Fernanda Mellvee |
Em Amarga Neblina, novela de estreia de Fernanda Mellvee que tem como tema a descoberta do desejo, Aurora a protagonista se vê obcecada por um excêntrico forasteiro, ao mesmo tempo em que luta para manter o seu casamento de aparências. A história se acontece na cidade fictícia de Santa Cruz da Neblina, ambientada na Serra Gaúcha, no início do século XX.
A seguir, temos alguns excertos da novela:
“Aurora cruzou a porta do quarto. A claridade trêmula da vela tornava lúgubre o caminho. Realçado pela mobília antiga, pelas cortinas que esvoaçavam, o ambiente que durante o dia já se mostrava um tanto sombrio, à noite era ameaçador. Passo por passo, Aurora desceu a escada e, sabendo que todos dormiam, seguiu em direção à rua. No pequeno jardim, flores sinuosas e enegrecidas a espreitavam. Além dos limites do portão, o mundo a esperava, ainda que fosse o pequeno universo de Santa Cruz da Neblina, era o suficiente para oferecer a ela alguma liberdade. O cheiro das flores das laranjeiras se espalhava pelas ruas como uma promessa de primavera. Aurora gostava de sentir o rosto úmido de sereno, o turbilhão que o vento fazia em seus cabelos. A claridade da lua tornava pedras do calçamento brilhante como escamas. A rua principal era, para ela, uma imensa criatura marinha. ”
A seguir, temos alguns excertos da novela:
“Aurora cruzou a porta do quarto. A claridade trêmula da vela tornava lúgubre o caminho. Realçado pela mobília antiga, pelas cortinas que esvoaçavam, o ambiente que durante o dia já se mostrava um tanto sombrio, à noite era ameaçador. Passo por passo, Aurora desceu a escada e, sabendo que todos dormiam, seguiu em direção à rua. No pequeno jardim, flores sinuosas e enegrecidas a espreitavam. Além dos limites do portão, o mundo a esperava, ainda que fosse o pequeno universo de Santa Cruz da Neblina, era o suficiente para oferecer a ela alguma liberdade. O cheiro das flores das laranjeiras se espalhava pelas ruas como uma promessa de primavera. Aurora gostava de sentir o rosto úmido de sereno, o turbilhão que o vento fazia em seus cabelos. A claridade da lua tornava pedras do calçamento brilhante como escamas. A rua principal era, para ela, uma imensa criatura marinha. ”
“Gregory de soslaio, calou-se com um meio sorriso, tendo consciência do quanto a frequência dos fiéis, e, principalmente, das fiéis, à igreja havia aumentado desde o dia em que os boatos sobre seus poderes de cura se espalharam pela cidade. Em princípio, Padre Herculano que jamais negara ajuda a qualquer um que lhe solicitasse, estava bastante contente com a presença do forasteiro, agradecendo à providência que pôs alguém tão devotado em seu caminho, dando a ele a oportunidade de oferecer moradia a um cristão tão seguro da própria fé. Quando as supostas curas de Gregory se tornaram notícia, a presença de seu hóspede passou a preocupa-lo. Estaria diante de um lunático aspirante a profeta, ou de um aventureiro charlatão?
“Ele tem olhos de fera” pensou Aurora, diante do olhar cinzento e muito claro que a espreitava do lado oposto da mesa. ”
“Aquela festa, a fogueira em brasa, o casebre. Terrível era a recordação do final daquela de noite. A infâmia de uma união ilegítima, a desonra. Aurora se perguntava como uma mulher fora capaz de se arriscar daquela maneira. O que podia ser mais forte do que o medo? Aurora pensava em Antônio e não conseguia encontrar nada que justificasse tanta coragem. ”
“Gregory passou por Aurora sem olhá-la, ou fazer qualquer menção de cumprimento. A jovem tentou olhar para ele durante os segundos mais longos de sua vida, mas a imagem de Gregory parecia envolta em uma cortina de névoa, que se tornava mais densa a cada passo. Ele andava como se estivesse acima dela. Nem mesmo o casarão podia competir com ele em imponência e obscuridade.
