Robert E. Howard é muito conhecido pelo bárbaro
Conan, mas poucos dos que acompanhavam as aventuras do cimério nos quadrinhos
sabem que seu primeiro personagem de sucesso foi outro, o puritano Solomon
Kane. Aliás, os contos originais eram praticamente inéditos no Brasil até 2015,
quando a editora Generale publicou um livro com todos os contos do personagem.
O primeiro conto do puritano foi publicado em
agosto de 1928, na revista Weird Tales. Howard havia sumetido o texto
anteriormente para a revista Argosy, que pediu várias alterações e ofereceu a
módica quantia de 80 dólares. Já o editor da Weird Tales gostou tanto do
personagem que ofereceu um bom pagamento e a capa daquele número. O personagem
fez enrome sucesso entre os leitores, abrindo caminho para Conan.
O volume mostra que Howard era um escritor
muito acima dos autores de pulps. Ele depurou o estilo pomposo de Lovecraft
criando algo que influenciaria muita gente, inclusive George Martin, de Guerra
dos Tronos.
O texto era repleto de adjetivos. As névoas
eram prateadas, as brisas eram fracas, o odor era mortiço, a mesa era rústica.
Isso normalmente é visto como um defeito na literatura, mas Howard sabia
manejar esses adjetivos para criar uma prosa poderosa e impactante. Um exemplo:
“Restou a impressão de ter cambaleado por séculos histéricos em meio a
estreitas e sinuosas ruas, nas quais demônios gritavam, lutavam e morriam,
enquanto a terra se desprendia e tremia sob sues pés vacilantes, entre paredes
titânicas e colunas negras que se sacudiam contra o céu e arrebentavam em volta
de Kane, em um trovejar que preenchia o mundo”.
Acrescente a essa narrativa poderosa, um
personagem interessante. Segundo Alexandre Callari (que traduz o volume e
escreve a apresentação), “O puritano é, possivelmente, o personagem mais
complexo de Howard, superando ate´mesmo o bárbaro Conan”. De fato, as
dubiedades de Solomon são parte do seu charme: é puritano, mas usa magia negra,
é racista, mas se alia a um feiticeiro africano, é frio e calculista na
esgrima, mas também é uma fera irrefreada.
Os nove contos desse volume essencial são uma
ótima amostra de como Robert E. Howard era um grande escritor. Pena que outros
personagens do autor, como Sonja e Kull ainda não tiveram edições semelhantes.
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