Fale-nos sobre você.
Eu sou roteirista de quadrinhos desde 1989. Comecei escrevendo histórias de terror para a revista Calafrio, em parceria com o compadre Bené Nascimento. Colaborei com quase todas as editoras nacionais e alguns de outros países, como Portugal e Inglaterra. Entre os meus trabalhos mais conhecidos na área de quadrinhos está a premiada graphic novel Manticore e a participação no álbum MSP+50, em homenagem ao Maurício de Sousa. Também escrevi diversos livros sobre quadrinhos, comunicação e metodologia científica. Cabanagem é meu terceiro romance. Antes dele vieram o Galeão (de fantasia histórica) e O uivo da górgona (de terror).
ENTREVISTA:
Fale-nos sobre o livro Cabanagem. O que o motivou a escrevê-lo?
O que me motivou a escrever o Cabanagem foi a percepção de que a maioria das pessoas, mesmo da Região Norte, sabe muito pouco sobre a revolta cabana. Um amapaense sabe muito mais sobre a revolução farroupilha do que sobre a cabanagem.
Eu mesmo sabia muito pouco até que, num evento aqui no Amapá, um rapaz que já tinha lido meus outros livros me perguntou porque eu não escrevia sobre a cabanagem no Amapá. Cabanagem no Amapá? Pelo que eu sabia, a cabanagem tinha acontecido em Belém. Essa conversa me levou a pesquisar sobre o assunto. Baixei teses, artigos, comprei livros. E fiquei impressionado com o que descobri. A cabanagem foi a mais ampla revolta de toda a história do Brasil. Depois que o movimento foi derrotado em Belém, os cabanos se espalharam por locais que iam do Maranhão ao Amazonas. Além disso, é a única revolta brasileira que é consequência direta da revolução francesa. Quando a família real fugiu para o Brasil, eles, como vingança contra Napoleão, resolveram invadir a Guiana Francesa. Acontece que o local estava cheio de revolucionários que tinham sido enviados por Napoleão para lá como punição. E, acreditando que o inimigo de meu inimigo é meu amigo, os portugueses abriram as portas do Brasil para esses revoltosos, muitos dos quais foram para Belém e chegaram a participar da revolução cabana! Escrever o livro foi uma forma de chamar a atenção para isso e levar as pessoas a procurarem saber um pouco mais sobre esse evento.
O livro é focado num grupo de revoltosos que está fugindo na direção do Amapá e todas as dificuldades encontradas no caminho. Mas, além dos fatos históricos, eu acrescentei mais uma coisa, algo que tem um significado muito grande para mim: a mitologia amazônica. Assim, os seres da floresta se dividem, alguns apoiando os cabanos, outros apoiando as forças de repressão.
Fale-nos sobre seus outros livros de ficção.
Galeão é uma fantasia histórica que se passa no século XVIII, em um galeão perdido no Atlântico depois de uma tempestade que o deixou à deriva. Mas começam a acontecer coisas estranhas, como pessoas que não poderiam estar lá e de repente surgem no navio. O uivo da górgona é uma história de zumbis, mas misturada com crítica social.
Fale-nos sobre seus livros voltados à comunicação.
Eu tenho uma variedade enorme de livros e artigos na área de comunicação. Mas se pudesse destacar, destacaria meus livros sobre quadrinhos, em especial os sobre roteiro (já são três, entre eles a bíblia do roteiro de quadrinhos, o livro mais completo já publicado sobre roteiro no Brasil) e os que analisam a relação dos quadrinhos como a ciência, como Watchmen e a teoria do caos e A ciência e os quadrinhos.
Como analisa o mercado de HQs brasileiro?
O mercado mudou muito desde que comecei. Na minha época, um editor publicava uma grande tiragem de uma revista e pagava o desenhista e o roteirista. Hoje em dia só Maurício de Sousa tem tiragens maiores. A maioria do que é publicado são edições autorais, com tiragem que variam de 300 a 1.000 exemplares. Por um lado, facilitou muito para que novos autores possam publicar seus trabalhos - e vendê-los na internet. Por outro lado, os quadrinhos passaram a se focar em público muito específico. Virou nicho de mercado.
Quais são os seus próximos projetos?
Eu tenho escrito quadrinhos de terror para a revista Calafrio, incluindo agora uma série baseada no personagem do livro Cabanagem. Também estou escrevendo um livro sobre os quadrinhos de terror no Brasil. E mais dois ou três projetos que talvez se tornem realidade.
O livro foi financiado via Catarse?
Sim. O Catarse é uma plataforma de financiamento coletivo em que a pessoa ajuda a publicar o livro e recebe recompensas, que podem ir do próprio livro até camisas e cards. Nossa meta era de 3.500 reais e ultrapassamos 4 mil. Agora o livro está em pré-venda no site da editora: https://aveceditora.com.br/produto/cabanagem
CIDA SIMKA
É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019) e O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020). Organizadora dos livros Uma noite no castelo (Editora Selo Jovem, 2019), Contos para um mundo melhor (Editora Xeque-Matte, 2019), Aquela casa (Editora Verlidelas, 2020) e Um fantasma ronda o campus (Editora Verlidelas, 2020). Colunista da revista Conexão Literatura.
SÉRGIO SIMKA
É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela Editora Uirapuru. Membro do Conselho Editorial da Editora Pumpkin e colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais novo livro se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020).
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