Podemos dizer que, de alguma forma, Poe tornou-se imortal. A obra de Poe ecoa pelos séculos desde sua publicação e suas palavras e ideias são perpetuadas e discutidas por muitos, o que garantiu a ele um lugar de destaque na literatura. Na verdade, sabemos que, infelizmente, o escritor ganhou mais reconhecimento postumamente, apesar de ter publicado boa parte de sua obra em vida, principalmente seus mais famosos contos, poemas e ensaios. Logo já influenciou um grande nome da literatura francesa e mundial, pois Baudelaire foi um dos primeiros grandes autores a admirar a obra de Poe, o que o conduziu a traduzir os textos para levar a obra do mestre para a França, tornando-o mais conhecido na europa. Anos depois, Poe continuaria a influenciar muitos escritores e artistas pelo mundo. Lovecraft, Stephen King, Tim Burton, Vincent Price e muitos outros.
Como já disse, pelo mundo todo há escritores e artistas influenciados por Edgar Allan Poe. E no Brasil não podia ser diferente, como você deve ter notado pelo avatar deste site, no qual temos uma ilustração de Poe. O objetivo desta matéria é mostrar como Poe continua influenciando muitos escritores e artistas e a importância dessa influência aqui no Brasil. Portanto, leia abaixo breves entrevistas com 5 escritores e artistas (2 escritores e 3 artistas plásticos) cujos trabalhos são influenciados por Edgar Allan Poe. Um deles, inclusive, é o criador aqui do blog da Revista Conexão Literatura. E a imagem de capa é a obra de um dos grandes artistas plásticos entrevistados para a matéria.
Veja abaixo uma breve biografia explicando mais sobre o trabalho de cada um e entenda como Poe os influencia em seus respectivos trabalhos, desde escrever contos inspirados em Poe, organizar antologias e sites inteiros dedicados ao autor, criar um site de literatura a fazer belas esculturas ou ilustrações. As entrevistas foram organizadas em ordem alfabética, começando pelos escritores, pela proximidade com o trabalho de Poe, seguidos dos artistas plásticos, também em ordem alfabética (a entrevista final é com o criador da obra escolhida para a imagem capa!).
Editor e idealizador da Revista Conexão Literatura e deste blog. Paulista, escritor e ativista cultural. Membro Efetivo da Academia de Letras José de Alencar (Curitiba/PR). Participou em mais de 40 livros, sendo um dos mais recentes “Nouvelles du Brésil”, publicado na França pela editora Reflets d’Ailleurs. Publicou pela Editora Draco “O desejo de Lilith” e o seu mais recente romance “Caçadores de Demônios”. Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, criou e publicou as antologias “Poe 200 Anos” e “Nevermore”. Adora pizza, séries televisivas e HQs. E-mail: pascale@cranik.com
1. Como surgiu o interesse na obra de Poe?
O interesse por Poe surgiu na faculdade. A minha professora de literatura estrangeira era fã de Poe e ela ministrava as aulas com tanto gosto, que logo veio o meu interesse em saber mais sobre as obras dele. Hoje me considero mais fã dele do que ela…(rs)
O interesse por Poe surgiu na faculdade. A minha professora de literatura estrangeira era fã de Poe e ela ministrava as aulas com tanto gosto, que logo veio o meu interesse em saber mais sobre as obras dele. Hoje me considero mais fã dele do que ela…(rs)
2. Qual a importância e a influência dele no seu trabalho como escritor? E como surgiu a ideia do blog e das antologias inspiradas no autor?
90% do meu trabalho hoje na literatura veio da inspiração em Poe, não somente sobre as suas obras literárias, mas também sobre a sua história de vida. Fiz livros inspirados nele, quadrinhos e fanzines.
A ideia do blog “Poe’s Club” (www.poesclub.blogspot.com), veio justamente pela falta de informação que encontrei ao procurar por informações sobre Poe em sites ou blogs brasileiros. Poe morreu precocemente e se vivesse mais, certamente teria nos deixado muitas outras obras. Essa carência por mais obras dele me inspirou a criar antologias inspiradas em seus contos, surgindo os livros “Poe 200 Anos”, que fiz em parceria com o escritor Maurício Montenegro, e “Nevermore – Contos Inspirados em Edgar Allan Poe”. Recentemente fiz uma homenagem ao Poe na 2ª edição da Revista Conexão Literatura. Ela ainda pode ser baixada acessando o link:http://www.fabricadeebooks.com.br/conexao_literatura2.pdf
Duda Falcão em 2010 fundou com Cesar Alcázar a Argonautas Editora, especializada nos gêneros fantásticos. Seu primeiro romance de aventura e horror, intitulado Protetores, foi lançado em 2012. No ano seguinte, publicou o livro de contos Mausoléu – uma coletânea com textos inéditos e outros publicados desde 2009. Em 2013 e 2014 foi curador do Tu, Frankenstein na 59ª e 60ª Feira do Livro de Porto Alegre. Também é um dos idealizadores da Odisseia de Literatura Fantástica que ocorre na capital gaúcha.
