Marcos Rey foi um dos principais roteiristas
das pornochanchadas brasileiras da década de 1970. Também foi um autor juvenil
de sucesso, escrevendo principalmente histórias policiais. Ele mistura as duas
coisas no romance Os crimes do olho de boi, publicado pela editora Global em
2010.
Na história, um detetive amador, sua governanta
germânica, uma cantora de boate e um jornalista tentam desvendar um mistério:
várias pessoas ricas, com um único herdeiro, morreram recentemente. A suspeita
é de que elas foram assassinadas por uma quadrilha, que ficaria com parte da
herança.
Rey é um mestre da criação de personagens, dos
diálogos inspirados e da narrativa fluída, daquelas que tornam impossível
largar um livro pela metade. Todas essas qualidades aparecem em Os crimes do
olho de boi acrescidas de mais um deleite: o pendor único para retratar
erotismo sem ser pornográfico, com um leve toque de humor.
O protagonista da história é Adão Flores, um
empresário que agencia antigos artistas. Ele ficou famoso com um programa de TV
chamado “Você é o detetive”, em que vários convidados eram desafiados a
descobrir quem era o assassino de uma história policial. Adão participara uma
vez e abocanhara o prêmio com tanta segurança e estilo na exposição que se
tornou atração fixa, transformando-se em uma celebridade, ainda mais depois um
amigo jornalista continuou contando suas peripécias, a maioria delas
ficcionais, em sua coluna no jornal.
A história começa quando esse amigo jornalista
desafia Adão a descobrir se há uma conexão entre os vários assassinatos de
ricaços.
O resultado é um livro de 190 páginas que
passam voando, deliciosas não só pela trama policial, mas pelo desfile de
personagens secundários carismáticos:a governanta germânica apaixonada pelo patrão, a
contora Diana Bandida, com a qual Adão tem, todo ano, um encontro de dia
inteiro em um hotel, no dia 23 de dezembro.
O resultado é como se lêssemos uma
pornochanchada policial, e com maravilhosas sequências, como a seguir, de um
momento íntimo do detetive com sua partner:
“Diana ergeu-se e sem trilha sonora de streaptease
ficou de calcinha e sutiã.
- Acha que ainda estou em forma, Flores?
Saiu fumaça dos ouvidos e narinas de Adão, mas
ela não percebeu. O visitante, embora sufocado, pôde pronunciar algumas
palavras:
- Ainda está com muito pano, não dá para emitir
uma opinião honesta”.
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