João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

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sexta-feira, 3 de abril de 2020

Luciana Soares da Silva e a Aziza Editora, por Cida Simka e Sérgio Simka

Luciana Soares da Silva - Foto divulgação
Fale-nos sobre você.

Sou formada em Jornalismo pela Universidade Estadual Paulista – Unesp e em Letras Português/Francês pela Universidade de São Paulo – USP. Trabalho há 19 anos no mercado editorial, tendo exercido atividades de revisora de texto, preparadora, editora e coordenadora editorial. Também sou pesquisadora e contadora de histórias.

ENTREVISTA:

Você é editora da Aziza Editora. Fale-nos sobre ela. Como é seu trabalho? Quantos originais recebe por mês? Quantos são publicados? Quem quiser publicar por ela quais os procedimentos?

A Aziza nasceu há seis meses dedicada a publicar autores e ilustradores negros. Em meus quase 20 anos de mercado editorial pude observar como esses autores e ilustradores têm maior dificuldade de acesso a esse mercado. Os que conseguem ainda são exceção. Estou falando de racismo também na produção de livros, área que ainda guarda um consenso coletivo de que fazer livros é coisa de homem, branco, europeu. Mas se é sempre o outro que conta as nossas histórias não temos diversidade e a realidade é menos fiel. Acabamos caindo na "história única", como bem avaliou Chimamanda Ngozi Adichie.
Nesse sentido, a Aziza chega para ser mais um espaço para autores e ilustradores negros contarem suas histórias com base em suas experiências e no que sentem na pele. Queremos trazer histórias capazes de humanizar o negro, de reparar sua "dignidade roubada", ainda nas palavras de Chimamanda.
Somos uma editora pequena, por enquanto com apenas três pessoas no quadro fixo. O restante do trabalho é terceirizado. Sou eu que seleciono os originais, contrato os profissionais necessários e me responsabilizo pela qualidade no processo de produção de nossos livros. Temos recebido de cinco a dez originais por mês, mas o ritmo de produção ainda é modesto, apesar de em crescimento. Atualmente temos quatro títulos publicados e mais alguns esperando a pandemia passar para serem lançados. Para ter seu original avaliado, é necessário enviá-lo para originais@azizaeditora.com.br.   

Como é ser editor num país como o nosso?

Isso tem melhorado, a meu ver. Apesar de vermos editoras em crise e livrarias fechando, o número de leitores vem crescendo a cada ano, e o interesse pela literatura produzida no país também, mesmo diante de todo o ataque à cultura que temos por aqui. Isso se deve em grande parte à internet e aos novos meios de divulgação, à possibilidade de falar diretamente a esse leitor e de identificar mais facilmente quais são os interesses.
O que tem mudado é o perfil editor: editoras pequenas e autores independentes estão ganhando espaço, bem como uma literatura que traz mais diversidade. Parece-me que o que está em crise não é o livro em si, mas a maneira de tratá-lo: como algo distante, que não é sobre todo mundo nem para todo mundo. Vejo com grande entusiasmo, sobretudo, as editoras de nicho, especializadas em um assunto, em uma questão, como é o nosso caso.

Como analisa a questão da leitura no país?

O público leitor está crescendo. É o IBOPE dos livros quem diz. Isso tem alguns motivos. Volto a ressaltar o impacto da internet: hoje há muitos influenciadores digitais apresentando livros, estimulando a leitura, fazendo resenhas on-line e até escrevendo as próprias obras, o que aproxima o leitor do objeto livro. Também há muitos projetos de leitura por toda parte, no centro e na periferia, além de saraus e contações de história atraindo todas as faixas etárias e mostrando que o livro é pra todo mundo.   

O que tem lido atualmente?

Estou "maratonando" Scholastique Mukasonga: Baratas, Nossa Senhora do Nilo e, agora, A mulher de pés descalços. Me atrai o modo como ela trata de memória e de ancestralidade. E de como tudo isso está ligado a devolver nossa dignidade perdida, lutando contra o esquecimento e a desumanização do povo negro.

Site da editora:

CIDA SIMKA
É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019) e O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020). Organizadora dos livros: Uma noite no castelo (Editora Selo Jovem, 2019), Contos para um mundo melhor (Editora Xeque-Matte, 2019), Aquela casa (Editora Verlidelas, 2020) e Um fantasma ronda o campus (Editora Verlidelas, 2020). Integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC e colunista da Revista Conexão Literatura.

SÉRGIO SIMKA
É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela Editora Uirapuru. Membro do Conselho Editorial da Editora Pumpkin, integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC e colunista da Revista Conexão Literatura.

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