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segunda-feira, 2 de julho de 2018

Resenha: Fahrenheit 451 de Ray Bradbury

“A magia está apenas no que os livros dizem, no modo como confeccionavam um traje para nós a partir de retalhos do universo.” (trecho de Fahrenheit 451)


Olá leitores! Em meu primeiro post compartilho com vocês, uma obra que considero admirável e instigante: Fahrenheit 451 do autor Ray Bradbury.

Sobra a obra
Editada em 1953, pinta um futuro sombrio para a história, quando todos os livros foram proibidos e eram queimados. Atualíssimo e premonitório de nossa época, denuncia como os meios de comunicação, em especial a TV, podem manipular o pensamento e os sentimentos dos telespectadores, criar fatos e gerar guerras.


Sobre o autor
Ray Bradbury (1920) nasceu e vive nos EUA. Suas inúmeras histórias de ficção científica, mescladas com toques precisos de suspense, de terror e de crítica ao status quo, tornaram-no mundialmente conhecido. Teve seus livros adaptados para o cinema e escreveu também roteiros de filmes, dramas para o teatro, ensaios e poemas.


Ponto de vista
Eis um livro de leitura rápida e linguagem acessível, mas que aborda assuntos intensos, profundos e filosóficos. A obra é considerada um clássico da ficção científica e classificada como literatura distópica. A distopia, é a antítese da utopia e mostra uma sociedade futurística e imaginária que é governada através do totalitarismo e autoritarismo. Em Fahrenheit 451, o governo busca com os meios de comunicação de massa, controlar a sociedade e a influenciar ao consumismo irresponsável, além de imputar regras e valores. Assim, a obra nos faz refletir demasiadamente sobre a atual condição humana dentro da sociedade e nosso papel no futuro.

O fator determinante que me capturou para a leitura deste livro, se refere a uma ação tenebrosa que é praticada dentro daquele universo: os livros e qualquer tipo de leitura, exceto manuais, são terminantemente proibidos e todos os exemplares que são encontrados devem ser queimados, ou melhor, exterminados pelos bombeiros, estes que atualmente são os responsáveis em apagar incêndios, na obra são os profissionais que ateiam fogo aos livros. O próprio título faz menção à escala de temperatura na qual os livros pegam fogo e queimam.

"Queimar era um prazer. 
Era um  prazer especial ver as coisas serem devoradas, ver as coisas enegrecidas e alteradas. Empunhando o bocal de bronze, a grande víbora cuspindo seu querosene peçonhento sobre o mundo, o sangue latejava em sua cabeça e suas mãos era de um prodigioso maestro regendo todas as sinfonias de chamas e labaredas para derrubar os farrapos e as ruínas carbonizadas da história." (trecho do livro)


De acordo com a lei, todos os livros são considerados mentiras que foram contadas por pessoas que não existiram. Os cidadãos vivem cada vez mais solitários e pouco conversam entre si, passam seus dias ocupados com seus “telões” (tvs gigantes que chegavam a ocupar várias paredes e exibiam um programa que era chamado de família) e suas “conchas de ouvido” (fones de ouvido). Desta forma, vemos uma sociedade que optou (não foi imposição unilateral do governo) pela falta de leitura, de conhecimento e de cultura, por acreditarem que tais meios seriam prejudiciais para alcançar e manter à felicidade e a paz de todos.

"A escolaridade é abreviada, a disciplina relaxada, as filosofias, as histórias e as línguas são abolidas, gramática e ortografia pouco a pouco negligenciadas, e, por fim, quase totalmente ignoradas. A vida é imediata, o emprego é que conta, o prazer está por toda parte depois do trabalho. Por que aprender alguma coisa além de apertar botões, acionar interruptores, ajustar parafusos e porcas?" (trecho do livro)


Com o desenrolar da narrativa um dos bombeiros, o personagem principal Guy Montag, influenciado por sua vizinha Clarisse, a qual possuía pensamentos divergentes da sociedade abordada na obra, começa a apresentar um sentimento de insatisfação com sua função de bombeiro e a entrar em conflito interno, contestando se realmente a presença dos livros é nefasta a pontos destes serem destruídos.

"Ontem a noite eu pensei em todo o querosene que usei nos últimos dez anos. E pensei nos livros. E pela primeira vez percebi que havia um homem por trás de cada um dos livros. Um homem teve de concebê-los. Um homem teve que gastar muito tempo  para coloca-los no papel. E isso nunca havia me passado pela cabeça." (trecho do livro)


Montag então, começa a buscar informações que o auxiliem a entender todas os seus descontentamentos, e a responder seus questionamentos sobre os costumes e crenças da sociedade na qual estava inserido. Desta maneira, ele vai paulatinamente tornando-se um ser pensante, onde a realidade se torna esmagadora e contrária a seus novos conceitos.

Escrito na década de 50, Fahrenheit vislumbrou um futuro que infelizmente vejo muito presente em nossa sociedade atual, pois cada vez mais, estamos plugados nas redes sociais e na internet, deixando de lado invariavelmente o convívio social e nosso raciocínio crítico, para avaliar a veracidade das inúmeras informações que recebemos diariamente, e distinguir aquilo que realmente é importante e que agrega algum conhecimento.

Enfim, é uma leitura indispensável que mostra a força e o poder dos livros e que estes nunca devem ser menosprezados e extinguidos. Já reli esta obra algumas vezes e em cada uma delas, encontro algo novo que me perturba e me lança de roldão, a um turbilhão de pensamentos e divagações sobre a diferença entre estar vivo e realmente existir.


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