João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

  Querido(a) leitor(a)! Nossa nova edição está novamente megaespecial e destaca João Barone, baterista da banda Os Paralamas do Sucesso. Bar...

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Conto "Tão Longe, Tão Distante...", por Roberto Fiori


Carl Maine era um homem sensato. Seguia uma rotina de vida, que se assemelhava a um regime de disciplina imposto pelo Exército, Marinha ou Aeronáutica, e se considerava um homem de princípios. Fazia caridade, doando para o Exército da Salvação e outras entidades de auxílio aos pobres. Tratava com amor e respeito sua esposa, uma jovem fraca de saúde, mas que trabalhava o máximo que suas condições físicas o permitiam. Carl a ajudava nas tarefas domésticas. Mas não tinham filhos.
Viviam em uma fazenda, onde plantavam milho e cevada, que vendiam para sustentar a casa. Eram terras férteis e o casal dava graças por haverem tido o bom senso de comprarem as terras, nos velhos tempos de fartura. Porque agora, com o início da Grande Depressão se imiscuindo na vida financeira de todos, e minando as reservas econômicas da população, os dois tinham a fazenda para sustentá-los, o que estava além da capacidade da maioria dos sitiantes.
Uma noite, em que estavam dormindo, um ruído acordou Maine. Eram ruídos abafados no chão de madeira do estábulo, ao lado da casa principal. Carl tinha sono muito leve e saiu de sua cama sem acordar Lilith, sua esposa. Vestiu as calças e foi até o corredor, onde, de um armário, apanhou a caçadeira de dois canos. Apanhou alguns cartuchos de uma caixa na prateleira do armário e armou a espingarda. Desceu para o térreo.
Na noite, iluminada de modo fraco pelas lâmpadas nas paredes externas da casa, Carl viu quando os bandidos atiçavam dois alazões e os montavam, saindo do estábulo. O fazendeiro saiu intempestivo, abrindo a porta com violência e disparou os dois cartuchos da arma, atingindo os assaltantes nas costas. Eles caíram e foram arrastados pelos cavalos por alguns metros, presos a eles pelos arreios.
Maine correu até onde os cavalos estavam, colocando mais dois cartuchos de chumbo na caçadeira. Foi desnecessário. Os dois homens, atingidos na espinha, ficariam no mínimo paraplégicos. Carl respirou fundo. Haveria interrogatórios e sua prisão seria certa, questão de tempo. Mas ele era homem corajoso. Voltou à casa e telefonou para o Dr. Fellows, amigo de família. Explicou-lhe o que acontecera e pediu urgência na vinda do médico.
O fazendeiro subiu até o quarto de casal. Parado na soleira da porta, olhou apaixonado para Lilith. Ela ficaria morta de tristeza, pelo que aconteceria ao marido. E ela o tinha para cuidar dela, o único amigo e parente em toda a região. Maine desceu e esperou o dr. Fellows. 
Ele chegou, em seu Ford bem conservado, mas antigo. Desceu do carro e foi direto para onde os meliantes se encontravam, deixados na terra por Carl, que achara melhor que os dois permanecessem onde os cavalos pararam, desvencilhados dos arreios por ele.
— Eles têm duas chances em dez de recuperarem os movimentos, Carl — falou o dr. Fellows para o homenzarrão, que se pusera junto aos dois homens. — Mas o xerife não vai gostar nem um pouco. São filhos do prefeito, um homem poderoso. Eles vieram para levar o que não era deles, então você tinha o direito de se defender e de defender seus animais. Não estou dizendo que isso é errado. Apenas que você teve má sorte em topar com esses miseráveis fora-da-lei.
— Eles podiam ter invadido a casa, doutor.
— Sim, e teria sido pior, muito pior, Carl.
— Você intercederá por mim no tribunal, dr. Fellows? — eram quatro da manhã e tanto o médico, como Maine estavam esgotados, das tarefas do dia anterior. O amigo do fazendeiro sentia-se arrasado, por ter de ir ao julgamento mais que provável de seu melhor amigo. E o sitiante sentia-se cansado, pelo esforço de colher naquele dia o restante da safra de cevada e em defender sua propriedade. E Lilith.
