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| Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial | 
Por Lu Magalhães
Um
 projeto de reforma tributária do Governo Federal tem causado muita 
polêmica ao defender a cobrança de contribuição para o setor de livros; o
 cálculo é que a alíquota seja de 12% para esse novo imposto. Na 
prática, cai por terra a isenção de contribuição que o setor possui 
constitucionalmente. Contrárias à mudança, a Câmara Brasileira do Livro,
 o Sindicato Nacional dos Editores de Livros e a Associação Brasileira 
de Editores de Livros Escolares publicaram um manifesto, no qual o 
principal argumento é que essa cobrança aumentaria a desigualdade do 
acesso à cultura. Ou seja, representaria um retrocesso social e 
econômico. O argumento do ministro Paulo Guedes, defensor da medida, é 
que o livro é um produto de elite, logo, quem compra pode pagar um preço
 maior. Questionado sobre como não prejudicar ainda mais as pessoas em 
situação de vulnerabilidade econômica, sugeriu que o poder público 
compre livros para “dar aos pobres”.
Esse é um panorama muito raso sobre um problema muito sério. Claro 
que a indústria livreira gostaria que o faturamento permitisse que todos
 os impostos fossem pagos; que o setor não precisasse de incentivos para
 se manter vivo e competitivo. Entretanto, vivemos um contexto adverso 
no qual políticas públicas de incentivo são essenciais para a 
sobrevivência de um setor que foi especialmente atingido pelas crises 
econômicas recentes. Do outro lado, temos uma classe C que começou a 
consumir livros, justamente por uma série de medidas de incentivos. Não 
estamos falando de “dar livros”; o que está em questão é a oportunidade 
de escolha que o cidadão deve ter para comprar o próprio livro. Criar 
condições dignas para que seja um leitor pleno e exerça o seu direito de
 acesso à educação e cultura. Um país que taxa livros impede que o 
conhecimento circule entre os menos favorecidos economicamente. Essa é 
uma política excludente à luz da realidade brasileira.
Onde se taxa livros? Na França, Alemanha e Dinamarca, ou seja, países com solidez econômica. Um relatório produzido pela International Publishers Association
 aponta que os livros têm tributação zero na maioria dos países da 
América Latina; Argentina, Colômbia, Bolívia, Peru e Uruguai não 
tributam; a exceção é o Chile. No mundo, a alíquota zero é corrente 
entre regiões em desenvolvimento como Índia; é praticado, também, na 
África e Oriente Médio.
O recorte que faço é do impacto dessa medida em um momento em que 
começamos a fomentar novos leitores. A pesquisa Retratos da Leitura, 
edição 2020, mostra que para 22% dos leitores brasileiros o preço é uma 
determinante para a escolha e aquisição de obras; esse índice sobre para
 28% entre os com renda de um a dois salários mínimos. Entre a classe A,
 somente 16% escolhem livros pelo preço. São dados que comprovam a tese 
de que o imposto vai atingir 27 milhões de consumidores de livros das 
classes C, D e E – não da alta renda, como defende o ministro. Acredito 
que esse seja um alerta importante para que a população não pense que o 
setor está brigando para manter privilégios negados a outras indústrias.
É importante destacar que tornar o livro acessível a todos os 
brasileiros – sobretudo os de menor renda – é uma questão de cidadania e
 uma estratégia para a construção de um Brasil melhor. 
| Lu Magalhães é presidente da 
Primavera Editorial, sócia do PublishNews e do #coisadelivreiro. 
Graduada em Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo (PUC-SP), possui mestrado em Administração (MBA) pela Universidade
 de São Paulo (USP) e especialização em Desenvolvimento Organizacional 
pela Wharton School (Universidade da Pennsylvania, Estados Unidos). A 
executiva atua no mercado editorial nacional e internacional há mais de 
20 anos.
SOBRE A EDITORA | A Primavera Editorial é uma 
editora que busca apresentar obras inteligentes, instigantes e 
acalentadoras para a mulher que busca emancipação social e poder sobre 
suas escolhas. www.primaveraeditorial.com

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