João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

  Querido(a) leitor(a)! Nossa nova edição está novamente megaespecial e destaca João Barone, baterista da banda Os Paralamas do Sucesso. Bar...

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Conto, “A Luta”, por Roberto Fiori


— Logo virão dias frios, Manfreya.

— Sei disso, meu senhor — a moça respondeu, os cabelos longos cobrindo o rosto e a cabeça baixa.

— Aqui, em Islandir, possuímos tudo — Lord Valleys esperou pela resposta, sua paciência era ilimitada. Mas, cinco minutos de espera foram o bastante para convencê-lo de que a mulher esperava por sua palavra. — Menos calor. Vá para o Norte, onde as terras são boas para constituir uma família. É hora.

O homenzarrão levantou-se de seu trono de madeira pesada de lei e agachou-se junto a sua protegida. 

— Não quero que acabe como os rapazes dessa cidade, ou como qualquer moça que viva em minhas terras. Os garotos estão, ou no Exército, ou nos navios da Marinha, e as jovens são meras donas-de-casa. Esperando por seu marido morto em uma luta que se aproxima.

— Não, meu Lord. Não quero desposar um homem de Islandir. Quero aprender o uso da espada e da lança, do machado e do arco, me defender com um escudo e fortalecer-me como o senhor.

— Quer entrar para as forças armadas, então...?

— Quero ser a melhor, entre as mais fortes. Não desejo ficar e me tornar soldado. Quero ser livre para usar minha força onde os fracos são humilhados e vencidos, onde as mulheres e crianças correm perigo. Mas preciso de um guia, de um Mestre, que me faça adquirir força e coragem.

— Conheço uma tribo de guerreiros, a Leste. Encontre Sibarand, seu chefe. Diga que Lord Valleys a enviou. — O gigante enfiou a mão no bolso e tirou uma medalha. Buscou em outro bolso das calças e atou uma corrente à medalha de ouro. — Os meus mais valentes homens já visitaram tal lugar. Aprenderam muito. Você descobrirá formas de se defender e de matar como jamais imaginaria. Se quer ser uma mercenária, ainda que por bons motivos, correr o mundo, afastada de Islandir, é livre para isso. Mas os perigos são muitos, e muitas são as maneiras de iludir o inimigo. Tome.

Ele estendeu a medalha dourada com sua efígie e, pela primeira vez em que se encontraram na casa real, Manfreya descobriu seu rosto, afastando seus cabelos rebeldes, e sorriu. Apanhou a moeda e disse:

— Obrigada — estava claro para ambos qual seria o destino de Manfreya, vagar pelo mundo mau e áspero e travar sua luta contra inimigos sem coração.

--//--

Ela era bela, mas sua aparência pouco importava. Tinha energia para derrotar muitos, inata, e pretendia ir além. Sabia que a aldeia de Sibarand localizava-se em uma região inóspita, onde bandidos e saqueadores ficavam à espreita de quem se aproximasse. Uma ou outra incursão, os guerreiros do povoado faziam nos arredores, matando e afugentando os meliantes, mas isso durava pouco. Em pouco tempo, os ladrões voltavam a rondar os arredores da aldeia.

Manfreya encontrou-se com três deles, na estrada que levava ao seu destino.

— Deixem-me passar! Sou protegida de Lord Valleys, tenho o direito de atravessar!

Eles se aproximaram do cavalo da mulher, a pé. Conheciam Valleys de nome, o que era o bastante para tentarem roubar a mulher. Quando seguraram as rédeas da montaria, Manfreya puxou-as, fez o cavalo empinar e suas patas dianteiras atingiram o homem à esquerda, que caiu. O cavalo negro pisoteou-o na cabeça, esmagando-a. O ladrão que segurara as rédeas pela direita foi jogado à distância. 

A mulher viu quando o terceiro armava um arco, preparando-se. Ela retirou do cinto uma adaga, que arremessou, enterrando-a na testa do bandido. Com os calcanhares, Manfreya fez seu alazão disparar. O último malfeitor arrastou-se e tomou o arco do terceiro homem, armou-o e disparou. A flecha teria atingido as costas da jovem, mas ela estava fora de alcance.

Uma floresta estendia-se até o horizonte, pelos dois lados da estrada de terra. Manfreya desmontou e continuou a viagem a pé por uma trilha que se embrenhava à direita da estrada, conduzindo o animal pelas rédeas. Ouviu uma algazarra e amarrou o cavalo em um arbusto. Queria ver quem eram seus adversários, em vez de lutar e tentar vencê-los em luta que poderia ser fatal.

