Oswaldo de Camargo |
Com mediação de Diane Lima, idealizadora do projeto AfroTranscendence, o segundo encontro da série sobre o tema conta, ainda, com dois artistas selecionados pela chamada aberta; o terceiro e último debate do período sobre esta área de expressão acontece no mês de junho.
Com o objetivo de discutir a presença afro-brasileira na produção artística nacional, o próximo encontro da série Diálogos Ausentes, com o tema O Negro na Literatura, acontece no dia 9 de maio (terça-feira), às 20h. Com mediação de Diane Lima, idealizadora do projeto AfroTranscendence, e consultoria da escritora e ativista Cidinha da Silva, a conversa conta com o jornalista e escritor Oswaldo de Camargo e a artista plástica e escritora Mariana de Matos. Toda a programação tem interpretação em Libras.
Pela chamada aberta, que neste período alcançou o maior número de interessados em participar da atividade, com inscrições de autores de todas as regiões do país, foram selecionados Janine Rodrigues Nascimento, do Rio de Janeiro, e Roniel Felipe, de Campinas. Eles também compõem a roda de conversa e falam sobre os seus respectivos trabalhos. Para o terceiro e último debate, no dia 13 de junho, os selecionados são os escritores Marcelo Ricardo e Debora Garcia.
Este encontro coloca em pauta questionamentos sobre o percurso da literatura negra no país, discute a importância de um apuro estético nesta área, quais experiências apontam um caminho e como é possível recriar um jeito negro contemporâneo de se inscrever no mundo. Dedicado à literatura negra e ativista da cultura afro-brasileira, Oswaldo de Camargo foi um dos fundadores do Grupo Quilombhoje, coletivo de autores voltados para publicação, discussão e divulgação da literatura afrodescendente no Brasil. Ele é autor dos livros O Negro Escrito – Apontamentos sobre a Presença do Negro na Literatura Brasileira, 15 Poemas Negros, O Carro do Êxito, A Descoberta do Frio, entre outros.
Nós da revista Conexão Literatura entramos em contato com o autor Oswaldo de Camargo para sabermos ainda mais sobre o negro na literatura no Diálogos Ausentes.
POR QUE LITERATURA NEGRA?
Com o objetivo de discutir a presença afro-brasileira na produção artística nacional, o próximo encontro da série Diálogos Ausentes, com o tema O Negro na Literatura, acontece no dia 9 de maio (terça-feira), às 20h. Com mediação de Diane Lima, idealizadora do projeto AfroTranscendence, e consultoria da escritora e ativista Cidinha da Silva, a conversa conta com o jornalista e escritor Oswaldo de Camargo e a artista plástica e escritora Mariana de Matos. Toda a programação tem interpretação em Libras.
Pela chamada aberta, que neste período alcançou o maior número de interessados em participar da atividade, com inscrições de autores de todas as regiões do país, foram selecionados Janine Rodrigues Nascimento, do Rio de Janeiro, e Roniel Felipe, de Campinas. Eles também compõem a roda de conversa e falam sobre os seus respectivos trabalhos. Para o terceiro e último debate, no dia 13 de junho, os selecionados são os escritores Marcelo Ricardo e Debora Garcia.
Este encontro coloca em pauta questionamentos sobre o percurso da literatura negra no país, discute a importância de um apuro estético nesta área, quais experiências apontam um caminho e como é possível recriar um jeito negro contemporâneo de se inscrever no mundo. Dedicado à literatura negra e ativista da cultura afro-brasileira, Oswaldo de Camargo foi um dos fundadores do Grupo Quilombhoje, coletivo de autores voltados para publicação, discussão e divulgação da literatura afrodescendente no Brasil. Ele é autor dos livros O Negro Escrito – Apontamentos sobre a Presença do Negro na Literatura Brasileira, 15 Poemas Negros, O Carro do Êxito, A Descoberta do Frio, entre outros.
Nós da revista Conexão Literatura entramos em contato com o autor Oswaldo de Camargo para sabermos ainda mais sobre o negro na literatura no Diálogos Ausentes.
POR QUE LITERATURA NEGRA?
