João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

  Querido(a) leitor(a)! Nossa nova edição está novamente megaespecial e destaca João Barone, baterista da banda Os Paralamas do Sucesso. Bar...

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Conto "Espada", por Roberto Fiori


A câmara possuía um teto abobadado. Cordas e ganchos pendiam de arcos que se encontravam no topo. Janelas fechadas com grades deixavam entrever a luz da Lua crescente, fraca, mas perceptível. Uma abertura no chão levava a um rio subterrâneo incandescente que cegava quem o fitasse por alguns segundos. Essa falha no solo era estreita, mas suficiente para um corpo humano poder passar. E Sigmund, amarrado a um dos arcos de pedra, suspenso no vazio, sabia que sua hora estava para chegar.

Sentia-se descer de centímetro em centímetro e conhecia os guardas que o observavam do lado de fora do aposento apertado. Eles o jogariam no rio sem titubear, caso ele tentasse escapar à morte lenta que o esperava sob o nível do chão.

No átrio do torreão, onde Sigmund fora aprisionado, havia um único soldado, montando guarda. Freya lançou-se em silêncio contra a garganta dele, cortando-a com sua faca afiada. Entrou com cuidado, evitando que seus pés ressoassem no piso de mármore. 

Um soldado bastante encorpado a segurou, vindo de um aposento ao lado da entrada. Imobilizando-a com dificuldade, levou-a a um divã, onde começou a rasgar suas roupas. A mulher esperou, e quando a faca que portava no cinto, coberta por um manto negro, foi descoberta pelo guarda, Freya sacou-a e apunhalou seu algoz nas costelas, golpeando-o várias vezes. Ele jogou a mulher para fora do divã e tentou fazer parar o sangue, que espirrava em abundância. A lutadora passou a lâmina pela cabeça do bandido, abrindo seu couro cabeludo. Diante da dor provocada pelas estocadas com a faca, isso era de menor importância. Mas, como as lendas viriam a contar, essa história foi marcada por uma apunhalada que Freya desferiu com as duas mãos no topo da cabeça do soldado, até o cabo da arma.

Ele rolou para o lado, provocando um ruído abafado, ao se chocar contra o chão.

O próximo passo era o andar superior. A torre possuía um andar e seu formato terminava como uma bala afilada, no topo. A mulher espalhou pó de lacraias selvagens no solo de pedra. Espalmou a mão sobre o monte seco e chamas envolveram-na. Freya sorriu e afastou-se, dando espaço para que uma criatura se erguesse.

Ela alcançava o teto, mais de três metros de altura. Maciça, os músculos avantajados e endurecidos como ferro. Estava nua, era tudo menos um ser humano, apesar de andar sobre duas pernas e ter dois braços hercúleos. 

— Vá, Kalion, destrua os infiéis e liberte o prisioneiro.

Diante dessas ordens, o ser caminhou com rapidez, subindo as escadas de ardósia, situadas nos fundos do átrio de entrada. O primeiro guarda desferiu uma estocada contra o estômago de Kalion, quebrando a espada. A coisa, que viera em desabalada corrida, empurrou o homem, que caiu no andar térreo, seu pescoço quebrando. Cinco soldados avançaram dos postos em que estavam, de onde poderiam observar a morte agonizante e lenta de Sigmund. Kalion jogou-os à distância, despedaçando-os contra as paredes do torreão.

A criatura esmurrou a porta de acesso à câmara de execuções, dividindo-a em dois. O prisioneiro havia erguido as pernas, sentindo o calor do rio de lava, mas a entidade segurou seu corpo com firmeza, puxando as cordas que o prendiam ao teto, arrebentando-as.

No térreo, Freya esperava por seu querido. Havia marcas de tortura no corpo de Sigmund, nu da cintura até o pescoço, e a mulher sentiu como se ela mesma houvesse sofrido, e não seu amado.

Tirou do pescoço um amuleto, preso a uma corrente de prata. Encostou-o às feridas frescas e elas fecharam-se. A mulher viu com prazer o sorriso amplo que Sigmund mostrou, quando sentiu fortalecer-se. Kalion esperava. Freya levantou a mão e disse:

— Volte aos seus domínios, criatura. Eu o chamarei quando precisar de seus préstimos — o ser negro desapareceu, como fumaça. — Vamos sair daqui. — Ela falou ao seu companheiro, e ambos correram para a noite que corria célere, dando lugar à aurora azul-escura, que vinha rápida como um “flash” de relâmpago.

Cruzaram o rio Elb, plácido, e descansaram na margem oposta.

— Agora, virão atrás de nós, Freya — Ela deu de ombros.