Eram cem a cento e cinquenta homens e mulheres, ao redor das cinzas de cinco fogueiras acesas na noite anterior. Bebiam, comiam, alguns amavam-se nas cercanias do acampamento, entre as moitas. Dois homens começaram uma briga. Sacaram facas. O duelo seria até a morte, isso era bem-vindo entre os grupos de vagabundos e assaltantes. A comida seria melhor distribuída, iria diminuir o número dos pretendentes ao dinheiro e ouro roubado em pilhagens. Inúmeras vantagens eram conseguidas, com essas lutas. Manfreya apurou a visão. 

Um dos lutadores era alto e forte, musculoso, enquanto que o outro era ágil e franzino. Lançou-se contra o maior, cortando-o no rosto. O homem forte segurou o pequeno e o levantou do chão com um braço. Sua faca cortou a barriga do homenzinho do pescoço à pélvis, fundo. Suas entranhas escorreram para o chão e o grandalhão enterrou a arma na nuca do corpo sem vida, retirando-a e limpando-a nas vestes do outro.

Largou-o. Houve uma salva de palmas e Manfreya decidiu passar ao largo do acampamento. Voltou a seu cavalo e, puxando-o, passou para o outro lado da estrada, olhando para todas as direções, em busca de perigo.

Em meio dia de caminhada, escondida pelas árvores e vegetação da floresta, a amazona atingiu um lugar em que podia ver os muros da aldeia de Sibarand. Havia uma largo portão aberto em meio a uma muralha alta de quinze metros de altura, de pedra e argamassa. A mulher vasculhou as redondezas da floresta, caminhando sem ruído por algumas centenas de metros de raio. Sem encontrar vivalma, voltou aonde tinha deixado seu cavalo e montou. Trotou, ansiosa, até o portão, e foi cercada por jovens barbados, que a deixaram sem ação, encostando em seu corpo lâminas de espadas e apontando arbaletas contra ela.

— Estou à procura de Sibarand.

— Quem? — responderam, alertas.

— O seu chefe. Lord Valleys me enviou, para aprender as artes da luta e da guerra. Vejam — os homens ameaçaram cortá-la, pressionando as espadas contra seu corpo, e aproximando as bestas de sua cabeça. Com vagar, ela segurou a corrente de seu pescoço e tirou o medalhão. — Esta é uma medalha de boa sorte, que Lord Valleys me deu, antes de eu vir para esta aldeia. Seu líder a reconhecerá. 

A princípio, os jovens ignoraram o medalhão. Mas um deles estendeu, por fim, sua mão e passou os dedos na superfície do círculo dourado.

— É ouro legítimo, Sargard. A figura incrustada é a de Sibarand, isso é mais que certo. 

— Leas, tem bom tato. Levemos a jovem até Sibarand — e, olhando firme para Manfreya, falou: — Tem sorte, minha jovem. Se é luta e guerra que procura, nós as temos em quantidade! Qual o seu nome?

— Manfreya — ela sorriu e disse baixinho um “obrigada”. A aldeia constituía-se de casas de pedra e madeira, dispostas em ruas que se entrecruzavam na perpendicular. No centro exato desse diagrama, situava-se uma casa de bom tamanho, onde um telhado de doze águas abrigava torreões de vigília e por onde se poderia defender com eficiência a propriedade. Manfreya apeou do cavalo, quando chegaram à entrada do terreno, nu e de terra batida. Ela pensou que seria uma ótima fortaleza, a construção. Um dos jovens, o que chamavam de Sargard, passou com o corpanzil pelo grande portão, destrancado, e bateu com a arbaleta em uma placa de metal fixada na cerca que rodeava a área sem o mínimo traço de vegetação. Esperaram dez minutos. Da porta da frente, surgiram aldeões armados e trajando armaduras. 

— O que quer, Sargard? — o homem mais alto perguntou, alto.

— É da parte de Lord Valleys. Uma mulher quer ver Sibarand, em pessoa. Quer aprender as artes ocultas da luta e da guerra.

— Hoje, meu chefe não está para ninguém, Sargard. Volte amanhã.

— Tenho uma prova de que ela está falando a verdade.

Silêncio. Espera.

— Que prova?

— Um medalhão de ouro, com a efígie de Sibarand gravada. Leas pode confirmar isso. Ele é a pessoa com as maiores capacidades sensitivas que existem no povoado. Você o conhece.

— Ele é cego.

— Reconhece melhor que você uma arte feita em baixo-relevo. Conhece metais, distingue o ouro da prata, o ouro do estanho, o ouro do ferro e bronze.

O homem na porta da fortaleza disse que queria ver o medalhão, mas Sargard abanou a cabeça. 

