Um cachorro magricela, fugindo de dois homens armados de porretes. Os dois correm em seu encalço, por uma rua em escombros de uma Nova York arruinada pelas explosões nucleares. O cachorro salta por cima de um monte de entulho e desaparece.
Katterson, ex-soldado do Exército de um Estados Unidos que nem perdeu, nem ganhou a guerra. Vaga pelas ruas. É um gigante, talvez a pessoa mais alta e mais forte do Ocidente. A última e devastadora notícia chega a todos, vinda de um alto oficial do Exército. Não haverá mais distribuição de comida para Nova York e redondezas, temporariamente. Todos pressentem o pior, que não seja apenas temporária a falta de comida. Talvez não haja mais alimento para ninguém.
Mallory procura Paul Katterson e lhe oferece comida. E um trabalho, o de coletar alimento. O tipo de alimento que logo será a última forma de alimentação que o ser humano poderá encontrar, em sua descida rumo à extinção: carne humana. Mallory entrega um endereço para Paul, que o soca. O outro desaparece pelas ruas, ferido e assustado.
Os dias que viriam, daqui para frente, seriam de fome crescente, em que o homem passaria a caçar seu semelhante. O ex-soldado Katterson resiste. Chega ao ponto de devorar livros, ingere amargamente encadernações de couro fervidas em água. Mas ele cede. Sai em busca de comida. Encontra cadáveres frescos nas ruas nevadas de Nova York. Luta por um corpo contra alguns outros homens, mulheres e crianças, nada mais do que espectros de pele e ossos. Volta a si, finalmente, a loucura da fome o abandonando momentaneamente.
Apanha o endereço de Mallory no bolso. Segue a passos claudicantes em direção ao lugar, à última esperança. Alucina com carne de porco servida em uma travessa por um rapaz, isso no auge do desespero, na escadaria que leva ao apartamento da salvação. Chega na soleira da porta, grita por Mallory. Abrem-na, Katterson ajoelha-se sem forças e cai de bruços.
Esta é a história do conto Estrada para o Anoitecer (Road to Nightfall), de Robert Silverberg, mestre das pequenas narrativas de Literatura Fantástica. Foi publicado no Brasil no volume Outros Tempos, Outros Mundos (Parsecs and Parables), editado pela Editora Cultrix.
O canibalismo seria uma realidade, neste mundo sombrio do amanhã? Depois de um ataque inicial maciço com armas nucleares, as capitais dos países em guerra teriam se transformado em restos radioativos. Elas são as principais cidades e os principais centros de comércio e indústria de cada país. A radiação se espalharia pelo planeta inteiro, impulsionada pelos ventos e chuvas, que carregariam as partículas radioativas. Só o simples fato de haver explosões atômicas já evidencia o horror de uma guerra desse tipo. A um primeiro momento, o calor extremo e os ventos supersônicos das detonações reduziriam a poeira e a metal retorcido grande parte da arquitetura das cidades atingidas, e a Humanidade seria aniquilada, em sua maior parte.
Mas o Inverno Nuclear seria outro ponto na desgraça: depois das detonações nucleares, poeira radioativa cobriria nossa atmosfera, causando uma diminuição das temperaturas de todo o globo. As plantações e rebanhos de gado seriam dizimados. Plantas absorvem energia do Sol, água e elementos químicos do substrato do solo. Pela luz solar, realizam fotossíntese; a água e elementos químicos completam este ciclo da planta, que devolve à atmosfera oxigênio. Sem os três fatores envolvidos, não há crescimento das gramíneas, nem produção de alimentos. A terra estaria contaminada e a camada de poeira impediria a passagem de luz solar. O homem também seria vítima dessa queda abrupta de temperatura, que contribuiria para a sua extinção.
Os animais de que o homem se alimenta morreriam, sem comida, ou se alimentando de um cardápio mortalmente contaminado. Rios, lagos, represas, mares e oceanos envenenados pela radiação não gerariam monstros gigantescos, à moda de filmes classe B de Ficção Científica. Na verdade, as explosões nucleares destruiriam todo o ecossistema do planeta.
O homem teria iniciado um processo de autodestruição. Mesmo que o canibalismo fosse solução, seria algo paliativo, a curtíssimo prazo. Porque, mesmo que o ser humano sobrevivesse às intempéries, o que aconteceria quando todos se devorassem?
Nas guerras do passado, aconteceu canibalismo. Um exemplo ocorreu na Segunda Grande Guerra, na Batalha de Stalingrado. Lá houve fome extrema. Mas são situações locais e muito temporárias. Por pior que tenha sido esta guerra, ao término dela, com a reconstrução das cidades semidestruídas pela população e pelos governos dos países envolvidos, puderam-se retomar as atividades de comércio e indústria. Aos poucos, sem o fantasma da guerra genocida, as cidades progrediram e os países continuaram a se desenvolver.