— Tanto faz, o pior já foi deixado na torre.

— Esperemos que sim. Vamos até meu reino, Valhard. Lá, meu exército poderá nos proteger. Um guerra há muito esperada chegará em menos de uma semana. Temos de avisar que eu continuo vivo, para liderar minhas forças.

— Posso conjurar um demônio que nos levará pelos ares até Valhard — ele olhou-a com assombro e disse:

— E se ele se voltar contra nós, exigindo pagamento por seus serviços?

— Tenho cartas na manga. Não se preocupe, meu amor. Estamos em segurança, domino as forças do ar, terra, água e fogo.

Freya levantou-se, ouvindo algo. Ou pensara que ouvira. Tinham alguns minutos, no máximo, antes da chegada das forças militares que prenderiam Sigmund, novamente, ou os matariam, naquele lugar ermo.

A mulher tirou do interior da cintura, preso com um alfinete de segurança, uma bolsinha. De lá, espalhou diamantes pequenos no chão e concentrou-se. Em pensamento, cantou. Uma forma negra, suas asas batendo, aterrissou a alguns metros, em silêncio,

— Leve-nos a Valhard, ser da escuridão. Em troca, dou-lhe isso — Freya jogou para o demônio outro punhado de diamantes, que tirara de uma bolsinha a tiracolo. A coisa apanhou as pedras com uma mão e sussurrou, as árvores tremendo diante do tom com que era proferido:

— Com prazer. Segurem-se em meus braços.

Os três levantaram voo, o casal suspenso pelos braços fortes da criatura. Decorreram três minutos e o espaço, tornado mais negro que a noite, foi galgado por eles, até Valhard. Pousaram junto aos portões do palácio imponente, os guardas correndo até eles.

— Não se preocupem conosco, senhores. Estamos em boas mãos — levantou um braço o príncipe Sigmund, parando-os, antes que arremetessem de espada em punho contra o demônio alado. Este, vendo que não era mais necessário, alçou voo, sumindo no negrume da noite. — Vamos até o Conselho Imperial, Freya. 

Eles contaram aos nobres e senhores do exército de Valhard o que sucedera até o momento. Decidiram armar o exército e esperar a chegada da manhã para invadir o Reino de Imryyr, onde o príncipe havia sido aprisionado. Chegara a hora de dar o troco!

Dez mil soldados armados de escudos, lanças, espadas, machados, bestas e punhais se puseram na fronteira de Valhard com Imryyr. Com o Sol a pino, marcharam até os domínios de Lefbord, o rei que governava aquele reino.

Estavam-nos esperando. Outros dez mil soldados se lançaram contra as forças de Sigmund, entrechocando-se com eles. As armas, espada contra espada, lança contra escudo, machado contra armadura. A luta foi tão violenta, que em uma hora, milhares de corpos jaziam em frente da ponte levadiça do castelo de Lefbord. Mas havia Keshung. O feiticeiro particular de Lefbord surgiu na entrada do castelo e conjurou uma maldição. Nuvens de gafanhotos vieram do nada e lançaram-se contra o exército de Sigmund. A princípio, o veneno inoculado pelas presas deles foram tonteando os soldados, mas Freya ficara na retaguarda, observando a carnificina. Levantou as mãos.

Uma esfera azul-metálica desceu dos céus e englobou a nuvem de insetos peçonhentos. Eles murcharam, encarquilhando-se e indo ao chão, entre os corpos dos combatentes mortos. No mesmo momento, os homens de Sigmund que haviam sido tonteados pelos gafanhotos recuperaram-se e se lançaram contra Keshung. Ele se desvaneceu, sumindo. Os soldados invadiram o castelo de Lefbord. O massacre entre os nobres e os serviçais foi completo. Sangue tingiu de vermelho as paredes dos aposentos, o chão e as camas dos quartos. Mulheres foram mortas, mas as crianças, estas foram poupadas.

Keshung fez o palácio desmoronar. Dezenas de soldados pereceram. Em um ato de traição, o feiticeiro fez com que Lefbord fosse soterrado. Saiu para o ar livre, pelos fundos da construção, e encontrou sua inimiga, que esperava por ele.

Freya lançou chamas contra o corpo do feiticeiro. Este avançou, o fogo lambendo seu corpo, porém, sem efeito. Uma tempestade elétrica desceu das nuvens e atingiu a maga. Ela se curvou, milhares de volts envolvendo seu corpo, sem que ela fizesse o mínimo movimento.