— Vou entregar o medalhão para Sibarand, eu mesmo — e completou, com delicadeza, curvando a cabeça: — Se não se importar, claro.

O guarda com armadura cuspiu e falou para vir com ele. O medalhão estava no bolso da camisa de Sargard.

— Hoje não, Gand, hoje não. Estou febril — falou Sibarand para o guarda, que havia deixado Sargard esperando na parte da frente da casa, e entrara no quarto do chefe.

— Ela diz ser enviada de Lord Valleys, chefe.

— Por que ela veio? — arquejou Sibarand, transpirando como se houvesse acabado de terminar uma batalha.

— A mulher diz querer ser sua discípula na arte da luta, do combate, da guerra e tudo o que pede é uma palavra com o senhor.

— Se Lord Valleys a enviou, o motivo é bem sério, Gand. Deixe-a entrar em meus aposentos — falou o homem, tossindo em convulsões. Gand esperou. Sabia que as palavras de seu senhor haviam sido interrompidas pela febre. — Diga-lhe que eu a ouvirei, mas falarei o necessário. O necessário.

Gand fez uma mesura e retirou-se. Na sala da frente da casa, fez sinal para Sargard se aproximar e disse:

— Ele está com a respiração difícil, falar é um esforço grande para Sibarand. Mas concordou em ouvir o que a jovem tem a dizer. Diga-me, tem cem por cento de certeza que ela possui o Medalhão de Valleys?

— Se Leas afirma possuir o rosto de Valleys na cara da moeda e esta é feita de ouro, não duvido de Manfreya.

O rosto de Gand iluminou-se. Manfreya, a mais hábil nas facas! A que brigava como um leão! A que derrotara cinco homens fortes, meliantes que invadiram sua casa! Esta era Manfreya! O guarda sorriu e saiu pela porta, seguido do jovem Sargard.

— Você é Manfreya, portanto. Pode me seguir, minha jovem. Se eu soubesse de seu nome desde o começo, tempo seria poupado. Venha.

A mulher seguiu Gand pelo portão aberto e entrou na casa. O guarda fez sinal para ela esperar um pouco e falou:

— Meu senhor está fraco e doente. Fale tudo o que tem a dizer, não omita nada. Fale de seu passado, de suas lutas e suas habilidades com armas. Convença-o de que vale seu peso em ouro, tal como o Medalhão de Valleys. Somente assim poderá convencer Sibarand de que é apta a ser treinada por mim.

Ela murmurou “Sim, senhor” e avançou, seguindo o guarda.

Nos aposentos de Sibarand, este estava dormindo. Gand olhou para a jovem e pôs o indicador nos lábios. Aproximou-se da cama de seu senhor. O tórax volumoso do doente subia e descia com ritmo e força. Remexeu-se, abrindo os olhos. Viu Manfreya e a reconheceu. Fez sinal para Gand se aproximar. A jovem mulher manteve-se em silêncio, até que o segurança abanou a cabeça para Sibarand e endireitou-se. Ele esperou alguns segundos e voltou-se, saindo do aposento.

Manfreya contou sua vida, suas brigas quando criança, a possibilidade que, quando crescera, de matar e se recusar a fazê-lo, deixando seus inimigos partirem. Falou das condições que tinha em Islandir como lutadora, podendo entrar nas fileiras do Exército ou da Marinha de Lord Valleys. Porém, a liberdade de se realizar além das forças armadas surgia com cada vez maior intensidade. Desejava ser a número um em lutas, combates corpo-a-corpo e uso de todo e qualquer tipo de arma. Queria ser a mais forte, a mais sagaz, de corpo e mente. Mas precisava de um mestre que a qualificasse para tal. Desejava lutar em prol dos mais fracos. Desejava fazer Justiça, a verdadeira Justiça não corrompida, não vilanizada. E via no chefe Sibarand o meio de alcançar tal objetivo.

Ela ficou em silêncio, por alguns minutos, esperando. O chefe do povoado fechara os olhos e começou a mover os lábios, sussurrando algo. Manfreya se aproximou e pôde distinguir as palavras, ditas de modo baixo, mas nítidas. 

— Mostre-me o medalhão, Manfreya. Quero rever meu amigo Valleys antes de morrer.

Ela tirou o medalhão do bolso de sua camisa, sob o manto que a mantinha aquecida naquele Inverno, e colocou-o sobre o peito de Sibarand. Ele fechou os olhos mais-que-cansados e os abriu, com um novo brilho, ao ver a moeda. Arrastou a mão direita das cobertas e seus dedos enclavinharam-se com força em volta do medalhão. Levantou o braço enfraquecido e viu o que mais desejava, naquele momento, o rosto de seu amigo querido.

