Foto divulgação |
*Por Ademir Pascale
O dia está amanhecendo. Francisco gosta daquela sensação que só as manhãs lhe proporcionam. O ar fresco enche-lhe os pulmões e a brisa fria faz sentir-se vivo. Vivo para mais um dia de labuta. Os feirantes já ocupam toda a rua. A banquinha de frutas já está armada e como de costume, Francisco tem que passar lá para pegar duas bananas que seu Juca, o proprietário, cede sem pestanejar. Aliás, todos os feirantes o conheciam pelo carisma que irradiava e pela força positiva que seu sorriso transmitia. As bananas lhe davam força suficiente para conseguir chegar até o meio-dia. Empurrando sua carroça, ia esbanjando alegria. Vez ou outra parava para cumprimentar os transeuntes ou os comerciantes da vila. Tira o boné e se curva perante os mais idosos. E faz isso quantas vezes for preciso. Os olhos atentos preparavam as mãos calejadas: papelão, latinhas e equipamentos eletrônicos usados. Tudo isso rendia alguns trocados, mas algumas coisas ele não vendia e até se apegava, como um radinho de pilhas da década de 80 que encontrou dentro de um saco de lixo. Sua carroça era equipada, enfeitada e colorida. Na traseira tinha uma antena de carro que encontrou no meio da sucata. O radinho fixo na parte interna da carroça era a sua alegria. Uma das laterais estampava a frase: “Dirigido por mim, guiado por Deus”, a outra simplesmente “Francisco”, com a letra “F” grande, completamente desproporcional ao restante das outras letras.
Os dentes esbranquiçados e lustrosos continuavam à mostra, mesmo com o suor escorrendo na testa. Fez uma parada rápida para beber água, trazida num squeeze que estava dentro de uma mochila velha. Vislumbrou o cenário da feira lá de longe. O colorido das frutas, verduras e legumes, o vai e vem das pessoas, um cenário bonito e alegre que o inspirava em sua jornada.
O meio-dia já vinha chegando e a fome já ia apertando. Era hora de parar, estacionar a carroça, sentar-se na calçada, abrir a mochila e pegar o lanche que estava embrulhado num papel de pão de padaria: dois pães com mortadela que foram consumidos em poucas abocanhadas, restando apenas um pedaço que fora jogado para um cãozinho com olhar de pidão. Francisco se levanta e estira os braços e as pernas, coça a barriga, olha para o céu e vê a imensidão daquele azul infinito. Fecha os olhos e os abre novamente, imaginando como é estranho estar num planeta suspenso no nada, girando e girando infinitamente como uma valsa que nunca se acaba.
O latido lhe faz despertar de seus pensamentos. É hora de voltar ao trabalho.
Francisco esfrega as mãos, abre o largo sorriso e começa a empurrar novamente a sua carroça, agora bem mais pesada. Os moradores da vila já o conhecem e facilitam seu trabalho, deixando nas portas das casas os papelões, revistas, jornais velhos e latinhas. Raramente ele encontra um aparelho eletrônico. Algumas pessoas também deixam roupas, mas muitas não lhe servem: roupas de crianças e trajes femininos. Essas ele vende num brechó.
As garotas também conhecem muito bem Francisco, galanteador como sempre, nunca deixa de ser cordial com ninguém. Seu sorriso é marcante e sua presença traz conforto. Sabe aquelas pessoas que nós queremos sempre estar próximos? Pois uma delas é Francisco.
Embaixo do sol escaldante, o corpo ainda esguio de cinquenta e poucos anos sua molhando as roupas, dando sinais de que logo deverá parar e fazer o trajeto de retorno vendendo os objetos que encontrou, já separados dentro do carrinho, como de costume.
Os compradores confiam em Francisco e avaliam os seus produtos sem muitos questionamentos. Os papelões, assim como as latinhas, são pesados. O dono do brechó paga pelas roupas. A lojinha de eletroeletrônicos usados compra o único aparelho que ele encontrou no dia: um DVD Player com um controle remoto preso em fita adesiva, com alguns riscos e com uns quatro anos de uso, mas em pleno funcionamento.
Francisco volta feliz, com o radinho ligado com as pilhas que acabara de comprar, sintonizado numa estação de rádio FM.
