Guilherme Bucco - Foto divulgação |
Formado em Desenho Industrial em 2007, migrou para a área do audiovisual, onde trabalha como editor de vídeo e motion designer desde 2012. Apesar de contar histórias através de vídeo, foi só depois do nascimento da filha, em 2018, que se sentiu mais à vontade para se expressar por meio de palavras, devido à condição de sua pequena: ela tem paralisia cerebral e epilepsia de difícil controle. Desde então, criou o Papai Atípico para lidar com suas vivências e se comunicar com outros pais e famílias de crianças com desenvolvimento atípico.
ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário? Sua mãe o incentivou a ler desde pequeno.
Guilherme Bucco: Tudo começou com o nascimento de Dora, minha filha, em 2018. Ela teve uma hipóxia neonatal, ou seja, faltou oxigenação no cérebro durante o parto. Isso a deixou com paralisia cerebral e epilepsia infantil de difícil controle.
Então eu fui pouco a pouco entrando num estado de muita frustração e angústia, decorrente das expectativas criadas durante a gravidez.
Como eu via poucos relatos de homens pais de criança com deficiência, resolvi criar o Papai Atípico para expressar meus sentimentos em relação aos desalentos e desafios que enfrento em casa e na sociedade. Esse projeto também tem intuito de ser um canal de comunicação e apoio para outros homens pais de criança com deficiência. Uma voz bem pouco vista nos meios de comunicação.
E nesse processo, também escrevi Cachinhos Lisos.
Curiosamente, meus pais pouco me incentivaram a ler. Para ser sincero, não lembro de um momento em que lemos juntos, ou discutimos sobre um mesmo livro.
Conexão Literatura: Você é autor dos livros “Cachinhos Lisos e Papai Atípico”. Poderia comentar?
Guilherme Bucco: Sou idealizador do Papai Atípico, oriundo da grande transformação da minha vida: me tornar pai. Não só escrevo sobre minha paternidade, como também compartilhei meu relato sobre como foram os 7 primeiros meses de vida da minha filha. (do nascimento em maio até dezembro do mesmo ano, quando resolvi criar o Papai Atípico). Lancei esse relato no formato de podcast, assim como entrevistas com outros pais.
Porém, antes de criar o projeto em si, eu escrevi Cachinhos Lisos.
Dora tinha 2 meses e já sabíamos da paralisia cerebral. Então eu comecei a imaginar como seria, dentro da cabecinha dela, essa jornada de desenvolvimento que ela iria enfrentar. Dessa imaginação, surgiu Cachinhos Lisos, uma história de fantasia, aventura e autoconhecimento.
A história teve leitura crítica, edição e revisão do Daniel Zanella, idealizador do Jornal RelevO, um jornal de literatura que é enviado para o país inteiro.
E foi ilustrada pela Andrea Martau, uma artista que fez um trabalho sensacional ao transpor a história para traços e cores.
Conexão Literatura: Quanto tempo levou para concluir seus livros?
Guilherme Bucco: O Papai Atípico é um projeto de vida. Tenho várias ideias para ele, então penso que será bem duradouro.
Cachinhos Lisos levou pouco mais de 1 mês. Porém passou por algumas versões e só nos demos por satisfeitos com o texto depois de 6 meses.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho que você acha especial em seus livros?
Guilherme Bucco: Uma passagem que gosto muito é um final de diálogo em que uma das personagens pede para ver através do olhos de Cachinhos Lisos:
Antes de se despedir, a guia da floresta fez um pedido: “Cachinhos Lisos. Seus olhos são a coisa mais fascinante que eu já vi. Queria poder ver através deles”.
“Se te der meus olhos, não poderei contemplar sua floresta. Mas, para agradecer sua ajuda, prometo contar tudo o que eu vir. Assim será como se você estivesse lá comigo.” Vagalumosa achou a proposta muito graciosa.
Cachinhos Lisos e Lola estavam, enfim, chegando ao seu destino.
Para podermos ver através dos olhos de outra pessoa, precisamos exercitar a escuta. E ao nos permitirmos ouvir outras pessoas, somos transportados para suas histórias como se estivéssemos lá com elas. Assim, temos contato com outros universos, tão verdadeiros quanto os nossos próprios. É um caminho para entendermos as dores e alegrias alheias. Um exercício difícil, porém muito recompensador.
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir os seus livros e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho?
O Papai Atípico pode ser encontrado no instagram.com/papaiatipico e no site papaiatipico.com.br.
Os podcasts podem ser ouvidos no agregador de podcast favorito dos leitores da Conexão Literatura. Ou no youtube. Só procurar Papai Atípico que já acha.
Guilherme Bucco: O livro Cachinhos Lisos está somente na versão digital. Dividido em 6 capítulos, que serão lançados semanalmente no medium.com/cachinhoslisos.
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Guilherme Bucco: Sim. Para o Papai Atípico, estou produzindo uma temporada onde abordarei diferentes tipos de paternidade atípica e como elas me ajudam a entender minha própria paternidade. É algo bem pessoal, mas acredito que ajudará muitas pessoas, não só quem convive com a deficiência.
Para a Cachinhos Lisos, temos ideia de um livro físico interativo, com atividades e estimulação. E também já tenho rascunho para uma segunda história.
Perguntas rápidas:
Um livro: Guia do Mochileiro das Galáxias
Um (a) autor (a): Gabriel García Marquez
Um ator ou atriz:
Um filme: O Labirinto de Fauno
Um dia especial: O dia do ultrassom quando pude ouvir o coração da minha filha. Foi quando ser pai passou de ideia para realidade.
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Guilherme Bucco: Gostaria de agradecer a Revista Conexão Literária pelo espaço e dizer a todos os pais de criança com deficiência que vocês não estão sozinhos. Nossa paternidade é como qualquer outra.
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