João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

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sexta-feira, 19 de abril de 2019

Sobre o Conto de Fantasia “A Muralha ao Redor do Mundo”, de Theodore Cogswell

Foto divulgação
*Por Roberto Fiori

A Muralha se estendia a mais de trezentos metros de altura, e dividia o mundo em duas metades. Lisa e escorregadia como o vidro. Ninguém jamais passara para o outro lado, a não ser os pássaros — e o que Porgie mais queria era saber quantas águias uma pessoa poderia usar para se elevar acima da Muralha e atravessá-la. O professor de Porgie, Sr. Wickens, havia dito a ele que havia dois caminhos que um homem poderia seguir, o caminho da Mente e o da Natureza. E ele não poderia segui-los ao mesmo tempo, pois as duas trilhas estavam destinadas ao conflito. 

Mas Porgie não se deixou abater. Perguntava, indagava e, apesar de ninguém saber como ultrapassar o colosso que era a Muralha, não se deu por vencido. Um dia, na escola, em que o Sr. Wickens o levara à força até seu gabinete, dispensando a classe, por Porgie se distrair e mal começar a fazer um exercício de Astrologia Prática, o velho professor lhe mostrara o que levara ao desaparecimento do pai do garoto. O Homem Negro viera buscá-lo e nunca mais ele fora visto nas terras do interior da Muralha. Isso porque o pai de Porgie havia escrito um trabalho chamado “Uma Investigação Sobre Métodos Não-Mágicos de Levitação”. Wickens mostrara o calhamaço que o pai do menino havia escrito, guardado em uma gaveta de sua escrivaninha, e proibira terminantemente Porgie encostar o dedo em uma página sequer do trabalho. “Está cheio de blasfêmias!”, disse o professor.

Era para o próprio bem-estar de Porgie que o Sr. Wickens o tratara assim. Se o Homem Negro viesse buscar o garoto... Mas Porgie, após ver o desenho de uma espécie de avião que seu pai estivera trabalhando, na capa do trabalho que seu professor mostrara, colocara na cabeça que poderia ultrapassar os limites da Muralha. Dedicou-se a construir um aparelho voador, nos moldes do que vira no trabalho que condenara seu pai.

Começou construindo um rudimento: uma cesta de laranjas com duas tábuas atravessadas era o que no início calculara ser uma boa aproximação do que estivera imaginando. Mas não deu certo. Porgie caíra de uma pequena altura em seu celeiro e batera com o nariz no chão. Estava dolorido devido a uma palmada que recebera de seu tio, por conta da bronca que levara de Wickens, e do machucado no nariz. Ele não desistiu. Concebeu um boneco no formato de um pássaro, matara um sapo, disse palavras cabalísticas mágicas e passara uma mistura fedorenta no corpo do boneco. Esperava fazê-lo voar. E se frustrara, quando o objeto não saiu do chão.

Fez melhorias em seu modelo de aeroplano. Desenvolveu-o a ponto de agora ele possuir uma estrutura de metal como corpo principal, armara “asas” feitas de pano e instalara uma cobertura confortável no corpo da nave, de modo que, quando ele montasse na máquina, se acomodasse bem. Para dirigir a aeronave, tinha de correr junto a ela, subir em sua estrutura e movimentar o corpo, inclinando-se para trás — e fazendo-a subir —, ou para a frente, e descendo. E poderia inclinar o corpo para a direita ou para a esquerda, fazendo o avião dar guinadas para os lados. Tudo isso, amarrando-se às asas laterais com cordões.

O aeroplano ficou pronto em três meses, Porgie trabalhando com afinco em uma grande caverna, no topo de uma grande colina, nos bosques de Arnett. Testou o aparelho inúmeras vezes, conseguindo chegar a uma altura quase no nível do topo da Muralha. E foi quando seu primo Homer, chamado pelos colegas de “Filhote de Touro”, armou-lhe uma última peça: contou ao Sr. Wickens o que Porgie andava construindo, pois espionara o primo e recebera do professor 25 centavos pela delação. Foi então que Wickens chegou na casa dos tios de Porgie, onde ele morava, e avisou a eles que o Homem Negro viria buscar o garoto ainda esta noite. Mas o menino já havia disparado com sua vassoura mágica pela janela do quarto e não puderam achá-lo. 

Porgie fora avisado por seu primo que a turma da qual os dois faziam parte, do colégio, iria se reunir na Montanha da Caveira. Mas ela ficava alto demais, para que uma vassoura para crianças, que Porgie ainda usava, pudesse chegar. O menino seguiu flutuando com sua vassoura até a caverna, amarrou-a ao aeroplano e apanhou uma corrente de ar ascensional, que o levou até onde os outros estavam reunidos, ao redor de uma fogueira.

