João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

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segunda-feira, 27 de abril de 2020

Glauco J. S. Freitas e os livros "O Exército de Imortais" e "A Alcateia"

ENTREVISTA:

Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?

Glauco J. S. Freitas: Tardio. Acho que isso resume. Nunca tinha realmente lido nada por vontade própria, e enrolava mesmo as leituras obrigatórias da escola. Só fui me tornar um leitor as vinte anos, quando um primo me presenteou no natal com “O Último Reino”, de Bernard Cornwell. Lembro que, na época, a série tinha recém-lançado o sexto volume e eu li todos naquele mês de janeiro. Foi um rombo na carteira, mas acho que hoje dá pra olhar pra trás e considerar um investimento.

Apesar disso, eu já flertava com essa coisa de “escrever”. Fizemos um livro para um evento no colégio em que fui o escritor, eu e um amigo passávamos as aulas de matemática escrevendo o que um dia, imaginávamos, se tornaria um mangá – não façam isso, crianças – , e, por fim, ainda no ensino médio, decidi que queria ser roteirista. 

É claro, porém, que era tudo muito amador, e sem uma base literária mais sólida, dá pra imaginar a desgraceira que ia pro papel. Ainda assim, eu realmente gostava daquilo e, quando ganhei o livro algum tempo depois, foi como um “click”.

Conexão Literatura: Você é autor dos livros "O Exército de Imortais" e "A Alcateia". Poderia comentar? 

Glauco J. S. Freitas: A Alcateia foi a primeira obra que eu senti que era suficientemente boa pra arriscar publicar. Claro, ela levou uns cinco anos, no total, pra ficar pronta e foi reescrita do zero pelo menos umas três vezes. Quando eu me encaminhava pro terço final do livro, descobri que um concurso de ebooks estava em aberto e faltava menos de um mês para o prazo. 

Acho que a gente só se empenha mesmo quando a água bate na bunda. Ainda assim, não consegui terminar o livro até dois dias após o término do prazo, mas acho que valeu a pena ou eu talvez nunca tivesse realmente terminado o livro – ou não teria chegado a um final tão apoteótico e satisfatório. Acabei publicando a obra em ebook assim mesmo, no finalzinho de 2016.

Nunca fui um bom vendedor do meu próprio trabalho, mas A Alcateia recebeu algumas boas resenhas e aquilo serviu de combustível pra seguir o trabalho. 

Logo depois, dei início à série Folclórika, que como o nome sugere, é uma high fantasy inspirada no folclore brasileiro. Lancei o primeiro livro, O Exército de Imortais, pela Editora PenDragon. Tenho que admitir que, no começo, a história se ambientava numa fantasia muito mais genérica e, na verdade, eu a escrevi só pra dar vazão àquilo que estava na cabeça. Porém, quanto mais eu escrevia, mais eu gostava daqueles personagens e, quando o livro já se aproximava da metade, resolvi que era hora de dar uma personalidade mais forte à tudo.

Foi quando surgiu a ideia de ambientar o universo que eu havia criado no folclore brasileiro. É claro, tive que reescrever boa parte do livro, mas quanto mais vida Akakor ganhava, melhor a obra me parecia. 

No fim, uma história escrita só por diversão se tornou minha primeira obra publicada por uma editora.

Conexão Literatura: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir seus livros? 

Glauco J. S. Freitas: A Alcateia, na verdade, precisou de pouco pesquisa. O livro se passa em Curitiba, minha cidade, então essa parte foi fácil. Agora, a parte do sobrenatural, do misticismo e da mitologia, exigiu mais imaginação e adaptação do que pesquisa. Não sou um conhecedor dessas questões, por assim dizer, mas um “entusiasta”. Peguei o pouco que sabia sobre magia do caos, goethia e espiritismo e construí uma mitologia própria em cima disso. Agora, apesar de não ter tido muito contato com livros policiais, tive minha cota de filmes e séries do gênero.

Já O Exército de Imortais teve uma pesquisa extensa, indo de lendas e mitos do nosso folclore – que vai muito além de Monteiro Lobato e o pouco que a gente aprende na 5ª série –  até um dicionário de Tupi-Guarani Antigo. Claro, quem ler O Exército vai conhecer tanto sobre as lendas que inspiraram o livro quanto quem ler a obra de Eduardo Spohr vai saber sobre a Bíblia, mas acho que isso é algo explícito quando se trata de high fantasy.

A Alcateia levou quase cinco anos para ser escrito, desde o primeiro rascunho, até a obra final. Já O Exército teve seus quatro primeiros capítulos escrito em uma única noite, e levou quase um ano para se moldar no que se tornou a obra final.

Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho que você acha especial em seus livros?

Glauco J. S. Freitas: Tem dois trechos de A Alcateia que eu acho especiais. Primeiro o momento em que Matsui usa um misto de magia do caos e ritual cristão para aprisionar uma entidade num antigo orfanato, e o momento em que Patrezzi enfrenta uma criatura enquanto rola Whitesnake no rádio e toda a perseguição de carro subsequente a isso. É a parte que eu sempre releio quando pego o livro para folhear.

Já em O Exército de Imortais, tem uma passagem em que Räel e Qehrana encontram um grupo de mapinguarys no Monte Nhaminiwi que sempre é citado pelas leitoras, mas eu acho que sempre que o Andurah aparece ele rouba a cena.

Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir os seus livros e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário? 

Glauco J. S. Freitas: Pra adquirir é fácil, a PenDragon tem parceria com a maioria das lojas virtuais, além de ter os livros disponíveis em seu próprio site – inclusive fazendo um combo pra quem quiser as duas obras. E pra quem quiser saber mais sobre meu trabalho, eu uso principalmente o Instagram pra divulgação e pra contato.

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta? 

Glauco J. S. Freitas: Vários. Eu tenho um sério problema em focar numa obra só, então eu começo a trabalhar em um livro, paro e começo outro, depois volto pro primeiro, etc, etc, etc. No momento, tenho outras duas obras com Matsui e Patrezzi em andamento – sempre histórias independentes e fechadas – e a série Folclórika terá cinco livros: o segundo está pronto e o terceiro, pela metade.

Outra obra iniciada é O Maquinista, que é minha obra mais ambiciosa. Quem souber procurar acha trechos e detalhes pelo Facebook e pelo Instagram, mas por enquanto, prefiro não divulgar nada oficialmente.

Perguntas rápidas:

Um livro: Contato – Carl Sagan
Um (a) autor (a):  Bernard Cornwell
Um ator ou atriz: sempre digo que se você tiver que ser uma pessoa, sempre seja a Meryl Streep
Um filme: Seven
Um dia especial: o dia que meu filho saiu da UTI-Neo

Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário? 

Glauco J. S. Freitas: Acredito que a literatura fantástica nacional finalmente descobriu sua identidade. Passamos de tentar replicar aquilo que líamos de fora e passamos a criar algo que nos é próprio. É por isso, a meu ver, que a fantasia nacional tem ganhado tanto espaço nos últimos tempos. Se você nunca leu uma obra de fantasia brasileira – ou se já leu, e não foi de seu agrado – recomendo que dê uma – ou mais uma – chance. Obrigado pelo espaço e obrigado a você que leu até aqui.
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