Stephen
King é mais conhecido pelos livros de terror. Entretanto, alguns dos melhores
momentos dele foram em textos que pouco tinham do gênero, a exemplo da noveleta
O corpo (que deu origem ao filme Conta comigo) ou o romance O corredor da morte
(que deu origem ao filme À espera de um milagre). Em Joyland, King mostra que
pode ser um mestre em outra modalidade: o policial.
A
história se passa em um parque de diversões (o Joyland do título) assombrado
por um assassinato: uma garota foi degolada no meio de um brinquedo (conhecido
no Brasil como trem fantasma). O assassino nunca foi pego e tudo leva a crer
que ele matou outras garotas. A moça assassinada aparece de tempos em tempos
para trabalhadores do parque, pedindo ajuda.
O
personagem principal é um jovem universitário que acabou de ser chutado pela
namorada e aceita um trabalho provisório no parque. Juntam-se a ele dois outros
estudantes: uma linda garota ruiva e seu namorado fortão e simpático.
Como
o leitor certamente adivinhou, a trama gira em torno da tentativa de se
descobrir quem é o assassino (e, numa óbvia contribuição Kingiana,
acrescenta-se um garoto doente com dom mediúnico). Mas esse não é o forte de
Joyland (embora providencie um final realmente eletrizante). O forte do livro é
aquilo que King faz melhor: mostrar personagens cativantes em uma narrativa
saudosista. O capítulo em que o garoto doente é levado para passear no parque é
um dos pontos altos da obra – algo que só King, com sua narrativa rica e
extremamente coloquial conseguiria fazer.
O
livro emula os pulp fictions não só na trama, mas também na capa, com o título
em fonte vintage, mostrando uma garota Hollywood com sua máquina fotográfica na
mão olhando apavorada para alguém que se aproxima, tendo o parque de diversões
ao fundo.
Esse
estilo saudosista é bem resumido no trecho: “Essas são coisas que aconteceram
há muito tempo, em um ano mágico em que o petróleo era vendido por onze dólares
o barril. O ano em que meu coração foi partido. O ano em que perdi a
virgindidade. O ano em que salvei uma linda garotinha de se engasgar e um velho
bem cruel de um ataque cardíaco (...) Também foi o ano em que aprendi a usar
uma língua secreta e a dançar o Pop Pop com uma fantasia de cachorro. O ano em
que descobri que há coisas piores que perder uma garota”.
Surpreendentemente
para King, o livro tem exatas 239 páginas, o que permite ler de uma sentada.
Um dos mais belos contos que li de Stephen King e que, igualmente, nada tem a ver com terror, intitula-se "O Último Degrau da Escada", incluído na coletânea "Sombras da Noite" (Night Shift).
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