Pedro Almeida - Foto divulgação |
Pedro Almeida é jornalista e professor de literatura, com curso de Marketing pela Universidade de Berkeley, trabalha no mercado editorial há 20 anos. Foi publisher em editoras como Ediouro, Novo Conceito, LeYa e Lafonte. Atualmente é publisher da Faro Editorial.
ENTREVISTA:
Fale-nos sobre os livros de sua editora.
ENTREVISTA:
Fale-nos sobre os livros de sua editora.
A Faro nasceu de uma constatação, de uma ideia nascida de 10 anos atrás, de que editar livros era a das coisas que fiz na vida, a única em que podia reunir prazer e habilidade.
Planejei sua criação por 5 anos, realizando pesquisas, criando a imagem, o logo, o projeto antes de colocá-lo de pé, sem que mais de 3 pessoas soubessem desse plano. Da ideia inicial, de publicar livros clássicos, de venda constante, mas sem picos, ampliei o projeto com a chegada de dois sócios. E decidimos investir então em nichos de autores nacionais que não eram disputados pelas grandes editoras, como YA, policial e terror.
Fale-nos de sua coluna no PublishNews.
A minha geração de editores é totalmente autodidata e outsider: primeiro porque aprendeu a exercer a atividade estudando sozinha, lendo e fazendo, e segundo porque é formada por não descendentes de donos de editoras. Surgiu nos anos 90, quando as editoras começaram a deixar de ser uma atividade de família e passaram a buscar profissionais fora de sua linhagem hereditária. Antes disso, os editores eram o dono do negócio, independentemente de sua habilidade de escolher bons livros para o mercado. Então comecei a ver que muitos jovens assistentes editoriais careciam de informações e que os primeiros cursos voltados para a área eram ministrados por pessoas que poderiam ter inúmeros títulos acadêmicos, mas nenhuma prática ou sem reconhecimento do mercado. Algo que chamava muito a minha atenção era como a função do editor e da indústria do livro, eram retratadas nos filmes. Então comecei a recolher exemplos para mim mesmo. No entanto, quando assisti a um filme francês, Roman de Gare (Crimes de Autor), tive um clique. Vi nele diversos elementos que eu agora poderia ilustrar com o filme ao explicar para as pessoas sobre como era parte do meu trabalho. Então, em 2011, contei a ideia de escrever um artigo ao editor e criador do Publishnews, Carlo Carrenho, e ele propôs que eu escrevesse uma coluna. De lá para cá falei sobre dezenas de assuntos. A ideia era mostrar as diversas etapas do mercado editorial. Era para ser quinzenal ou mensal, mas então eu percebi que não poderia escrever senão achasse que teria algo realmente útil para oferecer. Hoje ela não tem uma periodicidade fixa, mas escrevo a cada dois ou três meses.
Você foi editor em diversas editoras.
Fui editor em casas pequenas, médias e gigantes. Em cada uma delas a função do editor era ou mais artesanal, exigia um profissional multifacetado ou alguém com perfil de gestão. Todas essas experiências me fizeram sentir mais preparado para ter minha própria empresa. Em algumas editoras eu tinha uma função restrita, mas em outras eu podia me inserir nas diversas outras etapas como comunicação, marketing, criação e eventos. Hoje continuo a fazer bastante disso pois estudei todas essas funções. Fui um dos primeiros gerentes de marketing no mercado brasileiro há mais de 20 anos, seria um desperdício não usar a experiência, além de que, quando se inicia um projeto novo, enxuto, com poucos livros, não havia espaço para termos uma equipe enorme para realizar cada tarefa.
Como é o seu trabalho? Recebe quantos originais por mês? Quantos são publicados? Quem quiser publicar por sua editora quais os procedimentos a serem adotados?
Hoje estamos bloqueados para novos títulos até meados de 2019. Temos uma grade, um grupo de autores nacionais que decidimos investir e nos apresentam novos originais a cada ano. Ainda assim, recebo mais de 250 originais por mês. Gostaria de poder lançar mais autores, mas acredito que com o investimento que já fazemos em nacionais, com os cursos que dou, com as entrevistas, posso estimular mais editores a lançar novos autores. Uma editora define um propósito e organiza sua estrutura para dar conta disso. Nosso plano é ter um número máximo de lançamentos em que acreditamos ter ótimo potencial artístico e comercial, com condições de prestar uma boa assistência aos autores, e não nos tornar uma publicadora em série de bons livros.
Qual o livro de maior sucesso de sua editora?
Em ficção, Charlie Donlea. Era um autor desconhecido estreante há dois anos nos EUA e hoje vende mais de 70.000 exemplares por título no Brasil e esperamos que dobre no próximo lançamento. Em não ficção, dois autores nacionais, o filósofo comportamental Jacob Petry e o economista Marcos Silvestre.
Como é ser editor em um país como o Brasil?
