*Por Roberto Fiori
Marte. Uma época mítica, em que canais de oito milhas de largura carregavam água pura por milhares de milhas pelo interior do planeta. Onde uma raça pacífica, benevolente e que um dia conviveu com os Grandes, construtores dos canais, das cidades agora em ruínas e dos edifícios imponentes também em ruínas, vivia em paz consigo mesma e com os terrestres que vieram da Terra.
Bert Tasser viera na última expedição a Marte, e vira a Terra se destroçar e partir em pedaços. Duas garotas vieram com os homens da missão. Agora que os homens não poderiam ter mulheres como na Terra, lutaram pela posse das garotas. Assassinatos foram perpetrados, até que o comandante da expedição as executasse. Os assassinatos cessaram, por fim, para alívio de todos.
Em Marte, os homens se instalaram em povoados. Os primeiros colonizadores haviam explorado os marcianos, julgando-os fracos — sua constituição física era inferior em força, em relação aos terrestres, devido à gravidade de Marte ser menor à da Terra — e indolentes. Até que se compreendesse o verdadeiro espírito pacífico dos marcianos, isso continuou.
Agora, os homens e os marcianos conviviam em paz. Bert tinha vergonha do que os primeiros colonizadores humanos fizeram com os pobres marcianos. Mas, por ironia do destino, os homens, vítimas de sua solidão e saudade da Terra, e falta de objetivos e metas a alcançar em Marte, haviam sucumbido — muitos deles — à bebida, nos povoados criados por eles. Bebiam até a morte.
Bert Tasser preferiu o isolamento. Aprendeu as artes de funilaria e carpintaria, construiu seu pequeno barco e abandonou a vida junto aos humanos. Lançou-se pelos canais, navegando em águas plácidas entre as moradas dos marcianos. Tornara-se amigo de todos, respeitado pelos seus serviços que oferecia, consertando panelas, enxadas e instrumentos agrícolas avariados, portas quebradas, enfim, qualquer coisa em troca de seu sustento.
Annika, uma mulher marciana de meia-idade, mas que não aparentava nem de longe sua idade verdadeira, disse a Bert, quando ele estava consertando os utensílios da família dela, que vivia junto a um edifício em ruínas ao longo do canal:
— Não é bom ser sozinho. Na juventude parece ser bom, mas é melhor estar junto. Mais tarde, uma companhia fará falta.
Mencionou sua filha Zaylo ao terrestre. No dia seguinte, Tasser viu com outros olhos a filha de Annika. Não mais a viu como uma criança que crescera, era realmente uma pessoa especial. Mas, durante a noite que desceu sobre a casa de Annika, Bert saiu para o ar livre, quando acabou de jantar com a família dela, brandira o punho para as estrelas indiferentes e chorara, frustrado e desesperado por não haver mais um lar para ele, uma Terra tirada de si por um infortúnio de natureza desconhecida.
E partiu na manhã seguinte, antes dos outros acordarem, continuando sua peregrinação rumo aos outros ajuntamentos de marcianos, ao longo do canal.
Annika tranquilizou Zaylo, dizendo:
— Ele voltará. E quando voltar, seja terna com ele. Os terrestres têm corpos grandes, mas por dentro há crianças perdidas.
Esta é a breve sinopse do conto “Tempo de Descansar” (“Time to Rest”), do grande escritor de Ficção Científica inglês John Wyndham, que teve uma continução: “No Place Like Earth”, publicada na antologia “No Place Like Earth” em 2003. A dramatização de ambas as histórias se concretizou em 1965, na série televisiva da BBC “Out of Unknown”, em que cada episódio continha uma história completa diferente. “Tempo de Descansar” foi publicada em 1985, em Portugal, na coletânea de contos de John Wyndham “As Sementes do Tempo” (“The Seeds of Time”).
Você poderia passar o resto de sua vida sozinho? Não digo fisicamente. Você poderia ter o estilo de vida solitário, tendo apenas de pagar uma empregada para manter a casa limpa, sendo que você poderia fazer as compras de mantimentos, fazer sua comida, pagar as contas via Internet, receber visitas, trabalhar em casa ou no emprego fora de sua residência, retirar dinheiro do banco, dirigir, cuidar enfim, de todos os problemas inerentes a uma vida de solteiro.
Mas... e quanto ao aspecto psicológico? Pode-se aguentar uma vida solitária até uma certa idade, mas o convívio com outra pessoa pode vir a ser necessário. Ou uma vida com um animal de estimação, um cachorro, ou um gato. Dar amor e receber amor. Dar afeto e, em troca, receber atenção e agrado. Isso é tão importante quanto ir ao supermercado, comprar comida e fazer seu almoço, sozinho. Talvez mais importante.