Freya desapareceu em uma grande explosão. Keshung sorriu. Fora fácil. Andou até onde a adversária havia estado, mas franziu os olhos. Ela estava de pé, mas seu tamanho era o de um macaco. Da terra, mãos surgiram e puxaram através da terra e da grama o corpo do feiticeiro. Ele foi esmagado, sem gritar, porém. Seu corpo desapareceu no interior do solo.

Sigmund e suas forças haviam sido reduzidas a cinquenta ou sessenta homens. Sentia-se mal, mareado, e vomitou. Quando se recuperou, endireitando-se, viu a bela mulher que o amparava pelos ombros. 

— Sigmund, você conseguiu. Os soldados de Imryyr foram liquidados e eu destruí Keshung — o príncipe, lívido, comentou:

— Por quê? Por que queriam nos ver aniquilados, Freya? Nossas relações eram de amizade e companheirismo. Só se... Keshung, aquele miserável! Ele corrompeu a mente de nossos melhores amigos, para se apoderar de nossos domínios!

A maga concordou com a cabeça. Mas, sem poderem fazer mais nada, reuniram o que sobrara dos soldados de Sigmund e deixaram o campo de batalha. O dia estava nublado e começaria a chover, assim que o tempo se fechasse por completo.

Sigmund olhou para trás, para a campina e, como alguém que perde um pai ou uma mãe, sentiu com atraso uma dor excruciante em seu peito, na altura do diafragma. Dobrou-se em dois sobre o cavalo de batalha. Freya o percebeu, mas para aquele mal havia pouco a fazer. Os males do coração e da alma eram inevitáveis e incuráveis. Somente o tempo poderia fazer passar o tormento.

Rumaram para Valhard, com  o Sol descendo com vagar o céu, em direção ao crepúsculo. 


*Sobre Roberto Fiori:

Escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Sobre o livro Cedrik - Espada & Sangue:

“Em uma época perdida no Tempo,

onde a Escuridão ameaçava todos,

surgiu um líder.

Destruição, morte, tudo conspirava contra.

Mas era um Homem de extremos, audacioso.

Era um Homem sem medo”. 

Dos Relatos e das Crônicas da Velha Terra.  


Em sua obra “Cedrik – Espada & Sangue”, o escritor Roberto Fiori coloca sua imaginação e força de vontade à prova, para escrever seu primeiro romance. Um livro de Fantasia Heroica, no gênero Espada & Feitiçaria, em que, em uma realidade paralela, a Terra da Idade do Ferro torna-se campo de lutas, bravura, magia e paixão.

Cedrik é um Guerreiro capaz de levantar 75 kg em cada braço e, ao mesmo tempo, de escalar uma parede vertical de mais de 20 metros de altura facilmente. Em meio a ameaças poderosas, parte para o Leste, em missão de vingança. Acompanham-no a bela princesa Vivian, vinda do Extremo Leste, e o fiel amigo Sandial, o Ancião, grande arqueiro e amigo a toda prova.

Os amigos enfrentam demônios, monstros, piratas e bandidos sanguinários. Usam de magia para se tornarem fisicamente invencíveis. Combatem demônios vindos do Inferno, no Grande Mar. Vivian é guardiã e protetora do Necrofilium, livro que contém maldições, feitiços e encantamentos em suas páginas.

A intenção do autor é continuar por anos as aventuras de Cedrik, escrevendo sobre todo um Universo Fantástico, em que bárbaros e guerreiros travam lutas ferozes e feitiçaria não é uma questão somente de “se acreditar” em seu poder, mas de realmente utilizá-lo para a batalha, como uma arma.

A obra pode ser adquirida com o autor, pelo e-mail spbras2000@gmail.com,  no site da Editora Livros Ilimitados, em livrarias virtuais e no formato de e-book, na Amazon. Os links para acessar o livro são:

1.     Americanas.com:

https://www.americanas.com.br/produto/3200481831?pfm_carac=cedrik-espada-e-sangue&pfm_index=2&pfm_page=search&pfm_pos=grid&pfm_type=search_page

2.     Submarino.com:

https://www.submarino.com.br/produto/3200481831/cedrik-espada-e-sangue?pfm_carac=cedrik-espada-e-sangue&pfm_index=2&pfm_page=search&pfm_pos=grid&pfm_type=search_page

3.     Amazon.com:

https://www.amazon.com.br/Cedrik-Espada-Sangue-Roberto-Fiori-ebook/dp/B091J3VP89/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&dchild=1&keywords=cedrik+espada+e+sangue&qid=1620164807&sr=8-1 

4.     Site da Editora Livros Ilimitados:

https://www.livrosilimitados.com/product-page/cedrik-espada-e-sangue

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