Oswaldo de Camargo: O homem e a mulher chegados da África, para serem “usados” no Brasil como escravos (a inicial mutilação a que foram submetidos) estão aqui presentes a partir de 1530, como afirmam vários historiadores. O mundo ocidental já conhecia o elemento afro e foi mesmo influenciado por ele, notando-se a presença de negros até na Mitologia grega. (Dê-se atenção a territórios e nomes de heróis que serão citados por essa mitologia, como Mênnon, rei etíope que luta na guerra de Troia ao lado dos troianos; como Getúlia, terra de negros em que vive o rei Jarbas, pretendente à mão de Dido, a fundadora de Cartago. Getúlia vai se tornar relevante quando sua lembrança surge na Literatura brasileira, no século XIX, como origem de um dos pseudônimos de Luiz Gama: Getulino. Getúlia, no século 200 depois de Cristo, será nome de um território no norte da África. Os gétulos, ou getúlios, habitantes desse espaço no continente negro, oporão firme resistência ao domínio romano.
A posição da Literatura que o negro escreve e sua importância na Literatura brasileira têm tudo a ver com o lugar que as Letras ocupam em nossa sociedade. Desde que a Literatura pátria, nos meados do século XIX, alcança a condição de interessar mais à população, pelos temas que traz (vide, como exemplos, os romances A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, e Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, e, depois, a perplexidade que foi a mudança de rumo em textos de ficção revelada pelas Memórias póstumas de Braz Cubas, de Machado de Assis), defronta-se com uma realidade presente até hoje: lê-se pouco no Brasil, e é ante essa realidade difícil de enfrentar que o negro tem que realizar o esforço de passar de simples e rasa personagem que foi, quase sempre, nos textos de autores brancos, no País, para ser ele o escritor de si mesmo e de sua visão de mundo.
A Literatura negra, que para nós, se inicia no 81º verso da sátira famosa de Luiz Gama Quem sou eu?, comumente chamada Bodarrada, cujos versos mais famosos são: “Se negro sou, ou sou bode, pouco importa./ O que isto pode?”, a despeito de tudo, desde o século XIX se volta para a questão da humanidade do negro brasileiro, que, com a servidão, passou a representar o vazio social, com nula luminosidade humana, portanto desimportante para a Literatura.
O que o negro procura hoje quando escreve, com poemas, contos, novelas, romances, é a sua inserção efetiva na literatura brasileira com textos sancionados pelo que pode ser chamado de Literatura. O eu negro--- vemos assim ---,- desde que o escritor tenha a chave do fazer literário, vai revelar um mundo a que o escritor branco não pode chegar, por não vivenciar essa realidade estranha a ele, e, quase sempre, que não lhe interessa. (Note-se: a Literatura do País, desde o início, não necessita ser adjetivada como branca, pois essa cor lhe cai com naturalidade, é, no geral, a sua).
Nesse âmbito, Luiz Gama, Cruz e Sousa - poetas; Machado Assis, Lima Barreto – romancistas, carregam e vivenciam , desde o nascimento, em vário grau, a condição de afrodescendentes, ou, em outro plano, a de negros inteiros. É o registro que a Literatura brasileira, ao comentar a vida e a produção desses autores, se vê obrigada a apontar. Machado de Assis, filho de pai mestiço e de mãe branca, na infância morando no Morro do Livramento, reduto de gente pobre, com lavadeiras e moleques, no Rio de Janeiro, a despeito do que escreveu, com geniais disfarces, traz as vestes da maioria de afrodescendentes, que são as da irrelevância social, dais quais Machado vai se livrar aos poucos com persistência e excepcional talento.
Cremos que a Literatura que o negro vem escrevendo hoje ilumina para o leitor parte de uma face escura do Brasil, em que se situam pelo menos 50 e tantos por cento de sua população, composta de negros, pardos e mulatos, cujo maior número não foi contemplado , para infelicidade do País, pela posse de igualdade e cidadania que , a partir de 1889, com a proclamação da República, lhes deveria caber. Iluminar com textos de arte essa realidade é a missão do escritor negro. E em fazer isso, como fizeram, citando apenas dois exemplos, Cruz e Sousa e Lima Barreto, reside sua importância.
COMO CONHECER A REALIDADE LITERÁRIA DISSO?:
A posição da Literatura que o negro escreve e sua importância na Literatura brasileira têm tudo a ver com o lugar que as Letras ocupam em nossa sociedade. Desde que a Literatura pátria, nos meados do século XIX, alcança a condição de interessar mais à população, pelos temas que traz (vide, como exemplos, os romances A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, e Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, e, depois, a perplexidade que foi a mudança de rumo em textos de ficção revelada pelas Memórias póstumas de Braz Cubas, de Machado de Assis), defronta-se com uma realidade presente até hoje: lê-se pouco no Brasil, e é ante essa realidade difícil de enfrentar que o negro tem que realizar o esforço de passar de simples e rasa personagem que foi, quase sempre, nos textos de autores brancos, no País, para ser ele o escritor de si mesmo e de sua visão de mundo.