Fitou a figura gravada na moeda por mais de um minuto. Virou a cabeça para Manfreya e abanou a cabeça.

— Fique aqui, se quiser aprender a matar. Volte então para Islandir e mostre do que é capaz. Corra o mundo em busca da Justiça, se assim lhe apetece. Busque os valores, não as vitórias. Impeça o sofrimento e a matança indiscriminada. E acabe com os ladrões que enxameiam perto de minha aldeia. Liberte Vanhorn dessa praga de uma vez por todas — ele fechou os olhos, a jovem percebendo ser o momento de sair.

Manfreya deixou seu medalhão com Sibarand. Pensou que seria um alívio para as dores que estivesse sentindo, na cama. Gand a esperava, na ampla sala da frente da casa. Perguntou:

— E?

— Ele me deu permissão para ficar e aprender a lutar, a matar, a guerrear. Deu-me ordens de destruir os saqueadores que enxameiam as terras perto de Vanhorn. Deu-me permissão para sair e correr o mundo, ao fim do treinamento.

Gand sorriu e disse:

— Mostre-me do que é capaz, no centro de treinamentos. Se me derrubar, uma única vez, será capaz de derrotar a maioria dos soldados e mercenários que habitam este continente, em luta corpo-a-corpo.

O primeiro golpe a atingiu no estômago, dado com o lado do pé de Gand. Em seguida, uma cutilada com força a teria quase matado, se a atingisse na nuca. Mas Manfreya estava alerta e seus reflexos eram rápidos. Aparou o golpe.

Ela acertou um soco entre as pernas de Gand, que pareceu não sentir nada. O homem alto jogou suas pernas contra o pescoço da jovem, que se desviou e levantou a perna direita, atingindo-o na nuca. Ele caiu de costas, arfando.

— Você luta bem — disse o guarda, passando a mão na nuca. — Sabe de uma coisa? Será bom treinar com cada um dos outros soldados, com tudo o que tivermos em alcance. Você sabe, arcos, arbaletas, catapultas, bastões, lanças, facas. Adagas. Espadas, escudos, machados, correntes, com tudo o que tivermos à mão, em todas as situações imaginárias. Com as mãos contra adversários armados até os dentes. Daqui a um ano estará em boa forma. Ora, está doendo, minha nuca! Deu tudo, nesse pontapé, Manfreya?

— Não, Gand, não usei nem a metade de minha força total.

Ele levantou o braço e pediu para que ela o ajudasse a se levantar. Ela o puxou, cento e dez quilos de músculo em um metro e noventa e nove centímetros de altura, sem esforço.

--//--

Quatorze horas diárias de treinos com facas, a especialidade dela. Era o que fizeram por três meses. Usaram facas de corte reto, serrilhadas, de trinchar peixes, punhais, atiraram adagas a distância até se cansarem. Manfreya gostou da sensação de estar entre homens rústicos, mas que a deixavam segura de que era uma lutadora de primeiro escalão. Todos eram fortes, todos queriam competir com a jovem. Ela se tornara famosa, desde que começara o treinamento e desarmara um Capitão com uma faca serrilhada. Edvard era uma das principais autoridades no exército de Sibarand, no que se referia a combates corpo-a-corpo. 

Manfreya lutou com as mãos nuas contra Gand, primeiro, e foi derrubada. Uma rasteira e uma cotovelada em seu ventre a jogou contra o chão. Ela saltou, afastando-se do segurança de Sibarand, que era o Comandante do Exército, ao mesmo tempo. Com Edvard, este era um tanto bruto. Deixou-a tonta, com um soco contra seu nariz. Sangue começou a correr, mas Manfreya disse para a luta continuar. Trocou golpes fracos com seu oponente, até sentir os reflexos do capitão. Então, encontrou uma brecha nas defesas de seu adversário e desferiu um pontapé com todas as forças entre as pernas do outro, que ficou paralisado. E acabou a luta com um rodopio de seu corpo esbelto e ágil, acertando o maxilar de Edvard com o calcanhar. Ele tombou, caindo de lado, desfalecido.

— Você usou toda a sua força, Manfreya? — disse Gand, examinando o corpo estirado no chão. 

— Acho que ele não será capaz de andar por algum tempo, Comandante. Eu não o acertei com força na cabeça. Ele estaria morto, então.

