Diego Binotto e família - Foto divulgação |
Diego Binotto nasceu na cidade gaúcha de Ronda Alta, mas sempre morou em Chapecó SC. É formado em filosofia pela Universidade Comunitária Regional de Chapecó – UNOCHAPECÓ, com pós graduação em Literaturas do Conesul pela Universidade Federal da Fronteira Sul, UFFS. Professor de filosofia da rede estadual de ensino, pai da Maria Clara, um anjo na forma de menina com 3 anos e meio de idade. Apaixonado por literatura, e por historias bem contadas em qualquer mídia, sejam filmes, séries, animações, hqs etc.
ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Diego Binotto: Comecei quando era adolescente, entre meus 14, 15 anos. Depois de uma “aposta”. Estava apaixonado por uma garota e um amigo meu também estava. Ele escrevia poesias de amor para ela e eu gostei da ideia. Passamos a competir para ver quem escrevia mais. Depois de um tempo ele parou de escrever, então eu pensei: “bom, vou escrever mais algumas, para ficar com uma boa vantagem em relação a ele, depois paro também”. Obviamente nenhum dos dois ficou com a menina, e eu não parei mais de escrever. Acho que foi assim que comecei.
Conexão Literatura: Você é autor do livro “As Duas Trindades” (Editora Viseu). Poderia comentar?
Diego Binotto: As duas trindades é um scifi, minha forma modesta de homenagear os grandes clássicos do gênero que eu tanto gosto. Dois me vêem a mente, Matrix e Madmax. Duas grandes histórias. Duas grandes distopias. Amo distopias. Acho que sou meio cínico em relação ao futuro, àquilo que o futuro nos reserva. Acho que a distopia revela o que há de pior e melhor no ser humano. Assim como histórias de zumbis. Revelam que o ser humano é capaz das maiores baixezas para sobreviver, mas, por mais contraditório que seja, é capaz de arriscar tudo e de se sacrificar para defender quem ama. Na minha história temos uma ditadura que se instaurou após o cataclismo que resultou na quase extinção da vida humana sobre a Terra. Essa ditadura abrange as forças armadas, a ciência e a religião, com um representante de cada segmento, todos membros da mesma família, orquestrando os desígnios da humanidade em seu processo de reconstrução. Assim, um pequeno grupo dissidente, formado por “artistas”, “intelectuais” e demais desajustados, se levanta para se opor ao governo opressor. Não sei porque, mas tenho a impressão que esse embate parece ser mais atual do que nunca. Em nada fictício.
Conexão Literatura: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir seu livro?
Diego Binotto: Tudo começou com uma coluna de um jornal local recomendando o filme V de Vingança. Essa sim a minha grande inspiração para o livro, assim como o sempre eterno 1984. Li essa coluna e fiquei interessado pela premissa. Nunca havia visto o filme, e só fui assisti-lo anos depois. Por incível que pareça, aparelho de dvd, computador e acesso à internet foram coisas que eu só conquistei quase na vida adulta. Mas enfim, depois de ler essa coluna eu tive minha primeira ideia de ambientação e caracterização dos personagens, tomei nota de tudo em uma caderno de 48 folhas, espiralado, que tinha sobrando em casa. Por alguns anos não voltei a tocar nesses esboços. Então fiquei sabendo de um curso de formação de escritores que o SESC estava oferecendo na minha cidade. (Não sei se poderia citar o SESC, mas paciência. Vamos em frente). Decidi retomar esses esboços e fiz o primeiro capítulo de uma vez só. Mostrei a meu professor e ele foi categórico em dizer que aquilo definitivamente não era literatura. Conclui o curso, querendo mandar esse professor praquele lugar, algo que obviamente não fiz, infelizmente. A despeito das críticas, continuei trabalhando nesse projeto. Estava mais confiante, acreditava ter conquistado a linguagem necessária para expressar aquilo que tinha a dizer. E essa questão, da linguagem, é o divisor de águas entre os poucos leitores que tive. De um lado recebi críticas sobre utilizar uma linguagem rebuscada em excesso, muito prolixa, ouvi coisas do tipo “não quero ter que procurar palavras no dicionário para continuar a leitura do teu livro”. (Se bem que eu não acho isso um problema, mas quem sou eu para discordar né?) Só queria comentar uma