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quinta-feira, 7 de junho de 2018

Gilberto Ribeiro Alves reúne poesia e teatro em Um Pedaço de Minas que fala Uai

Aos 82 anos, o ex-piloto de avião Gilberto Ribeiro Alves lançou o seu primeiro livro no Sul de Minas, em Guaranésia, e já se prepara para participar da 25ª Bienal Internacional do Livro, em São Paulo. 
Artista plástico, poeta e dramaturgo, Um Pedaço de Minas que fala Uai  tem poesias de diferentes épocas e três textos teatrais. A peça A Reforma, escrita em 1960, mantém-se atual como posicionamento (bem humorado) do Plano Nacional de Reforma Agrária, daquela época. Por ter utilizado a Folia de Reis no contexto da história, foi encenada em 2018 no Memorial da América Latina (SP), na programação da Festa do Cordel e da Cultura Popular. 
O livro de Gilberto Ribeiro Alves teve lançamento simultâneo, em 30 de maio, com mais duas publicações que registram diferentes visões sobre a história de Guaranésia. Vivaldo do Amaral descreve a terra natal em Poemas que Contam e Encantam. O romance Lúcidos é de autoria de João Pedro e Roselane Almeida.
As três publicações foram viabilizadas pela  Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais por meio de um projeto literário guaranesiano da Associação Arte, Vida e Cultura da Capoeira. 

Sobre Um Pedaço de Minas que fala Uai
Este livro reúne mais do que dezoito poesias e três peças teatrais. Gilberto Ribeiro Alves, o Tato, é artista plástico e transporta imagens para a poesia. Sonho Infantil é toda figurativa. Ele também escreve sobre diversas paisagens internas e abstratas: amor, saudade, música...
A música é recorrente na poética e nos textos teatrais. O livro começa com um poema musicado e tem outras sonoridades: sino, Maria Fumaça, som de animais... O poeta seresteiro se justifica: “O silêncio me dá medo”. Mas é com coragem que os personagens teatrais fazem barulho para reivindicar direitos sociais.
As várias linguagens deste livro vão dar o que falar. Nas poesias de diferentes épocas predominam um texto extremamente simples e objetivo. Emoções e encantamentos são despertados de forma rápida. O coloquialismo uai não se limita aos palavreados de Nego Véio e Zé Caboclo. Um linguajar popular e atrativo vem do menino de dedão no cascalho, que gritava e xingava enquanto soltava pipa: “Segura o rabo, Chicão!”. Na poesia e na vida, Tato voou pelos ares, com papagaio e de avião. Continua voando até hoje, aos 82 anos.
Poesias como Menino de Rua são recortes de crônicas poéticas. Contam o dia a dia na melhor cidade do mundo, que não fica no melhor país do mundo. Para encenar duas histórias sociais do Brasil, o dramaturgo Tato protesta a realidade dura da vida, com textos precisos, enxutos, sem excessos ou falta de informação. É um teatro que ultrapassa o universo uai. Possui abrangência nacional. E ainda têm a qualidade de ser atemporal.
A Reforma (agrária) foi encenada em 1960 e se mantém atual quase 60 anos depois. Até o recado pode ser o mesmo: “A reforma não foi realizada, mas já não pode ser adiada.” O autor faz concluir que a urgência de mudanças sociais se arrasta por décadas e séculos, entre lutas, utopias e ilusões.
Diferentemente da passagem de tempo na poesia, lenta e típica de cidades do interior, o ritmo de acontecimentos no teatro é dinâmico. A cor da pele, ontem, hoje e amanhã tem um começo impactante e se mantém assim até o final, em um único ato. Não há tempo a perder diante de muitos mortos-vivos.
Outra linguagem do livro é a do teatro infantil. Encenada em 1988, A Menina e o Boi é um sonho (im)possível com final feliz. Tato mostra fortalezas emotivas na integração criança e animal. Também sugere que um sonho é consequência de crença e persistência.  Leitores inconformados com o fim do gato na poesia Judeu Errante podem se sentir compensados com este infantil.
Um Pedaço de Minas que fala Uai compensa o leitor com poesia, teatro e outras artes.

Sílvio Reis, jornalista
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