Edward Teller foi o Pai da Bomba de Hidrogênio, nos Estados Unidos da América. Propôs que se realizassem testes nucleares em órbita da Terra. Isso teria destruído a Civilização Humana. Pulsos eletromagnéticos lançados pelas detonações teriam acabado com o sistema de comunicação global. A radiação formaria um halo ao redor da Terra e contaminaria a estratosfera. A camada de ozônio seria destruída e as partículas energéticas mortais vindas do Sol, impulsionadas pelo vento solar, nos atingiriam, sem a proteção da ionosfera. A maior parte das pessoas contrairiam câncer e outras doenças gravíssimas. Como disse o astrônomo Carl Sagan, em sua magnífica obra Cosmos, um viajante vindo das estrelas não se sentiria compelido a visitar nosso planeta, sob essas circunstâncias. Nesse processo, o homem seria alvo da radiação das explosões nucleares no espaço, que pouco a pouco precipitar-se-ia sobre a superfície da Terra.
O canibalismo era visto por tribos tupinambás do Brasil como a forma pela qual a força e a energia do inimigo seria absorvida por quem ingerisse partes do corpo deste. É algo completamente diferente do que aconteceria em uma guerra que transformasse nossa Civilização em pó. Os índios tupinambás tinham esse costume, acreditando ser ele uma forma de se tornarem mais fortes, mais aptos a enfrentarem outros inimigos no futuro, após o ritual do canibalismo. Que é chamado de antropofagia.
Somente uma guerra nuclear seria capaz de aniquilar nossa Ciência, nossa cultura e nossa raça. Guerras convencionais destroem muito do que se levou centenas de anos para se alcançar, como cidades e patrimônios históricos. Matam milhões. Mas não acabam com a essência do espírito humano, sua esperança na reconstrução e na retomada da vida. Guerras atômicas não ocorreriam. Somente haveria uma única guerra nuclear. As próximas batalhas, depois dela, nem seriam travadas com paus e pedras. Não haveria nada para servir de arma.
E nem homens para usá-las.
Guerra Atômica: o fim da Civilização Humana. Destruição e aniquilação do homem, como ser que hoje é detentor do título de Senhor da Terra. Quando na verdade, ele é apenas dono de seu Destino, onde suas ações, boas ou nocivas, refletem-se no próprio mundo onde vive e em si mesmo.
Katterson, ex-soldado do Exército de um Estados Unidos que nem perdeu, nem ganhou a guerra. Vaga pelas ruas. É um gigante, talvez a pessoa mais alta e mais forte do Ocidente. A última e devastadora notícia chega a todos, vinda de um alto oficial do Exército. Não haverá mais distribuição de comida para Nova York e redondezas, temporariamente. Todos pressentem o pior, que não seja apenas temporária a falta de comida. Talvez não haja mais alimento para ninguém.
Mallory procura Paul Katterson e lhe oferece comida. E um trabalho, o de coletar alimento. O tipo de alimento que logo será a última forma de alimentação que o ser humano poderá encontrar, em sua descida rumo à extinção: carne humana. Mallory entrega um endereço para Paul, que o soca. O outro desaparece pelas ruas, ferido e assustado.
Os dias que viriam, daqui para frente, seriam de fome crescente, em que o homem passaria a caçar seu semelhante. O ex-soldado Katterson resiste. Chega ao ponto de devorar livros, ingere amargamente encadernações de couro fervidas em água. Mas ele cede. Sai em busca de comida. Encontra cadáveres frescos nas ruas nevadas de Nova York. Luta por um corpo contra alguns outros homens, mulheres e crianças, nada mais do que espectros de pele e ossos. Volta a si, finalmente, a loucura da fome o abandonando momentaneamente.
Apanha o endereço de Mallory no bolso. Segue a passos claudicantes em direção ao lugar, à última esperança. Alucina com carne de porco servida em uma travessa por um rapaz, isso no auge do desespero, na escadaria que leva ao apartamento da salvação. Chega na soleira da porta, grita por Mallory. Abrem-na, Katterson ajoelha-se sem forças e cai de bruços.
Esta é a história do conto Estrada para o Anoitecer (Road to Nightfall), de Robert Silverberg, mestre das pequenas narrativas de Literatura Fantástica. Foi publicado no Brasil no volume Outros Tempos, Outros Mundos (Parsecs and Parables), editado pela Editora Cultrix.
O canibalismo seria uma realidade, neste mundo sombrio do amanhã? Depois de um ataque inicial maciço com armas nucleares, as capitais dos países em guerra teriam se transformado em restos radioativos. Elas são as principais cidades e os principais centros de comércio e indústria de cada país. A radiação se espalharia pelo planeta inteiro, impulsionada pelos ventos e chuvas, que carregariam as partículas radioativas. Só o simples fato de haver explosões atômicas já evidencia o horror de uma guerra desse tipo. A um primeiro momento, o calor extremo e os ventos supersônicos das detonações reduziriam a poeira e a metal retorcido grande parte da arquitetura das cidades atingidas, e a Humanidade seria aniquilada, em sua maior parte.