Ele passa rapidamente numa casa do norte e compra um pedaço de carne de sol e um pouco de mandioca, pois a noite fará uma janta especial. Entra no cortiço. Prende a carroça no portão com uma corrente e vai para seu quarto, o de número oito.
Após tomar banho de canequinha, prepara o jantar. Enquanto come a carne de sol frita com mandioca, olha os pôsteres que estão colados na parede: Trio Parada Dura, Raul Seixas, Secos & Molhados. Todos estão lá, como nos dias anteriores. Liga a TV de tubo que já está sintonizada em seu canal preferido. Retira os chinelos, senta em sua poltrona rasgada, coloca os pés sobre uma almofada e assiste ao noticiário, até adormecer.
Os dentes esbranquiçados e lustrosos continuavam à mostra, mesmo com o suor escorrendo na testa. Fez uma parada rápida para beber água, trazida num squeeze que estava dentro de uma mochila velha. Vislumbrou o cenário da feira lá de longe. O colorido das frutas, verduras e legumes, o vai e vem das pessoas, um cenário bonito e alegre que o inspirava em sua jornada.
O meio-dia já vinha chegando e a fome já ia apertando. Era hora de parar, estacionar a carroça, sentar-se na calçada, abrir a mochila e pegar o lanche que estava embrulhado num papel de pão de padaria: dois pães com mortadela que foram consumidos em poucas abocanhadas, restando apenas um pedaço que fora jogado para um cãozinho com olhar de pidão. Francisco se levanta e estira os braços e as pernas, coça a barriga, olha para o céu e vê a imensidão daquele azul infinito. Fecha os olhos e os abre novamente, imaginando como é estranho estar num planeta suspenso no nada, girando e girando infinitamente como uma valsa que nunca se acaba.
O latido lhe faz despertar de seus pensamentos. É hora de voltar ao trabalho.
Francisco esfrega as mãos, abre o largo sorriso e começa a empurrar novamente a sua carroça, agora bem mais pesada. Os moradores da vila já o conhecem e facilitam seu trabalho, deixando nas portas das casas os papelões, revistas, jornais velhos e latinhas. Raramente ele encontra um aparelho eletrônico. Algumas pessoas também deixam roupas, mas muitas não lhe servem: roupas de crianças e trajes femininos. Essas ele vende num brechó.
As garotas também conhecem muito bem Francisco, galanteador como sempre, nunca deixa de ser cordial com ninguém. Seu sorriso é marcante e sua presença traz conforto. Sabe aquelas pessoas que nós queremos sempre estar próximos? Pois uma delas é Francisco.
Embaixo do sol escaldante, o corpo ainda esguio de cinquenta e poucos anos sua molhando as roupas, dando sinais de que logo deverá parar e fazer o trajeto de retorno vendendo os objetos que encontrou, já separados dentro do carrinho, como de costume.
Os compradores confiam em Francisco e avaliam os seus produtos sem muitos questionamentos. Os papelões, assim como as latinhas, são pesados. O dono do brechó paga pelas roupas. A lojinha de eletroeletrônicos usados compra o único aparelho que ele encontrou no dia: um DVD Player com um controle remoto preso em fita adesiva, com alguns riscos e com uns quatro anos de uso, mas em pleno funcionamento.
Francisco volta feliz, com o radinho ligado com as pilhas que acabara de comprar, sintonizado numa estação de rádio FM.
Ele passa rapidamente numa casa do norte e compra um pedaço de carne de sol e um pouco de mandioca, pois a noite fará uma janta especial. Entra no cortiço. Prende a carroça no portão com uma corrente e vai para seu quarto, o de número oito.
Após tomar banho de canequinha, prepara o jantar. Enquanto come a carne de sol frita com mandioca, olha os pôsteres que estão colados na parede: Trio Parada Dura, Raul Seixas, Secos & Molhados. Todos estão lá, como nos dias anteriores. Liga a TV de tubo que já está sintonizada em seu canal preferido. Retira os chinelos, senta em sua poltrona rasgada, coloca os pés sobre uma almofada e assiste ao noticiário, até adormecer.
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O dia está amanhecendo. Francisco gosta daquela sensação que só as manhãs lhe proporcionam. O ar fresco enche-lhe os pulmões e a brisa fria faz sentir-se vivo. Vivo para mais um dia de labuta.
Sim, este será mais um feliz e ótimo dia em sua vida.
Sim, este será mais um feliz e ótimo dia em sua vida.
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