— Não haverá nada de mais, Carl. Sua esposa é fraca de saúde, vocês moram sozinhos aqui. Dependem dos cavalos para moer a cevada e colher o milho. Isso o tribunal levará em conta, por certo. Mas se eu for ao julgamento, minha palavra valerá muito. Sou um homem honesto, sem nenhum tipo de desavença ou problema com quem quer que seja, neste país. — o Dr. Fellows suspirou. Continuou: — Carl, sua esposa depende de você. Isso será importante, para decidir seu futuro como cidadão.
O fazendeiro queria sorrir, mas balançou a cabeça para cima e para baixo, devagar.
— Obrigado, doutor. Obrigado pela ajuda. Como faremos para transportar os dois para minha casa, sem feri-los ainda mais?
— Foi bom ter me contado sobre os tiros nas costas deles. Eu vim preparado, mas vou precisar que me ajude no transporte dos dois para as macas que trouxe.
E o fizeram. Passaram os bandidos para as macas, um por vez, e os transportaram para a sala de estar de Maine, deixando-os no chão.
— Vou telefonar para o xerife, doutor.
Ele interrompeu o amigo:
— Deixe que eu faço isso. Vou contar o mínimo necessário. Não vamos querer que te algemem e o joguem numa cela, a essa hora da noite.
— Então, deixe-me lhe oferecer uma xícara de café, dr. Fellows. Ao menos isso.
O médico aceitou. Tomou a chávena e, quando terminou, foi até o telefone de parede, junto às janelas. 
— É Mac? Venha até o rancho de Carl Maine e traga uma ambulância. Houve um acidente, aqui — Fellows permaneceu em silêncio, por alguns instantes, e disse: — Não, Lilith está dormindo. Ocorreu algo com o Carl. Mas creio que você o achará em perfeito estado de lucidez. Sim, sim, ele está bem, muito bem. Está certo, esperaremos você e a ambulância para logo. Desligando...
As tábuas do primeiro andar rangeram, no quarto de casal. Maine olhou para cima e viu a esposa, tonta de sono, andar até o topo da escada e começar a descer. Sentiu imenso orgulho dela, e pensou que era a melhor coisa que lhe acontecera na vida. Lilith era bonita de rosto, um rosto etéreo, como um anjo. E agia como um, na realidade. Reclamava escondida das dores no corpo, quando pensava que Carl estava afastado, sem poder ouvi-la. Ajudava a quem necessitasse. Uma vez, dera o que tinha na despensa para uma família de gente paupérrima e maltrapilha, que parara na entrada da fazenda.
“Se fossem bandidos, teriam entrado à força. Vou ver o que posso fazer”, pensou Lilith. E, além da comida estocada, dera algumas notas de cem dólares para eles. Faltou pouco para que o casal de mendigos chorasse. Eles disseram que se tivessem trabalho, o fariam em troca de comida. Lilith ficou tentada a aceitar, mas lembrou-se do que ocorrera no sítio a dez quilômetros da fazenda, um mês atrás. Quando um bando de arruaceiros queimou e matou toda a família de sitiantes, roubando tudo, comida, cavalos e algumas vacas. Portanto, a mulher pediu imensas desculpas, mas estavam com pouco trabalho para ser feito. 
— São os tempos difíceis, amigos. Economizem o dinheiro, é só o que tenho comigo. E a comida, alimentem o bebê com leite. Bastante leite. Ele crescerá forte e sadio.
Eram coisas que punham Lilith em evidência na cidade. E saber que Maine defendera a fazenda e, em especial, a mulher, era argumento forte a se ter em favor do fazendeiro.
O xerife ficou possesso com o que aconteceu, quando viu os feridos. Os enfermeiros os levaram para a caminhonete e os cobriram com cobertores de lã. Fazia frio. Mac Postdam, o xerife, escolheu um lugar afastado de Lilith e do Dr. Fellows e teve sua conversa com Carl:
— Maine — disse contido o homem da lei —, eu, por mim, o encarceraria numa jaula esta noite, mesmo. Mas há Lilith. E você jamais cometeu qualquer crime. Diz que os dois tentaram roubar seus cavalos, agora há pouco. Não tenho provas de que isso seja verdade. Mas pelo que vi do estábulo, a corrente do portão estava partida e um dos miseráveis trazia consigo um alicate para cortar correntes e cercas de arame farpado. Isso, sim, é o que eu chamo de prova contra eles. — Postdam remoeu o que dizia, mastigando seu pedaço de fumo. E completou:
— Amanhã, virei vê-lo. Espero que não viaje, Maine, nem para outra cidade, ou para fora de sua fazenda. E lhe informarei do estado dos dois rapazes.
A ambulância e o carro do xerife partiram, sem acionarem as sirenes. Queriam que o mínimo possível de gente ficasse sabendo da história. Por enquanto.

