Participa do Coletivo Elas na LIJ, com o conto O Pé da Pia revela memórias afetivas da convivência com a mãe e seu inesquecível bolo de fubá. Atualmente, além de histórias infantis, escreve contos voltados ao público adulto. Integra a Academia Internacional das Mulheres das Letras.
Pós-Doutorada pela Universidade do Minho, Portugal. Doutora e Mestra em Letras pela Universidade de São Paulo, tem se dedicado às pesquisas das linguagens do imaginário e às manifestações do silêncio.
ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Edna Alencar Rivera: penso que foi pela leitura de
meus pais: meu pai sem conhecer a escrita e minha mãe com pouca instrução usavam
provérbios que me intrigavam. Partindo desta origem simples, fui apresentada ao
mundo e incentivada a me dedicar aos estudos.
Na adolescência recorri aos livros para compreender a
riqueza presente na oralidade. Minha cabeça navegava pelo mundo das histórias
e, nessa ânsia, escolhi Jornalismo. Escrevia matérias, reportagens, artigos. Mas,
existia uma vontade de fazer algo diferente, mais próximo do literário.
Busquei referências e na Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo tive o privilégio de conhecer professores
como José Nicolau Gregorin Filho, Maria Zilda da Cunha, Fabiana Carelli, Ricardo
Iannace. Com eles, além dos conceitos teóricos, aprendi a valorizar as narrativas
da vida.
Assim vou tecendo os fios da minha escrita, com referências do mundo e das pessoas do caminho.
Brinco que estou deescritora, o papel do escritor, é desescrever, ou seja, é olhar para o mundo, desconstruir este mundo e, reconstruí-lo pelo viés do literário.
Conexão Literatura: Você é autora do livro "Manuela e seu cachorro, o mais amado do mundo", tendo participado também do livro "Oito histórias que vão dar o que falar". Poderia comentar?
Edna Alencar Rivera: meu processo criativo se desencadeia pela e, na experiência. Viver a emoção é o meu primeiro passo para conceber a história. No entanto, percebo que cada livro possui um ritmo e percurso.
Em Manuela tive contato direto com todas as
etapas de produção, a começar pela partilha do texto com o ilustrador Wagner
Roza. Daí, ele iniciou os estudos de traço de cada personagem, tudo à mão. Muitas
tardes levamos conversando sobre cada detalhe.
Paralelamente, procurei uma editora, encontrei a Labrador. Começamos as tratativas editoriais e de diagramação. Um gratificante trabalho de Equipe, que ainda perdura. O primeiro livro tem um sabor único.
Já, no Oito formamos um Coletivo, uma produção independente que contou com autoras de cinco Estados brasileiros. Fizemos a leitura e a troca de textos, uma outra forma de diálogo. Contribuí com O Pé da Pia, conto inspirado no bolo de fubá que minha mãe Maria Alda fazia para celebrar nossos encontros. Era bom demais, tinha café, bolo, conversa e afeto.
Independente da forma, cada narrativa guarda outra
história, dentro da história que vai se desdobrando e encontrando outros elos.
Enfim, só tenho a agradecer o carinho, a dedicação e o profissionalismo de todos que partilham e me acompanham nesta jornada pela escrita.
Conexão Literatura: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para seu livro?Edna Alencar Rivera: para escrever literatura infantil fui beber na fonte, estudando e lendo autores como Guimarães Rosa, Monteiro Lobato, Nelly Novaes Coelho, Marisa Lajolo, Cléo Bussato, entre muitos outros.
A história de Manuela e Odie levou cerca de um ano para ser escrita, porém ficou guardada na gaveta por um bom tempo, a vida estava atribulada e não havia condições emocionais de tocar o projeto. Somente em 2019 tomei coragem para a publicação.
Manuela e seu cachorro é baseado em fatos reais, por assim dizer, o Odie existe de verdade. Ainda lembro do dia em que meu marido e eu o adotamos. Desde 2010, Manuela esta menina imaginária (que representa minha criança interior), criou um vínculo de cuidado, dedicação e amizade com o cachorrinho que é bonito de se ver. Ele trabalha, estuda e vive comigo. Pela convivência tecemos e entrelaçamos vida e narrativa.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho que você acha especial em seu livro?
Edna Alencar Rivera: sou suspeita, risos. Destaco a fala da cigarra dona Judite: “(...) infelizmente, tem gente que não costuma prestar atenção ao que é pequeno, não é mesmo?” (...), p.14. Esta fala tem a intenção de destacar para o leitor o mundo dos anônimos, daqueles que silenciosamente trabalham para manter o equilíbrio. No entanto, nesta obra vale apreciar as ilustrações, por exemplo, a da página 15 é uma das minhas preferidas.
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir os seus livros e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Edna Alencar Rivera: Manuela pode ser encontrado na Livraria Cultura, Livraria da Vila e na Amazon. O Oito está disponível na versão impressa e e-book somente na Amazon.
Utilizo o instagram @ednalencarivera para divulgação. Fica o convite: passe por lá para conhecer o Odie e um algo mais sobre minha jornada pela escrita.
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Edna Alencar Rivera: Sim. Em conjunto, com alguns autores, estou organizando
uma coletânea de contos adultos com a temática Silêncio, produção literária que
deve estar nas livrarias até Agosto. No Coletivo Elas na LIJ estamos a elaborar
uma nova publicação para breve.
Perguntas rápidas:
Um livro: Ilusões Perdidas,
de Balzac. Tradução de Sílvia Mendes Cajado.
Um (a) autor (a): Guimarães Rosa.
Um ator ou atriz: Wagner
Moura.
Um filme: E o Vento Levou
(1939), dirigido por Victor Fleming, George Cukor
e Sam Wood.
Um dia especial: um dia só é pouco, tenho muitos, mas quero destacar dois: 01/01/1991 (nascimento da minha primeira filha Gabriele) e 29/05/1997, (o da segunda, Heloisa).
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Edna Alencar Rivera: quando penso em literatura me vem
logo à cabeça, Guimarães Rosa. No
entanto, este pensamento me intimidava, porque ao ler os meus escritos, percebia
a distância de tamanha genialidade. Hoje, já consigo elaborar melhor tudo isso.
Tenho lido muito, participado de oficinas buscando encontrar o meu jeito na
página.
Para mim, a escrita simboliza um ato de coragem. Depois
de atravessar o meu próprio deserto, chego inteira a este projeto: colocar o
texto para o mundo, permitir o voo e aceitar as limitações. Mas, não posso renunciar
ao desejo de me aproximar do Mestre, jamais! Afinal, sou leonina.
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