Não é fácil. Nosso país não entendeu a função da leitura. Nossa elite intelectual por muitas décadas não ajudou nisso. Definiu o que devia ser lido, resenhado, publicado e tudo estava submetido a um crivo ideológico, engajado. Assim, só poucos se tornaram leitores, porque para apreciar literatura engajada você deveria ter frequentar uma universidade, de preferência, pública, gratuita, cujos estudantes, em grande maioria, pertenciam à elite econômica e cultural. E nisso estamos com quase 40 décadas de atraso, que hoje nos cobra um alto preço. A falta de leitores atrapalha todo o processo, desde a educação ao investimento em cultura, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico e na política. Sem um plano diretor educacional decente, apartidário, para 20, 30 anos, que não dependa de quem está no poder, não vamos prosperar como nação. E hoje nós vemos pelo quinto ano consecutivo editoras e livrarias definhando por falta de leitores e projetos de leitura. O futuro é incerto, por isso nós preparamos para ser uma editora sempre enxuta, focada em nossos nichos e atentos para os movimentos do mercado.
Como analisa a questão dos e-books?
Paramos de publicar quando nos chegou o relato de que até uma professora da Unicamp estava comprando um exemplar de livro, quebrando o código de segurança e distribuindo para seus alunos. Um e-book pirata ou oficial traz a mesma experiência para os leitores, então se é encontrado facilmente na rede prejudica a venda. Então começamos a expor para as empresas que atuam no negócio digital que a tarefa jurídica de retirar os livros piratas do mercado devia ser delas. Era o negócio delas, vender e distribuir livros. Nenhuma nos deu ouvidos. Cansamos de nós mesmos fazermos as denúncias aos sites e provedores, então decidimos não lançar mais e-books.
Quais são suas leituras preferidas?
Não é exagero dizer que me sinto um escravo editorial. Eu leio tudo o que me chega em mãos, e não apenas livros, mas filmes, músicas, clipes. Meu interesse está em desvendar uma tendência antes que ela aconteça. E a atividade de editor me tirou o espaço do leitor apreciador. Eu sou sempre o crítico diante de uma obra. Há autores que me emocionam sempre como Clarice Lispector, Joan Didion... Machado, Pessoa, Wilde, Whitman, Poe, Florbela. E curto muito autores nacionais contemporâneos de literatura de gênero, em especial policial e terror.
*Sérgio Simka é professor universitário desde 1999. Autor de cinco dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a coleção Mistério, publicada pela Editora Uirapuru.
Cida Simka é licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Coautora do livro Ética como substantivo concreto (Wak, 2014) e autora dos livros O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática (Wak, 2016), O enigma da velha casa (Uirapuru, 2016) e “Nóis sabe português” (Wak, 2017).
Como é ser editor em um país como o Brasil?
Não é fácil. Nosso país não entendeu a função da leitura. Nossa elite intelectual por muitas décadas não ajudou nisso. Definiu o que devia ser lido, resenhado, publicado e tudo estava submetido a um crivo ideológico, engajado. Assim, só poucos se tornaram leitores, porque para apreciar literatura engajada você deveria ter frequentar uma universidade, de preferência, pública, gratuita, cujos estudantes, em grande maioria, pertenciam à elite econômica e cultural. E nisso estamos com quase 40 décadas de atraso, que hoje nos cobra um alto preço. A falta de leitores atrapalha todo o processo, desde a educação ao investimento em cultura, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico e na política. Sem um plano diretor educacional decente, apartidário, para 20, 30 anos, que não dependa de quem está no poder, não vamos prosperar como nação. E hoje nós vemos pelo quinto ano consecutivo editoras e livrarias definhando por falta de leitores e projetos de leitura. O futuro é incerto, por isso nós preparamos para ser uma editora sempre enxuta, focada em nossos nichos e atentos para os movimentos do mercado.
Como analisa a questão dos e-books?
Paramos de publicar quando nos chegou o relato de que até uma professora da Unicamp estava comprando um exemplar de livro, quebrando o código de segurança e distribuindo para seus alunos. Um e-book pirata ou oficial traz a mesma experiência para os leitores, então se é encontrado facilmente na rede prejudica a venda. Então começamos a expor para as empresas que atuam no negócio digital que a tarefa jurídica de retirar os livros piratas do mercado devia ser delas. Era o negócio delas, vender e distribuir livros. Nenhuma nos deu ouvidos. Cansamos de nós mesmos fazermos as denúncias aos sites e provedores, então decidimos não lançar mais e-books.
Quais são suas leituras preferidas?
Não é exagero dizer que me sinto um escravo editorial. Eu leio tudo o que me chega em mãos, e não apenas livros, mas filmes, músicas, clipes. Meu interesse está em desvendar uma tendência antes que ela aconteça. E a atividade de editor me tirou o espaço do leitor apreciador. Eu sou sempre o crítico diante de uma obra. Há autores que me emocionam sempre como Clarice Lispector, Joan Didion... Machado, Pessoa, Wilde, Whitman, Poe, Florbela. E curto muito autores nacionais contemporâneos de literatura de gênero, em especial policial e terror.
*Sérgio Simka é professor universitário desde 1999. Autor de cinco dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a coleção Mistério, publicada pela Editora Uirapuru.
Cida Simka é licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Coautora do livro Ética como substantivo concreto (Wak, 2014) e autora dos livros O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática (Wak, 2016), O enigma da velha casa (Uirapuru, 2016) e “Nóis sabe português” (Wak, 2017).
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