Estava relendo uma crônica da Cristina Hauser em que ela conta que experimentou soltar a trela que prendia seu cão durante um passeio. Em vez de o cão correr à sua frente como sempre parecia desejar, arrastando-a com força por todos os lugares, ele estancou. Aí andou um pouco, mas sempre olhando para trás como a certificar-se de que ela o seguia. Depois desistiu de ir à frente, optando por vir mais atrás, de onde certamente poderia vigiar sua dona. Eu disse “dona”? Sim, disse, mas não devia. Não somos donos de nossos cães, nem de ninguém e nem de nada.
Isso me fez relembrar meu admirável psicanalista de tantos anos atrás. Eu lia para ele um conto que fiz sobre a “Joia”, nossa cadela perdigueira, a última que meu pai teve e justamente por isso de quem mais nos lembramos com tanto carinho. Bem, enquanto lia, meu psicanalista ouviu com atenção como sempre fazia quando eu levava novos contos e crônicas. Depois, com a delicadeza que nunca dispensou um tom firme que até hoje me faz falta, disse: “não soa estranho a você que a palavra ‘dono’ apareça tantas vezes em seu conto?” Foi aí que parei para pensar e refleti. Fiz o conto narrado pela própria Joia e muitas vezes, ela, a Joia, se referia a meu pai usando a palavra “dono”. É verdade, respondi eu, a Joia não se sentia propriedade de meu pai, mas uma amiga, companheira de caçadas, sobretudo uma amiga. De forma igual, tenho certeza de que meu pai nunca se sentiu dono dela. O amor entre eles certamente estava bem além do que significa a palavra “dono”, que implica um senhorio, nada tendo a ver com as pessoas ou animais que tanto amamos.
Etimologicamente, dono vem do latim “dominus”, senhor, proprietário, líder. Hummm, líder até que é legal, pois quando a Cristina Hauser pensava que estava no comando de seu cão, ele é que a guiava, exercendo o papel de líder, puxando-a fortemente por onde desejava. Mas essa liderança está mais para uma cumplicidade cheia de amor partilhado. Contudo dizemos “meu filho”, “meu marido”, “meu cão”, tudo bem. É mais por uma questão de referência. Podemos dizer “meu filho é mais velho do que o seu”, mas este pronome possessivo não significa posse, propriedade no sentido que questiono aqui.
Não, não somos donos de nada. Nem de nossos filhos, nem de nossos cães, gatos, cavalos, elefantes, seja lá do que for, até mesmo das coisas como casas, carros, dinheiro. Estamos usando estes bens temporariamente, pois desde sempre soubemos que um dia deixaremos tudo para trás. É difícil viver sem amarras, com total liberdade, isso praticamente não existe porque nossa natureza humana tem necessidade de possuir, de ter, de ser proprietário. Quanto às pessoas e criaturas que amamos, existem laços entre nós (nós nos dois sentidos), alguns mais apertados, outros mais leves, assim como a trela que usamos em nosso cão para passear. Mas bem diferente de serem algemas de ferro, são com certeza, laços de amor e de ternura.
Isso me fez relembrar meu admirável psicanalista de tantos anos atrás. Eu lia para ele um conto que fiz sobre a “Joia”, nossa cadela perdigueira, a última que meu pai teve e justamente por isso de quem mais nos lembramos com tanto carinho. Bem, enquanto lia, meu psicanalista ouviu com atenção como sempre fazia quando eu levava novos contos e crônicas. Depois, com a delicadeza que nunca dispensou um tom firme que até hoje me faz falta, disse: “não soa estranho a você que a palavra ‘dono’ apareça tantas vezes em seu conto?” Foi aí que parei para pensar e refleti. Fiz o conto narrado pela própria Joia e muitas vezes, ela, a Joia, se referia a meu pai usando a palavra “dono”. É verdade, respondi eu, a Joia não se sentia propriedade de meu pai, mas uma amiga, companheira de caçadas, sobretudo uma amiga. De forma igual, tenho certeza de que meu pai nunca se sentiu dono dela. O amor entre eles certamente estava bem além do que significa a palavra “dono”, que implica um senhorio, nada tendo a ver com as pessoas ou animais que tanto amamos.
Etimologicamente, dono vem do latim “dominus”, senhor, proprietário, líder. Hummm, líder até que é legal, pois quando a Cristina Hauser pensava que estava no comando de seu cão, ele é que a guiava, exercendo o papel de líder, puxando-a fortemente por onde desejava. Mas essa liderança está mais para uma cumplicidade cheia de amor partilhado. Contudo dizemos “meu filho”, “meu marido”, “meu cão”, tudo bem. É mais por uma questão de referência. Podemos dizer “meu filho é mais velho do que o seu”, mas este pronome possessivo não significa posse, propriedade no sentido que questiono aqui.
Não, não somos donos de nada. Nem de nossos filhos, nem de nossos cães, gatos, cavalos, elefantes, seja lá do que for, até mesmo das coisas como casas, carros, dinheiro. Estamos usando estes bens temporariamente, pois desde sempre soubemos que um dia deixaremos tudo para trás. É difícil viver sem amarras, com total liberdade, isso praticamente não existe porque nossa natureza humana tem necessidade de possuir, de ter, de ser proprietário. Quanto às pessoas e criaturas que amamos, existem laços entre nós (nós nos dois sentidos), alguns mais apertados, outros mais leves, assim como a trela que usamos em nosso cão para passear. Mas bem diferente de serem algemas de ferro, são com certeza, laços de amor e de ternura.
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