Wagner Fontoura - Foto divulgação |
Fale-nos sobre você.
Nascido em Minas Gerais e radicado em São Paulo, publicitário, exerço a função de redator na agência de marketing digital que fundei e dirijo há 12 anos. Casado pela segunda vez, sou pai de dois filhos e tenho negócios no Brasil e em Portugal, onde passo uma pequena parte do ano a trabalho. Cozinheiro por diletantismo, também sou formado em gastronomia. O cozinheiro de Bangu foi minha primeira incursão na escrita de literatura.
ENTREVISTA:
Fale-nos sobre seu livro. O que o motivou a escrevê-lo?
Nascido em Minas Gerais e radicado em São Paulo, publicitário, exerço a função de redator na agência de marketing digital que fundei e dirijo há 12 anos. Casado pela segunda vez, sou pai de dois filhos e tenho negócios no Brasil e em Portugal, onde passo uma pequena parte do ano a trabalho. Cozinheiro por diletantismo, também sou formado em gastronomia. O cozinheiro de Bangu foi minha primeira incursão na escrita de literatura.
ENTREVISTA:
Fale-nos sobre seu livro. O que o motivou a escrevê-lo?
Quando vivi a experiência de ver meu filho preso e ter que lidar com o sistema prisional numa nova e estressante rotina, eu comecei a escrever um diário. Escrevia para me ajudar a organizar o pensamento e a lidar com a angústia e a ansiedade. Naquela época, a escrita tinha uma função terapêutica mesmo, sem nenhuma pretensão literária. Depois que as coisas se resolveram e a vida começou a entrar no ritmo "normal", deixei o diário de lado e, em determinado momento, em meio às caixas de uma mudança de casa, o perdi completamente de vista e até achei que tivesse se extraviado. A ideia de voltar a remexer nesses escritos nasceu mais de dois anos depois, quando contei minha história para duas amigas que não via há muito tempo, sendo que uma é editora e a outra, roteirista. Ambas ficaram interessadíssimas em saber mais de todos os detalhes e se interessaram em ler o diário. Inicialmente me foi sugerida por elas a ideia de adaptá-lo como roteiro audiovisual. Foi assim que me instigaram a desenvolver a história, explorando mais o potencial dramático e literário, sem ficar restrito à suposta verdade dos fatos, mas antes explorando a imaginação e a autoficção com liberdade. Feito o dever de casa, ao longo de mais três anos de escrita (e reescrita), mostrei o material à editora, que comprou a ideia e daí começou a nascer o livro O cozinheiro de Bangu.
Como analisa a questão da leitura no país?
É muito preocupante a situação da educação e da cultura como um todo no Brasil. Basta acompanhar as notícias para perceber que as coisas não vão nada bem. A formação de leitores só acontece no bojo dos processos de investimento em escolas e, em função de todas as desigualdades estruturais, nunca fomos um país de muitos leitores. É verdade que o problema é muito antigo, mas a política de enfrentamento adotada pelo atual governo, nas mais diversas instâncias, em nada ajuda a resolver, ou, pior, só faz agravar os problemas. Vivemos um tempo muito estranho, de retorno da censura, de demonização da inteligência e do espírito crítico, de ataque à pesquisa, ao conhecimento e à liberdade de expressão. Assim fica difícil de alimentar a esperança...
O que tem lido ultimamente?
Por demanda da minha profissão e mais ainda pelo hábito e prazer da leitura desde a infância, sou um leitor compulsivo. Chego a ler 4, 5 livros por mês, muitas vezes ao mesmo tempo. Das leituras mais recentes, em busca de referências diversas para o próximo livro no qual estou trabalhando, eu destaco Desde que o samba é samba, do carioca Paulo Lins, Ética bicha, do espanhol Paco Vidarte, O pai da menina morta, do Tiago Ferro, A vida invisível de Eurídice Gusmão, da Martha Batalha, O reino e o poder, do Gay Talese, Bom crioulo, do Adolfo Caminha, Essa gente, do Chico Buarque. Como eu disse, são referência bem diversas, todas riquíssimas.
Que dica poderia fornecer a um escritor principiante?