--//--

— Por que não prenderam de vez os dois ladrões, Carl? 
Maine ouviu meio aturdido a voz da mulher, como se dita à distância, a quilômetros do sofá da sala, onde eles haviam se sentado.
— Carl, eles são conhecidos na vizinhança. Só fizeram maldade. Só roubaram e mataram. E agora vão sair como vítimas. 
— Nunca mais irão andar, Lilith. Isso conta. O prefeito e o xerife são amigos. Será fácil me condenarem.
— Sim, a justiça é para todos, Carl. A justiça é cega. Onde ouvimos isso, pela última vez? Nos bancos da escola ginasial? Será que é uma verdade absoluta ou serve para impressionar as crianças, somente?
— Lilth, vou até o estábulo, acalmar os animais. Fique, se quiser, ou venha...
— Quero passar meus últimos dias de casada ao lado de meu marido, Carl. Irei, pois não sei quando irei vê-lo em liberdade, a partir de amanhã.
Os dois entraram no estábulo, constatando que realmente a corrente grossa do portão havia sido cortada. Maine deu água e milho para os cavalos e se demorou bastante com os cavalos que os bandidos haviam tentado roubar. Escovou-os, com lentidão e murmurando palavras de consolo para acalmá-los. Além de milho e água, deu cevada, pois os cavalos precisavam de forças para a moenda dos grãos, amanhã. 
Mesmo que Maine fosse preso por um bom tempo, os animais precisavam comer. Havia uma família de fazendeiros, a dez minutos de onde Carl e Lilith moravam, que poderiam ceder alguns empregados para fazer o trabalho pesado, que a mulher de Maine não pudesse realizar. Isso punha Carl calmo e ponderado.
Havia um alçapão, onde Maine guardava suas ferramentas sob o chão do estábulo, a um canto da construção, onde raios de Sol entravam e iluminavam o local, através de uma claraboia no teto alto. Carl foi até o alçapão e o abriu. Remexeu, acocorado, nos objetos que guardara, na foice, no ancinho, nos dois martelos de cabo reforçado, na pá e no formão de pedreiro, na enxada, no machado e na machadinha. Tirou o conjunto de ferramentas de uso delicado, como as chaves de fenda. 
— Lilith, você viu se a chave Philips e a lima foram retirados por alguém, deste local? — silêncio. — Lilith, você está me ouvindo?
Maine pôs-se de pé e verificou onde a esposa estaria. 
“Não acredito. Não acredito que ela subiu lá em cima!”, pensou, espantando-se. Ele subiu a escada de madeira e viu.
Lilith estava ajoelhada junto a uma depressão, e uma luz emanava dela, iluminando o rosto da mulher. Como poderia haver uma depressão no chão do andar de cima do estábulo, isso Carl nem se atreveria a pensar. Mas o que viu, tremulando entre as mãos de Lilith, era inconcebível. Ninguém tinha posto os olhos naquilo, por um tempo além de qualquer imaginação. E isso, estava além da capacidade de entendimento de Carl. O que ele sabia era que a forma que mudava de aparência e coloração fantasmagórica, Deus poderia ter enviado, mas... por que justo para os dois, naquela madrugada fria?
— Lilith... o que podemos fazer com essa coisinha? — o homenzarrão falou, a mão aconchegada no ombro de sua esposa.
— Talvez, se levarmos isso para dentro de casa, ele fique confortável e irá dormir... — ela respondeu, ajudada pelo marido a se levantar. No chão, a depressão fora cavada com a habilidade de um artesão, com a leveza de um arquiteto que tencionava fazer um nicho para acomodar, de modo muitíssimo agradável, qualquer ser que nascesse naquele estábulo...

