e passei a escrever de modo que aos dezesseis criei meu blog pessoal a fim de registrar minhas produções. Ao concluir o Ensino Médio, ingressei na Universidade Federal de Sergipe no curso de Letras Português - Licenciatura, quando tive a ideia de reunir algumas memórias de minha infância, e assim iniciei o processo de produção de O Espelho, que inicialmente seria um conto, mas depois se tornou um pequeno livro publicado na época em doze capítulos através do estilo folhetim. A história durou dois anos até ser finalmente concluída.
Assim que ingressei na universidade comecei a trabalhar como professor de reforço escolar. Em 2011, aos 22 anos, concluí o curso de Letras e passei a trabalhar na escola onde realizei o estágio supervisionado. Quatro anos depois fui convidado a ser coordenador do Ensino Fundamental II, onde conheci a professora Marinalva Lima, fundadora da Cia Mari Lima, a qual se interessou em realizar um espetáculo baseado na obra O Espelho em 2017, o qual foi apresentado em 15 de dezembro daquele mesmo ano para cerca de trezentas pessoas.
No final daquele mesmo ano, minha mãe, que desde 2013 iniciara um tratamento contra o câncer de mama, descobriu que a doença estava começando a avançar. Em agosto de 2018 seu quadro piorou e ela veio a falecer no mês seguinte. A morte de minha mãe me impulsionou a tomar algumas decisões e uma delas foi aceitar o convite de uma nova escola, para coordenar o Ensino Médio na ocasião, onde trabalho até os dias atuais. Naquele momento acreditei que a mudança de ambiente me ajudaria a viver uma nova rotina.
Em 2021 finalmente consegui realizar um de meus maiores sonhos, o lançamento da minha primeira obra: O Espelho.
ENTREVISTA:
Fale-nos sobre o seu livro. O que motivou a escrevê-lo?
Como mencionei anteriormente, a ideia nasceu de algumas fantasias que eu tinha quando criança. Lembro-me que certa vez eu estava brincando com o espelho do banheiro e pensei na possibilidade de existir um universo paralelo por trás dele, onde existiria uma versão alternativa de mim, com quem eu me encontrava todas as vezes que eu me observava no espelho. Claro que, à medida que fui amadurecendo, a ideia foi tomando um rumo totalmente diferente, e o conceito de "espelho" foi ressignificado. Mas inicialmente a ideia era essa. Como o publiquei no período de 2007 a 2009 em formato folhetim, em meu blog, as ideias foram sofrendo interferência dos leitores da época, que questionavam se o personagem Davi era autista. Por conta disso, passei a estudar com profundidade sobre autismo, o que contribuiu para que a obra demorasse a ser concluída. Assim, tive a ideia de abraçar a percepção dos leitores, e assim criar um herói autista, mas sem que isso fosse mencionado em algum momento no livro. Não era de meu interesse criar um personagem que fosse visto como frágil e dependente, eu precisava desconstruir essa ideia perante as pessoas pertencentes ao espectro do autismo. Do contrário, Davi é sinônimo de força e resiliência na obra, um verdadeiro herói, e meu desejo é poder trazer inspiração às famílias de crianças autistas.
Como analisa a questão da leitura em nosso país?
Infelizmente somos um país onde não há qualquer incentivo à leitura. Acompanho isso de perto, sou professor de língua portuguesa e é nítido o quanto tem se tornado cada vez mais difícil cativar nossos jovens, uma vez que vivemos um momento em que tudo deve ser muito rápido e de fácil acesso. Vi certa vez que fizeram uma pesquisa e analisaram que os vídeos do Tiktok que possuem 30 segundos de duração têm alta probabilidade de não serem assistidos, diferente dos de 15 segundos, pois os jovens não têm mais paciência para assistir vídeos longos. Isso é no mínimo assustador. Se não se tem paciência para assistir a um vídeo bobo de 30 segundos, imagina ler uma obra de mais de duzentas páginas. Além disso, a linguagem deve ser a mais clara e objetiva possível, pois qualquer texto que exija um pouco mais de raciocínio possivelmente será abandonado após a leitura de alguns parágrafos.
O que tem lido ultimamente?
Estou concluindo "Aforias para a Sabedoria de Vida", de Arthur Schopenhauer. Foi desafiador, pois sempre fui acostumado com leituras de caráter narrativo.
Quais são seus próximos projetos?
Pretendo publicar uma compilação de minhas crônicas, chamada "Crônicas e seus (des)afetos", bem como meus poemas, obra intitulada "Poesia Pirata", referência ao título de meu blog.
Uma pergunta que não fizemos e que gostaria de responder.
Sobre "O Espelho", tenho grandes planos para a obra. E pretendo explorar mais o universo do autismo, bem como criar obras dando protagonismo a outras pessoas que são definidas como 'portadoras de necessidades especiais', a fim de dar a elas a devida visibilidade, mostrando sua vida além das dificuldades encontradas. Não quero ignorar as limitações e dificuldades encontradas na vida de cada uma delas. Pelo contrário, quero inspirá-las, bem como a suas famílias, a superar todas as barreiras.
Link para o livro:
https://www.mercado-de-letras.com.br/livro-mway.php?codid=723
CIDA SIMKA
É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021) e O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021). Organizadora dos livros Uma noite no castelo (Editora Selo Jovem, 2019), Contos para um mundo melhor (Editora Xeque-Matte, 2019), Aquela casa (Editora Verlidelas, 2020), Um fantasma ronda o campus (Editora Verlidelas, 2020), O medo que nos envolve (Editora Verlidelas, 2021) e Queimem as bruxas: contos sobre intolerância (Editora Verlidelas, 2021). Colunista da revista Conexão Literatura.
SÉRGIO SIMKA
É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e seu mais novo livro juvenil se denomina O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021).
Parabéns Rafael! Como mãe de autista foi emocionante ler seu livro.
ResponderExcluirCristina (mãe de Marcos).