João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

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sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Dragões, sobre um conto de Ray Bradbury


*Por Roberto Fiori

Dois cavaleiros medievais, numa campina, no meio do nada. Há muitas Eras não mais se criava vida na Terra, e há séculos não se ouvia um piado sequer de uma ave, no céu. Era noite. Um monstro vivia no meio do descampado: um dragão feroz, selvagem, que esmagava as pessoas, queimava a relva seca com jatos de fogo e devorava quem se atrevesse a viajar temerariamente entre as cidades.
Seria melhor, talvez, que os cavaleiros voltassem para seu castelo. Não durariam uma hora sequer, com o dragão à solta. Um único olho amarelado, soltando fumaça e fogo pelas ventas, as garras poderosas...
Mas a tarefa dos dois homens era clara, não havia tempo para fugirem e se esconderem. Um dos cavaleiros não se lembrava mais em que ano estavam, ao que o outro respondeu: “Aquele era o ano 900 após a Natividade”.
Mas o que fizera a pergunta redarguiu, atemorizado: Não, nessa planície desolada e esquecida, o tempo não mais existe. As pedras com que se construíram os castelos estão de volta nas pedreiras, os homens, mulheres e crianças das cidades ainda não nasceram e as próprias vilas e cidades não existem, ainda.
Nisso, ouvem um rugido, vindo da escuridão. Os dois cavaleiros colocam as armaduras e luvas de metal e montam nos cavalos, já selados. Avançam em direção ao monstro, seu único olho amarelado queimando, o rugido fazendo tremer o solo. Rasga a noite, vindo a toda velocidade. Um dos cavaleiros atinge o dragão bem abaixo do olho com a lança, mas é lançado longe pelo ricochete. O dragão esmaga-o, mata-o. O segundo homem atinge o monstro e é arremessado contra rochas.
O dragão continua seu avanço. Um dos maquinistas, dentro dele, comenta que vira dois cavaleiros se lançando em ataque contra a máquina. Não é possível!, comenta outro. Toquei a buzina, sem parar. E não teria freado nem por nada deste mundo, aqui nesse lugar ermo é perigoso parar...
Assim, o comboio segue viagem à toda, enfiando-se no desfiladeiro que se assoma perante os dois maquinistas. A fumaça espessa que lança no ar faz tudo parar, tudo estagnar.

Esta é a sinopse do conto O Dragão (The Dragon), do poeta máximo da Fantasia e Ficção Científica Ray Bradbury. Publicado em Pesadelo Galáctico – Antologia de Histórias Espantosas, uma edição portuguesa da Cidade do Porto, em 1977. Bradbury dizia que sua obra, como um todo, fora fortemente influenciado por Edgar Rice Burroughs, Jules Verne e Edgar Allan Poe.
Seu trabalho na área do fantástico foi excepcional. Escreveu contos, romances, teve um de seus trabalhos — o romance distópico Fahrenheit 451 — adaptado para o cinema, bem como The Illustrated Man, que não teve críticas muito favoráveis. Fahrenheit 451 foi dirigido por François Truffaut, e veio a ser um clássico da Ficção Científica.
Também várias de suas obras vieram a ser adaptadas para o teatro, rádio e televisão. Inclusive, em 1984, Michael McDonough, da Brigham Young University, criou uma adaptação em áudio que incluía 13 histórias de Bradbury bastante famosas, como “Here There Be Tygers”, “A Sound of Thunder” e “The Machineries of Happiness”. Nessa antologia para o áudio, o próprio Bradbury fazia a voz de abertura. O programa ganhou um Prêmio Peabody e dois Prêmios Gold Cindy.
Em 2007, o escritor ganhou o Prêmio Pullitzer.