Os dias se passaram sem que ninguém, a não ser Gand, a pusesse de costas no solo. Mas a mulher começava a sentir-se forte. Com as espadas, tornou-se perita. Poderia matar qualquer um, menos o Capitão Edvard e o Comandante. Os soldados a respeitavam, como se ela fosse um soldado homem, e não uma dona-de-casa, ou uma mulher fútil e sem valor.

Os treinos com todos os tipos de armas foram executados. Defendida com uma faca de cozinha, usada de propósito para tornar as lutas mais difíceis, Manfreya desarmou até o Capitão Edvard e o golpeou no estômago com o lado da faca. Ponto para a jovem. 

Mas Gand observara a luta com atenção redobrada. E, quando a luta entre a mulher e o Capitão se encerrou, a penúltima entre todos os membros do Exército, Gand disse, em voz alta:

— Se quer derrotar qualquer um, deve triplicar seus esforços, Manfreya. Deve fazer seu corpo e sua arma se tornarem uma única coisa, um único instrumento mortal — o Comandante sacou sua espada e foi até o mostruário das armas, de onde retirou um machado. 

— Você está cansada e não me venceu em qualquer luta, até hoje. Apenas me atingiu na nuca, no começo dos combates que travamos. Vamos ver como você se sai contra essas duas belezinhas — Gand girou no ar seu machado e desferiu, ao mesmo tempo, golpes fortes com sua espada.

Manfreya concentrou-se. Desviava-se das estocadas e golpes dados ao mesmo tempo com as duas armas de Gand, rolando no chão e pondo-se fora do alcance dele. Seus reflexos revelaram-se fora do comum, ela atingindo mais e mais o Comandante, com sua faca de cozinha nos ombros, braços e pernas. Transcorrida meia hora de exercícios, nem ela, nem Gand se encontravam cansados. O segurança real sorriu. 

— Eu já estaria morto, caso sua faca fosse afiada e você me acertasse para valer no estômago, pescoço, nos olhos, ou entre as pernas. Concedo a você esta vitória — ele andou em direção de Manfreya, largou o machado e a espada e a abraçou. — Continuando com essa rotina de lutas, você me ultrapassará em todos os treinos em menos de um mês.

Ela sorriu de volta, feliz. Passou o braço em volta das costas do homem alto e riu.

--//--

Os bandidos que tinham se instalado a alguns quilômetros de Vanhorn, na altura em que Manfreya vira uma luta mortal ser travada em seu acampamento, na vinda até a aldeia, haviam reunido centenas de meliantes, em seis meses. Precisavam de outros, para o que o chefe, Ishmal, havia concebido.

— Vanhorn possui armas, ouro, prata e muita comida — disse ele a dez outros saqueadores, sentados em um círculo ao redor de uma fogueira. Eram seus melhores lutadores — Surpreendo-me com minha astúcia. Temos setecentos homens e mulheres, na floresta, reunidos sob minhas ordens, prontos para invadir o povoado. Não vamos poupar ninguém, quero sair vitorioso!

— E depois, Ishmal? Como vai se haver com Lord Valleys? Ele é amigo de Sibarand.

— Nos armaremos e rumaremos para Islandir, com milhares de combatentes!

Quem fizera a pergunta ao chefe dos assaltantes era Liam. Conhecia-se sua inteligência, ele era descendente direto de vikings e um perito em combates e batalhas. 

— Valleys é forte. Nos liquidaria, assim como quem mata uma serpente moribunda — Ishmal deu a volta pelo lado exterior do círculo formado pelos homens sentados e pôs a mão no ombro de Liam. Agachou-se e falou, baixinho:

— Está livre para ir, amigo. Nada te impede de ficar — o descendente de vikings sentiu a ponta da faca pressionar com força suas costelas. Disse:

— Está certo, Ishmal, não quis desrespeitá-lo ou ir contra sua vontade — a lâmina foi afastada de seu corpo.

— Atacaremos amanhã, à noite. Quando a Lua estiver escondida entre nuvens. De acordo? — Diante do silêncio de seus comandados, o chefe sorriu e deu por encerrada a reunião: — Está certo, rapazes. Preparem-se.

Quando Ishmal se retirou, todos começaram a falar ao mesmo tempo. Uma batalha, para variar! Teriam oportunidade de gastar suas energias e demonstrar que eram verdadeiros lutadores!

De todos, Liam foi o único a permanecer em silêncio. O que poderiam fazer mil salteadores e corta-gargantas contra uma aldeia inteira de lutadores de elite, o Exército de um nobre poderoso, como Sibarand? E as vezes em que os saqueadores haviam sido mortos, nas incursões que Sibarand fazia nos arredores dos muros do povoado? Isso era de se levar em consideração, pensava Liam.

