João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

  Querido(a) leitor(a)! Nossa nova edição está novamente megaespecial e destaca João Barone, baterista da banda Os Paralamas do Sucesso. Bar...

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Sobre o Conto “O Dia dos Caçadores”, de Isaac Asimov

Isaac Asimov - Foto divulgação
*Por Roberto Fiori

Um dia desses, estávamos nós três — Ray Manning, Joe Block e eu — sentados em uma mesa de bar, bebendo e conversando. A conversa migrou da Bomba Atômica e o que deveria ser feito com ela, para o assunto das viagens no tempo. Ray declarou ter ouvido dizerem que um cientista muito importante havia feito uma barra de chumbo recuar no tempo uns dois segundos. Nada fora revelado, pois ele pensava que ninguém acreditaria nele. Perguntei como ele soubera disso, então, e ele afirmou que não era importante, que acreditasse nele ou não, dava no mesmo.

Falou-se apenas em viagens no tempo, a partir desse momento. Sobre o que poderia acontecer caso alguém recuasse no tempo e matasse o próprio avô. Ou por que razão ninguém recuava do futuro para nos dizer quem havia ganhado a Terceira Guerra Mundial. E Ray supôs que o simples fato de alguém poder dizer quem havia vencido a sétima partida, isso no decorrer da sexta, já era grande coisa. Joe falou que o que ele faria era totalmente diferente, que bastava de saber sobre guerras e partidas de futebol. Ele, se pudesse recuar no tempo, iria até a época dos dinossauros para saber o que havia sido feito deles, por que eles haviam desaparecido tão subitamente. Dissemos que isso era perda de tempo, sem sentido algum. Que ninguém se importava com o que acontecera aos dinossauros, que seus ossos só tinham importância para alguns malucos, que gastavam o chão dos museus querendo vê-los. Joe retrucou, com severidade, que, com “alguns” humanos que existiam, devíamos apegar-nos aos dinossauros. Não demos confiança, é claro.

Mas então, o que aconteceu foi que um sujeito na mesa próxima à nossa nos chamou. Agitou sua garrafa, que já estava pela metade e gritou: 

— Hêi!

Ele nos perguntou se estávamos interessados em dinossauros. E mais, se queríamos construir uma máquina do tempo e recuar para vermos o que tinha acontecido com eles... Ele afirmou que há alguns anos atrás construiu uma máquina e recuara até a Era Mesozoica, para descobrir exatamente isso. Acerca de nossas indagações, o estranho — que viera, a convite nosso, para a nossa mesa, mas continuava a segurar sua garrafa na mão direita — nos revelou que construíra a máquina na Universidade de Midwestern, junto com sua filha. Falou que a desmontara, pois tinha se fartado dela. Como o camarada não nos dizia qual o seu nome, o chamamos de “Professor”.

Ele fixou os olhos no centro da mesa do bar e começou a contar. Disse que Carol, sua filha, havia feito com que ele recuasse no tempo inúmeras vezes, minutos, horas, até que não houvesse nenhum risco envolvido e tudo ficasse pronto para o Grande Salto. Ele descreveu a paisagem cretácea: sem pântanos, um tempo ensolarado e luminoso, seco e desagradável. Eu notei que o “Professor” falava nesses assuntos sem titubear, apesar da quantidade de álcool que já havia ingerido. E foi isso que, talvez, me inquietou. Ele falava com familiaridade sobre tudo, como se nada tivesse importância. Ele disse que havia recuado no tempo até uma Era em que os dinossauros já estavam quase todos extintos, menos os menores, com seus cintos metálicos e revólveres.

Ele falou que eram pequenos répteis, com cerca de um metro e vinte centímetros de altura. Erguiam-se nas patas traseiras, apoiando-se na grossa cauda. Possuíam pequenos antebraços com dedos. Usavam revólveres que eram projetores de energia. Há milhões de anos. E disse para que considerássemos os bilhões e trilhões de animais que viveram na Terra. E que os fósseis são raros, hoje em dia. Pediu que considerássemos que estes répteis eram inteligentes e não se deixariam morrer facilmente, em avalanches de neve, ou atolados em lamaçais, a não ser por um grande acidente.  Mesmo fósseis humanos eram muito raros. E os fósseis deles não revelariam cintos metálicos ou revólveres. Estes estariam corroídos pela oxidação e destruídos, há muito tempo. 

Os animaizinhos eram inteligentes. Com um cérebro talvez, de um quarto da carcaça de um animal, até menores, mas eles os utilizavam completamente. Eles eram os Senhores de toda a Terra, então. Eles não deixaram vestígios de sua passagem pela Terra. Seu modo de vida era completamente diferente daquele do ser humano. Não moravam em cidades; não possuíam obras de arte. Na realidade, podemos estar pisando nos restos de sua civilização e nem darmos conta disso. Nunca soube como eles viviam. Somente havia seus olhos, frios, duros, parados, olhos de réptil, e percebi que tanto eles como eu sabíamos o que cada um pensava. Eu soube que estava indo para uma expedição de caça e eles não iriam soltar-me. Consegui fugir quando um animal veio correndo ao largo em uma colina. Um animal relativamente grande, de uns três metros de comprimento, e estreito. E corria com o corpo rente ao chão. Os pequenos sáurios se excitaram. Senti a excitação em forma de ondas. Tinham me esquecido, perante, talvez, uma necessidade carnal, e desapareceram. Entrei na minha máquina do tempo e parti, para destruí-la, em nossa época.