Pessoalmente, indico muito para fãs de Poe e de literatura fantástica mais sombria em geral os contos de Duda Falcão “Relíquia”, “A Pena do Corvo”, “Museu do terror”, todos presentes no livro “Mausoléu”. Nos dois primeiros vemos referências a Edgar Allan Poe, um contando sobre o gato preto e outro sobre um narrador mais do que obcecado com Poe – um conto que vale a pena do corvo ler e reler. Em “Museu do Terror” vemos um cenário fantástico onde há peças retiradas de diversas obras da ficção, o que torna esta narrativa uma incrível obra de meta-ficção; Veja abaixo uma breve entrevista com o autor:
1. Como surgiu o interesse na obra de Poe?
O meu interesse em Edgar Allan Poe foi despertado pela capa de um livro. Na minha casa, há mais de duas décadas, recebíamos visitas de vendedores do Círculo do Livro. Um sistema de assinatura em que todos os meses devíamos fazer uma encomenda. Naquela época as livrarias eram mais escassas e as condições econômicas para comprar um livro bem menos favoráveis do que hoje. Adquiri a obra Histórias extraordinárias por ver um gato sentado sobre uma teia de aranha e um sujeito de aspecto doentio vestindo um manto. As duas figuras estavam posicionadas abaixo de um portal e as linhas que os desenhavam pareciam feitas de ouro. Não sei explicar a sensação que passou pela minha cabeça. Mas fui atraído pela imagem. Quem foi que disse que não deve se comprar o livro pela capa¿ Naquela oportunidade foi por isso que eu o comprei. Nem imaginava quem era Poe. Acertei na mosca. Acabei conhecendo um dos meus autores preferidos. Até hoje os contos que mais me impressionam naquele volume são A queda da casa de Usher, O barril de Amontillado, O gato preto, William Wilson e Os crimes da rua Morgue.
2. Qual a importância e a influência dele no seu trabalho como escritor?
Sem dúvida, Poe é importante, em primeiro lugar, na minha formação como leitor. Prefiro contos a romances. Isso não significa que eu não goste de ler romances, mas gosto mais de ler contos. Talvez esse fato tenha me proporcionado maior familiaridade com a escrita de prosas curtas. Percebo no conto uma preocupação muito mais forte com o enredo e a atmosfera do que com a construção do personagem. Isso não significa que quem escreva contos não se preocupe com os personagens, basta conhecer o doentio e cadavérico Usher. Porém, acredito que o foco não está no protagonista ou nos personagens secundários, mas sim na trama, na sensação final que o escritor pretende causar ao contar o seu relato. No meu livro Mausoléu, você pode encontrar diversos contos influenciados de forma direta por Poe. Vou citar dois deles. Em Relíquia, publicado pela primeira vez no livro 200 anos de Edgar Allan Poe, o protagonista, conhecido pela alcunha de Proprietário do Museu do Terror, invade o conto O gato preto para capturar o felino. No conto A pena do corvo, o personagem principal é um colecionador que se depara com um objeto mágico capaz de consumir sua sanidade e a sua própria identidade – foi escrito em primeira pessoa para aproximar o leitor da história e a sua principal referência é o conto Nunca aposte sua cabeça com o diabo. Em breve ocorrerá o lançamento de O corvo: um livro colaborativo, que será publicado pela Editora Empíreo, para a qual submeti um conto intitulado O resgate de Lenora – fantasia heroica em homenagem ao poema O corvo e que também, de certa forma, faz referência a outro autor que admiro muito: Robert E. Howard.
Publicitária, mora em Porto Velho, Rondônia. Cria fotografias e artes visuais repletas de atmosfera sombria, inicialmente como forma de escapar da depressão e distimia. Começou a ilustrar em 2014, de forma complementar a fotografia, e faz obras inspiradas na literatura e na música, utilizando principalmente técnicas como pontilhismo e aquarela.
1. Como surgiu o interesse na obra de Poe?
Eu fui criada com 4 irmãos mais velhos me contando histórias de terror antes de dormir, pra me assustar. Quando fiquei maiorzinha, assistíamos filmes do gênero juntos nas sextas-feiras a noite, e como eu estava com eles, me sentia confiante para ver até as cenas mais fortes.
Devo ter lido Poe a primeira vez naqueles livros de gramática e literatura do colégio, que falavam dos gêneros literários de forma cronológica e colocava trechos e até obras inteiras pra gente conhecer o trabalho dos autores. Ali, me encantei não somente com Poe, mas com outros expoentes do mórbido, como Augusto dos Anjos, Baudelaire, Alphonsus de Guimaraens. Não era algo que a gente encontrava em qualquer biblioteca, então quando vi a primeira vez um exemplar de Histórias Extraordinárias num sebo local, muitos anos depois, fiz questão de comprar e hoje tenho uma coleção muito bonita de livros dele, nacionais, estrangeiros e alguns bem raros.
