João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

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sábado, 2 de maio de 2020

Tullio Andrade e o livro “O que seus olhos nunca me dizem” (Editora Multifoco)

Tullio Andrade - Foto divulgação
Jornalista e escritor com atuação literária há mais de 15 anos, especialmente por meio da disseminação da literatura nos meios digitais. Publicou obras impressas como “Perto do Chão” (Editora Verborrágicos, 2015), “Morte Absoluta” (Editora Multifoco, 2016); e “As aventuras de Sarah – a fadruxa bebê” (Infantil pela Editora Verborrágicos, 2015), entre outras publicações independentes. Além disso, foi agraciado com o segundo lugar no Prêmio Nacional Monteiro Lobato, promovido pelo Sesc-DF em 2007, Menção honrosa no Concurso Paulo Leminsk em 2007; e quinto colocado no concurso de Crônicas Ruben Braga, promovido pela Academia Cachoeirense de Letras em 2005.

ENTREVISTA:

Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário

Tullio Andrade: O gosto pela escrita surgiu bem cedo, como uma alternativa para dar vazão a pensamentos e sentimentos que, numa adolescência tímida, eu tinha receio de verbalizar. Por morar fora do eixo Sul-Sudeste, o sonho de “virar escritor” famoso por muito tempo atrapalhou minha relação com a arte de escrever. Até que consegui me desvencilhar dessas pressões meramente mercadológicas e egocêntricas e entender essa arte como ela deve ser encarda de fato, simplesmente como arte. Como esse impulso magnifico por dizer coisas que acredito que precisam ser ditas.

Conexão Literatura: Você é autor do livro “O que seus olhos nunca me dizem” (Editora Multifoco). Poderia comentar? 

Tullio Andrade: Um triângulo amoroso nos bastidores do impeachment de Collor. Talvez essa seja a melhor maneira de resumir o enredo. A concepção da história é uma mistura de realidade, ficção e inspiração em fatos que vivenciei, resultando numa história que envolve, crime, paixão, adultério e morte, tudo isso em meio a uma das mais icônicas crises políticas do país até então. A ideia é levar os leitores a reflexões de caráter coletivo, como a implicação prática de escolhas pessoais que fazemos, seja dentro dos processos democráticos, seja subvertendo esses processos em busca apenas de interesses particulares. Ainda nessa perspectiva de se responsabilizar pelas escolhas pessoais que fazemos, temos o outro viés da história, na qual atitudes tomadas na esfera íntima podem levar a tragédias devastadoras. 

Conexão Literatura: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir sua trilogia? 

Tullio Andrade: Desde a primeira ideia até a impressão se passaram cinco anos. Esse tempo todo foi necessário tanto para a coleta de informações precisas, quanto para o amadurecimento da história e dos personagens. O exercício de entrelaçar fatos e pessoas fictícias com acontecimentos e personalidades reais necessitava desse cuidado. E o que, de certa forma, me surpreendeu foi que alguns personagens que inicialmente eu me inspirei em personalidades da atualidade, se encaixavam perfeitamente naquele cenário de corrupção de 1992. Isso demonstrou que, de fato, o Brasil ainda continua repetindo os mesmos mecanismos de corrupção envolvendo empresários e políticos. Mas sobre a pesquisa em si, recorri a diversos livros que avaliavam o impeachment de Collor e a acervos de revistas e jornais da época que estão disponíveis em versão digital.

Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho que você acha especial em seu livro?  

Tullio Andrade:
“Tanto faz, esquerda ou direita, porque o poder é a pior droga que existe. Frase de PC Farias... e disso ele entendia. Ele sabia que o povo, nesse jogo de reis, é mero expectador. E sempre fica pra limpar a merda no final. A gente tá novamente sendo enganado por um governo que se diz correto, mas que sobrevive de negociatas pra vender as estatais do país. E quem enche os bolsos com esse dinheiro não é o povo idiota que elegeu ele. Na luta de classes, a gente sempre vai tá embaixo, porque, no fundo, a gente não sabe ser diferente.”

Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário? 

Tullio Andrade: A versão impressa pode ser adquirida no site da editora Multifoco (https://editoramultifoco.com.br/loja/product/o-que-seus-olhos-nunca-me-dizem/) e a versão digital pode ser adquirida na Amazon (https://amzn.to/2Sog9kW). E para conhecer outras obras já publicadas, basta acessar: https://tullioandrade801198137.wordpress.com/.

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta? 

Tullio Andrade: Há dois anos mantenho um blog com textos literários de minha autoria; e este ano estou usando o espaço, bem como meus perfis nas redes sociais, para desenvolver um experimento literário que pretende contar uma história em tempo real, misturando personagens (quase)fictícios e acontecimento reais do cotidiano. O desafio é encaixar os fatos do dia a dia, imprevistos portanto, com o enredo que se desenrola. A proposta é escrever  de forma visceral, sem edições, nem planejamento, deixando a obra e a vida tomarem o curso que “desejam” tomar. O projeto se chama “Um provável homem doce” e pode ser conferido no endereço https://textostullioandrade.wordpress.com/, no Instagram (@tullioandrade) ou no Facebook (https://www.facebook.com/tullio.andrade.3).

Perguntas rápidas:

Um livro: Ensaio Sobre a Cegueira
Um (a) autor (a):  Mia Couto
Um ator ou atriz: Joaquin Phoenix
Um filme: Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Um dia especial: Todos os dias depois que minha filha nasceu

Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário? 

Tullio Andrade: Em tempos em que governantes abertamente pulverizam a importância da cultura e da arte, ler é um ato de resistência. Nunca antes foi tão necessário alimentar a alma e a mente com arte. Destaco aqui a literatura por ser minha área de atuação. Ela é um dos meios mais eficientes para ensinar as pessoas uma habilidade que parece que está em extinção: pensar criticamente. Mas entendam que a literatura não vai te dar todas as resposta certas (normalmente quem faz isso são os mecanismos de dominação e alienação), a literatura vai te ensinar a fazer as perguntas necessárias.
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