--//--

O xerife veio na manhã seguinte, lá pelas nove horas. Estava acompanhado por dois de seus ajudantes mais encorpados, todos armados como se fossem enfrentar um bando inteiro de assassinos selvagens. Carl disse que era desnecessário o uso de algemas e seguiu direto para o banco traseiro do sedã preto.
Lilith ficou vendo eles o levarem, mas chorar era algo que se esquecera de como fazer, há tempos. Voltou para a casa e viu aquela coisa flutuando sobre o sofá. Era uma espécie de fluido, dando voltas sobre si mesmo, encapsulado em uma estrutura que se movia e se moldava à medida que o objeto se esticava no interior, de um lado para o outro.
Lilith pensou o que seria aquilo. Na Terra, existiriam talvez três indivíduos que pudessem lhe dar uma pálida ideia do que o objeto poderia ser. Ela foi para a cozinha preparar o café-da-manhã e cozinhou um ovo. Esperando que ele ficasse pronto, aproximou-se do sofá. Colocou a mão com a palma virada para cima sob o objeto multicor e ele pousou na extremidade de seus dedos. Lilith envolveu com a outra mão a estrutura amolecida, uma membrana delgada que lembrava a ela plástico, borracha e papel. Sentiu sono e deitou-se no sofá. Dormiu e sonhou.
Sonhou com as autoridades, o xerife, o secretário de finanças, o vice-prefeito e os assessores de gabinete do prefeito, os ajudantes do xerife, os policiais da cidade, que vigiavam a sessão, de pé. Sonhou com Philip, o banqueiro, com Dalton, o açougueiro, com Tim, o joalheiro, e com mais duas dúzias de pessoas que trabalhavam no centro da cidade, Skranton. No sono, Lilith os viu todos no salão do tribunal, sentados em mesas retangulares, de frente para os fundos dele. Onde o juiz Belford sentava-se em sua mesa, com um copo-d’água junto à sua mão esquerda e o martelo apoiado no suporte, no canto direito do tampo da mesa. A bandeira dos Estados Unidos da América colocada em um pedestal, a um canto do tribunal. O advogado de defesa e Carl, de pé ante a mesa mais à frente do salão, voltados para o juiz. No outro lado do grande recinto, em uma mesa idêntica àquela onde Maine se encontrava, estava o prefeito, abatido, mas trazendo em sua testa vincada o ódio, que lançava em olhares para Carl Maine. Dava, de quando em quando, um rápido olhar de aviso para o xerife, sentado à esquerda da mesa de Belford. O promotor estava sentado meio de lado, junto ao prefeito. 
O juiz, que estava lendo o jornal do dia, tirou o relógio do bolso, viu as horas e guardou o calhamaço, dobrando-o e colocando-o sob a mesa. Ergueu-se. Todos no salão, que estavam sentados, levantaram-se, com um barulho de farfalhar. Belford fez sinal para sentarem-se, ao dar uma examinada curta no auditório. Ele iniciou a sessão, batendo com o martelo no apoio de sua mesa. Chamou o promotor e o advogado de defesa. Falou em voz baixa com eles, por um minuto ou dois. Em seguida, deu permissão para sentarem-se.
Chamou o promotor à fala. O homem baixo apresentou o caso, como um animalzinho furtivo e inteligente, esperto e irrequieto. Com palavras cuidadosas, relatou a “tentativa de assassinato de dois bons homens, seguidores da lei e honrados, por um fazendeiro vil de coração de gelo e mente calculista, que acusava, condenava e executava todos os que achava que eram uma ameaça a si próprio”. Para que o juiz fosse convencido de sua narrativa, chamou três testemunhas. Todas confirmaram sua versão dos fatos, mesmo sem terem tido a bondade de comparecer uma vez sequer à fazenda dos Maine. E todas as três testemunhas tiveram, ao serem chamadas ao púlpito para falar, a oportunidade de jurar perante a Bíblia.
Foi a vez do advogado de Maine falar. Era um sujeito troncudo, de média estatura, calmo e decidido. Disse que Carl nunca havia cometido um deslize, em toda a sua vida. Nascera e trabalhara a vida toda no campo, no condado de Skranton, sendo fiel à sua esposa, a pequena Lilith, que todos estavam a par da enfermidade que a acometera. O advogado estava convicto que, sem a ajuda de Maine nos trabalhos de sua fazenda, sua mulher adoeceria tanto, que hoje estaria vivendo em um asilo de idosos, tendo Carl de se desfazer da fazenda para pagar as despesas médicas dela. O que seria terrível, pois a fazenda, se vendida, renderia tão pouco que, naqueles tempos negros de Nosso Senhor, “que tenha misericórdia de todos”, deixaria o casal na miséria em curto período de tempo.
O advogado tinha voz grossa e profunda, e o dom da oratória. Descreveu, gesticulando com os braços de modo amplo, abarcando o tribunal como se estivesse discursando para uma multidão, como se passaram os fatos naquela madrugada fatídica.
— Os filhos do prefeito chegaram ao seu limite. Por conta de uma educação errada e desvirtuada, vêm cometido tantos delitos, que de uma forma ou outra, atingiriam o seu objetivo, serem alvo de uma ação de defesa imposta por alguém que, sem dúvida, era uma vítima, uma pobre vítima.
O advogado mencionou que os dois ladrões de cavalos foram absolvidos de uma acusação de assassinato duplo, no condado vizinho de Wichissa, a vinte quilômetros de distância. Mas o homem de voz grossa e profunda que era o advogado teria se deixado empolgar e falar sobre este assunto, se algo em sua consciência, uma espécie de autocontrole misturado a um instinto de preservação da vida, estivesse ausente de seu interior. Terminando a oratória com um pigarro, tirou um lenço do bolso e enxugou a testa porejada de suor. E anunciou que não tinha mais nada a dizer.
Havia silêncio, no auditório. Ninguém ousara fazer um único ruído. O juiz olhou para suas mãos, sobre a mesa onde estava, e gesticulou, chamando o promotor e o advogado para junto de si. Olhou para o advogado de modo longo e penetrante. Pousou de modo breve a vista sobre o promotor. Rangeu os dentes, observando o salão. 
E, em uma fração de segundo, decidiu sobre o que dizer. 
Deixou de ver uma presença furtiva, mas cheia de cor, que ficara escondida por entre as dobras do pano da bandeira nacional americana, e que acompanhara os mínimos movimentos e falas da sessão, de todos os participantes. Enrodilhou-se, ao sentir uma brisa soprar pela janela aberta do edifício, e tornou-se uma esfera perfeita. Ondas cristalinas de luz fraca varreram sua superfície. Poderia ter emitido uma sucessão de sons estridentes para assustar as pessoas do auditório, mas permaneceu muda. E, à medida que os minutos escoavam, vibrava cada vez com maior intensidade. Por fim, tendo se satisfeito, reduziu-se às dimensões de uma mosca e saiu voando pela janela.
Carl Maine foi levado por uma viatura da polícia até sua fazenda, terminado o julgamento. Os filhos do prefeito, ele os levara para sua casa, triste com o acidente. O juiz Belford saiu pelas portas do térreo do edifício do tribunal com a consciência limpa de quem tinha acabado de condenar um assassino pérfido e cruel à pena de morte. O promotor, este estava alegre, pois um inocente havia sido solto. O advogado de defesa apertou com mão de ferro o braço de Carl, as mãos do promotor, do prefeito, do xerife e, voltando-se para o juiz, comentou:
— Estávamos todos sempre certos, não é, juiz Belford?
— Sim, doutor, pela graça do Senhor e pelos nossos corações límpidos...
Nenhum deles riu ou fez pilhéria sobre o que disseram. Era a verdade, pura e cristalina.

