Em seu romance de estréia, Eduardo Cardoso, apresenta em Corpo Luto, um romance existencialista, cujo tema principal é o luto. O protagonista é o senhor Domenico Saviani. Psicanalista e professor universitário aposentado, casado e com um filho deste relacionamento. Domenico, na casa dos oitenta anos, tem a sua vida alterada com o surgimento do mal de Parkinson. A sua angústia aumenta, quando perde a sua mulher, e o sentido de viver lhe escapa - em um mundo onde cada vez mais os idosos são descartáveis. Após a morte da mãe, Lucca decide colocar o pai em um asilo. Parece que Édipo nunca os abandonou.
Para o velho, nascido no século passado, agora sozinho e à espera da morte, depressivo, angustiado e descrente, lança-se contra o mundo. O viver lhe é uma incógnita. A pergunta que se repetirá em todo o texto é: O que é o morrer? A questão do "suicídio" está implícita a todo momento. A personagem tentar entender os processos existenciais do que seria o morrer - pois como escreveu Epicuro " A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais". Sendo assim, o que velho pretende entender é: por que estou morrendo aos poucos? Por que você, morte, não me leva agora?
É na convivência com funcionários do asilo, em especial, a cuidadora Carla, que a narrativa em tom de monólogo passa a ser em diálogos. Diálogos esses, que fazem com que Corpo Luto não seja apenas, mais um livro, como tantos outros, que contam a história de um idoso em uma casa de repouso. Pelo contrário. Quando a personagem Carla, em sua simplicidade começa a participar do enredo, é a partir deste momento que temos as grandes reflexões existenciais. De Nietzsche a Padre Fábio de Melo; de Dostoiévski à morte de Cristo; Do Holocausto às Benevolentes; Das Benevolentes ao processo de alteridade por meio das ideias de Emmanuel Lévinas.
Corpo Luto é envelhecer, corpo luto é a perda da esperança, corpo luto é a perda da razão; corpo luto é a "luta" pela sobrevivência, mesmo que a personagem diga que não deseja mais o viver. Em especial, Corpo Luto trata-se de um "luto" social - cujas pessoas estão cada vez mais desistindo de
viver. Corpo Luto não é um romance depressivo, mas intimista, que por trás de todas essas mazelas da vida, apresenta de forma implícita, uma bela história de amor, que resiste ao tempo, que resiste a solidão, que resiste à morte.
Release: Corpo Luto
O VIVER AINDA É NECESSÁRIO?
Sem receios de polêmica, Eduardo Cardoso narra de forma ficcional os meandros do que seria o morrer.
A cada quarenta segundos, uma pessoa no mundo tira a sua vida. Corpo Luto é um romance provocativo. Tem como pano de fundo, a questão do suicídio, que parte da sociedade, tentar esconder com medo de que ao falar do assunto, os casos de suicídio aumentem. Já no primeiro parágrafo o protagonista indaga: "O que é o morrer? Veja que eu não perguntei o que é a morte – e sim, o que é o morrer? É o verbo e não o substantivo que quero compreender."
A todo o momento, vemos na sociedade as pessoas desistindo de viver. Por que isto está acontecendo? Em Corpo Luto, o autor narra por intermédio da personagem, o octogenário Domenico Saviani, filho de italianos, o processo de envelhecimento e suas nuances na sociedade de consumo. Seu corpo sofre de Parkinson. Assim como Zola, ele pronuncia aos ventos: ".J’accuse". Eu lhe acuso de tirar meus movimentos". O processo de deterioração se agrava após o falecimento de sua esposa Miriam, casados há mais de cinquenta anos. Sem seu grande amor, o fardo dos anos vividos se tornam mais pesados. Associado ao luto e ao Parkinson, o processo psicótico se faz presente. A personagem passa a contar a sua trajetória de forma confusa. Delírios e alucinações são frequentes na narrativa. O que é real? Domenico não crê em Deus: "é o seu silêncio divino que dá a certeza de sua inexistência."
Sendo assim, ele está em dúvida se deve continuar a viver ou parafraseando Deleuze, se deve "enrabar a morte". "Então ele se pergunta: o que o mundo ainda quer de mim?"
Domenico tenta se apegar a existência de sua neta, que também está depressiva e propícia ao suicídio. Com o aparecimento da personagem Carla, sua cuidadora, a narrativa que em suma, era um monólogo, passar a ter o "Outro" como parte integrante de seu processo de alteridade - tornando-se um diálogo. São os momentos de maiores tensões. Debates filosóficos e religiosos entre os dois dão fôlego para a narrativa, tornando o que seria uma simples história de idoso em um asilo, em um processo reflexivo de quem somos nós.
Corpo Luto é audacioso, corpo luto é questionador, corpo luto é como luta de boxe, que pode ser lido aos poucos em forma de rounds ou em uma tacada só, ou por nocaute - Como diria Júlio Cortázar ao diferenciar o conto de um romance. Corpo Luto é social.
O romance Corpo-Luto pode ser adquirido no site da Editora Todas As Musas pelo link: https://www.todasasmusas.com.br/livro_corpo.html
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e-mail para contato: cardoso.edu@gmail.com
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