A noite ia ser fria, hoje. E teriam névoa pela manhã, e um dia e uma noite nublados, como durante todo o mês de Janeiro. Ele esperou todos irem dormir e pensou.

--//--

Liam desaparecera, ao que os lutadores de Ishmal puderam constatar, no decorrer de todo o dia seguinte. Isso fez o chefe dos bandidos concluir que ele poderia ter desertado, mas seria possível até mesmo que ele tivesse se bandeado para o lado dos aldeões.

— Se encontrarem Liam, matem-no. É hora de tomarmos a aldeia — disse para seus homens de confiança, quando a Lua foi obscurecida pelas nuvens. Avançaram em silêncio, por dentro da floresta, escolhendo caminhos fáceis e trilhas em que podiam correr sem pressa. Silêncio era vital e, quando chegaram à distância de quinhentos metros dos muros de Vanhorn, Ishmal murmurou para seu melhor lutador:

— Passe para os outros a informação de que temos de parar. Esperem minhas ordens.

A mensagem foi comunicada ao resto do grande bando. Todos sentaram-se nas trilhas e esperaram. O chefe falou para Persegs, seu combatente mais valoroso e de confiança absoluta, que iria rastejar até o portão da muralha e ver o que poderia ser feito, pois ele se encontrava aberto.

O chefe dos atacantes sabia que a entrada estava sendo vigiada por homens de Sibarand. De bruços, a vinte metros dos muros, conseguiu uma posição estratégica, que lhe possibilitava ver o interior da aldeia, sem ser visto. Havia uma avenida, margeada por casas, e Ishmal viu que dela partiam ruas para ambos os lados. Uma vez, enviara um homem para espionar e descobrir onde Sibarand vivia. Ele lhe contara com exatidão como a aldeia fora erguida, com as ruas entrecruzando-se e casas construídas a intervalos de dez metros uma das outras, entre as ruas.

Era isso o que Ishmal via no momento, e estava decidido a fazer o que deveria ter feito, anos atrás: juntar um grupo de assalto e tomar o povoado. Seria seu quartel-general.

O chefe dos assassinos e ladrões rastejou, afastando-se da entrada e, chegando onde Persegs estava, deu ordem de atacar. Mas atacar em silêncio, com cuidado, todos esgueirando-se entre as árvores e arbustos.

Quando o bando se posicionou nos limites da floresta, atacaram. Correram, gritando ao transpor a entrada do povoado, e foram rechaçados. Flechas disparadas de torreões nos telhados das casas perfuraram seus corpos sem armadura ou proteção de qualquer tipo. Ishmal protegeu-se, entre a muralha e uma casa. Usava uma arbaleta, trazia uma espada curva, um punhal e uma faca de assalto. Nem todos foram mortos, devido às flechas. Espalharam-se, como o fizera Ishmal, por entre as casas e ruas.

Manfreya veio com um arco e três dezenas de flechas guardadas em uma aljava que carregava às costas, para cima dos primeiros que passaram pela chuva de flechas. Disparou seu arco o mais rápido e preciso que conseguiu. Quando esteve sem flechas, havia usado uma para cada bandido que se aventurara pela aldeia.

Sacou sua espada e tirou uma machadinha da cintura. A seu lado, juntaram-se o Capitão Edvard e o Comandante Gand. Uma fileira de soldados de elite avançou pelas ruas a partir dos quartéis perto do centro de treinamento e a luta de verdade começou. Uma tropa de quinhentos soldados armados até os dentes para proteger suas famílias de setecentos bandidos da pior espécie, que estavam dispostos a morrer, em combate.

Manfreya viu quando cinco inimigos invadiram uma casa, enfrentando dois soldados e uma família. Uma família de combatentes, sim, e que, armada, enfrentou os bandidos com coragem. Um rapaz de vinte anos, usando uma lança, empalou um dos oponentes, recuando para ter espaço para lutar. Os soldados foram mortos, trespassados e cortados pelos bandidos por espadas. Manfreya viu que a situação fugia ao controle, mas correu, saltando contra as costas do último saqueador e o cortando de lado a lado na altura do pescoço. Usando a machadinha, despachou três dos atacantes e o último viu que teria pouca chance de luta. Arriscou-se com o rapaz. Usando um machado, arremeteu para a sala de estar, destruindo os móveis e encurralando o jovem. Ele dava estocadas com a lança, mas um golpe do machado desarmou-o e outro o atingiu no pescoço. Ao mesmo tempo em que o rapaz caía, Manfreya cravou a machadinha e a espada nas costas do outro, que caiu de joelhos e de bruços.