O homem tem o instinto de preservação. Ele deve se manter, sozinho ou com a ajuda de outros, é questão de sobrevivência e de uma vida razoavelmente confortável. Mas a psique, o aspecto emocional da vida de uma pessoa, é vital. Viver sozinho exige um temperamento diferente. Alguém que não suporta viver em sociedade pode se virar muito bem sem o seu semelhante, até que precise ir ao hospital ou ter alguém que o transporte, quando seu automóvel der o alerta: PANE – PANE – PANE!
O homem é um animal social. Necessita de seus semelhantes, para conversar, se relacionar, conviver, nem que seja por pouco tempo juntos. Mas a alternativa a um ser humano é um animal. Um animal de estimação que não cobre nada e dê o afeto que um animal pode dar. Um amor sem necessidade de cobrança.
Bert Tasser, bem como afirmou Annika, iria voltar para Zaylo. A família de Annika era de boa índole. Recebiam bem Tasser, tratavam-no com cortesia, afeto e educação. Respeitavam-no e ouviam suas histórias sobre a Antiga Terra. Zaylo ficara triste, quando Bert fora embora. Mas ele voltaria. Para uma vida de descanso, para constituir uma família com a filha mais nova de Annika, após quatorze anos de viagem pelos canais de Marte, em busca de paz.
Marte. Uma época mítica, em que canais de oito milhas de largura carregavam água pura por milhares de milhas pelo interior do planeta. Onde uma raça pacífica, benevolente e que um dia conviveu com os Grandes, construtores dos canais, das cidades agora em ruínas e dos edifícios imponentes também em ruínas, vivia em paz consigo mesma e com os terrestres que vieram da Terra.
Bert Tasser viera na última expedição a Marte, e vira a Terra se destroçar e partir em pedaços. Duas garotas vieram com os homens da missão. Agora que os homens não poderiam ter mulheres como na Terra, lutaram pela posse das garotas. Assassinatos foram perpetrados, até que o comandante da expedição as executasse. Os assassinatos cessaram, por fim, para alívio de todos.
Em Marte, os homens se instalaram em povoados. Os primeiros colonizadores haviam explorado os marcianos, julgando-os fracos — sua constituição física era inferior em força, em relação aos terrestres, devido à gravidade de Marte ser menor à da Terra — e indolentes. Até que se compreendesse o verdadeiro espírito pacífico dos marcianos, isso continuou.
Agora, os homens e os marcianos conviviam em paz. Bert tinha vergonha do que os primeiros colonizadores humanos fizeram com os pobres marcianos. Mas, por ironia do destino, os homens, vítimas de sua solidão e saudade da Terra, e falta de objetivos e metas a alcançar em Marte, haviam sucumbido — muitos deles — à bebida, nos povoados criados por eles. Bebiam até a morte.
Bert Tasser preferiu o isolamento. Aprendeu as artes de funilaria e carpintaria, construiu seu pequeno barco e abandonou a vida junto aos humanos. Lançou-se pelos canais, navegando em águas plácidas entre as moradas dos marcianos. Tornara-se amigo de todos, respeitado pelos seus serviços que oferecia, consertando panelas, enxadas e instrumentos agrícolas avariados, portas quebradas, enfim, qualquer coisa em troca de seu sustento.
Annika, uma mulher marciana de meia-idade, mas que não aparentava nem de longe sua idade verdadeira, disse a Bert, quando ele estava consertando os utensílios da família dela, que vivia junto a um edifício em ruínas ao longo do canal:
— Não é bom ser sozinho. Na juventude parece ser bom, mas é melhor estar junto. Mais tarde, uma companhia fará falta.
Mencionou sua filha Zaylo ao terrestre. No dia seguinte, Tasser viu com outros olhos a filha de Annika. Não mais a viu como uma criança que crescera, era realmente uma pessoa especial. Mas, durante a noite que desceu sobre a casa de Annika, Bert saiu para o ar livre, quando acabou de jantar com a família dela, brandira o punho para as estrelas indiferentes e chorara, frustrado e desesperado por não haver mais um lar para ele, uma Terra tirada de si por um infortúnio de natureza desconhecida.
E partiu na manhã seguinte, antes dos outros acordarem, continuando sua peregrinação rumo aos outros ajuntamentos de marcianos, ao longo do canal.
Annika tranquilizou Zaylo, dizendo:
— Ele voltará. E quando voltar, seja terna com ele. Os terrestres têm corpos grandes, mas por dentro há crianças perdidas.
