Jp Santisil nasceu em Salvador, capital do Estado da Bahia, tendo se dedicado mais da metade de sua vida a projetos de ativismo social, educacional, cultural e ecológico com crianças e jovens em estado de risco e extrema pobreza nas favelas e comunidades carentes do Brasil e Ecuador. Atualmente vive e é cidadão do Estado de Israel, oriente médio asiático, onde se dedica a projetos ecologicamente sustentáveis, e em particular, numa mesinha de sua casa em sua espiritualidade tenta criar um mundo novo mais ou menos perfeito em sua paixão por escrita e amor a literatura.
ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário
Jp Santsil: Saudações a todos. Tive início na escrita aos 14 anos de idade, quando um casal de poetas foram fazer uma oficina de poesia em minha escola. Participei dessa oficina que durou um mês, resultando numa pequena e simplória antologia em que escrevi o meu primeiro texto criativo. Depois aos 17 anos me tornei cantor de Rap (MC) em que escrevia minhas próprias letras, poesia cantada. Daí, comecei a escrever contos, crônicas até resolver escrever meu primeiro romance de ficção histórica: O FILHO DAQUELA QUE MAIS BRILHA. Vejo a escrita como a primeira tecnologia de programação da humanidade, em que se perpetuam culturas, religiões, leis e governos ao longo do nosso trajeto histórico civilizatório. E posso compreender o poder que ela tem de perpetuar a história da humanidade, e por isso, fui motivado a escrever.
Conexão Literatura: Você é autor do livro “O filho daquela que mais brilha” (Editora Chiado). Poderia comentar?
Jp Santsil: Esta obra é fruto de uma vasta pesquisa histórica e sapiência de vida, a qual contém segredos e mistérios tanto acadêmicos, quanto espirituais, base de meus estudos culturais, como um mestiço latino-americano brasileiro e cidadão do mundo. E dos meus estudos espirituais, como ser humano em plena expansão de consciência, nos muitos ensinamentos das culturas africanas, nativo-americanas e do Mediterrâneo asiático e africano. A obra contém não só os muitos ensinamentos dos judeus cabalísticos e Essênios, cristãos gnósticos, europeus alquímicos, ameríndios (andinos, amazonenses e costeiros), como, também é óbvio, as culturas africanas ancestrais dos Yorubas e Mandinkas. E, é claro, toda a cultura dos conhecimentos quilombolas dos afro-brasileiros. Devido ao fato dessa história ser ainda inconveniente para a moderna sociedade brasileira, tive resistências de algumas grandes editoras brasileiras em publicá-la. Porém, ao lançá-la pela Editora Chiado e, por estar disponível no Kindle Amazon, estou obtendo muitas respostas positivas e surpreendentes por parte do público em geral. Eu, praticamente, cresci ouvindo histórias e escutando músicas a respeito do Quilombo e Zumbi dos Palmares. Nasci em Salvador, capital da Bahia, o verdadeiro centro da cultura afro-brasileira. A capital baiana é a cidade com maior número de descendentes de africanos no mundo, seguida por New York, majoritariamente de origem iorubá e congolesa, vindos da Nigéria, Togo, Benim e Gana, Congo e Angola. Depois da ditadura militar (1985), os blocos afros como Ilê Aiyê (1974), o Malê Debalê (1979), Olodum (1979), Muzenza (1981), Cortejo Afro (1998) e o Bankoma (2000) se reergueram na capital baiana, onde as suas maiores inspirações para as letras dos seus enredos foi Palmares e seus heróis. Isso contribuiu muito para minha inspiração desse meu primeiro livro. Reuni todos os fatos históricos, junto a uma bela ficção imaginativa, interligando os muitos personagens históricos da época. Veracidade reunida a fantasia, isso é teoria histórica; retratando que toda história que nos é relatada nas escolas e universidades e nos demais grupos de estudos sobre Palmares não passa de teoria e imaginação dos poucos historiadores que escreveram sobre o caso. Na História não se sabe ao certo quem foi Zumbi, ou Ganga Zumba, ou se esses personagens foram os mesmos. Até porque naquela época Palmares já era uma incógnita, e as poucas informações vieram de alguns bandeirantes e sertanistas que ousaram invadir o Quilombo. Tudo relatado por meio de poucas cartas “um tanto fantasiosas”, para contar os seus feitos e bravuras de guerra. A história real é realmente irreal, engodo e fantasia. Os desafios foram muitos. Desde a construção de um ambiente geográfico, até o desenrolar de toda essa história de que não se tem muitos relatos históricos. Só para se ter uma ideia, ao quebra-cabeça histórico do Quilombo dos Palmares falta 80% de suas peças, das quais 15% são relatos dos bandeirantes, sertanistas e alguns governantes, e o restante, 5%, são alguns “fatos históricos” dentro desses soberbos relatos em que os colonos portugueses auto vangloriavam-se nas suas invasões em Palmares e na captura de alguns de seus líderes. Então, temos 80% de muito engodo e fantasia sobre o Quilombo e seus personagens. Aí é que entra a minha criatividade ao recriar todo um ambiente e mundo, coligando outros personagens históricos, continentes e reinos, e demais situações da época, preenchendo as lacunas desse quebra-cabeça histórico com uma bela e inteligente ficção, e muita espiritualidade por parte de um dos protagonistas o ancião GRIOT Djeli.
Conexão Literatura: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir seu livro?
