João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

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terça-feira, 18 de julho de 2017

Leitura, Doce Leitura


No mundo atual estamos tão acostumados com o ato da leitura, que nem nos importamos com a origem e desenvolvimento dela. Também muitas vezes nos passa despercebido o alto índice de analfabetismo, que no mundo é cerca de um quinto da população adulta1 e no Brasil é mais que 8% da população com mais de quinze anos2. Lembrando que o Brasil está em oitavo lugar entre os países com maior índice de analfabetismo, ao lado de Índia, China, Paquistão, Bangladesh, Nigéria, Etiópia e Egito3. Mas este é assunto específico para outro artigo.

Ao analisarmos a história da leitura, e consequentemente a do livro como objeto de armazenamento, vemos que antes do século V a.C. ambos possuíam a função de fixação e conservação de uma obra. O livro não era feito para a leitura e sim apenas como uma armazenador. Podemos concluir que a leitura só vem a se desenvolver quando o próprio livro transforma-se em objeto de leitura, evento que ocorrerá muito tempo depois e mesmo assim sendo acessível apenas a elite.

Falando exclusivamente sobre a leitura, vemos que ela passou por uma revolução. Primeiro ela passa da oralizada para a silenciosa. Na sequência há uma distinção entre leitores intensivos e extensivos. E por fim temos a transmissão eletrônica dos livros.

A importância da leitura reside no desenvolvimento cognitivo, sendo confirmado pelo influxo do pensamento do leitor ao ler. A leitura ajuda no crescimento de várias habilidades, a saber: classificar, sintetizar, selecionar, relacionar, enumerar, imaginar, organizar, interpretar, predizer, compreender, interpretar, analisar, criar, recriar, etc.

Pode-se classificar a leitura em três tipos: Ascendente, Descendente e Interativa.

Leitura Ascendente
Neste tipo de leitura temos um leitor passivo, onde para ele o texto é um objeto acabado e independente. Para entender tal texto o leitor decodifica progressivamente unidades menores para chegar às maiores, onde junta-se letras para formara sílabas, depois agrupa-se as sílabas para formar as palavras, e assim sucessivamente. Aqui usa-se muito a oralidade, onde murmura-se o texto ou mesmo sub vocalizando-o na mente. O texto tem um significado global com as somas das unidades menores, onde o significado sempre é o literal.

O texto a seguir prova que estamos muito além de sermos leitores passivos no sentido apenas de juntar letras e sílabas para termos palavras e muito mais:

Veajm como é intreessnate nsoso céerbro: de aorcdo com uma pqsieusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as lrteas de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a Piremria e útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma bçaguana ttaol que vcoê pdoe anida ler sem pobrlmeas. Itso é poqrue não lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.
Sohw de bloa! Enetdeu?

Leitura Descendente
Aqui já temos um leitor ativo, que entende que o texto não é algo acabado, com um fim em si mesmo. O leitor é o elemento mais importante, e este não oraliza o que está lendo, o processo vai da mente dele ao texto. Sendo ativo, a pessoa que lê percebe e resolve ambiguidades propostas pelo escritor e escolhe entre as possíveis interpretações do texto.

Leitura Interativa
É muito semelhante à Descendente, mas aqui o leitor entende que ele próprio, assim como texto, são importantes no processo da leitura. Para compreender o texto, ele utiliza-se de indícios visuais no mesmo e ativa vários mecanismos mentais que permite dar-lhe sentido. A leitura é um processo não linear e dinâmico na inter-relação  de vários componentes utilizados para o acesso ao sentido e é uma atividade de previsão e de formulação de hipóteses, onde o leitor necessita utilizar vários conhecimentos.

Como leitores seguimos, mesmo que inconscientemente, alguns processos. Primeiro temos atividades de Pré-Leitura, onde prestamos atenção na macroestrutura textual e nos paratextos e propomos os objetivos para a leitura.

Podemos falar ainda sobre o Processo Leitor, o Funcionamento da Compreensão, Aprimoramento da Leitura, e muito mais. Por enquanto ficamos por aqui deixando uma pergunta para ponderamento e uma frase crítica.

Por que leio?

“[...] pesquisas já demonstraram que, enquanto as classes dominantes vêem a leitura como fruição, lazer, ampliação de horizontes, de conhecimentos, de experiências, as classes dominadas a vêem praticamente como um instrumento necessário à sobrevivência, acesso ao mundo do trabalho, à luta contra suas condições de vida [...]” (ALVES; CAMARGO, 2008, p. 7).

Referências
ALVES, Elizeth da Costa; CAMARGO, Flávio Pereira. A prática social da leitura literária e a formação do sujeito Leitor: desafios e perspectivas. Revista Travessias. v.2, n. 3., 2008. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/travessias/article/view/3174 . Acesso em: 8 jun. 2015.
CAVALO, Guglielmo; CHARTIER, Roger. História da leitura no mundo ocidental. 2O impressão São Paulo: Ática, 2002.
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