Inicio hoje minhas contribuições para com o site Revista Conexão Literatura, e desde já agradeço ao convite do Ademir Pascale abrindo esse espaço num veículo de comunicação literária que tem crescido exponencialmente a partir de sua criação. E para este pontapé inicial decide abordar um campo que interessa-me tanto como leitor, quanto como autor. A literatura fantástica.
E como 2016 marcou o centenário de nascimento do escritor mineiro Murilo Rubião, nada melhor que abordar um recorte deste contista, falecido em 1991 que a cada dia é descoberto e redescoberto pelos leitores brasileiros. O olhar para sobre a obra do autor tem sido grande que neste ano a Companhia das Letras inclusive publicou Murilo Rubião, Obra Completa, 286 páginas que reúnem todos os contos publicados pelo autor.
E não é à toa tamanho interesse, pois leitor algum ficará imune à prosa precisa de Rubião cujas orações são dotadas do máximo de carga semântica possível deixando evidente a preocupação do escritor com cada sentença. Além disso, seus contos que começam se ser publicados a partir de 1947 apontam para um homem a frente de seu tempo, tanto é que o crítico Jorge Schwartz diz que “sua obra surge de maneira insólita, desengajada de qualquer movimento literário no Brasil” e que “se vincula tematicamente aos escritores de vanguarda hispano-americanos, os exploradores do chamado “realismo mágico”” sendo que Schwartz faz portanto um lembrete que o autor brasileiro atua, e com grande propriedade, antes mesmo de grandes nomes do gênero como Julio Cortázar e Jorge Luiz Borges.
Isso é o que podemos ver em um de seus principais contos, O Pirotécnico Zacarias. Mas antes do conto publicado em 1974 e adaptado num curta-metragem de 1981 de Paulo Laborne, saltemos no tempo para dar uma olhada nos anos noventa, especialmente no filme Um Morto Muito Louco (20th Century Fox, 1989), uma clássica comédia da Sessão da Tarde e posteriormente no funk Morto Muito Louco que certamente foi um dos ringtones de maior sucesso numa época que pagávamos para ter uma música como chamada do aparelho de telefone celular. Pois bem, é que ambas as obras têm um pouco do pirotécnico de Rubião, na verdade tem mais que apenas um pouco, pois o tal de Zacarias, assim como os mortos que o sucederam, era um defunto bastante peculiar.
O conto que integrou o livro que levou Murilo Rubião ao sucesso no mundo das letras tem como narrador-protagonista o próprio morto que coloca sua problemática (a de sua morte) em questão “as opiniões são divergente”, portanto haviam os que criam em sua morte, os que desconfiavam, e os que não aceitavam as coisas como bem como eram. A única coisa que não se discutia era que se ele tivesse morrido, o corpo não fora enterrado. Esse é então o cenário, um morto, acidente de carro, aliás, e um grupo de jovens indeciso com o que fazer com o defunto que virá depois a dialogar com os amigos a respeito do que fazer com seu cadáver. E a escolha, é claro, é dar uma tapeada no morto, deixá-lo em melhor condição para terminar a farra da noite visto que a turma prefere a companhia de um morto que a de um amigo chato, conforme veremos no conto. Nessa atmosfera fantástica é que a narrativa prossegue numa prosa carregada de humor e nuances sarcásticas que afirmam a qualidade literária de Rubião, que a despeito do interesse renovado, talvez seja menos conhecida do que filme e o ringtone. Todavia, esse morto muito louco do realismo fantástico brasileiro não é um tipo de precursor do filme, mas sim reforça a presença na literatura brasileira de um tipo de personagem bastante presente em nossa literatura: o morto. Do defunto-autor de machado de Assim que inaugura o realismo brasileiro à morte dupla de um Quincas Berro d'Água, ou mesmo os insepultos de Érico Veríssimo que demonstram acima de tudo que os mortos muito loucos são brasileiros.
Créditos Vídeo: Um Morto Muito Louco - MCs Jack e Chocolate - Classic Hits Cia Daniel Saboya (Coreografia) - Divulgação
Créditos Vídeo: Um Morto Muito Louco - MCs Jack e Chocolate - Classic Hits Cia Daniel Saboya (Coreografia) - Divulgação
Parabéns, Douglas! Seja bem-vindo ;)
ResponderExcluirParabéns, Douglas. Ótima postagem. Rubião foi mesmo um homem a frente de seu tempo.
ResponderExcluirObrigado pessoal.
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