Mas o Inverno Nuclear seria outro ponto na desgraça: depois das detonações nucleares, poeira radioativa cobriria nossa atmosfera, causando uma diminuição das temperaturas de todo o globo. As plantações e rebanhos de gado seriam dizimados. Plantas absorvem energia do Sol, água e elementos químicos do substrato do solo. Pela luz solar, realizam fotossíntese; a água e elementos químicos completam este ciclo da planta, que devolve à atmosfera oxigênio. Sem os três fatores envolvidos, não há crescimento das gramíneas, nem produção de alimentos. A terra estaria contaminada e a camada de poeira impediria a passagem de luz solar. O homem também seria vítima dessa queda abrupta de temperatura, que contribuiria para a sua extinção.
Os animais de que o homem se alimenta morreriam, sem comida, ou se alimentando de um cardápio mortalmente contaminado. Rios, lagos, represas, mares e oceanos envenenados pela radiação não gerariam monstros gigantescos, à moda de filmes classe B de Ficção Científica. Na verdade, as explosões nucleares destruiriam todo o ecossistema do planeta.
O homem teria iniciado um processo de autodestruição. Mesmo que o canibalismo fosse solução, seria algo paliativo, a curtíssimo prazo. Porque, mesmo que o ser humano sobrevivesse às intempéries, o que aconteceria quando todos se devorassem?
Nas guerras do passado, aconteceu canibalismo. Um exemplo ocorreu na Segunda Grande Guerra, na Batalha de Stalingrado. Lá houve fome extrema. Mas são situações locais e muito temporárias. Por pior que tenha sido esta guerra, ao término dela, com a reconstrução das cidades semidestruídas pela população e pelos governos dos países envolvidos, puderam-se retomar as atividades de comércio e indústria. Aos poucos, sem o fantasma da guerra genocida, as cidades progrediram e os países continuaram a se desenvolver.
Edward Teller foi o Pai da Bomba de Hidrogênio, nos Estados Unidos da América. Propôs que se realizassem testes nucleares em órbita da Terra. Isso teria destruído a Civilização Humana. Pulsos eletromagnéticos lançados pelas detonações teriam acabado com o sistema de comunicação global. A radiação formaria um halo ao redor da Terra e contaminaria a estratosfera. A camada de ozônio seria destruída e as partículas energéticas mortais vindas do Sol, impulsionadas pelo vento solar, nos atingiriam, sem a proteção da ionosfera. A maior parte das pessoas contrairiam câncer e outras doenças gravíssimas. Como disse o astrônomo Carl Sagan, em sua magnífica obra Cosmos, um viajante vindo das estrelas não se sentiria compelido a visitar nosso planeta, sob essas circunstâncias. Nesse processo, o homem seria alvo da radiação das explosões nucleares no espaço, que pouco a pouco precipitar-se-ia sobre a superfície da Terra.
O canibalismo era visto por tribos tupinambás do Brasil como a forma pela qual a força e a energia do inimigo seria absorvida por quem ingerisse partes do corpo deste. É algo completamente diferente do que aconteceria em uma guerra que transformasse nossa Civilização em pó. Os índios tupinambás tinham esse costume, acreditando ser ele uma forma de se tornarem mais fortes, mais aptos a enfrentarem outros inimigos no futuro, após o ritual do canibalismo. Que é chamado de antropofagia.
Somente uma guerra nuclear seria capaz de aniquilar nossa Ciência, nossa cultura e nossa raça. Guerras convencionais destroem muito do que se levou centenas de anos para se alcançar, como cidades e patrimônios históricos. Matam milhões. Mas não acabam com a essência do espírito humano, sua esperança na reconstrução e na retomada da vida. Guerras atômicas não ocorreriam. Somente haveria uma única guerra nuclear. As próximas batalhas, depois dela, nem seriam travadas com paus e pedras. Não haveria nada para servir de arma.
E nem homens para usá-las.
Guerra Atômica: o fim da Civilização Humana. Destruição e aniquilação do homem, como ser que hoje é detentor do título de Senhor da Terra. Quando na verdade, ele é apenas dono de seu Destino, onde suas ações, boas ou nocivas, refletem-se no próprio mundo onde vive e em si mesmo.
Sobre Roberto Fiori:
Escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside
atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se
na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática.
Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como
hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta,
cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo.
Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e
Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando
realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do
espírito elevada e extremamente valiosa.
Sobre o livro “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, do autor Roberto Fiori:
Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas, demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.
Dizem que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que jamais será derrotada... Ou a fantasia que conta a chegada de um povo que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo. Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar, e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte... Ou, em outro mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
O livro traz à tona feitos gloriosos da Humanidade, que conseguirá tudo o que almeja, se o destino e os deuses permitirem.
Para adquirir o livro:
Diretamente com o autor: spbras2000@gmail.com
Livro Impresso:
Na editora, pelo link: Clique aqui.
No site da Submarino: Clique aqui.
No site das americanas.com: Clique aqui.
Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas, demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.
Dizem que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que jamais será derrotada... Ou a fantasia que conta a chegada de um povo que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo. Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar, e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte... Ou, em outro mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
O livro traz à tona feitos gloriosos da Humanidade, que conseguirá tudo o que almeja, se o destino e os deuses permitirem.
Para adquirir o livro:
Diretamente com o autor: spbras2000@gmail.com
Livro Impresso:
Na editora, pelo link: Clique aqui.
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