Jp Santsil: 7 anos em pesquisa com viagens a Lisboa, a África e Amsterdam. 4 anos de escrita. Em que sempre me questionei profundamente: O que há de engodo? O que há de verdade nessa história? Está obra relata não só a história do Quilombo dos Palmares, seus líderes e oponentes. Revela fatos ocultos da descoberta e fundação do Brasil. Que vai desde a Europa Medieval, a inquisição católica e o aculturamento dos judeus sefarditas em cristãos-novos, e os movimentos criptojudeus libertários até a África e seus originais impérios africanos, desembarcando em terras dos nativos e originais povos das florestas tropicais sul-americanas, classificados como índios pelos cristãos ibéricos europeus. Relata, também, a colonização espanhola e holandesa na Capitania de Pernambuco, que compreendia os atuais estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas e a porção ocidental da Bahia. E nos conta uma história de amor e luta, esperança, liberdade e crenças messiânicas em um período trágico da história brasileira. Nenhum outro livro revela a fantasia que virou realidade, e a verdade que se transformou em engodo como este. Esta Obra é um romance de ficção histórica, mas que preserva 100% dos fatos verídicos, revelando segredos académicos, desmistificando os achismos e impressões dos historiadores, seus objetivos e discursos manipulatórios. Também, desmascara a fantasia criada pelos diversos movimentos de ativismo-político negro, em que eliminaram da história a presença de brancos em Palmares, e criaram personagens exóticos para defenderem seus interesses e critérios de gênero. Não agradando nem a grego e, nem a troianos, nem a “pretos” e, nem a “brancos”, mas buscando relatar um pouco de verdade histórica, sem manipulações partidárias de raça e todo o seu conceito. Este livro é um documento animado, dramatizado e romantizado, sem partido, dando aos personagens históricos emoção e vida.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho que você acha especial em seu livro?
Jp Santsil: O livro tem vários momentos especiais, Porém, deixo um trechinho de um dos aprendizados que N’zambi tem com o seu tutor e Guia Espiritual o ancião GRIOT Djeli: “...Djeli, vendo que só deixou o jovem mais atordoado, lhe contou uma parábola:
— Um certo andarilho caminhante se perdeu nos confins de um grande deserto. De muito andar sob o sol escaldante, e já sem suprimentos de água e alimentos, resolveu procurar um lugar com sombra para descansar. Caminhando mais um pouco, ele encontrou uma grande rocha que fazia uma imensa sombra. Ele se acomodou sob essa sombra, se recostando na rocha. Então, ele pensou: “que bom é essa sombra, agora só me faltava uma moringa cheia de água fresca. E nesse mesmo instante em que ainda pensava, plin! Apareceu-lhe uma moringa cheia de água fresca. Sem muito pensar ou questionar, o andarilho sedento apanhou a moringa e saciou a sua enorme sede. Então, ele pensou novamente: Que bom é essa moringa de água fresca, agora só me falta um belo banquete. Enquanto ainda pensava, plin! Surgiu do nada uma mesa repleta de todas as iguarias que ele gostava. Morto de fome e sem muito pensar ou questionar, o andarilho se pôs a comer. Saciado da sede e da fome, o andarilho olhou para a grande rocha e disse consigo mesmo: que benção foi de encontrar essa rocha encantada. E nesse mesmo instante em que pensara a rocha iluminou-se em majestade e encanto. Nisso, quando a grande rocha se iluminou, um bando de corvos atraídos pelo seu brilho pousou sobre ela e começou a grasnar. O andarilho caminhante, vendo isso, se espantou e logo pensou, questionando: “e se essa rocha for um demônio do deserto disfarçado?” E no mesmo instante em que pensava isso, a rocha se transformou num grande e horrível demônio. Quando ele viu aquela figura horrorosa, imediatamente pensou: “maldição! Esse demônio vai me devorar.” E, sem ao menos completar esse pensamento, o demônio o devorou.
Djeli virou-se de frente para N’zambi, olhou profundamente nos seus olhos e lhe perguntou:
— Agora me diga, meu jovem príncipe de Palmares, quem foi que proporcionou a esse andarilho caminhante todas as bênçãos e maldições no decorrer do seu caminho?
— Foi ele mesmo, Djeli. Através dos seus inúmeros pensamentos, interpretações e sentimentos de bem e mal.
— Assim são os nossos pensamentos, desejos e sentimentos de bem ou mal. Livre-se da culpa e do julgamento repentino, meu jovem, e você se livrará também do medo. Pois o medo é a fonte de toda maldade, desgraças, separação e ignorância que insiste em reinar na terra. Se você não matar esse medo que existe dentro de você, ele te matará. Também não se preocupe de não ter entendido completamente as minhas palavras, elas são como sementes férteis que ao seu tempo brotarão.”
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Jp Santsil: Todas as informações a respeito da obra estão no meu website: https://www.jpsantsil.com e vos deixo o BookTrailer: https://youtu.be/z820YlqkytY
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Jp Santsil: Claro que existe! Porém, uma coisa de cada vez. Agora estou concentrando minhas energias na divulgação do: O FILHO DAQUELA QUE MAIS BRILHA. Mas a escrita não para... estou participando de antologias, e mantendo uma coluna quinzenal no Portal Literário Ruído Manifesto, em que publico contos e crônicas. E agora com a Quarentena, devido ao Covid-19, a criatividade ganhou tempo para processos.
Perguntas rápidas:
Um livro: Les Misérables (Os Miseráveis)
Um (a) autor (a): Miguel de Cervantes Saavedra
Um ator ou atriz: Sotigui Kouyaté
Um filme: Dances with Wolves
Um dia especial: 28 de agosto de 1963
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Jp Santsil: Acredito que a ação faz a inspiração, porém, é claro há momentos criativos. Escrever para mim é como um constante fluxo das águas de um rio, que apesar de despojar-se no mar nunca o transborda. Há de ser criativo e expressar criatividade... Aproveitem seus dias de isolamento social, para liberar esse dom divino que há dentro de cada um. CriAtive-se!!!
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