José Xavier Cortez trabalhou na infância e adolescência na agricultura de subsistência, no garimpo e no comércio de secos e molhados. Aos dezoito anos, entrou para a Marinha do Brasil, de onde foi expulso após o Golpe de 1964. Em São Paulo, trabalhou em um estacionamento, concluiu o Ensino Médio em curso noturno e ingressou no curso de Economia da PUC-SP, época em que iniciou sua carreira como livreiro. Tempos depois, tornou-se editor e, hoje, já ultrapassou a marca de cinquenta anos dedicados ao mercado livreiro e editorial. (Da orelha do livro Tempos de isolamento).
José Xavier Cortez, editor da Cortez Editora, fala sobre o seu livro Tempos de isolamento: “Aos 83 anos, pela primeira vez, ousei enfrentar o desafio de escrever um livro. Essa é minha primeira experiência nesse ofício, após ter publicado, como editor, mais de 1.300 títulos pela Cortez Editora [...].” (página 13)
Acompanhem a entrevista exclusiva:
O que o motivou a escrever o livro Tempos de isolamento?
O que me motivou a escrever este livro foi que, nos primeiros dias da pandemia, assim, de uma hora para outra, me vi recebendo e tendo que cumprir “ordens” de minhas filhas, que vieram em casa, nos reunimos e muito seriamente disseram: Pai, viemos aqui para lhe pedir, que, a partir de hoje, o senhor não saia mais de casa, a não ser com uma de nós. A notícia sobre o vírus se alastrava e diziam elas, esse vírus campeia por aí, mundo afora e o senhor com seus 83 anos faz parte do grupo que corre maior risco de contágio. Perdemos nossa mãe há 10 anos, sem aviso prévio, prematuramente, e não gostaríamos que esse fato voltasse a ocorrer, por falta de um cuidado mais acurado.
Diante desse quadro, eu, que já venho com a saúde abalada há anos, comecei a refletir como preencher esse precioso tempo. Sem muitas saídas, me ocorreu tentar escrever algo sobre o meu cotidiano. Tempos passados, os de hoje e o que me aguarda após a tal pandemia. Passados alguns dias, com repetições pela manhã, à tarde e à noite, antes que a impaciência me absorvesse, busquei uma saída e comecei a rabiscar alguns papéis e terminei encontrando o caminho. Comecei quando sofri a primeira “prisão” imposta por minha mãe, a qual me veio à lembrança quando tinha a tenra idade de meus 4 ou 5 anos, e agora com a idade avançada de meus 83 anos. Depois de pensar por algumas horas e conseguir “escrevinhando, montar esse quebra-cabeça”, os outros temas foram surgindo e me surpreendendo. Convidei uma escritora e jornalista amiga para me ajudar na redação final. O certo é que fiquei surpreso com o que fiz, como se diz, sentindo o gostinho do “quero mais” quando vejo que, com um mês de o livro lançado, tenho recebido bons elogios.
Como analisa o mercado editorial diante dessa pandemia?
Desde 2016, em função da debilidade da minha saúde, tenho tido pouca participação no segmento livreiro e editorial, a cargo, desde então, das minhas duas filhas e sócias Mara Regina e Miriam. Por outro lado, desde aquela substituição do governo Dilma, passando pelo Temer a essa atual desastrosa administração do governo Bolsonaro, particularmente para as questões relacionadas com a economia, esse descalabro atingiu em cheio o segmento editorial e livreiro através dos cortes nos gastos públicos da política educacional e cultural. No nosso caso, some-se o problema das dívidas não saldadas das livrarias Cultura e Saraiva, que representavam quase 50% das nossas vendas mensais.
José Xavier Cortez e Cida Simka - (foto tirada em setembro de 2012, na Casa da Palavra, S.André, por ocasião de sua palestra sobre leitura) |
Como analisa o país e o mercado do livro pós-isolamento?
Continuo inserido nele. E as notícias não são nada animadoras com relação ao abrandamento da sua intensidade. Com a permanência por mais algum tempo, a tendência é o enfraquecimento cada vez maior em toda a cadeia do livro, inclusive com relação ao pagamento de direitos autorais, que para alguns autores complementa seus gastos normais.
Você tem mais de cinquenta anos dedicados ao mercado editorial; recebeu o título de Cidadão Paulistano e, por causa de seu trabalho com o livro e leitura, dá nome à Escola Estadual José Xavier Cortez, situado na zona sul de São Paulo. Sua trajetória já rendeu biografia, livro infantil e documentário. Pergunta: você se sente uma pessoa realizada? Um ser humano feliz?
Sem dúvida, me sinto uma pessoa realizada tanto familiar como profissionalmente. Alguns percalços porventura existentes no transcorrer da minha trajetória foram todos superados, e se me permite dizer, os resolvi da melhor forma possível. Esses reconhecimentos, que dignificam a mim e a minha família, devo a generosidades de inúmeras pessoas e instituições que muito me honram.
Link para o livro:
https://www.cortezeditora.com.br/produto/tempos-de-isolamento-2342
Outra entrevista que fizemos com José Xavier Cortez:
http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/2018/04/entrevista-exclusiva-com-jose-xavier.html
CIDA SIMKA
É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019) e O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020). Organizadora dos livros: Uma noite no castelo (Editora Selo Jovem, 2019), Contos para um mundo melhor (Editora Xeque-Matte, 2019), Aquela casa (Editora Verlidelas, 2020) e Um fantasma ronda o campus (Editora Verlidelas, 2020). Colunista da Revista Conexão Literatura.
SÉRGIO SIMKA
É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela Editora Uirapuru. Membro do Conselho Editorial da Editora Pumpkin e colunista da Revista Conexão Literatura. Seu mais novo livro se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020).
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