Ao ser perguntado “O que aconteceu, afinal, aos dinossauros?”, o Professor falou que os pequenos lagartos eram simplesmente caçadores. Caçavam não para comer, mas por diversão. Acabaram com todas as espécies de dinossauros da época. Como na nossa Era, em que demos cabo das centenas de milhões de cabeças de bisões, os dinossauros-caçadores, empenhados como estavam em dizimar dinossauros de pequeno tamanho, deveriam ter sentido muito a falta de tempos áureos, em que caçavam Brontossauros, Tyranossauros Rex e Estegossauros, dinossauros de grande porte.

Imaginamos, naquela mesa de bar, dinossauros enormes, grandes como casas, liquidados por pequenos lagartos armados de revólveres. Somente por diversão. Foi quando Joe perguntou ao Professor o que havia acontecido, então, aos caçadores. Ele se irritou. Disse que os pequenos dinossauros, sem caça grossa, estavam perdendo o interesse com caça miúda e se voltando para a caçada mais perigosa — e divertida — de todas.

Estavam se decidindo a exterminar sua própria raça, a mais inteligente do planeta e a mais mortal de todas as espécies de então. Tinha sido a primeira raça inteligente a surgir e se exterminara por completo.

— Imaginem o que irá acontecer conosco, agora? — perguntou o Professor, gritando. — Iremos acabar da mesma forma! Pobre Humanidade imbecil! Vamos, chorem por ela.

E o sujeito estranho, que nos acompanhara na mesa de bar, saiu definitivamente pela porta.

Este conto, “O Dia dos Caçadores”, foi publicado pela primeira vez na antologia “Buy Jupiter” (no Brasil, “Júpiter à Venda”), em 1975. Asimov foi autor e editor de mais de 500 obras. Segundo ele mesmo, seu Quociente de Inteligência (Q.I.) era de 160, quando sabemos que a média para o homem é de 101. Esse resultado foi conseguido no Exército, quando foi elaborado um teste de aptidão para todos os soldados. Foi a maior nota já conseguida até então por um soldado, e foi objeto de discussão durante duas horas, segundo Isaac Asimov. Mas, no dia seguinte, isso já tinha sido esquecido, e Asimov voltara a ser um mero soldado raso. Mas ele diz que não considera testes de Q.I. uma indicação real da inteligência de uma pessoa. Ele fala que testes como este revelam apenas certas aptidões. No caso de Asimov, ele era muito incapacitado no trabalho manual que exige destreza manual, como o de um mecânico de automóveis. Estes têm suas próprias aptidões, que Asimov não possui, e, portanto, possuem um Q.I. elevado, ao se considerar o tipo de inteligência que possuem.

Asimov nos fala, neste conto, que não se sabe a origem da extinção dos dinossauros. Que eles teriam sido extintos por dinossauros diminutos, armados de um cinturão metálico e um revólver projetor de energia. Isso é pura ficção, como se sabe. Hoje em dia, o que é a realidade é que sabe-se, com quase 100% de certeza, que a causa da extinção dos dinossauros teria sido a queda de um asteroide de 10 km de envergadura, que deixou uma cratera de 180 km de comprimento, na Península de Yucatán, na América Central, mais precisamente na região de Chicxulub, no México.

O impacto de um objeto deste tamanho contra a superfície do planeta teria sido equivalente à explosão de 100 trilhões de toneladas de TNT, mais de um bilhão de vezes mais poderosa que a explosão da bomba atômica de Hiroshima. Já se suspeitava, com larga margem de acerto, que esse impacto teria causado a extinção dos dinossauros, mas agora, com novas pesquisas tendo sido feitas, constatou-se que o impacto desse asteroide teria ocorrido com 33 mil anos de diferença em relação ao período Cretáceo-Terciário, na Era Mesozoica, período em que ocorreu o fato. Segundo cientistas da Universidade de Berkeley, essa é a aproximação mais precisa que se conseguiu até hoje.

Apesar de o impacto do asteroide, seguido de incêndios colossais por toda a superfície da Terra, de um Inverno global com temperaturas muito baixas e do efeito estufa devido à liberação de sedimentos terrestres na atmosfera, estes cientistas apontam também como causa da extinção dos dinossauros a ação de vulcões em erupção e a alteração do clima. Essas outras causas teriam precedido ao impacto do asteroide, que teria culminado na destruição de toda uma espécie.


*Sobre Roberto Fiori:
Escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Sobre o livro “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, do autor Roberto Fiori:

Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas, demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.

Dizem que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que jamais será derrotada... Ou a fantasia que conta a chegada de um povo que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo. Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar, e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte... Ou, em outro mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
O livro traz à tona feitos gloriosos da Humanidade, que conseguirá tudo o que almeja, se o destino e os deuses permitirem.

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