Porgie fez pouco do “Filhote de Touro”, voando sobre os outros meninos. Ele ficou possesso e liderou o grupo atrás de Porgie. A perseguição pelo ar, em direção ao vale dos bruxos, por onde a Muralha passava, teve início. Homer avisou aos outros que Porgie era dele, que ninguém deveria interferir em sua perseguição. Uma breve luta se travou, Homer quase conseguindo derrubar o aparelho do primo, agarrando em uma asa e sacudindo-a. Mas Porgie, com auxílio de magia, fez o outro cair metros abaixo de si, descontrolado em sua vassoura. Alcançando a corrente ascensional de ar quente que descobrira em uma de suas inúmeras passagens com o aeroplano pelas cercanias da caverna, Porgie subiu. Deixou os outros para trás, muito abaixo de si. A asa parcialmente quebrada, ele segurava com todas as forças para ela não se desprender. Conseguiu chegar ao topo da Muralha, planando precariamente sobre ela. 

A asa se dobrou sobre a estrutura principal da nave, que caiu sobre a Muralha, parando somente quando se encontrava prestes a despencar para o lado exterior dela. Porgie estava esgotado. Dormiu. Quando acordou, deparou-se com uma figura encapuzada, vestida de preto. Ela veio até ele e sentou-se a seu lado. Descobriu a cabeça. O Sr. Wickens era o Homem Negro!

Ele contou a Porgie que ele não precisava voltar. Adquirira o direito de ir até o Mundo Exterior, por ter construído com sucesso uma máquina voadora que o possibilitava ultrapassar as alturas da Muralha. Disse-lhe que o homem pode ter os dois caminhos, aqueles que havia contado a Porgie em seu gabinete, na escola: o caminho da Mente e o caminho da Natureza. Para isso, era necessário dois mundos para tê-los, o Mundo Exterior das máquinas, onde imperavam a lógica e a razão, e o mundo dos milagres, em que as Forças da Mente atuavam. Era o Universo Interior à Muralha. Os homens perceberam que, no Mundo da Natureza, da razão, as Forças da Mente estavam sendo negligenciadas. Seguindo sua intuição, de que havia realmente o poder da magia em seu planeta, construíram a Muralha, instalaram homens em seu interior e deram-lhes livros com saber místico.

Depois, os homens do Exterior passaram a não acreditar na magia. Magia que no Mundo Interior era encarada com naturalidade, pois lá o ambiente mágico cercava tudo e todos. Mas, a partir do momento em que tal magia se torne banal e imediata, apenas questão de treino e prática, todo o ritual e o maravilhamento diante das coisas mágicas não serão mais necessários. E a Muralha desabará, pois tais ferramentas da magia poderão ser utilizadas por qualquer um, com treino e prática. Mas, até se chegar a esse ponto, deverá existir um Homem Negro, para dissuadir os homens a se dividirem por esses dois caminhos.
Uma pessoa esperava por Porgie: seu pai. Ele vivia no Mundo das máquinas, fora levado pelo Homem Negro anos atrás, por tentar atravessar a Muralha. Estava vivo. Porgie falou para o Sr. Wickens, quando este lhe disse que deveriam jogar o aeroplano do menino do lado interior da Muralha, que ele mesmo faria isso. O aparelho planou um pouco e depois caiu, espatifando-se junto da Muralha, trezentos metros abaixo deles. O Homem Negro assim punia mais um rebelde, que se atrevera a tentar fazer o que era proibido...

Porgie ficou sabendo que o Sr. Wickens tinha nascido no Mundo Interior, da magia. Perguntou ao homem como conseguira ultrapassar a Muralha. O velho professor, que usava um dispositivo de levitação mecânico preso ao peito, falou que, diferentemente de agora, ele não precisara de aparelhos para voar. Para surpresa de Porgie, ele tinha agarrado meia dúzia de águias, se amarrado nelas e subido a Muralha, indo parar no outro lado...

Dois Universos: um em que a magia impera, em que se pode, até um limite, viver confortavelmente e com segurança apenas com os poderes místicos que a pessoa adquiria ao nascer ou aprendia na escola... e outro, em que leis mecânicas eram as responsáveis pelos milagres feitos por máquinas — que fazem todo o trabalho pesado para o homem. 

Em qual desses mundos você gostaria de viver?

Porgie e seu pai, assim como outros (como o professor de Porgie), curiosos com o que havia do outro lado da Muralha, decidiram sobrevoá-la com a ajuda de águias ou construir máquinas — aeroplanos — para alcançar o topo do maciço, que era tão alto que vassoura mágica nenhuma podia levar ao seu topo. E ultrapassá-la.