Difícil me ater a uma dica, posto o quanto é complexo o processo e árduo o caminho para um escritor principiante. Valem várias. Escrever é a ponta de um iceberg formado por muitas outras etapas antes, durante e depois do processo da escrita em si. Imagino o quanto isto seja surpreendente para um escritor iniciante – para mim foi. Minha primeira recomendação é que, sempre que possível, junte-se a um editor experiente e competente, que lhe dará o sinuoso caminho das pedras. No meu caso, utilizei técnicas estudadas de roteiro que funcionaram muito bem para dar ritmo e dinamismo à história, baseado nos comentários recebidos de leitores. Pesquisa de referências é fundamental, então, leia, leia, leia e só depois escreva, escreva, escreva. A organização de todas as partes da história consome um tempo longo mas absolutamente imprescindível para colocar no seu lugar todos os altos e baixos que prenderão a atenção do leitor. É importante fisgar o leitor logo de cara, deixando o x da questão a ser resolvida pelo seu protagonista explícito; e o incidente incitante, aquilo que muda a vida do herói da história e norteia todo o livro, não deve tardar também a surgir na leitura. Ao final da escrita, revisar, revisar, revisar mil vezes sem preguiça, até que esteja tudo perfeitamente em ordem. Revisar de novo. Reescrever trechos, partes ou até toda a história é um desafio a ser enfrentado sem apego. Chega uma hora que a história e seus personagens ganham vida própria e deixam de pertencer ao autor. Clichê, mas é um fato. Então, não se apegue. Compartilhe ao menos trechos da sua escrita com amigos capazes de lhe dar feedbacks sobre o andamento da coisa. Peça críticas sinceras e esteja aberto a elas. Os cuidados com a edição, coisas técnicas como o tipo de papel, a fonte, os espaçamentos, capa, ilustrações, encadernação, impressão, sinopses, tudo isso são coisas que uma boa editora (eu disse boa, não necessariamente grande) agregarão e farão a maior diferença. Se o autor for independente, ainda assim busque ajuda com amigos ou profissionais liberais qualificados – será um importante diferencial. O lançamento ajuda, iniciativas para dar publicidade ao livro ajudam, ou seja, um bom trabalho de relações públicas; mas não espere ser um best-seller porque vender livros é tarefa árdua e desafiadora no Brasil, onde as livrarias têm critérios restritivos e barreiras a serem vencidas para ter o seu livro nas prateleiras. Aposte na internet. Funciona, desde que você se esforce para, mesmo nesta mídia, divulgá-lo. Compartilhe sua obra com instabookers e jornalistas. Guardadas as devidas proporções, se as qualidades do seu produto forem notáveis, eles falarão de você e será uma forma relevante de divulgação. Pesquise incentivos em órgãos locais da sua cidade ou do seu estado antes de publicar, se você não tem uma editora. Pode ser a solução financeira para viabilizar o seu trabalho. A edição, produção, publicação e distribuição de um livro pode custar dezenas de milhares de reais no Brasil, não é um investimento baixo. Planilhe e domine todos estes custos para definir um preço de capa assertivo, depois compare com os valores de mercado de obras similares. Faça ajustes na sua pretensão se for preciso. Será. Depois de publicado, pesquise premiações às quais você possa se inscrever. Isto fará seu livro chegar em boas e críticas mãos, mesmo que você não seja efetivamente premiado. E tudo isso é apenas o básico, são condições sine qua non se se quer fazer um trabalho profissional sério. Não é fácil, mas é uma boa receita básica de sucesso.
Quais os seus próximos projetos?
Tenho trabalhado nas atividades prévias de escrita do próximo livro, coisas sobre as quais eu deixei aqui como dicas para outros escritores principiantes. Com todo o aprendizado que tive no processo d’O cozinheiro de Bangu eu me sinto instigado e encorajado a seguir em frente, apesar de todas as dificuldades. Posso adiantar que neste momento tenho trabalhado em pesquisas, buscas de referências e já na organização de um esqueleto da obra, que talvez (eu disse talvez) esteja relacionada com a história ficcionalizada do primeiro, já que este deixou ganchos possíveis para que eu o faça. Quem sabe?
Como analisa a questão da leitura no país?
É muito preocupante a situação da educação e da cultura como um todo no Brasil. Basta acompanhar as notícias para perceber que as coisas não vão nada bem. A formação de leitores só acontece no bojo dos processos de investimento em escolas e, em função de todas as desigualdades estruturais, nunca fomos um país de muitos leitores. É verdade que o problema é muito antigo, mas a política de enfrentamento adotada pelo atual governo, nas mais diversas instâncias, em nada ajuda a resolver, ou, pior, só faz agravar os problemas. Vivemos um tempo muito estranho, de retorno da censura, de demonização da inteligência e do espírito crítico, de ataque à pesquisa, ao conhecimento e à liberdade de expressão. Assim fica difícil de alimentar a esperança...
O que tem lido ultimamente?
Por demanda da minha profissão e mais ainda pelo hábito e prazer da leitura desde a infância, sou um leitor compulsivo. Chego a ler 4, 5 livros por mês, muitas vezes ao mesmo tempo. Das leituras mais recentes, em busca de referências diversas para o próximo livro no qual estou trabalhando, eu destaco Desde que o samba é samba, do carioca Paulo Lins, Ética bicha, do espanhol Paco Vidarte, O pai da menina morta, do Tiago Ferro, A vida invisível de Eurídice Gusmão, da Martha Batalha, O reino e o poder, do Gay Talese, Bom crioulo, do Adolfo Caminha, Essa gente, do Chico Buarque. Como eu disse, são referência bem diversas, todas riquíssimas.