coisa, quem leu 1984 sabe da importância que a NOVILÍNGUA tem dentro da narrativa, ela não é só uma nova língua em estágio embrionário, mas também um fator determinante para a compreensão de mundo do protagonista, e, por consequência, para o acompanhamento de toda a história. Pois então, quando eu recorri a uma linguagem mais rebuscada foi justamente para demonstrar algo similar a criação da NOVILÍNGUA, que a sociedade parece ter involuído, falar como se estivesse no século XIX, de uma forma afetada, pedante e vazia. Essa era a ideia, mostrar que a linguagem se esvaziou de tal modo que as pessoas, mesmo que quisesse falar, já não tinham condições de dizer o que queriam dizer. Assim é que se elimina uma revolução desde a sua raiz, tornando as pessoas incapazes sequer de cogitar a ideia de revolução. Claro que eu não chego aos pés do George Orwell, e posso ter falhado miseravelmente na tentativa de criar uma pseudolíngua totalmente sofisticada mas alienada e desconexa com a realidade, mas não tinha a menor intenção de fazer isso só pra me “achar” por conhecer palavras mais difíceis, que a média do leitor brasileiro talvez não conheça. Estava esquecendo de mencionar (desculpa o tamanho do textão) que todo esse processo levou quase 9 anos. Eu escrevia um capítulo, ficava meses, ou até mais de um ano, esperando o insight para escrever o próximo. Minha escrita sempre foi muito intuitiva, vou tendo ideias e tomando nota de tudo, até que um dia jogo sobre a mesa todas essas peças soltas e monto o quebra cabeças. Espero não levar tanto tempo no segundo romance, mas acredito que não levarei, pois em pouco mais de 10 dias escrevi toda a primeira parte dele, quase 70 páginas, o que para mim é algum tipo de recorde pessoal.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do qual você acha especial em seu livro?
Diego Binotto: Não consigo pensar em nenhum trecho em específico, pois a temática que eu abordo é variada, alguns interesses se sobressaem, tais como: o amor, a arte, a liberdade (como não poderia deixar de ser), e um tema em particular que me é muito caro, a busca por identidade, algo que perpassa toda a história, já que a vemos sob o viés de um homem amnésico que precisa descobrir quem é e como ele se encaixa, ou não, no mundo que o rodeia. Algumas partes me deram muito orgulho de ter escrito, por exemplo uma parte do capítulo 5, se não me engano, onde um cientista estava visitando locais para instalação de seu laboratório de pesquisa na África e as disputas ideológicas que ele trava com um guia e líder local. Nesse trecho ocorre uma morte que eu, enquanto autor, me recusava a escrever, mas parece que a história se encaminhou de tal maneira que a necessidade de ocorrer aquela morte se impôs. Também gosto muito de todo o capítulo 6, pois nele um dos personagens se percebe na condição de personagem, e, não bastando isso, me descobre como sendo seu “criador”, passando a me desafiar desde então. Uma metanarrativa muito legal, ao melhor estilo quebra da quarta parede que o Deadpool faz nos filmes e quadrinhos. Só que eu já tinha visto isso acontecer antes, em um livro chamado Abaddon o exterminador, escrito por Ernesto Sabato, um dos maiores escritores da América Latina, na minha humilde opinião. E, como não posso deixar de mencionar, o capítulo 9, o final, onde se desenrola uma batalha em uma realidade virtual, ao melhor estilo Matrix, mas sem a porradaria. Fiquei muito inspirado pela forma como NEO e o Arquiteto da Matrix se confrontam no filme Matrix Reloaded. (Eu sei o que você deve estar pensando, “o cara se diz fã de Matrix e gostou daquele lixo”? Sim, eu gostei daquele lixo. Até do Matrix revolutions, mas esse bem menos do que os outros dois!). Pois então, eu ficava pensando, e se o Arquiteto usasse a Matrix sobreposta em camadas como um mecanismo de defesa, algo que o tornaria praticamente inalcançável, já que ninguém seria capaz de romper tantas camadas de irrealidade? Foi isso que eu fiz, coloquei o general que lidera a ditadura pós apocalíptica de As duas trindades refugiado nesse ambiente e no seu encalço o protagonista, rasgando esses véus que recobriam a realidade até o confronto decisivo. Ficou muito foda, desculpa o palavrão!