A Literatura negra, que para nós, se inicia no 81º verso da sátira famosa de Luiz Gama Quem sou eu?, comumente chamada Bodarrada, cujos versos mais famosos são: “Se negro sou, ou sou bode, pouco importa./ O que isto pode?”, a despeito de tudo, desde o século XIX se volta para a questão da humanidade do negro brasileiro, que, com a servidão, passou a representar o vazio social, com nula luminosidade humana, portanto desimportante para a Literatura.
O que o negro procura hoje quando escreve, com poemas, contos, novelas, romances, é a sua inserção efetiva na literatura brasileira com textos sancionados pelo que pode ser chamado de Literatura. O eu negro--- vemos assim ---,- desde que o escritor tenha a chave do fazer literário, vai revelar um mundo a que o escritor branco não pode chegar, por não vivenciar essa realidade estranha a ele, e, quase sempre, que não lhe interessa. (Note-se: a Literatura do País, desde o início, não necessita ser adjetivada como branca, pois essa cor lhe cai com naturalidade, é, no geral, a sua).
Nesse âmbito, Luiz Gama, Cruz e Sousa - poetas; Machado Assis, Lima Barreto – romancistas, carregam e vivenciam , desde o nascimento, em vário grau, a condição de afrodescendentes, ou, em outro plano, a de negros inteiros. É o registro que a Literatura brasileira, ao comentar a vida e a produção desses autores, se vê obrigada a apontar. Machado de Assis, filho de pai mestiço e de mãe branca, na infância morando no Morro do Livramento, reduto de gente pobre, com lavadeiras e moleques, no Rio de Janeiro, a despeito do que escreveu, com geniais disfarces, traz as vestes da maioria de afrodescendentes, que são as da irrelevância social, dais quais Machado vai se livrar aos poucos com persistência e excepcional talento.
Cremos que a Literatura que o negro vem escrevendo hoje ilumina para o leitor parte de uma face escura do Brasil, em que se situam pelo menos 50 e tantos por cento de sua população, composta de negros, pardos e mulatos, cujo maior número não foi contemplado , para infelicidade do País, pela posse de igualdade e cidadania que , a partir de 1889, com a proclamação da República, lhes deveria caber. Iluminar com textos de arte essa realidade é a missão do escritor negro. E em fazer isso, como fizeram, citando apenas dois exemplos, Cruz e Sousa e Lima Barreto, reside sua importância.
COMO CONHECER A REALIDADE LITERÁRIA DISSO?:
Oswaldo de Camargo: Entre dezenas de autores mais perto do nosso século ou vivendo nele, leiam-se textos de Lino Guedes, Solano Trindade, Abdias Nascimento, Carolina Maria de Jesus, Paulo Colina, Cuti (Luiz Silva), Conceição Evaristo, cuja obra de escritora negra está sendo contemplada com uma instalação no Espaço Cultural Itaú, a partir do dia 4 deste mês.
Literatura negra deve ser vista também como instrumento para o alcance da cidadania para os negros brasileiros. Derivando daí, para todos os brasileiros.
SOBRE O AUTOR:
Oswaldo de Camargo é jornalista e escritor. Entre seus livros podem ser citados Lino Guedes-- Seu tempo e seu perfil (ensaio literário); Raiz de um negro brasileiro (memórias de infância); A descoberta do frio (novela); O negro escrito- Apontamentos sobre a presença de negros e mulatos na Literatura brasileira; O Estranho (poemas).
Em preparo: Ao redor da cor duvidosa de Mário de Andrade
SERVIÇO
Diálogos Ausentes – O Negro na Literatura
Mediadora: Diane Lima
Convidados: Oswaldo de Camargo e Mariana de Matos
Artistas convidados pela chamada aberta: Janine Rodrigues Nascimento e Roniel Felipe
Dia 9 de maio (terça-feira), às 20h
Duração: 90 minutos
Classificação indicativa: livre
Interpretação em Libras
Sala Multiuso – 86 lugares
Entrada gratuita
Distribuição de ingressos:
Público preferencial: 2 horas antes do espetáculo (com direito a um acompanhante)
Público não preferencial: 1 hora antes do espetáculo (um ingresso por pessoa)
Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108
Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural: 3 horas: R$ 7;
4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 12.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.
Acesso para deficientes físicos / Ar condicionado
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149 (Estação Brigadeiro do Metrô)
Fones: 11 2168-1776/1777
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