João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

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segunda-feira, 29 de junho de 2020

Yuki – vingança na neve



Yuki é, imerecidamente, uma obra menos conhecida de Kazuo Koike, o roteirista de Lobo Solitário.
O mangá surgiu em 1972, um ano depois do Lobo Solitário e conta a história de uma moça em uma jornada em busca de vingança. Seu pai e seu irmão foram mortos, sua mãe foi presa e, na prisão, seduz todos os homens que encontra com o objetivo de ter um filho e, assim, realizar a vingança contra as pessoas que desgraçaram sua família. A menina é criada desde cedo nas mais diversas artes, inclusive artes marciais e se torna uma assassina de aluguel com o objetivo de arrecadar dinheiro para seu plano de vingança.
Kazuo Kamimura nem de longe é um desenhista tão competente quanto Goseki Kojima, mas o roteiro é tão bom quanto o de Lobo Solitário, especialmente graças aos planos geniais da protagonista para cumprir sua missões. Koike parecia ter uma criatividade infinita para criar situações interessantes para seus personagens e misturá-las com detalhes que vão desde uma planta de edifício até uma o valor de uma prostituta no período. A série é também um passeio pela história do Japão na era Meiji
Já na primeira história, Yuki se deixa ser presa para matar um chefe da yakusa. Mas ela não usa apenas sua habilidade física para matar suas vítimas. Na maioria das vezes ela se vale da estratégia e é isso que faz desse trabalho algo tão genial. O desafio do leitor é imaginar que golpe brilhante Koike pensou para a sua protagonista.
Um exemplo (se não gostar de spoiller, pare aqui): ao ser contratada para acabar com o aluguel de rixixás, carruagens para duas pessoas puxadas por homens que eram usadas pelos casais para transar, Yuki se deixa prender por um vigarista que recruta prostituta. Uma vez no local, ela se oferece para pintar as carruagens. A novidade se torna um sucesso, mas também leva o dono do local à ruína: ela pinta a imagem do imperador embaixo de um banco e denuncia à polícia. Como o imperador é considerado um deus, pintá-lo debaixo do banco de um quixixá faz com que o dono do local seja condenado à forca.
Há um recurso narrativo muito usado em Lobo Solitário, mas que aqui aspectos fantásticos: a história começa no meio da ação, ou de alguma missão, e só depois, através de flash backs é explicado o que está acontecendo. A diferença aqui é que na maioria das vezes as ações de Yuki parecem totalmente sem sentido, ou até mesmo suicidas, até que seja apresentado o flash back.
Além disso, a série é de uma poesia única.

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