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir um exemplar do seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Diego Binotto: Através do site da editora Viseu, que publicou meu romance. Ele só está sendo comercializado lá, e, para me conhecer melhor, pediria que entrassem em contato direto comigo, através das minhas redes sociais, meu facebook, que eu mais utilizo, e meu email diego.binotto@yahoo.com.br. Só peço que ninguém me mande corrente de oração e nem aqueles bom dia com paisagens de photoshop que geralmente as nossas tias mandam no whatsapp.
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Diego Binotto: Com certeza. Decidi resgatar toda minha vida pregressa como poeta da sofrência. É sério, o que eu escrevo faz a Marília Mendonça passar vergonha. Eu me apaixonava muito e era sempre rejeitado, então escrevia muito sobre amor e rejeição, sofrência, isso que nem existia esse termo na época. Depois, amadureci e passei por uma fase mais transgressiva, niilista. Dessa eu me orgulho muito mais, pois até “letras de música” eu tentei escrever, para uma carreira como roqueiro que nunca aconteceu. O resultado foram poesias muito boas. Tenho um livro de poesia prestes a ser publicado também pela Viseu, até abril ele deverá ser lançado. Outros dois livros de poesia prontos, só faltando ser revisados e então enviados para publicação, e meu segundo romance, que eu comecei escrever faz alguns dias, e já conclui a primeira parte.
Perguntas rápidas:
Um livro: Puts. O lobo da estepe, é o livro cujo protagonista eu mais me identifico.
Um (a) autor (a): Pela carreira e temática, Dostoievski. Mas estou em dúvida sobre citar o Camus também.
Um ator ou atriz: Isso vai ser hilário, mas depois que assisti o filme Falcão, o campeão dos campeões, passei a querer ter um pai igual ao Stallone.
Um filme: MATRIX, com certeza.
Um dia especial: O nascimento da minha filha, 26 de agosto de 2015. Enquanto eu aguardava a mãe dela sair da sala de emergência assisti ao filme Homem de Ferro 2 no Telecine, até disso eu lembro, hehehehe.
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Diego Binotto: Queria agradecer a você Ademir, pelo trabalho ousado de dar voz e visibilidade a muitos escritores que seriam devorados pelas rodas dentadas e engrenagens do sistema, caindo no esquecimento sem ter sido minimamente conhecidos. Agradecer aos poucos e bravos leitores que se aventuraram pelas páginas de As duas trindades, e convidar a todos que lerem essa entrevista a embarcar nessa jornada. Eu realmente acredito na qualidade do meu trabalho, na importância da história que contei. Não sou tão movido por vaidade quanto vocês possam pensar, claro que ainda pretendo ficar rico e namorar bastante fãs, mas como eu sei que isso não vai rolar em hipótese alguma, minha maior motivação é corresponder às expectativas depositadas em mim e oferecer algo bom a quem estiver disposto a conhecer meu trabalho. Acho que seria isso por enquanto, muito obrigado por esse espaço, espero todo mundo no meu face e no meu email. Mulheres bonitas, estou solteiro e facinho, hahahahahahahaha.
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