Que dica poderia fornecer a um escritor principiante?
Difícil me ater a uma dica, posto o quanto é complexo o processo e árduo o caminho para um escritor principiante. Valem várias. Escrever é a ponta de um iceberg formado por muitas outras etapas antes, durante e depois do processo da escrita em si. Imagino o quanto isto seja surpreendente para um escritor iniciante – para mim foi. Minha primeira recomendação é que, sempre que possível, junte-se a um editor experiente e competente, que lhe dará o sinuoso caminho das pedras. No meu caso, utilizei técnicas estudadas de roteiro que funcionaram muito bem para dar ritmo e dinamismo à história, baseado nos comentários recebidos de leitores. Pesquisa de referências é fundamental, então, leia, leia, leia e só depois escreva, escreva, escreva. A organização de todas as partes da história consome um tempo longo mas absolutamente imprescindível para colocar no seu lugar todos os altos e baixos que prenderão a atenção do leitor. É importante fisgar o leitor logo de cara, deixando o x da questão a ser resolvida pelo seu protagonista explícito; e o incidente incitante, aquilo que muda a vida do herói da história e norteia todo o livro, não deve tardar também a surgir na leitura. Ao final da escrita, revisar, revisar, revisar mil vezes sem preguiça, até que esteja tudo perfeitamente em ordem. Revisar de novo. Reescrever trechos, partes ou até toda a história é um desafio a ser enfrentado sem apego. Chega uma hora que a história e seus personagens ganham vida própria e deixam de pertencer ao autor. Clichê, mas é um fato. Então, não se apegue. Compartilhe ao menos trechos da sua escrita com amigos capazes de lhe dar feedbacks sobre o andamento da coisa. Peça críticas sinceras e esteja aberto a elas. Os cuidados com a edição, coisas técnicas como o tipo de papel, a fonte, os espaçamentos, capa, ilustrações, encadernação, impressão, sinopses, tudo isso são coisas que uma boa editora (eu disse boa, não necessariamente grande) agregarão e farão a maior diferença. Se o autor for independente, ainda assim busque ajuda com amigos ou profissionais liberais qualificados – será um importante diferencial. O lançamento ajuda, iniciativas para dar publicidade ao livro ajudam, ou seja, um bom trabalho de relações públicas; mas não espere ser um best-seller porque vender livros é tarefa árdua e desafiadora no Brasil, onde as livrarias têm critérios restritivos e barreiras a serem vencidas para ter o seu livro nas prateleiras. Aposte na internet. Funciona, desde que você se esforce para, mesmo nesta mídia, divulgá-lo. Compartilhe sua obra com instabookers e jornalistas. Guardadas as devidas proporções, se as qualidades do seu produto forem notáveis, eles falarão de você e será uma forma relevante de divulgação. Pesquise incentivos em órgãos locais da sua cidade ou do seu estado antes de publicar, se você não tem uma editora. Pode ser a solução financeira para viabilizar o seu trabalho. A edição, produção, publicação e distribuição de um livro pode custar dezenas de milhares de reais no Brasil, não é um investimento baixo. Planilhe e domine todos estes custos para definir um preço de capa assertivo, depois compare com os valores de mercado de obras similares. Faça ajustes na sua pretensão se for preciso. Será. Depois de publicado, pesquise premiações às quais você possa se inscrever. Isto fará seu livro chegar em boas e críticas mãos, mesmo que você não seja efetivamente premiado. E tudo isso é apenas o básico, são condições sine qua non se se quer fazer um trabalho profissional sério. Não é fácil, mas é uma boa receita básica de sucesso.
Quais os seus próximos projetos?
Tenho trabalhado nas atividades prévias de escrita do próximo livro, coisas sobre as quais eu deixei aqui como dicas para outros escritores principiantes. Com todo o aprendizado que tive no processo d’O cozinheiro de Bangu eu me sinto instigado e encorajado a seguir em frente, apesar de todas as dificuldades. Posso adiantar que neste momento tenho trabalhado em pesquisas, buscas de referências e já na organização de um esqueleto da obra, que talvez (eu disse talvez) esteja relacionada com a história ficcionalizada do primeiro, já que este deixou ganchos possíveis para que eu o faça. Quem sabe?
CIDA SIMKA
É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019) e O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020). Organizadora dos livros: Uma noite no castelo (Editora Selo Jovem, 2019), Contos para um mundo melhor (Editora Xeque-Matte, 2019), Aquela casa (Editora Verlidelas, 2020) e Um fantasma ronda o campus (Editora Verlidelas, 2020). Integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC e colunista da Revista Conexão Literatura.
SÉRGIO SIMKA
É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela Editora Uirapuru. Membro do Conselho Editorial da Editora Pumpkin, integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC e colunista da Revista Conexão Literatura.
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