Sob a luz vespertina, Aurora, permaneceu imóvel como as folhagens que pediam de cada parede, acompanhando com o olhar a travessia de Gregory pela sala. Prestes a cruzar a porta, no limiar da saída, o homem voltou seus olhos à Aurora quando a jovem não mais esperava. Apesar da distância, Aurora sentiu aqueles olhos como agulhas. A tortura sutil a fez sentir-se fora do próprio corpo, em algum lugar perdido, envolta em alguma substância nebulosa. E como na órbita de algum astro, Gregory foi tragado pela noite, sem lhe dizer uma só palavra, deixando Aurora desencontrada de si mesma. ”
“Ele tem olhos de fera” pensou Aurora, diante do olhar cinzento e muito claro que a espreitava do lado oposto da mesa. ”
“Aquela festa, a fogueira em brasa, o casebre. Terrível era a recordação do final daquela de noite. A infâmia de uma união ilegítima, a desonra. Aurora se perguntava como uma mulher fora capaz de se arriscar daquela maneira. O que podia ser mais forte do que o medo? Aurora pensava em Antônio e não conseguia encontrar nada que justificasse tanta coragem. ”
“Gregory passou por Aurora sem olhá-la, ou fazer qualquer menção de cumprimento. A jovem tentou olhar para ele durante os segundos mais longos de sua vida, mas a imagem de Gregory parecia envolta em uma cortina de névoa, que se tornava mais densa a cada passo. Ele andava como se estivesse acima dela. Nem mesmo o casarão podia competir com ele em imponência e obscuridade.
Sob a luz vespertina, Aurora, permaneceu imóvel como as folhagens que pediam de cada parede, acompanhando com o olhar a travessia de Gregory pela sala. Prestes a cruzar a porta, no limiar da saída, o homem voltou seus olhos à Aurora quando a jovem não mais esperava. Apesar da distância, Aurora sentiu aqueles olhos como agulhas. A tortura sutil a fez sentir-se fora do próprio corpo, em algum lugar perdido, envolta em alguma substância nebulosa. E como na órbita de algum astro, Gregory foi tragado pela noite, sem lhe dizer uma só palavra, deixando Aurora desencontrada de si mesma. ”
Sobre a autora:
Fernanda Mellvee é mestranda em Teoria, crítica e comparatismo, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, graduada em Letras pela mesma universidade e, no ano de 2014 foi aluna do escritor Luiz Antônio de Assis Brasil, em sua famosa Oficina de Criação Literária, da PUC-RS. A autora tem contos e poemas publicados em antologias no Brasil e no exterior e, em 2014, venceu o 2º concurso de contos da Feira do Livro de Santo Ângelo-RS, tendo publicado o conto vencedor “Maria” na antologia resultante do concurso.
Serviços:
Título: Amarga Neblina
Autora: Fernanda Mellvee
Tipo: E-book - Amazon
Nº de páginas: 108
Ano: 2017
Fernanda Mellvee é mestranda em Teoria, crítica e comparatismo, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, graduada em Letras pela mesma universidade e, no ano de 2014 foi aluna do escritor Luiz Antônio de Assis Brasil, em sua famosa Oficina de Criação Literária, da PUC-RS. A autora tem contos e poemas publicados em antologias no Brasil e no exterior e, em 2014, venceu o 2º concurso de contos da Feira do Livro de Santo Ângelo-RS, tendo publicado o conto vencedor “Maria” na antologia resultante do concurso.
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Título: Amarga Neblina
Autora: Fernanda Mellvee
Tipo: E-book - Amazon
Nº de páginas: 108
Ano: 2017
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ASSESSORIA EM DIVULGAÇÃO LITERÁRIA:
Ademir Pascale - contato@assessoriaparaescritores.com.br
http://www.assessoriaparaescritores.com.br
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