--//--

Naquela noite, Carl fez chá, que dera a sua esposa, no Natal do ano passado. Ela estava passando mal. A ansiedade e o “stress” tinham feito ela acordar no meio da noite, no sofá da sala, enquanto o marido esperava na poltrona defronte ao grande móvel estofado que ela despertasse.
— Eles te libertaram, Carl?
— Sim, Lilith — respondeu o marido, bem disposto.
— Onde está nosso visitante?
Maine olhou para as paredes, para o teto, para o chão.
— Eu não sei, querida. Deve estar para chegar.
— Viu ele, no tribunal? — ela estava fraca e a água para o chá fervera há cinco minutos. Maine foi até a cozinha e trouxe uma xícara, quente. Ela disse que podia segurar a porcelana e o marido sentou-se aos pés da esposa.
— Ele estava lá, Lilith?
— Sim, sempre esteve. Você não sabe?
Ele esperou-a completar o pensamento.
— Amanhã, nós é que seremos seus visitantes, lá em cima! — e a mão magra de Lilith apontou para o teto. 
Nem todas as vezes era que as coisas davam certo, na vida dos Maine. Mas o que acontecera hoje, e o que aconteceria nas próximas semanas... 
O casal deixou para que dormissem no dia em que se encontrassem no Mundo de Cristal dos visitantes, tão longe, tão distante da Terra...

*Sobre Roberto Fiori:
Escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Sobre o livro “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, do autor Roberto Fiori:

Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas, demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.

Dizem que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que jamais será derrotada... Ou a fantasia que conta a chegada de um povo que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo. Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar, e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte... Ou, em outro mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
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