Esta é a breve sinopse do conto “Tempo de Descansar” (“Time to Rest”), do grande escritor de Ficção Científica inglês John Wyndham, que teve uma continução: “No Place Like Earth”, publicada na antologia “No Place Like Earth” em 2003. A dramatização de ambas as histórias se concretizou em 1965, na série televisiva da BBC “Out of Unknown”, em que cada episódio continha uma história completa diferente. “Tempo de Descansar” foi publicada em 1985, em Portugal, na coletânea de contos de John Wyndham “As Sementes do Tempo” (“The Seeds of Time”).
Você poderia passar o resto de sua vida sozinho? Não digo fisicamente. Você poderia ter o estilo de vida solitário, tendo apenas de pagar uma empregada para manter a casa limpa, sendo que você poderia fazer as compras de mantimentos, fazer sua comida, pagar as contas via Internet, receber visitas, trabalhar em casa ou no emprego fora de sua residência, retirar dinheiro do banco, dirigir, cuidar enfim, de todos os problemas inerentes a uma vida de solteiro.
Mas... e quanto ao aspecto psicológico? Pode-se aguentar uma vida solitária até uma certa idade, mas o convívio com outra pessoa pode vir a ser necessário. Ou uma vida com um animal de estimação, um cachorro, ou um gato. Dar amor e receber amor. Dar afeto e, em troca, receber atenção e agrado. Isso é tão importante quanto ir ao supermercado, comprar comida e fazer seu almoço, sozinho. Talvez mais importante.
O homem tem o instinto de preservação. Ele deve se manter, sozinho ou com a ajuda de outros, é questão de sobrevivência e de uma vida razoavelmente confortável. Mas a psique, o aspecto emocional da vida de uma pessoa, é vital. Viver sozinho exige um temperamento diferente. Alguém que não suporta viver em sociedade pode se virar muito bem sem o seu semelhante, até que precise ir ao hospital ou ter alguém que o transporte, quando seu automóvel der o alerta: PANE – PANE – PANE!
O homem é um animal social. Necessita de seus semelhantes, para conversar, se relacionar, conviver, nem que seja por pouco tempo juntos. Mas a alternativa a um ser humano é um animal. Um animal de estimação que não cobre nada e dê o afeto que um animal pode dar. Um amor sem necessidade de cobrança.
Bert Tasser, bem como afirmou Annika, iria voltar para Zaylo. A família de Annika era de boa índole. Recebiam bem Tasser, tratavam-no com cortesia, afeto e educação. Respeitavam-no e ouviam suas histórias sobre a Antiga Terra. Zaylo ficara triste, quando Bert fora embora. Mas ele voltaria. Para uma vida de descanso, para constituir uma família com a filha mais nova de Annika, após quatorze anos de viagem pelos canais de Marte, em busca de paz.
*Sobre Roberto Fiori:
Escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside
atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se
na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática.
Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como
hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta,
cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo.
Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e
Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando
realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do
espírito elevada e extremamente valiosa.
Sobre o livro “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, do autor Roberto Fiori:
Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas, demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.
Dizem que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que jamais será derrotada... Ou a fantasia que conta a chegada de um povo que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo. Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar, e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte... Ou, em outro mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
O livro traz à tona feitos gloriosos da Humanidade, que conseguirá tudo o que almeja, se o destino e os deuses permitirem.
Para adquirir o livro:
Diretamente com o autor: spbras2000@gmail.com
Livro Impresso:
Na editora, pelo link: Clique aqui.
No site da Submarino: Clique aqui.
No site das americanas.com: Clique aqui.
Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas, demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.
Dizem que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que jamais será derrotada... Ou a fantasia que conta a chegada de um povo que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo. Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar, e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte... Ou, em outro mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
O livro traz à tona feitos gloriosos da Humanidade, que conseguirá tudo o que almeja, se o destino e os deuses permitirem.
Para adquirir o livro:
Diretamente com o autor: spbras2000@gmail.com
Livro Impresso:
Na editora, pelo link: Clique aqui.
No site da Submarino: Clique aqui.
No site das americanas.com: Clique aqui.
Excelente texto!!! Aliás, inspirador, pois tenho trabalhado no meu próximo livro sobre o planeta vermelho.
ResponderExcluirôpa, Geraldo, espero que eu tenha contribuído para o seu próximo livro. Procure em meus outros textos mais informações sobre Marte, em particular sobre os Planetas Oceânicos. Abraços!
ExcluirEsse meu primo é demais!
ResponderExcluirPrimo, que satisfação em ver você me elogiando assim! Continuarei dando o máximo para a divulgação da Literatura Fantástica, do Cinema Fantástico e das Ciências, em meus artigos. Sexta Feira, dia 28/09/2018, vai ter mais um artigo. Fica ligado! Abraços!
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