Havia pouco a fazer. O jovem estava morto e Manfreya saiu da casa entristecida. Alcançou a rua e foi cercada por sete bandidos. Ela arreganhou os dentes e desferiu uma machadada no que estava à sua esquerda, com um golpe lateral. O crânio foi cortado na altura da testa e o homem foi lançado contra a cerca da casa, quebrando duas tábuas e caindo no chão. Dois meliantes atiraram flechas contra Manfreya com arbaletas. Ela estava armada com um colete resistente e sentiu pouco o impacto das flechas. Atirou a machadinha contra um dos adversários, sua arma penetrando fundo em seu estômago. Saltou. Com a espada, cortou os dois braços, em sucessão, do outro que a flechara. Os demais recuaram. Um deles conseguiu apanhar a machadinha presa no ventre do bandido morto por Manfreya e a atirou contra ela. 

Ela teve o ombro cortado de raspão pelo gume da arma, que atingiu um nervo importante. Perdeu, assim, a sensibilidade do braço armado com a espada, que pendia frouxo. Apanhou a arma com a outra mão e continuou a matar. Desfez o inimigo que a acertara, enterrando a lâmina em sua perna e fazendo uma série de cortes em seus braços. Enfiou a ponta da espada em sua boca, atravessando sua garganta até a espada sair pela nuca. 

Os três homens restantes atacaram ao mesmo tempo. Manfreya esgrimiu contra um, desviou-se dos outros dois, que tentaram trespassá-la e, como um raio, posicionou-se por trás deles. Matou-os, enterrando a arma em suas costas.

Ela estava cansada de tanta matança. Mas viu Edvard e um pelotão de dez homens lutar com espadas e machados contra um grupo de vinte salteadores. A jovem juntou-se ao grupo do Capitão e, desferindo golpes com o braço bom, foi matando um a um os assaltantes. Ela era melhor que qualquer outro espadachim, com ambos os braços, mas sabia que só poderia usar um deles. E era provável que teria de se acostumar a usar um, para o resto da vida.

A luta continuou, bandos de assassinos aqui e ali lutando em número maior contra forças bem armadas de Sibarand. Manfreya perdeu a conta dos que matou. Ao fim do dia, as ruas enxameavam de moscas, atraídas pelo sangue derramado.

Foi numa dessas lutas que Gand, acompanhado por dois soldados, encontrou Liam, lutando em desespero contra Ishmal e Persegs. O desertor havia alertado as forças de Sibarand, na noite passada. O chefe dos bandidos atravessara seu bíceps esquerdo com a espada, enquanto Persegs o cortara na altura das costelas. Gand rangeu os dentes e agarrou Persegs pelas costas, sufocando-o e quebrando seu pescoço. Ishmal deu um golpe final com a espada contra Liam, aparado por ele, e, a seguir, os soldados de Gand o liquidaram com duas flechadas na cabeça.

Gand arrastou o corpo de Ishmal pelas ruas, correndo, e, gritando para os grupos que lutavam que, se os atacantes quisessem ter o mesmo destino de seu chefe, poderiam continuar a lutar. Na avenida principal, bandos invasores haviam-na tomado, em combates corpo-a-corpo com aldeões e soldados. O Comandante do Exército entrou na avenida, vindo de uma rua perpendicular, e arremessou o corpo inerte de Ishmal sobre um grupo de bandidos, que se preparava para entrar em uma casa e liquidar uma família de um dos soldados. 

Eles viram o corpo sem vida e entreolharam-se. A seguir, avançaram contra Gand, fúria assassina estampada em seus rostos de feras humanas. O Comandante fez sinal para os dois soldados que o acompanhavam. Seus arcos vibraram várias vezes e seis malfeitores caíram.

— Agora, meus senhores, ajudem outros a vencer. Vou sozinho! — exclamou Gand. Ele desferiu golpes com sua espada a torto e a direito, aniquilando o grupo que enfrentara ele e seus dois soldados. Lutou sem descanso por cinco horas, mandando para o Inferno seus inimigos. 

Ao fim desse tempo, a avenida estava coberta por corpos de soldados e ladrões. Manfreya surgiu de uma rua e viu Gand. Gritou:

— A batalha terminou! Vencemos! — O Comandante caminhou apressado em sua direção. Disse:

— Vou até a casa de Sibarand. Quero ver se está bem.

— Certo! Eu irei organizar uma equipe para enterrar os corpos. As moscas vão tomar conta da aldeia — Gand sorriu. Sabia que ela cumpriria o que falara.