Os Dragões sempre tiveram enorme importância nas crenças e mitos da Antiguidade: foram adorados em 40.000 anos a.C., por aborígenes pré-históricos australianos. Estes os reverenciavam como deuses, como criadores do mundo, de forma positiva. Nas lendas nórdicas, celtas, germânicas, os Dragões são imagens muito comuns, bem como nas culturas da Antiguidade. Na antiga Mesopotâmia e na Pérsia, eram considerados criaturas do mal. Na Bíblia, fala-se nos Dragões como encarnações de Satanás. Na Polinésia, na Índia e entre os astecas, eram vistos como deuses. Na Grécia Antiga, o escritor Filóstrato, na obra “Vida e Obra de Apolônio de Tiana”, descreve os Dragões da Índia em vários capítulos, pormenorizadamente.
Na Europa, nas lendas e mitos gregos os Dragões eram retratados como adversários de grandes heróis, como Hércules e Perseu. Cuchulain e outros guerreiros celtas lutaram contra Dragões. Serpentes marinhas, como Jormungand, eram temidas pelos vikings. A proa de seus navios apresentava sempre um Dragão entalhado, para afastar tais serpentes. A lenda nórdica de Siegfried e o anão Fafnir fala que Fafnir se transformou em um Dragão para enfrentar Siegfried, e foi derrotado. Siegfried assou e devorou uma parte do coração da criatura e adquiriu a capacidade de se comunicar com os animais.
Na Idade Média, nos bestiários — catálogos da Igreja que descreviam o aspecto e os hábitos de animais reais e fantásticos — aparecia a figura do Dragão. São Jorge teria matado um deles. Na Romênia, dizem ainda que há essas criaturas nas Florestas da região da Transilvânia.
Foi dito, no Século XXI, que os Dragões realmente existem, e seriam a evolução de certos répteis. O fogo expelido pelo seu hálito seria o resultado da queima de gases, como o metano, que o estômago dos Dragões conteria, assim como nós mesmos, humanos, produzimos gases em nosso interior.
No cinema, foi apresentada a ideia de Dragões na obra “O Hobbit”, de J. R. R. Tolkien, na figura do Dragão Smaug. Na série de livros “Crônicas de Gelo e Fogo”, de George R. R. Martin, em filmes como Reino de Fogo, filme apocalíptico no qual a Humanidade foi quase dizimada pelos répteis. Nas Crônicas de Nárnia, há uma passagem que fala de um Dragão e na série de livros Como Treinar Seu Dragão, de Cressida Cowell, fala-se do treinamento de um Dragão, pelo personagem principal. J. K. Rowling introduziu a figura dos Dragões em sua série de livros de Harry Potter, transformada em série cinematográfica.
Os Dragões representam, então, em parte, a ideia da liberdade e do poder que o Homem tenta atingir. Não se explica, porém, como a adoração ou o medo deste ser chegou a lugares tão longínquos, como a China e a Índia.
Mas o que se sabe é que a ideia do Dragão inspirou escritores e cineastas, criadores de jogos de RPG e é visto hoje em dia de modo admirador por quem gosta da Literatura Fantástica e do Cinema Fantástico. É parte integrante de um grande número de romances e contos de Fantasia, em especial quando a cultura no qual o Dragão é inserido está em um nível medieval ou mais antigo.


*Sobre Roberto Fiori:
Escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Sobre o livro “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, do autor Roberto Fiori:

Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas, demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.

Dizem que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que jamais será derrotada... Ou a fantasia que conta a chegada de um povo que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo. Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar, e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte... Ou, em outro mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
O livro traz à tona feitos gloriosos da Humanidade, que conseguirá tudo o que almeja, se o destino e os deuses permitirem. 

Para adquirir o livro:
Diretamente com o autor: spbras2000@gmail.com
Livro Impresso:
Na editora, pelo link: Clique aqui.
No site da Submarino: Clique aqui.
No site das americanas.com: Clique aqui.