O que isso significa? É uma parábola, certamente. Quando estamos diante de um desafio especialmente difícil de ser resolvido, a maioria desiste, após várias tentativas. Mas dois ou três indivíduos particularmente curiosos e persistentes, dotados de capacidade mental ou habilidade física, o suficiente para conseguir vencer os obstáculos que são apresentados durante o processo de resolução do problema, tornam-se aptos a ultrapassá-los. E vencem. Assim aconteceu com o Sr. Wickens, com o pai de Porgie e, finalmente, com o próprio Porgie. Desistir nunca passou pela cabeça de nenhum deles. Queriam ver o que havia do outro lado da Muralha. Este era o objetivo principal. Mas, lá no fundo, desejavam ver se podiam vencer o desafio maior, conseguir alcançar o topo da Muralha, que ninguém jamais havia tido sucesso.

Nos romances de “World of Tyers”, obra máxima de Philip Jose Farmer, escritor famoso de Ficção Científica e Fantasia, encontramos alguns semideuses, homens e mulheres de poderes acima do normal, que buscam destruir Urizen, seu pai, que os mantém presos nos níveis inferiores de um mundo onde há uma série de pavimentos, que podem ser atingidos um após o outro, separados por mais de dez mil quilômetros de escalada em paredões. Pode-se, como os semideuses constatam, apanhar “atalhos” por portais que levam a outros lugares e outros tempos, dentro desse planeta, onde o último nível, no topo do mundo, encontra-se Urizen. Passa-se por uma série enorme de perigos e desafios, contornáveis pelas formas mais complexas, que exigem preparo extremo de mente e corpo.

“World of Tyers” nos mostra um desafio, que é talvez um dos mais difíceis a serem ultrapassados já apresentados na Literatura Fantástica: vencer Urizen, ser de poderes incomensuráveis. E a força de vontade dos semideuses, que se odeiam, mas têm de se unir para atingir seu objetivo, é que dá a eles a vitória.

Tudo na vida pode ser alcançado, na medida das possibilidades criativas e físicas do homem, uma vez que se dedique a atingir uma meta. Atletas ultrapassaram seus limites, vencendo Olimpíadas, as provas máximas de destreza e força física. Cientistas realizaram prodígios de raciocínio e dedução, descobrindo leis da Natureza que elevaram o ser humano cada vez mais à categoria de Senhor da Terra, a criatura mais inteligente do planeta.

O que se poderia dizer de um homem que passa pela vida de uma forma simples, sem ter produzido nada de especial e não desenvolvendo seus talentos inatos? Há os exemplos mais frequentes de pessoas, as de intelecto comum ou abaixo do normal, que passam pela vida, somente. Vivem de trabalho medíocre, ganhando pouco e não conseguindo encontrar uma forma de se alçarem em direção a uma vida mais expressiva.

Mas há casos raros de pessoas com capacidade intelectual tão desenvolvida, que logo são notadas. Logo passam por todos os obstáculos, vencem desafios os mais variados, são indivíduos acima do normal. Não há dúvida de que possuem problemas os mais diversos, pois o que se dirá de um homem superdotado frente a uma multidão de seres humanos comuns? A diferença pode ser brutal. A diferença de intelecto e de capacidade de criar e descobrir pode ser infinita. O que podemos dizer de um Einstein, frente a um trabalhador braçal? O abismo, o abismo pode ser exasperantemente incompreensível. Um homem, Albert Einstein, seguramente o segundo maior Físico Teórico da História — o grande escritor de Ciência e Ficção Científica Isaac Asimov coloca Isaac Newton como o maior cientista que a Humanidade já presenciou —. frente a um operário. Eles não se entenderiam ou não teriam ideias a trocar. Seria uma situação  exasperante.

Theodore Rose Cogswell (1918-1987) foi motorista de ambulância durante a Guerra Civil Espanhola. Escritor de ficção científica, sua primeira novela, “The Spectre General”, foi publicada na revista “Astounding Stories”, uma história humorística sobre uma brigada há muito esquecida de “space mariners” do Império Galáctico, decrépito agora, mas que a brigada tem o poder de revitalizá-lo. Foi selecionada entre as melhores novelas do gênero pelos integrantes da “Science Fiction Writers of America” e reimpressa pelo “Science Fiction Hall of Fame”. Cogswell escreveu cerca de 40 histórias de Ficção Científica, entre elas um romance para a franquia de “Star Trek”.


*Sobre Roberto Fiori:
Escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Sobre o livro “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, do autor Roberto Fiori:

Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas, demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.

Dizem que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que jamais será derrotada... Ou a fantasia que conta a chegada de um povo que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo. Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar, e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte... Ou, em outro mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
O livro traz à tona feitos gloriosos da Humanidade, que conseguirá tudo o que almeja, se o destino e os deuses permitirem.

Para adquirir o livro:
Diretamente com o autor: spbras2000@gmail.com
Livro Impresso:
Na editora, pelo link: Clique aqui.
No site da Submarino: Clique aqui.
No site das americanas.com: Clique aqui.

E-book:
Pelo site da Saraiva: Clique aqui.
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