Sibarand permanecera dormindo durante todo o ataque. Sua casa, trancada, fora vigiada por soldados nos torreões dos telhados, mas eles sabiam que nem Ishmal, nem qualquer um dos vagabundos, conheciam o lugar em que Sibarand vivia. E nem suspeitavam, por um momento que fosse, que ele se encontrava doente.

--//--

— Retornarei a Islandir, Gand.

— Viverá com conforto, ao lado de seu protetor, Manfreya.

Ela refletiu, à entrada do povoado, e falou:

— Substitua os soldados mortos. Eles eram os melhores.

— A elite do Norte, os melhores, sim. Mas será difícil encontrar outros como você.

Ela abriu um sorriso largo e abraçou o amigo querido. Recusara um cavalo, para voltar a Islandir. Sabia que os aldeões sentiriam falta de uma montaria. Separou-se de Gand e voltou-se para o exterior da aldeia. No lado de fora, virou a cabeça e acenou, o mesmo fazendo o segurança real.

— Vai voltar?

— Se não morrer antes, sim! 

De fato, seu braço paralisado pelo golpe com a machadinha se encontrava seguro por uma tipoia. Era impossível que o usasse para lutar e seria demorada a recuperação. Porém, seria um repouso merecido, o que precisava.

Ela entrou na floresta, do lado direito da estrada traiçoeira, e sumiu na vegetação entre os eucaliptos. Gand pensou em como fora útil treiná-la. 

Sim, tornara-se a melhor das melhores, entre a elite dos soldados que se supunha serem os de mais alto nível conhecido, em todo o Norte. 

O Comandante ficou olhando a figura da mulher diminuir à distância e coçou o cabelo. Voltando-se, mandou que fechassem o portão e caminhou até a casa-fortaleza de Sibarand.


*Sobre Roberto Fiori:

Escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Sobre o livro Cedrik - Espada & Sangue:

“Em uma época perdida no Tempo,

onde a Escuridão ameaçava todos,

surgiu um líder.

Destruição, morte, tudo conspirava contra.

Mas era um Homem de extremos, audacioso.

Era um Homem sem medo”. 

Dos Relatos e das Crônicas da Velha Terra.  


Em sua obra “Cedrik – Espada & Sangue”, o escritor Roberto Fiori coloca sua imaginação e força de vontade à prova, para escrever seu primeiro romance. Um livro de Fantasia Heroica, no gênero Espada & Feitiçaria, em que, em uma realidade paralela, a Terra da Idade do Ferro torna-se campo de lutas, bravura, magia e paixão.

Cedrik é um Guerreiro capaz de levantar 75 kg em cada braço e, ao mesmo tempo, de escalar uma parede vertical de mais de 20 metros de altura facilmente. Em meio a ameaças poderosas, parte para o Leste, em missão de vingança. Acompanham-no a bela princesa Vivian, vinda do Extremo Leste, e o fiel amigo Sandial, o Ancião, grande arqueiro e amigo a toda prova.

Os amigos enfrentam demônios, monstros, piratas e bandidos sanguinários. Usam de magia para se tornarem fisicamente invencíveis. Combatem demônios vindos do Inferno, no Grande Mar. Vivian é guardiã e protetora do Necrofilium, livro que contém maldições, feitiços e encantamentos em suas páginas.

A intenção do autor é continuar por anos as aventuras de Cedrik, escrevendo sobre todo um Universo Fantástico, em que bárbaros e guerreiros travam lutas ferozes e feitiçaria não é uma questão somente de “se acreditar” em seu poder, mas de realmente utilizá-lo para a batalha, como uma arma.

A obra pode ser adquirida com o autor, pelo e-mail spbras2000@gmail.com,  no site da Editora Livros Ilimitados, em livrarias virtuais e no formato de e-book, na Amazon. Os links para acessar o livro são:

1.     Americanas.com:

https://www.americanas.com.br/produto/3200481831?pfm_carac=cedrik-espada-e-sangue&pfm_index=2&pfm_page=search&pfm_pos=grid&pfm_type=search_page

2.     Submarino.com:

https://www.submarino.com.br/produto/3200481831/cedrik-espada-e-sangue?pfm_carac=cedrik-espada-e-sangue&pfm_index=2&pfm_page=search&pfm_pos=grid&pfm_type=search_page

3.     Amazon.com:

https://www.amazon.com.br/Cedrik-Espada-Sangue-Roberto-Fiori-ebook/dp/B091J3VP89/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&dchild=1&keywords=cedrik+espada+e+sangue&qid=1620164807&sr=8-1 

4.     Site da Editora Livros Ilimitados:

https://www.livrosilimitados.com/product-page/cedrik-espada-e-sangue

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