E-book:
Pelo site da Saraiva: Clique aqui.
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5 comentários:

  1. Penso eu que as histórias de Bradbury não funcionam muito bem nas telas porque ele é essencialmente um poeta, um prosador lírico, um filósofo contemplador que busca extrair das coisas aparentemente mais simples o reflexo daquilo que poderemos ter de mais profundo. E é esse lirismo nas páginas - aquela voz suave declamando em nosso cérebro, levando-nos a refletir ou a mergulhar numa cálida melancolia - que encontra dificuldade em encontrar eco na tela, pois a arte escrita e a arte cinematográfica possuem um linguajar próprio. Pessoas, de um modo geral, bocejariam diante de um ator a declamar versos, meditações e pensamentos poéticos. E como capturar na escrita a riqueza de uma cena bem feita sem discorrer em páginas e mais páginas de maçante leitura? Como transmitir a trilha sonora, o enquadramento, as nuances de cor e sombras?
    Bradbury é para ser lido numa tarde silenciosa, aconchegante, e, ainda assim, para deixar suas palavras fazerem surgir em nossas mentes os cenários mais incríveis, mas, principalmente, os sentimentos mais puros, ingênuos e deliciosos que um garoto possa ter antes de ser corrompido pelo mundo adulto. Ou, quiçá, a oportundiade de reencontrarmos o garoto que um dia fomos e que, talvez, parte dele tenha resistido e ainda exista dentro de cada um de nós. É na mente que, através das palavras de Ray Bradbury, literatura e cinema se encontram de forma peculiar a cada um e, no cair das primeiras folhas de Outono, fazem as pazes.
    Sem ser exatamente um dragão, posso recomendar a história "A Sirene do Nevoeiro", em tradução de Sérgio Flaksman; conto que faz parte da coletânea "Os Frutos Dourados do Sol", publicado pela Livraria Francisco Alves Editora e pelo Círculo do Livro.

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    Respostas
    1. Sim, Schima, concordo completamente contigo. Contos como "O Dragão" ou "A Sirene do Nevoeiro" cabem muito melhor em prosa escrita - no caso de Bradbury, uma prosa poética. "Os Frutos Dourados do Sol" é um conto poético que necessitaria de uma completa reformulação, com uma movimentação típica do cinema, para ser apreciado em sua total essência, nas telas cinematográficas. Ray Bradbury era um poeta. Seus contos possuem a qualidade daquilo que nos faz sonhar e imaginar o que em prosa se faz corriqueiramente, mas de um modo mais fantástico ainda, mais abstrato. O romance "A cidade fantástica" é um livro que não poderia jamais ser filmado! É abstrato como poesia, é um poema em forma de prosa.

      Muito bem notado, Schima! Muito bem observado!

      Excluir
  2. Olá, Fiori.
    Grato pela apreciação aos meus comentários. Teve até um seriado na TV com base nos contos de Ray Bradbury, conhecido como "O Teatro de Ray Bradbury". Infelizmente, devo confessar que não me recordo de nenhum episódio que eu tenha gostado, justamente em razão da questão que abordei. O melhor dessa série, para mim, foi ver Bradbury adentrar em seu "ninho" logo na introdução: o lugar onde ele se refugiava e de onde extraía as suas idéias, rodeado por uma infinidade de maravilhosos cacarecos (ah, sim, ele iria me esganar se pudesse por eu chamar seus pequenos tesouros de "cacarecos"...).
    Para quem tiver curiosidade, eu escrevi um conto intitulado "AO ENCONTRO DO SONHO", em homenagem a Ray Bradbury, publicado originalmente no nº 58 do fanzine "Somnium", do "Clube de Leitores de Ficção Científica", no agora longínquo final de ano de 1992, e acessível pela Internet (bem como as demais matérias da publicação) em: http://www.clfc.com.br/Somnium58.PDF. E para quem quiser ler alguma outra história que eu tenha escrito, é só atentar para os exemplares nº 37 e 38 (brevemente, o 39) da revista digital "Conexão Literatura" disponível aqui neste blog.

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  3. Meus parabéns pelas publicações dos contos, Schima! É ótimo ver que a Literatura Fantástica brasileira está caminhando, sempre. Boa sorte na sua carreira literária! Por volta de Abril do ano que vem, pretendo publicar um romance Espada & Feitiçaria. Quem sabe, eu, um futuro Robert E. Howard? Hehe...

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  4. Olá, Fiori. No meu caso é um retorno após quase duas décadas estagnado. Vou tirando a ferrugem aos poucos. Tem sido gratificante. Ah, futuro Robert E. Howard? Quem sabe? Conan e Kull... morram de inveja!

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