2. Qual a importância e a influência dele no seu trabalho como ilustradora?
Eu sempre fui muito visual, então sou dessas que compra arte, busca conhecer artistas e suas técnicas. Por estar ainda engatinhando quando se trata de arte, procuro ver e conhecer de tudo pra não me limitar, mas o obscuro e macabro vão sempre ganhar destaque na minha influência. O Poe tem essa capacidade incrível de nos colocar no lugar do protagonista, então somos os insanos, aqueles que têm visões, os ameaçados de morte, os assassinos. Acho que quando crio, seja através das ilustrações ou da fotografia, muito vem disso, tentar reproduzir um pouco da miséria e da angústia, já que a arte pra mim é uma válvula de escape da realidade e da vida.
Começou a estudar arte como autodidata aos treze anos, com quinze, já se especializara em artes plásticas, um campo onde, segundo o artista, existe a possibilidade de trabalhar com qualquer tipo de material sem depender apenas de tintas e pincéis. Conheceu o surrealismo e uniu sua paixão por cultura pop ao assunto. Os maiores debates em sua arte são relacionados sexo e religião. Hoje trabalha também como designer de roupas, pinta quadros e estuda teatro, dança e cinematografia e fez algumas ilustrações bem originais inspiradas no mestre Poe.
Conheci Poe quando estudava história da arte e como desde muito novo (em torno dos 15 anos) eu já me familiarizava com o surrealismo e o mundo fantástico, Poe sem dúvida me chamou atenção por tais motivos e ligações com tais movimentos artísticos. Sua persona estética caricata e como viveu sua vida, aguçou meu interesse por ele e sempre tentei usar sua imagem dentro de ilustrações inspiradas em suas obras.
- Qual a importância e influência dele no seu trabalho como ilustrador?
Todo escritor, artista por si, tem um pouco de si mesmo em suas obras, o terror da obra de Poe era vivo dentro de si, no seu rastejo de vida e isso sempre me chamou atenção. A forma que Poe viveu e a forma que via sua obra e como deixou em póstumas é de um lirismo similar ao de sua obra e isso sempre me interessou. Uma das grandes questões que percorria minha mente no inicio de minha vida como artista era o significado da morte, e com Poe fui aprendendo a decifrar esses mistérios e medos que percorrem o tema.
Poe, assim como Frida e Clarice Lispector –dentre outros – faz parte da minha formação eterna como pessoa e alma artística, por isso, os conheço e bebo de seus trabalhos aos poucos, como se fosse um amadurecimento de uma amizade, até mesmo póstumos. Creio que todo artista tem um pouco de suas dores, de suas influencias e de seus antigos, atuais e novos trabalhos misturados em cada novo projeto que se inicia. Poe me influencia de forma temporal, sagrada e na luta eterna de entender e acalmar meus (seus) próprios fantasmas.
Escultor e ilustrador inspirado em clássicos do terror, o artista conta que o horror é a casa dele. Começou muito cedo a desenhar e modelar devido ao estimulo familiar a explorar as possibilidades de manifestação artística.
Seu trabalho explora basicamente o macabro, os monstros, criaturas, mutantes, aberrações e os ambientes que elas habitam.
Já explorou a obra de Poe em ilustrações e mais recentemente modelou um busto do autor, replicado em resina. O próprio gato preto e o cadáver do conto também viraram esculturas e aguardam que uma brecha de agenda permita que ele termine um Shadow Box retratando uma cena do autor escrevendo, visto através de uma janela, enquanto citações de seus contos o cercam.
Veja abaixo uma breve entrevista com o artista explicando a influência de Poe em seu trabalho, acompanhada de imagens de belas esculturas em que ele retrata Poe (inclusive a imagem de capa é um trabalho dele!).
1. Como surgiu o interesse na obra de Poe?
Como um apreciador da cultura de horror durante minha vida inteira provavelmente traços da obra dele já estavam impregnados em mim muito antes de eu ter consciência que aqueles elementos eram provenientes de um autor específico.
Depois é claro que eu conheci de forma mais direta, ou quase isso, já que meu primeiro contato foi por adaptações para o cinema, e não pela leitura.
Meu primeiro conto dele foi bem óbvio, O Corvo, e dali pra frente ele sempre fez parte do meu cardápio.
2. Qual a importância e a influência dele no seu trabalho como escultor?
Inicialmente eu procurava temas mais orgânicos, deformidade e a decadência da carne.Mas a verdade é que isso cansa, depois de um tempo eu comecei a buscar temas mais abrangentes e voltei a me interessar pelo primeiro tipo de horror com que tive contato, o gótico.
A obra do Poe é rica em imagens que dão vontade de materializar em esculturas, o próprio autor é extremamente característico e tem traços interessantes de trabalhar.
Ele também inspira trabalhos relacionados a design de objetos, acredito que sua obra funcione melhor quando retratada no período em que foi escrita, portanto rende objetos de cena e decorativos em ambientes, o que ajuda a criar a atmosfera certa.
Seus personagens se retratados fielmente aos contos rendem a possibilidade de explorar trajes e penteados de época, não apenas é divertido de esculpir, da resultados agradáveis ao olhar.
Suas criaturas são majestosas e sombrias, Edgar Allan Poe é elegante em atmosfera na leitura e como inspiração para imagens.
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